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Fundação António Quadros
Biografia Imprimir e-mail

 Autores 
Biografia
1900 - 1915
1915 - 1921
1922 - 1927
1928 - 1935
1936 - 1949
1950 - 1957
1957 - 1963
1964 - 1974
1975 - 1984
1985 - 1995
1995 - 1999

1936-1949
Fernanda de Castro ajuda o marido na recolha de elementos para o Pavilhão de Portugal na Exposição Internacional de Paris, a realizar no ano seguinte. Em 1937, é inaugurada a referida Exposição. Fernanda de Castro acompanha António Ferro, ajudando-o em várias iniciativas e com ele realizando, no Teatro dos Campos Elíseos, uma conferência dialogada, em francês, intitulada Rapsódia Portuguesa, na presença do tout Paris.

Na Casa de Portugal, colabora também activamente numa série de conferências que dão brado, pois têm a participação de grandes figuras da literatura europeia, entre as quais dois laureados com o Prémio Nobel. As Conferências são proferidas por Robert Kemp, apresentado por Pirandello; por Fernand Gregh, apresentado por Maurice Maeterlink; por Luc Durtain, apresentando por Paul Valéry;  e ainda por Émile Villermoz, apresentado por Colette; no final desta última, travou-se um animado diálogo público entre Colette e António Ferro.

Ainda nesse ano, traduz o Divertimento Filológico de um grande escritor francês, Valery Larbaud, muito amigo do casal, texto de comentário a vocábulos de diversas línguas, em especial a portuguesa.

Em 1939 inauguram-se os Pavilhões de Portugal nas Exposições de Nova Iorque e de S. Francisco. Fernanda de Castro acompanha o marido, que é organizador e Comissário dos respectivos pavilhões portugueses.

Simultaneamente, prepara um projecto em colaboração com a pintora Inês Guerreiro, que não chega a publicar: a realização de um «álbum de bebé» ilustrado, imaginado por si, cuja maquete a família conserva. 

Em 1940, escreve o argumento do bailado A Lenda das Amendoeiras, estreado em Novembro no Teatro da Trindade pelo Grupo de Bailados Portugueses Verde Gaio, com música de Jorge Croner de Vasconcelos, coreografia de Francis Graça, cenário e figurinos de Maria Keil do Amaral.

Colabora também em algumas áreas da grande Exposição do Mundo Português, de que seu marido é Secretário-Geral. Em 1941, publica um livro de poesia: 39 Poemas, este em edição da revista Ocidente. Maravilhado, António Botto consagra-a numa carta que lhe endereça: Lindíssimos versos – versos d’alma - versos d’arte, um encanto permanente. 

Traduz para português a peça O Padre Setúbal, de Maurice Maeterlinck, neste mesmo ano apresentada no Teatro Nacional D. Maria II por Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro.

A 19 de Janeiro de 1943, em tradução romena, revista por Mircea Eliade, e por iniciativa deste seu amigo, então colocado na Legação da Roménia em Lisboa, a sua peça A Pedra do Lago, com o título Destin, é representada no Teatro Nacional de Bucareste. A peça é publicada pela Editorial Império e é mais tarde apresentada no Teatro da Trindade.

Mircea Eliade, Miguel de Unamuno e Maurice Maeterlink são, para além de Colette, Cecília Meirelles e Gabriela Mistral, por quem nutre verdadeira admiração pessoal e literária, talvez os três grandes vultos do seu tempo com quem tem oportunidade de privar e mais a impressionam: Mircea, que considerava a pessoa mais entendida em tudo o que toca o sobrenatural e a quem teve a sorte de ouvir longos e encantatórios relatos sobre a sua experiência no Tibete; Unamuno -  quem quisesse chamar a sua atenção, não lhe falasse da sua obra, da sua filosofia, do seu sentido profundo da vida, mas das suas bonecas, das figurinhas de papel que ele recortava com as pontas dos dedos enquanto jantava ou passeava. Então, sim, descia do seu pedestal e era o mais simples dos homens! e Maeterlink, que passou, durante a guerra,  uma temporada na Quinta da Marinha,  numa casa vizinha àquela onde Fernanda de Castro gozou férias ao longo de 15 anos e que é hoje o Clube do condomínio; para além dos valiosos conselhos literários que lhe deu, Maurice, presidente da associação Cent Gourmets de France, forneceu-lhe ainda algumas das receitas culinárias que, mais tarde, nas legações de Portugal em Berna e em Roma, lhe granjearam a reputação de excelente anfitriã.

Fernanda de Castro, que a par da sua actividade enquanto escritora e presidente dos Parques Infantis, sempre se interessou pela gastronomia (como pela tapeçaria de Arraiolos, de que foi excelente executante), publica na Portugália Editora, atendendo às dificuldades de abastecimento provocadas pela Guerra, um livro de cozinha, com capa de Ofélia Marques e pseudónimo de Teresa Diniz: Cem receitais Sem Carne, onde a sua nora Pó ainda hoje se inspira para cozinhar. O prefácio é seu e obtém um êxito de vendas imediato.

Em 1944, traduz o Diário de Katherine Mansfield, escritora com quem muito se identifica. O livro é publicado pela Livraria Tavares Martins, do Porto, com capa de Manuel Lapa e um desenho de Magalhães Filho.

Em 1945 publica, em edição da Livraria Tavares Martins, com capa e um desenho de Manuel Lapa, o seu célebre Maria da Lua. Com este romance – dito juvenil, mas, na verdade, um verdadeiro encantamento para adultos – Fernanda de Castro é a primeira mulher a obter o Prémio Ricardo Malheiros, da Academia de Ciências de Lisboa. Sucessivamente o livro terá cinco edições, a última das quais em 1984, pela Ed. Verbo.

É neste ano que Aquilino faz da obra de Fernanda de Castro uma apreciação lapidar: sem igual no lirismo contemporâneo.

Colabora na curta-metragem de João Mendes, dedicada à sua obra social, precisamente com o título Parques Infantis, estreada no Odéon e no Palácio a 19 de Dezembro.

Em 1946, traduz Cartas a um Poeta, de Rainer-Maria Rilke, publicadas pela Portugália Editora. O prefácio é também seu. Desta versão foram feitas numerosas edições, sendo a última de 1986, pela Editora Contexto. Traduz também, durante os anos 40 e 50, o romance A Ilha dos Demónios, de Carmen Laforet; A Electra, de Sófocles (que ficou inédita); A Volúpia da Honra, de Pirandello, representada no Teatro Nacional; O Rei Está a Morrer e O Novo Inquilino, de Ionesco, sendo a primeira representada no Teatro Trindade e a segunda no Teatro Nacional.

Fernanda de Castro, de intuição dramatúrgica já demonstrada, afirma-se aqui como grande tradutora de peças teatrais.

Em 1948, publica o romance Sorte, de raiz bucólica, em edição da revista Ocidente, ganhando com ele o 2º prémio das «Casas do Povo».