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Fernanda de Castro
É mês de Natal

É mês de Dezembro e em Dezembro é difícil não me lembrar dos seus olhos. Eram olhos de dia frio, céu azul. E nós, os seus cobertores, deitados nas suas pernas, a aquecer a nossa e a sua alma.
Pedi para ficar com o cofre, quando morreu. É um cofre grande e pesado com uma chave, onde guardava “dinheiros”. Às vezes, havia lá dentro restos de tecidos antigos misturados com notas. O cheiro ainda é o mesmo e é onde hoje guardo os segredos e os escudos que me restam.
Não compreendi a poesia enquanto Fernanda de Castro esteve viva. Não tinha idade, maturidade, não era o tempo.
Tive essa pena.
Deixei-me só ficar por ali, naquele quarto onde estão condensadas todas as recordações que tenho daquela casa, daquela pessoa, avó, poetisa, amiga, com quem vivi.
E de lá, retirei tudo o que poderia vir a usar um dia. Pouco tempo depois finalmente percebi. Lembro-me de não conseguir respirar. Já não ia a tempo.
Lembro-me de ter medo que aqueles olhos, aquelas tranças e aquele cheirinho a pó de arroz desaparecessem um dia e achei que levaria consigo a poeta. Mas não, sempre que abro o seu cofre, sinto o frio de Dezembro, e há azul à minha volta, tudo continua e nada mudou. Há sempre a sua poesia..
Maria Ana Ferro