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Entrevista - Revista Ler "A ESCRITORA DESCONHECIDA"

É uma revelação da literatura infantil. Aos 25 anos, conquistou o Prémio Branquinho da Fonseca com O Pintor Desconhecido.
Licenciada em História da Arte e a terminar o mestrado em Museologia, Mariana Roquette Teixeira concorreu na modalidade de literatura para a infância. Nesta 5ª edição do prémio para autores até 30 anos, não houve vencedor na categoria de literatura para a juventude.

O Pintor Desconhecido (Livros Horizonte) é o seu primeiro livro. Pensou que poderia vir a ganhar o Prémio Branquinho da Fonseca – Expresso/Gulbenkian?
Concorri sem pensar muito se poderia vir a ganhar ou não. Durante o tempo de espera e até à divulgação pública do vencedor, pensei sempre que haveria trabalhos melhores do que o meu.
Deu a história a ler a alguém para ter feed-back e, eventualmente, modificar alguma coisa em função disso?
Mostrei a história a algumas pessoas muito próximas, mas nunca alterei nada em função das sugestões que foram surgindo. Isso provocaria um desconforto bastante grande; era como se um estranho tomasse posse de algo que há muito tempo me pertencia e o alterasse, provocando um desequilíbrio.

Quando começou a escrever, tinha algum autor ou livro como referência?
Nenhum em especial. Tinha algumas referências de livros que li na minha infância. Reli alguns contos infantis de Oscar Wilde, dois livros de Agustina Bessa-Luís, Dentes de Rato e Vento, Areia e Amoras Bravas; o Rapaz de Bronze, de Sophia de Mello Breyner Andresen, e Pedro e o Mágico, de António Quadros.

As ilustrações da Marta Torrão correspondem ao que tinha imaginado?
Sim. São ilustrações muito expressivas. Por um lado, adequam-se na perfeição a este livro, visto deixarem transparecer materiais e texturas – nesse sentido, tornam-se uma extensão da própria história. Por outro, acompanham o texto de forma surpreendente, através do modo como os personagens são retratados, bem como as ambiências e a própria imaginação, a fantasia.

Quer dedicar-se à escrita de livros para crianças?
Sim, ambicioso continuar a escrever. Para crianças mas não só.

Na sua opinião, o que faz um bom livro para crianças?
Um livro que desafie, desperte curiosidade sobre universos novos, suscite questões, transmita valores e ensinamentos de forma subtil, e que faça a criança sentir que aquele momento de leitura é um momento de prazer.

In Revista LER
Setembro 2010.

Agradecimento do Prémio "Branquinho da Fonseca"

À Fundação Calouste Gulbenkian e ao Jornal Expresso agradeço esta distinção, que recebo com grande entusiasmo. O Prémio Branquinho da Fonseca Expresso/Gulbenkian instituído em 2001, tem vindo a desempenhar um papel preponderante, como incentivo às novas gerações que aspiram seguir pelo caminho da literatura. Enquanto tal, é para mim um grande privilégio que o conto infantil “O Pintor Desconhecido” possa ficar a ele associado.

Esta história decorre na sala de um museu e tem como protagonista um rapaz que possui uma forte relação com o desenho. Mediante esta prática ele constrói histórias e vive aventuras num ambiente fantástico, habitado por personagens singulares. O desenho surge, deste modo, como extensão da sua imaginação. Ao mergulhar nesta actividade, a fronteira entre sonho e realidade dissipa-se, levando-o a acreditar estar na presença de uma figura exemplar: um pintor, cuja identidade todos desconhecem. Nesta ocasião é-lhe revelado um universo novo, o da Pintura, que aliado à sua capacidade de sonhar fazem dele um rapaz especial, com uma missão: ensinar as crianças a pintar, mostrando-lhes assim, as maravilhas e a singularidade do mundo interior de cada um. Esta é uma história que fala sobre as relações humanas, a devoção à arte, a capacidade de ver para além do imediato e a busca pela felicidade.

Actualmente ao ritmo acelerado em que vivemos e com a proliferação das novas tecnologias, transmitir aos mais novos o gosto pela leitura torna-se casa vez mais difícil. Para muitas crianças e jovens, a leitura deixou de estar ligada a um processo de descoberta e passou a ser encarada como uma tarefa árdua, imposta pelos pais e professores. Paralelamente, a biblioteca deixou de ser vista como lugar revelador da diversidade do mundo, como espaço universal, provocando em contrapartida, uma certa repulsa nas gerações mais novas.

Ao transportar as crianças para o interior do museu e da mente do personagem principal o conto “O Pintor Desconhecido” procura demonstrar a infinidade de imagens que podem florescer ao mais pequeno estímulo, desvendando os efeitos mágicos da leitura. Com a sua publicação, apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian, desejo que este conto proporcione ao leitor momentos únicos, de modo a integrar o seu arquivo pessoal de memórias afectivas, tal como fazem parte do meu: a “Menina do Mar”, “A Fada Oriana”, o “Rapaz de Bronze” de Sophia de Mello Breyner Andresen, “Dentes de Rato” e “Vento, Areia e Amoras Bravas” de Agustina Bessa-Luís, “Pedro e o Mágico” de António Quadros.

Assim, ao ter consciência da responsabilidade que é escrever para este público tão especial e da influência que a literatura infantil tem na formação e enriquecimento intelectual das crianças, espero que nos futuros momentos de busca pela palavra exacta, a encontre, e consiga transmitir as ideias da melhor forma possível, pois tal como proferiu Branquinho Da Fonseca: na escrita, “Tudo depende da palavra. Exacta, rigorosa, insubstituível. Sem a palavra exacta não é possível dizer o que mais importa daquilo que se diz. A sabedoria talvez seja isso, encontrar a palavra exacta.”

Mariana Roquette Teixeira
Dezembro 2009.



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