Uma tardia, triste Primavera
Anda florindo, no meu corpo exausto, uma tardia, triste Primavera, sem delírios de pétalas, sem fausto, antes de musgos e de folhas de hera. Vulcão morto sem lavas, sem cratera; fio de água, bebido hausto a hausto, tímida pausa no devir, à espera de não sei que alquimia, que holocausto. Primavera de nervos, de vontade. Ao peito, as flores roxas de saudade, Primavera de restos, de farrapos, de grinaldas de tempo, trepadeiras de penas, de cuidados, de canseiras, Primavera sem pássaros, com sapos. Fernanda de Castro, in «Ronda das Horas Lentas», 1989
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