Alma, Sonho Poesia
Entrei na vida com armas de vencida; alma, sonho, poesia. quando eu cantava o mundo ria mas nada me importava: cantava.
Depois, um dia, o mundo atirou pedras ao meu canto e a minha alma rasgou-se. Que seria? medo, espanto, revolta ou simplesmente dor? Fosse o que fosse, o orgulho foi maior. Com dez punhais nas unhas afiadas e nos olhos azuis duas espadas, eu nunca mais seria, nunca mais, a que entrara na vida com armas de vencida. Agora o meu querer era mais fundo: de um lado, eu, do outro, o mundo. e começou a luta desigual do tigre e da gazela.
A vencida foi ela. Mas que louros colheu dessa vitória o mundo cego e bruto? O sangue dos poetas? Triste glória… Cinza de sonhos mortos? Magro fruto… Oh, não, punhais e espadas! Eu só quero cantar! Não quero ossadas nem, sob os pés, um chão de campas rasas. Eu só quero cantar! Só quero as minhas asas e a minha melodia: Alma, sonho e poesia… Alma, sonho e poesia…
Fernanda de Castro in «39 Poemas», 1941
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