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Fundação António Quadros
Biografia Imprimir e-mail

 Autores 
Biografia
1900 - 1915
1915 - 1921
1922 - 1927
1928 - 1935
1936 - 1949
1950 - 1957
1957 - 1963
1964 - 1974
1975 - 1984
1985 - 1995
1995 - 1999

1957-1963
Continuando a dirigir o Solar D. Carlos, Fernanda de Castro, embora viúva e com poucos recursos, recusa a oferta do então Ministro do Interior para auferir um vencimento pela direcção dos Parques Infantis. 

A escritora Marguerite Yourcenar passa um período no Solar, trabalhando num dos seus romances. Neste ano, escreve as peças de teatro Coulisses (directamente em Francês) e Maria da Lua, adaptada do romance pelo qual obtivera o Prémio da Academia de Ciências. Ambas as peças ficam inéditas, mas nada detém a sua inquebrantável energia criadora.

Em 1958, promove no Jardim da Estrela a «Feira de Portugal em Lisboa», uma exposição de artesanato das várias províncias, repartidas por pitorescos stands individualizados. 

Em 1958, escreve o argumento do filme Rapsódia Portuguesa, com realização de João Mendes e produção de Filipe de Solms.

Na casa onde vive, o Presidente da Câmara descerra uma lápide dedicada a seu marido, ao lado das lápides já existentes, referentes a Oliveira Martins e a Ramalho Ortigão.

Também no Palácio Foz é descerrado um busto de seu marido, da autoria de Álvaro de Brée, cuja réplica se encontra no Círculo Eça de Queiroz, fundado por António Ferro. Fernanda de Castro está presente em ambas as cerimónias.

Em 1959, quatro anos decorridos sobre a sua aquisição, a escritora vende o Solar D. Carlos. 

No Parque Infantil das Necessidades dedica-se a realizar uma experiência inovadora: a criação do grupo O Pássaro Azul, nome inspirado numa das peças de Maeterlink, em que se integram 100 crianças dos Parques, com o objectivo de receberem uma educação artística tão completa quanto possível. O elenco de docentes é luxuoso: Sarah Afonso e Inês Guerreiro (Pintura), Eunice Muñoz e Carmen Dolores (Teatro), Águeda Sena e Ana Máscolo (Dança), Maria Germana Tânger (Poesia e declamação), Arminda Correia, Júlia d’Almendra e Nina Marques Pereira (Música).

O grupo apresenta diversos programas na R.T.P. e na Estufa-fria, aqui a convite da Câmara Municipal de Lisboa.

A Rapsódia Portuguesa estreia-se no Tivoli a 30 de Março, vindo mais tarde a obter um prémio no Festival de Cannes.

Em 1960, integrada nas Festas de Junho, a escritora organiza, em moldes inéditos, uma grande Festa Popular no Jardim da Estrela, animada durante a quadra dos Santos Populares por manifestações das mais variadas e com um grande êxito junto do público. 

No mesmo ano, Fernanda de Castro escreve a peça Mãe Dolorosa, mais tarde apresentada na R.T.P., tendo Brunilde Júdice como protagonista. Vai também à Madeira, proferindo no Funchal a conferência O Mundo é Pequeno.

Em 1961, organiza de novo a Festa Popular no Jardim da Estrela, com algumas inovações e o mesmo êxito.

O Teatro Nacional D. Maria II leva à cena a sua peça A Espada de Cristal, com Lourdes Norberto.

Em Novembro deste ano, Fernanda de Castro sofre um terrível choque: num desastre de automóvel, o seu filho Fernando é gravemente ferido e morrem as duas filhas deste, suas netas, Tracy e Grett, que ela ama perdidamente.

É um golpe duríssimo, que a aproxima ainda mais da Poesia.

Neste mesmo ano viaja até Moçambique onde, em Lourenço Marques, Beira, Nampula, Quelimane e Porto Amélia, apresenta as conferências Rapsódia Portuguesa e O Mundo É Pequeno, de que nos fala a poetisa Edith Arvelos, num artigo para um jornal moçambicano (Setembro, 1962): «No fim da conferência ficámos com a impressão de termos durante uma hora visitado grande parte do Mundo e vivido muitas vidas, embora essa hora nos tivesse parecido um minuto.»

África arrebata-a, como sempre. Na capital de Moçambique dá também dois recitais de poesia em conjunto com a declamadora moçambicana Manuela Arraiano, sua grande amiga. Visita vários locais de Moçambique, entre os quais a Gorongosa, que lhe inspirará mais tarde um romance de aventuras para a juventude.

Em 1963, Fernanda de Castro cria o Teatro de Câmara António Ferro, em homenagem a seu marido, rodeando-se de um grupo de jovens poetas, encenadores, actores e artistas, como José Carlos Ary dos Santos, Diogo Ary dos Santos, Norberto Barroca, Alexandre Ribeirinho, Maria Hermínia Monteiro, Pedro d’Orey, Helder Gaspar, Vasco Wellenkamp, etc., contando também com a colaboração de Eurico Lisboa e do seu filho António Quadros, e ainda com a disponibilidade de quatro das suas mais queridas e fiéis amigas: Maria Germana Tânger, Inês Guerreiro, Heloísa Cid e Edith Arvelos. O Teatro de Câmara António Ferro apresenta fragmentos do Milagre de Santo António e de Mona Vanna, de Maurice Maeterlinck; cenas de O Lugre, de Bernardo Santareno; Passagem do Evangelho e Azul Existe, de José Carlos Ary dos Santos ou Rua Velha, da própria Fernanda de Castro, além de diversos outros textos dramatúrgicos ou poéticos. As representações fazem-se na sala principal da sua casa, precisamente onde se reuniam muitas vezes, no tempo de Oliveira Martins, os «Vencidos da Vida».

Em 1963 publica um romance infantil, A Princesa dos Sete Castelos, com ilustrações de Inês Guerreiro, que mais tarde terá uma edição brasileira. Publica ainda A Ilha da Grande Solidão, em edição da Portugália Editora, com vinhetas da capa de João da Câmara Leme, que constitui um poema extenso, deslumbrante e em muitos aspectos autobiográfico. Mário Beirão deixa-se encantar por ele: É feito das lágrimas dum canto de estrelas do Anjo da Infância. Todo ele é Poesia, só Poesia, astral Poesia. Recorde-se esta passagem, reveladora do temperamento rebelde e inconformado da autora:

Mais cavalos vieram,

mais irmãos,

mas sempre em minhas mãos

me puseram bonecas,

de pasta e porcelana,

cavalos, não!

E eu rasgava a tremer a tartalana

dos vestidos,

e odiava, odiava,

com os meus cinco sentidos!