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Fundação António Quadros
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 Autores 
Bibliografia Passiva
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Caros Colegas,
Caros Alunos,
Senhoras e Senhores

Em primeiro lugar o meu agradecimento ao Professor Carlos Duarte pelo convite que me endereçou para, neste dia do IADE, em que se celebra a memória do ilustre fundador desta casa, Dr. António Quadros, poder invocar a sua figura e acções inspiradoras em prol da renovação da cultura e do ensino artístico em Portugal.
Pensador, crítico e professor, também poeta e ficcionista, filho de dois vultos da cultura portuguesa do século XX, os escritores Fernanda de Castro e António Ferro, António Gabriel de Quadros Ferro de seu nome completo, foi, como certeiramente escreveu o Dr. Mário Soares, um homem movido por interesses espirituais, fiel às suas convicções, aberto ao diálogo, amigo do seu amigo.
Respeitador da inteligência e capaz de a despertar naqueles que tiveram o privilégio de ser seus alunos ou que com ele conviveram, António Quadros era intransigente consigo próprio, mas de carácter tolerante para com os outros e tinha como seu Pai, essa rara qualidade de congregar à sua volta gentes dos mais diferentes saberes e quadrantes.
Penso que foi essa sua atenção à pluralidade de ideias, que mais acentuou a sua paixão pela crença e vontade na unidade nacional – algo de que mais uma vez tanto se fala e pouco se constrói –, unidade que via não como estreita identidade, mas antes, como expressão de uma universalidade humanista.
Insatisfeito, António Quadros era assombrado pelos épicos que incansavelmente estudou na História e Cultura de Portugal, explorando no pensamento de Padre António Vieira a Fernando Pessoa o propósito de determinar uma razão de ser para Portugal e as virtualidades do mito e da saudade como sua expressão, sobre os quais escreveu com integridade e visão.
Homem livre, pertenceu à elite mais merecedora dessa designação: aqueles cuja influência transcende o prestígio de qualquer cargo, título ou função, radicando antes no poder intelectual e moral. Indiferente às modas, opunha à sociedade do espectáculo a Cultura e o sentido da História, atento aos sinais da sociedade contemporânea já em 1970 escrevia como estes eram, e cito:
clarificantes da distância que vai tardando a preencher-se entre os conceitos intelectuais e científicos de uma sociedade dita “desenvolvida” (a sociedade da abundância) e a pobreza moral e ética de certos estratos desta mesma sociedade.
Foi a este homem, intransigente na defesa e valorização dos elementos essenciais da cultura portuguesa como escreveu o Professor Artur Anselmo, no Diário de Notícias poucos dias após a sua morte em 21 de Março de 1993, que se deve a criação do IADE, sigla que rapidamente representou um projecto de renovação no âmbito do ensino artístico em Portugal.
António Quadros reuniu para essa tarefa um grupo de figuras de referência encabeçado pelo pintor, ilustrador, ensaísta e professor José Maria Lima de Freitas, que convidou para o cargo de director. Para professores desafiou outros nomes igualmente prestigiados da cultura artística, com destaque para o arquitecto, fotógrafo e pintor Manuel Costa Martins – fundador logo em 1970 do Curso de Fotografia, precursor da actual licenciatura em Fotografia e Cultura Visual –, e para o pintor, decorador e designer gráfico Manuel Lapa. Por sua vez, Mestre Lapa com o apoio incondicional de António Quadros convidou para assistentes, o pintor, designer de exposições e professor Manuel Costa Cabral, e o pintor, museólogo, especialista em cerâmica e azulejaria, Rafael Salinas Calado, a quem coube o gesto fundador do Curso de Cerâmica que, tal como o Curso de Fotografia de Costa Martins, começou a funcionar em 1970.
A todos o Instituto ficou a dever contributos decisivos para encetar uma experiência pedagógica que rapidamente evoluiu de um curso de Decoração (de início IADE, implicou Instituto de Arte e Decoração), para uma prática consentânea com uma nova disciplina do século XX, o Design, que só nos fins dos anos 50 e principalmente na década de 60 começava a ter expressão em Portugal.
Este carácter pioneiro no ensino do Design tornar-se-á ao longo dos anos a mais-valia da instituição, junto com o papel de constante intervenção cultural na sociedade portuguesa que António Quadros reservou ao IADE fosse através dos Saraus Culturais onde, para além da sua figura tutelar, intervieram muitas e variadas personalidades, como os escritores David Mourão-Ferreira, Natália Correia, José Carlos Ary dos Santos, José Gomes Ferreira, o pensador e ensaísta Agostinho da Silva, o cineasta Manuel de Oliveira; conferências e exposições sobre temas da cultura artística portuguesa com criadores como Tomaz de Mello, Eduardo Nery, Maria Flávia de Monsaraz, João Vieira, ou com estudiosos e curadores, casos de Egídio Álvaro e do engenheiro Santos Simões (fundador do Museu do Azulejo), ou ainda, com particular interesse para a História do Design em Portugal, a conferência do arquitecto e designer Eduardo Anahory sobre “A importância do design e dos designers”, tema ainda inabitual nos debates portugueses em 1970.
Caros colegas, caros alunos, cabe-nos agora a difícil tarefa de saber, 42 anos depois, honrar esta fundação e esta elite de homens e mulheres livres que tinham algo que se deseja e precisa nestes atribulados anos do século XXI: um desígnio cultural audacioso para Portugal, mas intransigente para com modas e facilitismos. Sejamos nós capazes de o construir.
Muito obrigada.
 

Maria Helena Souto
Professora Associada da ESD-IADE

Sessão Solene IADE
21.03.2011

 


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