Mais um dia perdido
Há dias e que tudo é sem remédio, em que tudo começa e acaba torto. Uma folha caiu: era um pásaro morto. Neblina. Fim de tarde. Fim de Outono. Nada nos fala, nos atrai, nos chama. Choveu, parou a chuva, ficou, porém, a lama. Um banco no jardim. Árvores nuas, um cisne velho, um tanque, água limosa, nem a relva ficou, quanto mais uma rosa. Há barcos, há gaivotas sobre o rio, e nas ruas há gente, há muitas casas. Mais um dia perdido: arrancaram-lhe as asas. Fernanda de Castro, in «Urgente»
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