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NO CAMINHO DE ANTÓNIO QUADROS

O
pensamento de António Quadros – original, autêntico e inédito, não alinhado com os ismos dominantes e filosoficamente correctos da sua e da nossa época - continuará a inspirar os poucos que ainda teimam em percorrer caminhos não calcorreados, pensar ideias ainda não admitidas, propor hipóteses de estudo ainda não propostas. O que os clássicos talvez tivessem chamado «maiêutica».

Ligar, uma a uma, as peças do puzzle universal, numa criatividade constante, não é para qualquer um e quem o quiser tentar precisa de boas ajudas: Quadros, Etienne e Agostinho são uma boa ajuda para o aprendiz de filósofo até 2013. E logo a seguir, Fernando Pessoa, mas esse está sempre na encruzilhada de todos os caminhos.
Lisboa, quinta-feira, 17 de Junho de 2010

I
3 PENSADORES DA UTOPIA 2013: ANTÓNIO QUADROS, ETIENNE GUILLÉ E AGOSTINHO DA SILVA
Vamos encontrar no pensamento de António Quadros (1986, «Portugal Razão e Mistério») o léxico que viria a ser sistematizado pela Gnose Vibratória de Etienne Guillé, desde 1983.

Arquétipo, Mito, Idade de Ouro, Atlântida, Legado megalítico, Hierofantes egípcios, Ideogramas, Hieróglifos, Morte Iniciática são apenas alguns bons exemplos.

Cada um à sua maneira e partindo de pressupostos necessariamente diferentes, estes dois autores – António Quadros e Etienne Guillé - convergem no mesmo objectivo principal : libertar a Razão do racionalismo, libertar Deus das religiões, libertar o Verbo da Babel das línguas, libertar a Essência de todos os acessórios que a limitam e desvirtuam, libertar os Arquétipos da tirania dos estereótipos, enfim, libertar a livre liberdade de filosofar do discurso único do filosoficamente correcto.

António Quadros e Etienne são, cada um na sua época, cada um no seu contexto cultural, cada um no seu campo de visão, pensamentos libertadores: que, ocasionalmente e desconhecendo-se um ao outro, coincidem.
Não esqueçamos, afinal, que les «beaux esprits se rencontrent».
A sincronia que um e outro defendem – e que ambos citam de Carl Gustav Jung – funciona aí e assim como um relógio de precisão.
Não será pela matemática mas pela inteligência que a filosofia se torna uma ciência de rigor.
«Ciência sem Consciência é ruína da Alma» : eis um postulado, atribuído ora a Francis Bacon ora a Rabelais, que resume a determinante destes dois pensadores contemporâneos mas contemporâneos no melhor e mais profundo sentido: coetaneos, contemporâneos e coeternos como diria genialmente o genial Agostinho da Silva, ao falar das 3 idades: Pai, Filho e Espírito Santo.
Não só porque viveram parcialmente no mesmo tempo cronológico mas porque viveram, pela intuição, por um apurado sexto sentido, por uma incessante e compulsiva criatividade, o mesmo tempo de consciência cósmica: e de novo nos surge a palavra «sincronia» que é uma sintonia à escala macrocósmica.
Atlantes e Atlântida, que a maior parte dos arqueólogos coloca na categoria dos mitos, são um ponto comum aos nossos dois investigadores: como não podia deixar de ser, diga-se de passagem.
Não só porque «les beaux esprits se rencontrent» mas porque há um ponto central no infinito e todos os que nos falam do infinito neste espaço finito, e da eternidade na nossa efemeridade, lá se encontram, tarde ou cedo. Mais cedo que tarde, à medida que o tempo acelera na contagem decrescente para o 21.12.2012.

Além do mais que poderá ter sido (continente, cultura, povo, fábula, utopia ou  História contada por Platão nos diálogos Timeu e Crítias) a Atlântida é, para Etienne Guillé, um sistema de memórias que estão no nosso ADN molecular, um nível de informação que podemos descodificar, uma frequência vibratória que traduz um nível de consciência que, através dos milénios, se foi perdendo : por razões cósmicas e astronómicas, diga-se, como um bom alibi para a espécie humana. É o  que a Bíblia nomeia com o nome de Queda e que Etienne Guillé situa 41 mil anos atrás da Era Cristã (Era zodiacal de Peixes, sublinhe-se).

Quase tudo, nesta Queda, nesta Decadência, é imputado no discurso moderno à malvadez da humanidade: mas os pontos altos e baixos dos humanos ou humanóides são resultantes da conjuntura cósmica ou, mais precisamente, da Era zodiacal.
Este pressuposto – o do ano cósmico, 25.920 anos «normais» segundo a estimativa mais fiável que conhecemos – está implícito nos nossos dois pensadores e, por vezes (mas raramente) se explicita, porque o modernismo das modas trouxe mais uma contrafacção que colocou a Sabedoria dos ciclos (ciclosofia) no limbo das iniquidades: que um intelectual deve rejeitar, se quer dignificar o nome e a classe ou elite a que pertence.

Refiro-me, evidentemente, ao equívoco da Astrologia kármica, que teve artes de reduzir ao horóscopo de 12 meses a sabedoria universal das 12 Eras zodiacais que nos foi legada pelas cosmogonias das grandes culturas da Terra: basta citar os taoístas, os hierofantes egípcios e os sacerdotes mayas (grandes astrónomos, diga-se de passagem).

Essas as fontes a que, na linha de Quadros e Etienne, deveremos recorrer cada vez com maior frequência, para saber de onde sopra o vento e qual é o rumo da viagem no caminho da Utopia, da 2ª Idade de Ouro, do Milagre.
Elas são a bússola que nos orientará no redemoinho do nosso tempo-e-mundo. Como todos reconhecem, caímos no fundo do fundo e não haverá saída sem a ajuda de um «guindaste» de grande potência.
A palavra Espírito será a que melhor se perfila para baptizar esse guindaste.
A Noologia ou Noosofia de Etienne é o estudo metódico e prático da Energia Espírito (a 3ª Idade de Joaquim de Fiore ou do Espírito Santo?).
Consideramos um desperdício não aproveitar esse método que o destino nos coloca de bandeja para individual e colectivamente superarmos o Inferno em que estamos.

Curiosamente, nem um nem outro dos nossos dois amigos, coloca explicitamente a premissa de uma contagem decrescente até 21.12.2012, cabo das Tormentas a transmutar em cabo da Boa Esperança.
Mas, implícita, ela está lá, quando ambos deixam no ar a necessidade de uma utopia. Ou seja: a situação deste tempo-e-mundo é de tal modo caótica e um buraco sem saída que só o impossível – um «milagre»?, uma «utopia»?– nos poderá individual e colectivamente salvar.
Como «milagre» continuará a ser palavra tabu entre as elites intelectuais do cientifismo racional positivista e enquanto o milagre não se tornar rotina quotidiana, vamos socorrer-nos do 3º filósofo da nossa Esperança: Agostinho da Silva.
Em linguagem simples, com palavras de toda a gente, ele vai traçando o roteiro para o caminho que leva ao impossível.
Teremos que dar um pouco mais de atenção ao que se está passando, portanto, através de poderosas iniciativas e movimentos inspirados por Agostinho, outro agitador de almas e construtor de mundos.
A mais recente dádiva que podemos e devemos agradecer já em 2010 é a revista «Cultura entre Culturas», dirigida por Paulo Borges, esse outro criador de mundos.

Será mais um impulso para – digamos – banalizar o milagre.
A construção do próximo futuro (do progresso) faz-se pelo regresso às fontes da Sabedoria: mais um ponto comum e coincidente aos 4 pensadores.
Para qualquer deles, «aprender é recordar», confirmando um outro postulado que o racionalismo e o positivismo e o cientifismo proibiram: «Somos um Espírito que tem um corpo e não um corpo que tem um espírito».
Este dizer, atribuído a Teilhard de Chardin, deixou de ter dono: as ideias, quando traduzem arquétipos da sabedoria universal deixam de ter dono e copyright.

A HIPÓTESE DE JOHN MICHELL: A SEGUNDA IDADE DE OURO

Ao postular a Utopia para 2013, podemos falar com todo o à-vontade de uma próxima Idade de Ouro, seguindo a hipótese de John Michell: a ele se deve uma viragem de 180 graus na abordagem até agora admitida de uma mítica Idade de Ouro.
Com a Atlântida e principalmente com a Lemúria teríamos vivido, de facto, uma Idade de Ouro: depois, tudo aquilo a que se chama progresso e que a Arqueologia oficial – totalmente dominada pelo darwinismo - tem reproduzido até à náusea foi apenas uma Decadência. Um dos lugares comuns da Arqueologia académica (e do darwinismo totalitário) é de que a «civilização» nasceu mais ou menos 4.000 a. C.
O que de facto se passou (e passa) e John Michell mostra é que existe hoje não uma única espécie humana mas duas: a dos que chamam progresso à Decadência e a dos que chamam Decadência à Decadência, onde fica implícita a próxima ou segunda Idade de Ouro. A Utopia conforme Agostinho da Silva a descreve, nomeadamente quando fala nas 3 Idades segundo Joaquim de Fiore.
E como o aprendiz de filósofo a formula e lega às gerações futuras.
Muito menos conhecido e popularizado do que Erich Von Daniken, o nome do britânico John Michell é uma referência incontornável na filosofia OVNI e nem só.
A sua tese sobre a evolução darwiniana virou do avesso todas as ideias estabelecidas.
Ele demonstra por A+B que viemos de uma primeira Idade de Ouro, rigorosa e meticulosamente situada na Atlântida, que por sua vez a herdou da Lemúria (Pátria de todas as Pátrias) e desde aí a decadência a que chamamos infantilmente progresso nunca mais parou.
Quem está a ver a fita ao contrário são os que ainda acreditam na ideia darwiniana de evolução e no progresso que o darwinismo adoptou como padrão para todas as patifarias e todos os cometimentos modernos.

II
FERNANDO PESSOA ENTRA NA LISTA DOS PRECURSORES

Se não fosse Fernando Pessoa e o estudo comprovativo que António Quadros lhe consagra, ainda hoje seriam tabu, entre a elite intelectual do Establishment, muitas das palavras do léxico tradicional, nomeadamente do léxico alquímico, o mais sedutor mas, convenhamos, o mais equívoco.
Arrumada esta temática no saco sem fundo da malfadada New Age e do titereteiro «esoterismo», ou do não menos patético «ocultismo», como se não fizesse parte da cultura oficial, Fernando Pessoa conseguiu tirá-la de lá e ajudou toda uma geração de intelectuais a falar sem se envergonhar, sem pre-conceitos, sem pressupostos nem estereótipos, de coisas tais como: fases alquímicas, conhecimento iniciático, graus hierárquicos de iniciação, sociedades secretas, teósofos e teosofia, filosofia hermética, adeptos, etc.
Cantonadas no gueto onde o pensamento filosoficamente correcto as metera, as correntes e escolas que se dedicaram a importar dos Orientes o discurso dito «esotérico» ficaram desde logo desbloqueadas; mais uma vez devemos a Fernando Pessoa ter quebrado o bloqueio criado à volta de coisas tais como: Sociedade Teosófica, Antroposofia, Ordem Rosa-Cruz, Tradição Templária, Maçonaria, Kaballah, Gnose e Gnósticos, Espiritismo, sempre oscilando – na corte de intelectuais do regime – entre o historicismo acrítico e pretensamente neutral e o simbolismo como artifício meramente intelectual. E mais uma vez, foi António Quadros, no estudo sobre Fernando Pessoa (capítulo 8, «Para Deus e em Deus», da obra «Fernando Pessoa – Vida, Personalidade e Génio», Ed. Dom Quixote, Lisboa, 1992) a redignificar nesse e em outros aspectos menos de acordo com o Establishment o pensamento de Fernando Pessoa e seus heterónimos.
Cantonadas, pela elite vigente, nas organizações, movimentos, livros e autores ditos «teosóficos», as ideias disconformes com a ortodoxia (ditadura) academicista, racional-positivista, cientifista, precisavam de uma forte personalidade para se impor à exigente classe dos académicos e dos intelectuais encartados.

Fernando Pessoa foi o entreposto ideal para essa transferência: não deu dignidade universitária (porque era plebeu) à teosofia e aos teósofos mas deu-lhe foral de crédito junto de alguns críticos e ensaístas mais flexíveis à variação dos léxicos (ditos) orientais ou de proveniências que não fossem as únicas geralmente admitidas pela Escolástica imperante: greco-latinos e arredores.
E vulgarizou (para o bem e para o mal, diga-se) o léxico básico que circula entre teósofos e várias escolas de Teosofia, antes enunciadas.
Desse léxico básico, podemos escolher 8 palavras-chave para uso dos que gostam de viajar com o Google na Internet:
Arcanos do Universal
Círculo iniciático
Conhecimento contemplativo
Conhecimento Oculto
Extase místico
Ocultismo
Sabedoria esotérica
Teurgia
 
Não podemos ignorar, evidentemente, os outros autores que, além de António Quadros, deram crédito e vigência às ideias «ocultistas» de Fernando Pessoa e de que é possível destacar nomes tão notáveis como António Telmo, Dalila Pereira da Costa, Pedro Teixeira da Mota, Yvette Centeno, todos eles largamente citados por António Quadros. Sempre que se trata de Fernando Pessoa, as convergências jorram de todos os lados e quadrantes…

ANTÓNIO QUADROS NA ENCRUZILHADA EXISTENCIAL

Entre a filosofia de sistema (onde positivismo e hegelianismo ocupam lugar de maior destaque), as «artes de filosofar» (consideradas pejorativamente pela ideologia dominante e predominante) e a «filosofia situada», António Quadros encontrou nas filosofias existenciais (não no existencialismo) o seu caminho para se decidir naquela encruzilhada.
Neste aspecto, dois autores parecem cruciais para fundamentar o seu caminho: Fernando Pessoa (existencialista avant la lettre) e Albert Camus, qualquer dos dois «irmãos» em espírito de António Quadros. Pelos meios de expressão utilizados, o poeta e o escritor poderiam dar forma a uma filosofia livre de compartimentos e gavetas, existencialmente situada e universal.
Não sei se, além de Quadros, houve outro nome da filosofia portuguesa que tivesse trazido «apport» semelhante ao seu: e que tivesse definitivamente consagrado, sem carga pejorativa, a «arte de filosofar» que aliás remonta aos primórdios da filosofia em todas as culturas e cosmogonias que nos deram legados universais e cada vez mais actuais.
Podemos atrever-nos a lembrar três desses legados: gnose egípcia, taoísmo chinês e cultura maya (maya galáctico). 

III
A DINÂMICA DE FILOSOFAR LIVREMENTE
PARA LÁ DO DOGMA, DA CRENÇA, DA TEORIA E DO TABU

Não se discute a língua portuguesa, não se discute a cultura portuguesa, não se discute a história portuguesa: porque havemos de discutir a «filosofia portuguesa»?
Para haver «filosofia portuguesa», aquilo que os entendidos delimitaram como tal, teríamos que postular algumas questões, umas que são dados adquiridos (estruturais, digamos) mas outras que são dados ainda em hipótese ou em tese de estudo.
Ou seja: há uma dinâmica a mostrar e a demonstrar e talvez que essa dinâmica seja o principal factor caracterizante da filosofia portuguesa, uma eterna diáspora… Talvez, sei lá, o que Paulo Borges designa de «visão armilar do Mundo».
Entre os dados adquiridos está o idioma, a língua portuguesa: é óbvio que qualquer acepção de filosofar em português, de filosofar em Portugal, deverá distinguir-se da de outras línguas.
Depois a história, mas aí é que se colocam os intermináveis desafios:
Vocação histórica de Portugal?
Há um sentido escatológico (providencialista e messiânico) no movimento dos portugueses?
Viajar será a metáfora para caracterizar a nossa maneira de filosofar?
Qual o papel dos mitos e símbolos  na caracterização-expressão do filosofar português, do filosofar em língua portuguesa?
Em terceiro lugar, a cultura.
Culturas são constelações de sabedoria em função de um determinado povo, de uma determinada comunidade, de um determinado idioma, de uma determinada tradição.
E aí coloca-se outra dinâmica em acção: até onde a tradição cultural portuguesa (e a tradição universal de símbolos e arquétipos) estruturam e modelam o filosofar de alguns dos nossos filósofos.
A dinâmica contraria basicamente a ideia de filosofia como sistema e, portanto, a história oficial que se ensina sobre os vários sistemas filosóficos.
Esse, de facto, é um dos imperialismos ideológicos que nos obrigam a suportar o dirigismo do pensamento dirigido na sua melhor forma.
Nesse sentido, esperamos ardentemente que a «filosofia portuguesa» nada tenha a ver com sistemas e filosofias de sistema.
Se a ideia de cultura é indesligável da ideia de filosofia, é evidente que para a cultura portuguesa (em língua portuguesa) haverá uma filosofia portuguesa. Sem discussão.
A razão de (ainda) se discutir a «filosofia portuguesa» talvez esteja, inesperadamente, algures onde não tem sido procurada. Na história e nos historiadores daquilo que se convencionou ser filosofia: os sistemas filosóficos.
A razão desta discussão estaria, portanto, na mania das grandezas: tudo o que não seja um grande sistema, um grande ismo, um hegelianismo ou um kantismo, não entra na categoria apriorística de filosofia. Fica quanto muito na «arte de filosofar» que ganha então um sentido pejorativo.
Só vejo nos filósofos ditos portugueses uma excepção que nunca compreendi nem consigo encaixar: o hegelianismo incurável de Orlando Vitorino… Ou, já agora, o anti-positivismo de Álvaro Ribeiro.
Toda a discussão, portanto, deriva de um pré-conceito, de um pré-juízo, de um apriori, em suma, de um dogma. Igual aos outros dogmas que a história regista: e nada como a ciência para produzir dogmas, a que se pode chamar «teorias».
O dogma da ciência (estruturalmente anti-científico…) consiste, como se sabe, em considerar que tudo está em compartimentos separados: arte, literatura, filosofia, arquitectura, etc. 
Em sentido literal, saber se existe ou não existe uma «filosofia portuguesa» é uma discussão puramente «académica».
A quem interessem as ideias e o pensamento como actividades autónomas, não classificadas em gavetas, a discussão é entre ideários e não entre sistemas.
A maior dificuldade para quem estuda o pensamento de António Quadros parece ser essa (aparente) contradição, mais ou menos expressa no trabalho que nos legou, entre uma abordagem global e uma análise específica, entre uma metodologia ensaística e uma metodologia científica (universitária?).
A natureza global do tema – a dinâmica filosófica portuguesa – contradiz um tratamento disciplinar, específico, analítico e académico - «obrigado a mote».
A autoridade académica, a disciplina científica encontra duas palavras muito usadas para ultrapassar essa dificuldade de fundo, para resolver este choque entre o universal e o particular (antinomia, aliás, totalmente artificial) : «interdisciplinaridade» e «(des)contextualizar», são expressões típicas da ortodoxia científica quando se trata de superar antinomias, reais ou imaginárias.
A incompatibilidade, no entanto, continua: o absoluto não pode ser explicado pelo relativo, o geral pelo particular, o abstracto pelo concreto, o intemporal pelo temporal, o dinâmico pelo estático, etc., etc.
Os cientistas da investigação fundamental em Biologia conhecem bem esta dicotomia básica quando referem a diferença de resultados obtida entre o que eles chamam «experiências in vitro» e «experiências in vivo».
São resultados completamente diferentes.
Resumindo e concluindo: a metodologia científica e analítica (universitária) é incompatível com a metodologia (dinâmica) ensaística: António Quadros terá conseguido ir até ao limite do possível nesta contradição. O que não será o menor dos seus méritos.

ULTRAPASSAR OS ESTEREÓTIPOS DO PENSAMENTO DIRIGIDO E OS EQUÍVOCOS DA NEW AGE

A chamada New Age (saco sem fundo onde cabe tudo, do mau ao péssimo) representa o melhor serviço prestado ao discurso dominante, estereotipando determinados temas, livros, autores e correntes que são decisivos e determinantes para pensar a complexidade do nosso tempo e mundo.
Afinal foi o que o escritor António Quadros fez no seu tempo: teve a coragem e a lucidez de adoptar temas, livros, autores e correntes que, de um lado e de outro, a elite intelectual decidira incluir no rótulo de «proibidos». Que as elites das letras, artes, ciências e universidades tornou tabus.
Ontem como hoje, há que desafiar, com coragem e criatividade, o «pensamento dirigido» pela ideologia dominante, os tabus, sofismas, estereótipos e preconceitos da ideologia dominante.
Honrar a memória e o exemplo de António Quadros é ter a coragem, como ele teve, de continuar estudando e pensando e criando à revelia da ideologia e do discurso dominantes.
Custe o que custar, há, em lista de espera, uma série de temas, autores, livros e correntes (variáveis que a elite intelectual decretou tabus) que terão de ser consideradas e principalmente integradas num projecto de estudo coerente até 2012, designado «Utopia 2013».
O que resta do espólio AC (livros e documentos) vai nesse sentido. 

IV
DAS NOMENCLATURAS DATADAS À LINGUAGEM UNIVERSAL

As discussões entre intelectuais que ainda hoje ocorrem nesta área dita «ocultista», andam quase todas à volta das nomenclaturas; muitas vezes os interlocutores estão a falar do mesmo, apenas com nomenclaturas diferentes.
Vale a pena recordar que «A Alquimia da Vida» e «A Linguagem Vibratória de base molecular», duas obras de Etienne Guillé, estabelecem hoje para todos os estudiosos um campo unificado de consciência sem as variantes lexicais. E talvez seja por isso que a obra gigantesca de Etienne é praticamente ignorada dos nossos intelectuais, mesmo os que se consideram nessa tal área da sabedoria sagrada ou talvez por isso mesmo: tendo cristalizado na nomenclatura que adoptaram (geralmente de fonte hinduísta filtrada por traduções/traições as mais diversas…), nunca conseguirão sintonizar a linguagem universal (convergente da Kaballah, aliás) criada e estabelecida por Etienne Guillé.
Mais uma vez, aprender a filosofar é uma aventura solitária e sem ajudas. Acima de tudo sem mestres. Acima de tudo sem argumentos de autoridade. Acima de tudo sem antecessores e sucessores. Acima de tudo, sem rede.

PARA LÁ DA BABEL DOS IDIOMAS
LÉXICO FUNDAMENTAL PARA GOOGLAR: 40 ITENS DE A-Z
Não é talvez o momento, mas podemos deixar aqui uma primeira amostra do léxico peculiar originado no estudo de Etienne e dos 5 livros que publicou para o grande público, uma tentativa, a nosso ver bem sucedida, de criar uma linguagem universal que estivesse para lá da Babel das Línguas…
São 40 itens para googlar:
1. A 2ª IDADE DE OURO
2. AS 9 CAMADAS DA ALMA
3. CONTINUUM ESPACIO-TEMPORAL
4. CONVERGÊNCIA HOLÍSTICA
5. COSMOBIOLOGIA
6. COSMOSOFIA
7. ECOLOGIA ALARGADA
8. ENERGIAS SUBTIS
9. ESCALA HIERÁRQUICA DE CONSCIÊNCIA
10. ESCALA VIBRATÓRIA
11. ESFERAS ENERGÉTICAS
12. ESPECTRO VIBRATÓRIO
13. ESTADOS VIBRATÓRIOS DE CONSCIÊNCIA
14. ESTAGNAÇÃO ENERGÉTICA
15. ESTUDANTE DE NOOLOGIA
16. CORRESPONDÊNCIAS MICRO/MACROCÓSMICAS
17. GNOSE VIBRATÓRIA
18. HIERARQUIA VIBRATÓRIA
19. HOMOLOGIA E ANALOGIA
20. IMUNIDADE DA ALMA
21. INTERFACES ENERGÉTICOS
22. LIMPEZA DE MEMÓRIAS
23. LINGUAGEM VIBRATÓRIA DE BASE MOLECULAR
24. MEMÓRIA CÓSMICA
25. MORFOGÉNESE CÓSMICA
26. MUNDO VIBRATÓRIO
27. CAMPO UNIFICADO DAS FREQUÊNCIAS VIBRATÓRIAS
28. PRINCÍPIO HOLOGRÁFICO DA SABEDORIA
29. ORGANIZAÇÃO VIBRATÓRIA
30. OS 12 SENTIDOS
31. PARA LÁ DOS 5 SENTIDOS
32. PIRÂMIDES VIBRATÓRIAS
33. RADIESTESIA ALQUÍMICA
34. RADIESTESIA HOLÍSTICA
35. RESSONÂNCIA VIBRATÓRIA
36. RITMOS CÓSMICOS
37. SINCRONICIDADE DE JUNG
38. TESE DE NOOLOGIA
39. UTOPIA PERSONALISTA
40. VALOR TEOSÓFICO DO NÚMERO
 Afonso Cautela
LIVRO DE FUNDO
A ANGÚSTIA DO NOSSO TEMPO
E A CRISE DA UNIVERSIDADE (*)


«Nós entendemos de que esta posição de esperança é ridícula, mas... (A Planície, 15/8/56)

O lançamento da revista 57, microfone avançado do mais importante movimento cultural que a nossa história regista, depois da Renascença Portuguesa, coloca de novo na ordem do dia o último livro do director, António Quadros, a que nos não referimos quando da sua saída mas que é agora a ocasião de salientarmos como obra capital, obra de tese, fecunda pelas hipóteses de trabalho que reúne, pela crítica que desenvolve às instituições universitárias, livro de juventude intelectual e, ao mesmo tempo, de maturidade, abordagem corajosa da problemática fulcral da hora que passa, a que nem sequer falta um memorandum bibliográfico final, necessário ao estudioso do tema a que se reporta: A Angústia do Nosso Tempo e a Crise da Universidade, um dos que deveriam vir a constituir o texto da Faculdade Central de Cultura Superior que nele se propõe.

Neste triste mister de ler livros e dizer o que se leu, é-se solicitado por tanta obra medíocre, desatento por tanto «verbo de encher», que nos sentimos desconstrangidos e à vontade por dialogar agora com quem fala uma linguagem afim da nossa, aquela que raramente ouvimos e de que andamos a aprender os balbucios, definindo-se e ajudando a definir-nos, por discordância ou concordância, na utópica ideia de um programa a que chamámos Convívio.

É claro que um livro de António Quadros, escritor de missão que é e se considera, não nos «leva para dentro», como, para citar uma nossa experiência recente, Os Cadernos de Malte Brigge ; não conheço livro que nos chame mais para o nosso egolatrismo, que mais violentamente nos reclua, que com mais força nos empurre para uma solidão que tememos, que odiamos, mas a que Rilke, o inefável, nos arrasta.

Claro: há um respeito, mais do que respeito, paixão pelos mundos subterrâneos, absurdos, essenciais, os do Anjo da Morte, os de uma longa corte de Anjos Negros.

Mas, com força igual, nos solicita o Anjo da Vida, o da Esperança, o da Aurora, o das solidões povoadas, o de Rolland, o de Bertrand Russell, o de António Sérgio, o de António Quadros.

Demasiado real, todavia, é a nossa experiência do Absurdo, por demais e tantas vezes o temos visto assimilar-se com uma essência que supomos próxima ou idêntica da Verdade, para que não receemos os entusiasmos excessivos, as filosofias salvadoras, os messianismos tromba d'água, para que tenhamos de crer os caminhos da esperança mais reais ou verdadeiros que os do desespero.

Mas haja ou não haja razão, neste final de Maio de 57, o barómetro acusa bom tempo e, climaticamente, acreditamos em António Quadros, acreditamos em todos os que falam na fé, na certeza, na esperança de redenção social do homem.

Acreditamos, enfim, em Convívio. «Lirismo e psicologia têm os seus lugares» -escreve António Quadros. Mas se estivéssemos sós, nós, poetas, escritores, filósofos, artistas, homens, deveríamos baixar a cabeça e desistir de pensar, pois a dignidade do pensamento reside precisamente na transcenção, na fuga a este cárcere ensombrecido que é o eu.

No caso português, o lirismo não será uma fatalidade do nosso condicionalismo cultural? Terá de considerar-se o lirismo uma doença estrutural ? Investigue-se a razão por que todos os dias aparecem «poetas líricos».

Poeta lírico é o homem que acorda, e o que pode o Jovem português, quando tantas ameaças o tolhem e espectralizam, fazer mais do que abrir os olhos e, de uma noite de séculos, acordar?

Mau grado a insatisfação que a tantos de nós provoca a onda lírica, teremos de continuar amarrados ao pélago inseguro mas ainda assim consentido do lirismo, do literatismo, do psicologismo, do subjectivismo. Como pode o jovem devotar-se aos grandes temas épicos de projecção futura, se o bloqueio, o assédio, só lhe criam e sobrepõem problemas e emblemas de inquietação?

Demasiado reais, esses problemas, para os meus irmãos do presente, para constituírem assim tão fantasmáticos entes do futuro. Congratulemo-nos que haja escritores para quem o menos importante de tudo seja a literatura. Mas lembremo-nos de que a literatura é ainda para muitos o único refúgio e a única vingança.

«Estamos no limiar de uma era sem precedentes na economia portuguesa», escreve António Quadros num artigo notável do Diário de Noticias, dia 9/5/57. A supremacia de uma pátria, contudo, como adverte António Quadros, não se baseia só no poderio económico mas também, acrescentamos nós, na equitativa distribuição das riquezas, pelo que me parece serem as teses de António Quadros completadas pelas de um cooperativista como António Sérgio; e na harmonia dos valores intelectuais.

Ora enquanto não descobrirmos essa nossa pedra filosofal, que é o cívico convívio de todos os intelectuais responsáveis, predipostos a uma empresa comum, não me parece que se consiga nada de estável nem de grandioso, entregue como está a nossa cultura às mãos de dúzias ou meias dúzias isoladas de homens que se hostilizam de grupo para grupo sem encontrarem, nunca mais, uma forma e uma plataforma de entendimento.

É neste futuro que acreditamos: quando todos os portugueses sintam que Portugal é a sua casa e, a maioria, não se veja obrigada a procurá-la em terras tantas vezes inóspitas, mas cujo acolhimento é talvez mais carinhoso. É preciso que nenhum português se sinta estrangeiro em sua própria terra. E só o movimento cultural que o conseguir dará corpo às profecias que o ano de 57 nos traz.

É esta também a profecia que nos achamos com o direito de buenadichar, como diria o Fialho.

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado em «Inventário», página do jornal «A Planície» que sucedeu a «Ângulo das Letras», 15- 6 - 1957.
Afonso Cautela



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