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Fundação António Quadros
2023 - BIOGRAFIA Imprimir e-mail

PRÉMIO ANTÓNIO QUADROS 2023

Categoria:

Biografia

Obra Literária Vencedora: 

Fernando Pessoa: Uma Biografia 

Autoria: 

Richard Zenith

Relatório do Júri (lido no dia 14 de Julho de 2023 por Manuela Dâmaso):

PRÉMIO ANTÓNIO QUADROS 2023 BIOGRAFIA (integrado nas Comemorações do Centenário de Nascimento de António Quadros)

Hoje, dia 14 de Julho celebramos o centenário de António Quadros.

A atribuição deste prémio assumiu este ano uma responsabilidade redobrada já que, na escolha da obra a premiar, o júri decidiu ter em conta a opinião que acreditava ser a do próprio António Quadros.

O júri foi composto por Mafalda Ferro, presidente da Fundação António Quadros e do Conselho de Administração, Manuela Dâmaso, membro do Conselho Consultivo, e Francisco d’Orey Manoel, vice-presidente do Conselho de Administração.

Richard Zenith nasceu em Washington D.C. em 1956 e estudou Letras na  Universidade de Virgínia. Viveu na Colômbia, no Brasil e em França antes de se radicar em Lisboa, em 1987, para onde veio com o objectivo de traduzir cantigas trovadorescas, poesia medieval. Foi nessa altura que descobriu o “Livro do Desassossego”, publicado pela primeira vez em 1982.

Mas, já antes, tinha ficado fascinado com os versos de Fernando Pessoa quando, por volta dos seus vinte anos, o namorado de uma amiga lhe deu a conhecer o poeta português.

“Não sou nada./ Nunca serei nada./ Não posso querer ser nada./À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” do poema “Tabacaria” de Álvaro de Campos, foram alguns dos versos que inauguraram em Richard Zenith, o desejo de conhecer Fernando Pessoa. Décadas passadas e eis-nos com o resultado dessa demanda.

Richard Zenith: é escritor, tradutor, investigador e crítico literário. É, ainda, conferencista sobre Fernando Pessoa, tradução literária e outros temas. Foi editor da secção portuguesa de www.poetryinternational.org (2003-2005), onde continua como tradutor. Colabora com a Assírio & Alvim desde 1998, ano em que publicou a sua edição do Livro do Desassossego, de Bernardo Soares.

Como tinha vivido no Brasil e aprendido português, e percebendo que não havia nenhuma tradução dessa obra para inglês, procedeu a essa tarefa, iniciando, deste modo, uma profícua divulgação de Pessoa pelo mundo anglo-saxónico. O seu papel tem sido decisivo na divulgação da literatura lusófona, graças às suas traduções de Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, António Lobo Antunes, Antero de Quental, Luís de Camões e João Cabral de Melo Neto, entre muitos outros. A sua actividade como tradutor valeu-lhe a atribuição de diversos prémios dos quais se destaca o PEN Award for Poetry in Translation (1999), o Calouste Gulbenkian Translation Prize (2002) e o Harold Morton Translation Prize (2006). Foi distinguido com o Prémio Pessoa (2012). Nas palavras do presidente do júri que presidiu à entrega desse prémio, Richard Zenith tornou-se «cidadão de Portugal por dedicação e louvor a uma obra, a de Fernando Pessoa, uma literatura, a nossa, e uma língua, a portuguesa».

Pessoa: Uma Biografia foi editada em Maio do ano passado, com tradução de Salvato Teles de Menezes e Vasco Teles de Menezes. Esta biografia foi, publicada originalmente em inglês, em Julho de 2021, e eleita um dos melhores livros desse ano por publicações como The New York Times, The Spectator, The New Statesman, Kirkus Reviews e Publishers Weekly.

No ano seguinte, foi finalista do Prémio Pulitzer.

Estamos perante 13 anos de trabalho dedicado a Fernando Pessoa, com viagens a Durban (onde o poeta viveu durante a sua adolescência) e horas e horas de investigação para dar corpo a um quotidiano de uma vida fisicamente pacata, mas mentalmente, produto de uma alma que “era um vulcão”, expressão usada por António Quadros em 1988 ao referir-se a Pessoa.

Tal como o título indica, estamos perante uma biografia, um olhar sobre o vasto campo de investigação que se oferece a um dedicado investigador cuja pesquisa nunca termina, isto é, Richard Zenith, enquanto intelectual do mundo da Literatura, oferece-nos uma visão da vida de um dos maiores poetas de todos os tempos com a humildade dos grandes sábios, ao intitular o seu trabalho Uma biografia e não A biografia.

Minucioso na investigação, apaixonado na apresentação de cada elemento que constituiu o percurso existencial do autor de Mensagem, Zenith não só ofereceu ao mundo anglo-saxónico a possibilidade de desvendar com detalhe a vida de Fernando Pessoa (esta obra foi editada em 2021 nos Estados Unidos), como nos enriqueceu a todos com uma brilhante e incomparável biografia de Fernando Pessoa, obra amplamente elogiada pela crítica internacional e incluída em várias listas de melhores livros do ano pela imprensa de língua inglesa.

Antes desta biografia, tivemos em 1950, outra de João Gaspar Simões (com algumas informações incorrectas) e em 1960, uma abordagem biográfica de António Quadros Fernando Pessoa, aprofundada em 1981 e em 1982 com o título Fernando Pessoa: A Obra e o Homem (em 2 volumes) e posteriormente em 1984, 1988, 1992 e 2000 com o título  Fernando Pessoa: Vida, Personalidade e Génio (em volume único).

Fernando Pessoa foi um caso único de criação artística através da palavra. Como nenhum outro, fez da imaginação a matéria-prima com que povoava o seu mundo. Fez-se outros, inventou seres poéticos com personalidades, vidas e estilos distintos. Foi palco de actores, produtos do seu fingimento, pois, fingir em Pessoa, é criar, inventar, ser outro.

Assim, temos Alberto Caeiro, para quem “Pensar é estar doente dos olhos”, Ricardo Reis que nos afirma que “Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.”, Álvaro de Campos, na sua desconcertante observação da arte em “O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.” e Bernardo Soares, com uma das suas reflexões “Falhei, como a natureza inteira.”

Estes, entre dezenas de outros, cuja imaginação fulgurante deixou em mais de 25 mil papéis na célebre arca que continua a ser uma das fontes de investigação para pessoanos.

Ao poeta biografado, praticamente tudo aconteceu em Lisboa, cidade onde nasceu e veio a morrer, onde trabalhou em escritórios, onde abriu a tipografia Ibis com a herança da avó (que depois faliu), onde colaborou na revista Orpheu com o seu grande amigo Mário de Sá-Carneiro e publicou o único livro da sua vida, Mensagem, depois da insistência de António Ferro, pai de António Quadros, para que concorresse ao Prémio Antero de Quental promovido pelo Secretariado Nacional de Informação. António Ferro conhecia Pessoa desde muito jovem, pois tinha sido precisamente ele, o editor da Revista Orpheu, marco indelével do Modernismo português.

Fernando Pessoa morreu aos 47 anos, deixando-nos uma obra ímpar da qual nos falará Richard Zenith, a quem todos agradecemos a entrega apaixonada a um dos maiores poetas universais, de modo a compreendermos melhor a sua apaixonante singularidade.

 

Nota biográfica do Autor:

Norte-americano de origem e português por adopção, Richard Zenith é um free-lancer que se dedica à escrita, à investigação e à tradução.

É organizador do Livro do Desassossego e muitas outras obras de Fernando Pessoa. O seu livro Pessoa: A Biography (2021) foi finalista do prémio Pulitzer 2022 e eleito um dos melhores livros do ano por publicações como The New York TimesThe New Statesman e Publishers Weekly.

Do seu trabalho como tradutor de português para inglês destacam-se seis livros de Pessoa, a lírica de Camões e antologias da poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen, João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade.

Foi galardoado com o Prémio Pessoa em 2012.

Coordenação:

Mafalda Ferro

Júri: 

Francisco d’Orey Manoel  (vogal), Mafalda Ferro  (presidente)Manuela Dâmaso  (vogal).

Cerimónia de entrega (integrada nas comemorações do centenário de António Quadros):

Rio Maior, Fundação António Quadros, sexta-feira, 14 de Julho de 2023.

Troféu: 

O troféu «Vida», em forma de espiral (bronze sobre base em madeira de mogno), criação da arquitecta / escultora Cristina Rocha Leiria.

Apoios: 

Câmara Municipal de Rio Maior; Casa da Caldeira; Doces d'Aldeia; Enoport Wines; Loja do Sal.