DEPOIMENTO DE JOÃO D’ÁVILA NO DIA DE HOMENAGEM A ANTÓNIO QUADROS
Conheci António Quadros em 1960, durante o mês de Novembro, exactamente vinte e cinco anos depois de Fernando Pessoa ter desaparecido.Fernando Pessoa faleceu a 30 de Novembro de 1935.
Para comemorar os vinte e cinco anos desde o desaparecimento de cena de Fernando Pessoa, a “Casa da Comédia”, Grupo de Teatro criado por Fernando Amado, promoveu e encenou no Centro Nacional de Cultura, a reposição de Fernando Pessoa, através de um espectáculo onde o Poeta brilhou como jóia rara de requintado gosto, no mais belo poema dramático, jogado entre três personagens femininas, que falam e sonham com “O Marinheiro” na mais delirante e poética sonoridade que alguma vez a língua portuguesa alcançara na sua musicalidade, onde o som da palavra, clarifica e ilumina o significado, tornando o real, sonho e
onde o sonhado é ele próprio o Marinheiro, personagem inexistente, mas presente na acção mágica do Teatro musicado, através das vozes de três mulheres veladoras duma Marta que está morta.
O Marinheiro, é o V Império.
Completava o espectáculo, uma peça de Almada Negreiros “Antes de Começar”, no qual, eu, João d’Ávila, interpretava um dos personagens.
Resolveu, decidiu e quis o Secretariado Nacional da Informação, juntamente com o Instituto de Alta Cultura e a Fundação Calouste Gulbenkian, comemorar a morte de Fernando Pessoa, há 25 anos.
Para isso, eu, então finalista do Conservatório Nacional de Teatro, fui convidado para organizar espectáculos sobre Fernando Pessoa.
Criei, juntamente com outros jovens, o “Grupo Fernando Pessoa” que se estreou no Teatro do Palácio Foz, apresentando a encenação de Fernando Amado, para “O Marinheiro”, “Fernando Pessoa e seus Heterónimos” e “Mar Português” encenados por mim (João d’Ávila).
Durante três dias houve acontecimentos sobre o Poeta, para além da apresentação teatral do “Grupo Fernando Pessoa”, entre os quais, uma palestra sobre “Fernando Pessoa e o V Império”, feita brilhantemente por António Quadros! Foi quando nos conhecemos.
Fernando Amado, Almada Negreiros e António Quadros, abriram-me as portas do mundo Pessoano. A palavra e o “persona” de Fernando, acompanham-me desde então.
Este ano, perfazem-se setenta e cinco anos desde o desaparecimento de Fernando Pessoa, cinquenta anos desde a minha estreia no mundo da Poesia, dezassete anos sobre o desaparecimento de António Quadros.
Setenta e cinco anos símbolo e realização da Terceira Era do Espírito Santo que revive no Povo Navegador da Nave Terra.
Povo, não já Profeta.
Povo Poeta, não anunciador. Presente! Agora! No sonho vivido do V Império.
O “Grupo Fernando Pessoa” apresentou-se também em dois “Festivais do Algarve”, imaginados e criados por Fernanda de Castro, grande Senhora das Artes, da Poesia e do Teatro, exactamente nos anos de 1962 e 1964.
Há cinquenta anos que sou admirador dessas duas grandes Personalidades do Século XX, Fernanda de Castro e António Quadros.
Recordo-os com saudade do futuro que na essência de ser português, é o som das palavras oníricas, mensageiras, arquétipos que fluem como Poesia amante da sabedoria e são, Número, Universo, Sonho, que se tece nas malhas do V Império.
Recordo-os com a admiração e saudade presente num ser que vive o sonho de ser tudo em todas as coisas.
Para todos, as maiores saudações e um sentido abraço do
João d’Ávila 21 de Março de 2010
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