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Fundação António Quadros
Biografia Imprimir e-mail

 Autores 
Biografia
1923 - 1927
1928 - 1939
1940 -1950
1950 - 1960
1960 - 1970
1970 - 1980
1980 - 1993
1994 - 2009

1961
São desta época os colóquios O que é o Ideal Português, na Casa da Imprensa, à Rua da Horta Seca, em que proferirá as conferências O Ideal Português na Filosofia e A Criação Artística. Apresentam as suas teses, além de António Quadros, diversos intelectuais e artistas, como Francisco da Cunha Leão, Domingos Monteiro, António Duarte, Bernardo Santareno e António de Macedo, suscitando múltiplas e contraditórias reacções na imprensa da época. No mesmo ano, as edições Tempo publicam O que é o Ideal Português.

É neste período da sua vida que, por influência do padre holandês Dâmaso Lamber, e após profunda reflexão teológica, se reconverte irreversivelmente ao catolicismo.

É um homem de estudo e cogitação, mas isso jamais o impede de fruir a vida nos seus aspectos mais lúdicos e sociáveis. Nos anos 60, empreende uma viagem a Saint Tropez, então em voga, acompanhada de dois grandes amigos: Pedro Froes e sua mulher, Amélia.

Um pouco mais tarde, levado por um cunhado, frequenta os Cursos de Cristandade, iniciativa a que adere com entusiasmo e em cujo desenvolvimento se empenha com convicção. A entrada ‘Cursos de Cristandade’, na Verbo, Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, é de sua autoria.

1962
Este ano ficará  marcado pelo fim de um dos seus projectos mais queridos: o jornal 57.

1963
Publica um primeiro ensaio de Filosofia da História, O Movimento do Homem – Drama, Movimento, Evolução em que o seu pensamento começa a afirmar-se e onde concilia a exigência filosófica com a mais rigorosa inteligência da teologia e da antropologia filosófica.

Criado o Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, abraça esse projecto. Nele colaboram Branquinho da Fonseca, Domingos Monteiro, Luís Amaro e Orlando Vitorino.

As edições Panorama publicam António Ferro, selecção, prefácio e comentários de António Quadros.

Funda e dirige uma nova publicação, a revista de Filosofia e Cultura Espiral que editará 13 números, entre 1964 e 1966. Nela, é dominante a atenção reflexiva à cultura portuguesa e na qual é permanente a presença do Brasil, da África e do Oriente, não sendo também esquecidos os profundos laços espirituais que ligam Portugal, à vizinha Galiza. A revista também funciona como editora, que dá à estampa vários títulos.

1964
Publica Crítica e Verdade – Introdução à Actual Literatura Portuguesa, dedicado a David Mourão-Ferreira, Luíz Francisco Rebello e Urbano Tavares Rodrigues, com capa de Paulo Guilherme. Através desta obra, António Quadros apresenta e analisa as novas tendências da ficção narrativa e do teatro, em Portugal, e onde, culminando alguns anos de crítica literária vigilante e independente, se debruça sobre a obra de Tomás de Figueiredo, Joaquim Paço d’Arcos, Alves Redol, Fernando Namora, Manuel da Fonseca, Branquinho da Fonseca, Agustina Bessa-Luís, Urbano Tavares Rodrigues, Vergílio Ferreira, Alfredo Margarido, Domingues Monteiro, Natércia Freire, José Régio, Luís Francisco Rebello, Bernardo Santareno, José Cardoso Pires e Luís de Sttau Monteiro, entre muitos outros.

Na opinião de alguns contemporâneos, António Quadros é dos melhores, senão o melhor, críticos literários da sua geração, possuindo uma visão aberta, flexível e moderna da Literatura.  

Publica O Romance Brasileiro Actual, separata do Romance Contemporâneo, edição da Sociedade Portuguesa de Escritores.

1965
A convite de Agostinho da Silva, desloca-se pela primeira vez ao Brasil, proferindo conferências e dando aulas sobre temas de filosofia e cultura portuguesa na Universidade de Brasília e noutros importantes centros culturais brasileiros, como o Rio de Janeiro e S. Paulo.

É neste ano que termina o seu livro Histórias do Tempo de Deus, dedicado ao irmão – «Para o Fernando, meu irmão, longe mas sempre perto» - distinguido com o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências e com o Prémio de Novelística da Casa da Imprensa. Na introdução, o autor fundamenta o título: «Em nossa volta, na nossa cidade, na história que nos chama e à qual nos entregamos, em toda a intérmina fenomenologia do homem consciente e convivente levanta-se uma suspeita, desenha-se um enigma. Ainda e sempre, o tempo de Deus é o tempo da atenção. Atentos, vivamos. O tempo de Deus é hoje».

Inicia a Editorial Notícias, com um estudo crítico sobre Carlos Botelho, nº 1 da Colecção Artistas Portugueses do Século XX.

1966
Nas edições Espiral, publica Imitação do Homem, dedicado «À minha mãe, que me disse Poesia», singular livro de odes onde revela toda a sua inquietação sobre o enigma do ser:

Se o homem é contradição e identidade,

se o homem é vário e inconsciente,

se o homem é bom e mau,

se o homem é perene alteração,

se o homem é repouso e evolução,

abandono e vontade,

acção e contemplação,

egoísmo e ascetismo,

se o homem simplesmente é,

e se no seu ser cabe todo o universo,

razão,

assume-o simplesmente inteiro,

dedica-te a pensá-lo no diverso

e nada excluas,

a sensação ou a fé (…)

Morre Delfim Santos, com apenas 59 anos de idade, após décadas de actividade como professor, pedagogo e filósofo.  

Prossegue o seu trabalho no Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian que, durante mais de vinte anos, constitui a sua principal actividade profissional. Este cargo que, inicialmente, é de inspector, obriga-o a percorrer o país de Norte a Sul. Nestas deslocações, aproveita para visitar e conhecer a fundo o património artístico português, registando-o em centenas de slides que, anos mais tarde, se lhe revelarão preciosos como docente de História de Arte.  

Ainda em 1966, desloca-se com a mulher a Espanha, para participar na Feira de Sevilha.

Na segunda metade dos anos 60 e nos primeiros da década seguinte, publica obras ensaísticas como O Espírito da Cultura Portuguesa (1967). Nesta obra, compila parte dos textos mais representativos da sua colaboração na Espiral.

Publica em separata da Revista de Letras O Português e o Barroco.

1968
A Editorial Estampa publica na colecção “Polémica”, com apresentação de Urbano Tavares Rodrigues, uma compilação de depoimentos sobre a guerra do Vietname. António Quadros é autor de um desses depoimentos.

1969
Publica Uma Viagem à Rússia onde, em estilo de reportagem, conta a sua viagem de barco à União Soviética durante a qual experimenta a aventura de ser detido por comprar umas escassas divisas no mercado negro e, de onde só pode sair indicando às autoridades oficiais o traficante que lhas vendera. Mais tarde, confessa à família: «Foi a primeira e única vez que denunciei alguém, e ainda hoje, de vez em quando, sinto remorsos.»

Mas, 1969 é também o ano que assinala a realização de um dos seus sonhos mais públicos: o IADE.

Com efeito, depois de um cruzeiro onde conhece alguns dos seus futuros sócios, e após diversas visitas a escolas de arte e de design de Madrid, Barcelona e Bilbau, e sobretudo à Escola Politécnica de Design de Milão, com que estabelece acordos de intercâmbio e de pós-especialização, funda o IADE, inspirado num modelo espanhol, embora com moldes inéditos em Portugal.

As iniciais correspondem, no início, a «Instituto de Arte e Decoração», mas passará a designar-se, anos depois, «Instituto de Artes Visuais Design e Marketing».

Para o efeito, forma sociedade com os espanhóis Francisco Carralero Saiz, António Perez de Castro e Julio Illa Ocaña e ainda, com um grupo de amigos fiéis: o advogado Manuel Ferreira de Lima, a sua cunhada Conceição Roquette e ainda com Manuel Sebastião de Carvalho Daun e Lorena, actual Marquês de Pombal, cuja mãe lhes aluga parte do palácio onde habita, para aí instalarem a Escola.

Este espaço, situado no nº 70 da Rua do Alecrim, em Lisboa, actual sede cultural do Instituto, abrange a entrada nobre do palácio com a sua monumental escadaria e algumas salas inteiramente revestidas de frescos. Este palácio oitocentista acolhera o General Junot durante as Invasões francesas lideradas por Napoleão e que, em 1874, fora adquirido por Francisco Augusto Mendes Monteiro (bisavô do actual Marquez de Pombal), mais conhecido por “Monteiro dos Milhões”.  

Convida, para assumir o cargo de director, mestre Lima de Freitas, pintor cujas obras simbólicas muito admira e cuja amizade entabulara anos antes, a partir de uma relação epistolar, Desafia para professores alguns dos nomes mais prestigiados da época ligados à cultura e às artes plásticas: o escritor David Mourão-Ferreira, o arquitecto Costa Martins, e os mestres Manuel Lapa, Rafael Calado, Artur Rosa, Manuel Costa Cabral e João Vieira, entre outros. Mais tarde, o próprio Lima de Freitas ministrará um Curso Livre de Pintura nas instalações do IADE.

A notícia da inauguração da Escola desperta o maior interesse junto da imprensa e do público, e o IADE, abre as inscrições com um curso de Decoração, com a duração de três anos, e ainda, com um Curso Básico de Cultura Portuguesa e dois cursos práticos, de fotografia e de cerâmica. As vagas esgotam-se em poucos dias.  

A seu convite, os gigantes do design Bruno Munari, Claude Ternat e John David Bear deslocam-se propositadamente a Portugal, o primeiro para participar num seminário, os segundos para leccionar no IADE.

1970
Publica, nas edições Espiral, Teoria da História em Portugal e Franco-Atirador – Ideias Combates e Sonhos.

Por morte do escritor Domingos Monteiro, é nomeado Director das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Gulbenkian. A sua intensa actividade profissional não o impede, porém, de continuar a intervir constantemente na vida cultural portuguesa, proferindo conferências, participando em congressos, colóquios e seminários, colaborando regularmente na imprensa, e exercendo ao longo da vida, diversas funções ou assumindo cargos de relevante significado e responsabilidade, como os de membro da primeira Direcção da Sociedade Portuguesa de Autores, de que foi um dos fundadores, Presidente da Comissão Nacional para o Ano Internacional da Alfabetização, Representante do Ministério da Educação no Comité Nacional para a Década Mundial do Desenvolvimento Cultural, Director da Biblioteca Breve do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, membro da Direcção do Círculo Eça de Queirós e membro do Conselho de Administração do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, membro-correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Filosofia, membro da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa, do Centro de Estudos Luso-Brasileiros, e do CELBRA, Centro de Estudos de Pensamento Luso-Brasileiro (Rio de Janeiro), professor-convidado da Universidade Gama Filho (Brasil), titular do Conselho de Administração da Fundação Lusíada e membro para Alta Autoridade da Comunicação Social, entre outros.

Paralelamente, prossegue e realiza uma vasta obra no domínio do ensaísmo filosófico, da ficção e da poesia, ampliando e aprofundando o seu estudo da obra de Fernando Pessoa, de que será o mais profundo intérprete, e desenvolve uma séria, inovadora e complexa reflexão sobre Portugal e o significado mais secreto da sua cultura e do seu destino histórico e transcendente.