Bem haja o sol! Parece uma laranja a escorrer sumo! - disse a mulher da banca, olhando o Sol de frente, em linha recta. E eu pensei: de que vale ser poeta?
in Cidade em Flor, 1924
Para uma senhora da melhor sociedade era de bom tom ter poucos vestidos. Mulher que andasse a variar, ou era nova-rica ou «senhora alegre», como se dizia Tenho uma vida muito comprida. Vivi a primeira guerra mundial, a guerra de Espanha, a segunda guerra, e depois a guerra colonial. Tudo no meu tempo: quatro guerras. Só isso dá uma vivência extraordinária. Aos meus filhos, por amor dos quais teimo em viver Aos meus amigos e aos meus leitores por amor dos quais temo em escrever Dedicatória de 70 Anos de Poesia
Ó Mãe, eu não sei nada! Reminiscência in Trinta e Nove Poemas, 1941
Não fora o mar e comeria à mão, não fora o mar e aceitaria o freio! Não Fora o Mar in Trinta e Nove Poemas, 1941
Agora, o meu querer era mais fundo: dum lado eu, do outro o mundo. Alma, Sonho, Poesia in Trinta e Nove Poemas, 1941
No Continente havia tanta gente que eu não cabia. Era estreito demais o meu quinhão de céu. Pobre demais a minha ração de ar… Oh, o Meu Branco Veleiro in Exílio, 1952
Não mais filosofias de vaidoso esteta e não mais este orgulho: sou poeta!
Meditação in Exílio, 1952
Só, eu fiquei, mas sem mim, que a mim também me levaste… Partiste, Voltaste… in Asa no Espaço, 1955
Vida ou morte, que importa? Para entrar e sair a porta é a mesma: Senhor, abre-me a porta!
Uma Fonte, Uma Asa… in Asa no Espaço, 1955
E hoje, perdida, quem te há-de achar? A morte ou a vida?
Mulher Perdida in Asa no Espaço, 1955
Este doido prazer de respirar!
Alegria D’Aquém e d’Além Mar, 1935
- Avó, quantas estrelas há no céu? - Duas, Maria da Lua: a minha e a tua. - Eu também tenho uma estrela? - Tens, Maria da Lua. - E qual é, onde está? - Não sei, tens de escolhê-la… In Maria da Lua, 1945
Porque chamamos vivos aos que esperam a vez, marcando passo? E mortos aos que se libertaram e são livres no espaço?
Nascer, Morrer, in Asa no Espaço, 1955
Senhor, como é possível a descrença, imaginar, sequer, que ao fim da Estrada, se encontre após esta ansiedade imensa uma porta fechada e mais nada? Os Anos São Degraus, in Asa no Espaço, 1955
Por isso espero a morte sem terror, sem temer o castigo. Porque há-de recear-se a paz, o amor? Receia-se o inimigo. De Barro, Como os Outros, in Asa no Espaço, 1955
Mas, e se a alma se parte, se esborracha? O Pequeno Acrobata, in Asa no Espaço, 1955
Onde estais, empadinhas e pastéis? Onde estais, fricassés da minha infância?
in Bloco 65, 1965
Era uma quinta velha, com buxos e loureiros, mas um dia assinaram-se cheques e vieram pedreiros…
in Bloco 65, 1965
É num jardim que vive a filha que nunca tive…
Intervalo, in E eu Saudosa, Saudosa, 1973
Não creias que o sofrimento, Poeta, te cause dano: Poemas são como filhos, não hesites, rasga o peito, como faz o pelicano...
Três Haikhu, in E eu Saudosa, Saudosa, 1973
Ó árvore, alguém pensou na tua imensa alegria quando enfim rompeste a crosta e alcançaste a luz do dia?
Ó Árvore, in E eu Saudosa, Saudosa, 1973
Castelo de Marvão, águia real, asas abertas sobre Portugal pousada no granito da montanha…
Marvão, in Ó Meu País!, 1976
Agora, a tantos anos de distância, já não sei se inventei a minha infância, se a Índia foi verdade ou foi miragem… A Índia Foi Verdade? in Ó Meu País!, 1976
… Mas hoje, ó meu país, a tua glória, o teu destino é descobrir a paz, e o mundo saberá mais uma vez de quantas maravilhas és capaz!
Ó Meu País! in Ó Meu País!, 1976
Não me acordou nem o chá nem o jornal. Acordou-me o Domingo. Se os poetas dessem as mãos e fechassem o Mundo no grande abraço da Poesia?
Se os Poetas Dessem as Mãos, in Ronda das Horas Lentas, 1980-1989 |