Biografia

In RETRATO DE UMA FAMÍLIA – Fernanda de Castro, António Ferro, António Quadros, edição Círculo de Leitores e Autoras. Lisboa, Outubro de 1999

Autoras: Mafalda Ferro e Rita Ferro – Ambas filhas de António Quadros e netas de Fernanda de Castro e António Ferro, são co-autoras na organização, concepção e pesquisa documental, fotográfica e literária.

Texto revisto, aumentado e actualizado por Mafalda Ferro e publicado no Sítio da Fundação António Quadros – Cultura e Pensamento, com o acordo das autoras e do Círculo de Leitores.

O espólio consultado que pertencente actualmente à Fundação António Quadros, foi coligido, organizado e classificado por Mafalda Ferro.

Depósito Legal 140 125/99

ISBN 972-42-1910-0


1923-1927
Filho primogénito dos escritores Fernanda de Castro e António Ferro, António Quadros, de seu nome completo António Gabriel de Quadros Ferro, nasce em Lisboa, às seis e vinte da manhã do dia 14 de Julho de 1923, em casa de seus avós paternos, no 2º andar do nº 12 da Rua dos Anjos. O seu signo é Caranguejo.

É uma criança morena de olhos azuis, com a tez da mãe; de lembrar que o apelido Quadros, último nome do pai de Fernanda de Castro, provém de uma família da nobreza espanhola de origem indiana (brâmane).  

Recebe o nome de António Gabriel em homenagem ao poeta italiano Gabriel d’Annunzio, que António Ferro, seu pai, muito admira. É pois, logo aqui, fadado de poesia.

Fernanda de Castro experimenta uma forte comoção com a maternidade e anota num álbum de bebé, com versos de Delfim Guimarães e ilustrações de Raquel Roque Gameiro, todos os pequenos registos do seu crescimento – para além da primeira papa ou do primeiro dente, a primeira vez que se benze ou que fala em Deus – não é praticante, mas observa todos os mistérios da vida à luz de um profundo sentimento religioso.

Três meses depois do seu nascimento, a família muda-se para o nº 6 da Calçada dos Caetanos, ao Bairro Alto, onde António Quadros cresce e vive até  casar.

Anos depois, a mãe escreverá no álbum: «Com cinco anos, sabias apenas contar até quatro. Como vês, não eras uma criança precoce. Graças a Deus!»

Com essa idade, faz a sua primeira viagem rumo ao Brasil, acompanhando a mãe. Numa entrevista ao Mundo Português (Rio, 12/12/86), recordará, divertido: «Vínhamos no mesmo barco com a Tuna Académica de Coimbra, que me escolheu como mascote. Tive de presente uma capa e batina em miniatura, aos cinco anos vesti-me de estudante de Coimbra!»

Em pequeno, convive sobretudo com os primos direitos Helena e Pedro, filhos de Umbelina e Augusto Cunha, irmã e cunhado de António Ferro.

Pousa, juntamente com a mãe, para Sarah Afonso; o resultado é uma tela luminosa, que perpetuará uma inquebrantável relação de amor.

Tem um único irmão, quatro anos mais novo, Fernando de Castro Ferro, que se distinguirá como tradutor e editor no Brasil e também, professor em Paris.  

Aparece pela primeira vez na imprensa associado a um título perverso: «António Ferro nunca viu nem ouviu Salazar» (Notícias Ilustrado, Repórter Zero, s/d)).

Cresce no ambiente literário-artístico fomentado por seus pais. Desde pequeno, priva e convive com a elite cultural de Lisboa, que, assiduamente, frequenta a sua casa para traficar versos, discutir livros ou pintura, esgrimir ideias. A influência é forte demais para não contagiar a criança sensível, delicada e curiosa que a pouco e pouco se desvenda.  1928-1939

Em 1928, recebe de presente um quadro de Almada Negreiros que, anos mais tarde, oferecerá  ao filho homónimo. É um óleo magnífico, pleno de simbolismo, dedicado «Ao primogénito de António Ferro, lembrança do seu amiguinho Almada».

Faz a primária na Escola Francesa, perto de sua casa, e, em 1935, inicia os estudos secundários no liceu Pedro Nunes, à Estrela.

É um aluno atento de notas regulares e um adolescente calmo, diligente e sociável. É a própria mãe quem o descreve, nesta fase (in Ao Fim da Memória): «Calado, tranquilo, sem fazer ondas, seguia serenamente o seu caminho, sem sobressaltos, mas de maneira eficiente e segura.»

1940
Com 17 anos, participa, vestido de pescador, num bailado em São Carlos em que todos os bailarinos e figurantes são filhos de pessoas da chamada alta sociedade portuguesa.

1942
Revelando grande capacidade de abstracção e um poder de concentração notável, lê vorazmente desde pequeno. Talvez por isso, é precoce a sua estreia literário-jornalística aos 19 anos de idade. Assinando António Gabriel, colabora nos jornais da Mocidade Portuguesa.

Concluído o ensino secundário, matricula-se, na Faculdade de Direito de Lisboa da Universidade de Lisboa, por influência de seu pai, que, para atender a outras prioridades, fora forçado a abandoná-la.

1943
A sua vocação revela-se, porém, muito mais literária e especulativa do que jurídica, pelo que, no ano seguinte, troca a Escola do Campo de Santana pela Faculdade de Letras de Lisboa, então situada no antigo Convento de Jesus.

1945
Por essa altura é retratado por Pedro Leitão e pela pintora Inês Guerreiro, dois grandes amigos da família.  

1946
Cumpre o serviço militar na Póvoa do Varzim, com a categoria de oficial miliciano. Faz a tropa consigo, um grupo de amigos que nunca perderá de vista entre os quais um futuro cunhado, o Manim Roquette.

Inscreve-se como sócio do Sport Lisboa e Benfica, por influência de um grande amigo, Duarte Borges Coutinho, Marquês da Praia e Monforte, que virá a dirigir o Clube. Tornar-se-á feroz adepto dos lampiões.

Aceita o seu primeiro emprego, parcamente remunerado, como chefe da Secção de Propaganda e de Turismo dos Serviços Culturais da Câmara Municipal de Lisboa.  

Durante o início dos anos quarenta, devido à posição dos seus pais, o escritor vive uma intensa vida mundana, frequentando as festas e os clubes da melhor sociedade lisboeta e cascaiense

1947
Publica artigos de crítica em jornais e revistas que reúne num volume que intitula Modernos de Ontem e de Hoje em cujo prefácio escreve com a simplicidade e humildade de sempre, “Estreio-me na vida literária da pior maneira – escrevendo sobre literatura. Eu, que não tenho uma obra, que publico o meu primeiro livro, que inicio um caminho, que sou novo em experiência e em idade, estreio-me, criticando as obras dos outros….” e, mais à frente “ Peço desculpa da ousadia. Ousadia dos vinte anos. Ousadia que, possivelmente, eu próprio, daqui a vinte anos, não saberei perdoar”.

Conclui a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, pela Faculdade de Letras de Lisboa, com uma dissertação sobre a arquitectura portuguesa, que, mais tarde, viria a constituir a base da sua Introdução a uma Estética Existencial, publicado em 1954. A sua personalidade e o seu temperamento estão, por esta idade, consolidados. É uma presença amável e bem-humorada, disponível para os outros e absolutamente incapaz de cinismo ou de vileza.  

Fernanda de Castro dirige, então, a Associação Nacional de Parques Infantis e uma das suas colaboradoras prende a atenção de António Quadros: Paulina Roquette, filha dos Viscondes da Fonte Bôa, uma das maiores belezas do seu tempo.

António Quadros que já tivera dois namoros, considera uma sorte que Paulina, ou Pó como é conhecida, acabasse de romper um noivado de sete anos com um futuro médico. A família da Pó, muito conservadora, começa por demonstrar uma certa reserva em relação ao namoro e à perspectiva da eventual união a uma família de artistas. No entanto, a delicada e discreta presença do escritor, o seu trato afável e a sua precoce e invulgar cultura, acabam por conquistar toda a família. No dia 3 de Dezembro de 1947, organiza com os grandes amigos de então: Guinho Bettencourt, Luís Praia, João Carvalhosa e António Ficalho, a sua festa de despedida de solteiro no restaurante Machado, em Lisboa.

Casa em Lisboa, no dia 8 de Dezembro de 1947, dia da Imaculada Conceição e, também, do aniversário de Fernanda de Castro, sob o olhar de Santa Teresinha do Menino Jesus, cujo santuário – a Igreja das Mercês – patroniza. Preside ao matrimónio, um primo, o Padre Pedro Gambôa.

Os noivos passam a noite de núpcias na pousada de S. Brás de Alportel, seguindo depois para Sevilha, que se tornará, por devoção e tradição, a cidade dilecta do casal.

Do casamento, que vence todas as crises e durará 50 anos, nascem seis filhos e vingam três: António Duarte Roquette de Quadros Ferro (1952) que seguirá as pisadas do pai como Director-Geral do IADE, Ana Mafalda Roquette de Quadros Ferro (1953), que continuará a obra da avó nos Parques Infantis, virá a integrar o Conselho de Administração do IADE e a criar a Fundação António Quadros – Cultura e Pensamento e, Rita Maria Roquette de Quadros Ferro (1955), que com os seus romances iniciará uma terceira geração de escritores da Família Ferro.

A Pó  é recebida na família por Fernanda de Castro, de braços abertos e encontra em António Ferro o pai que perdera aos 14 anos.

1948
A tragédia de dois filhos perdidos, no começo da vida, ensombra o casal e António Quadros cumpre a promessa de fazer uma peregrinação a pé, a Fátima.  

António Ferro, ausente na Suíça, é contactado pela Casa de Saúde Alemã  para experimentar a alegria de ouvir, no choro do neto o seu primeiro sinal de vida.

Em solteiro, passa longos períodos de férias na Quinta da Marinha, onde sua mãe, Fernanda de Castro aluga, 15 anos consecutivos, a casa que aloja ainda hoje, o clube do empreendimento. Depois de casado, varia entre Cascais, Praia da Granja, Praia das Maçãs e Algarve. No Algarve alterna entre Alporchinhos (Armação de Pêra, uma casa típica também alugada por sua mãe e, a Quinta da Balaia, propriedade de dois cunhados.  

António Quadros é excelente tenista e joga durante toda a vida, ganhando, juntamente com o filho, múltiplos torneios de pares. Sam, o cartoonista é um dos seus primeiros parceiros da juventude.

Ainda como aluno da Faculdade de Letras de Lisboa inicia-se nas lides literárias e, entre os pensadores portugueses, é na figura de Delfim Santos que encontra o seu primeiro mestre.

1949
Publica um livro de poesia: Além da Noite, dedicado «À minha mãe, ao meu pai e à minha mulher, três poetas da minha poesia».

1950
Inicia o convívio com Álvaro Ribeiro e José Marinho, ambos discípulos de Leonardo Coimbra, e que, com este, formam, na sua opinião, «o triângulo estruturante da escola filosófica portuguesa no século XX». Assim, começa a frequentar a tertúlia que os dois filósofos portuenses mantêm na velha Brasileira do Rossio, e por onde passaram, ao longo do tempo, figuras cimeiras da cultura portuguesa contemporânea, como, por exemplo, Almada Negreiros, António Duarte, Cândido da Costa Pinto, Jorge de Sena, José Blanc de Portugal, Eudoro de Sousa, Sant’Ana Dionísio, Amorim de Carvalho, José Osório de Oliveira, Pedro de Moura e Sá, Carlos Queiroz, Domingos Monteiro, Francisco da Cunha Leão, Rui Cinatti e Natália Correia. Este convívio será determinante para a estruturação do seu Pensamento e da sua Obra.

Os seus interesses estéticos alargam-se, igualmente, ao dominio do bailado, escrevendo críticas e chegando a ser autor, em parceria com o seu irmão, de um programa semanal na Emissora Nacional.

António Quadros, que adopta este apelido para assumir uma personalidade literária distinta da de seus pais, usa vários pseudónimos; entre eles, o de Rui Bandeira (?), como crítico de artes plásticas para o jornal O Século Ilustrado e para a Rádio Renascença, bem como para outras colaborações esparsas, e ainda o de Paulo Roquette, inspirado num dos apelidos da mulher, com que assina, no princípio de carreira, artigos associados à tauromaquia e aos Parques Infantis de sua mãe.  


1951
No dia 24 de Janeiro, o nascimento do seu primeiro seu filho, o quarto António Ferro, desperta em toda a  família uma alegria incomensurável.  

Funda com Orlando Vitorino, a partir de uma ideia onde também colaboram os escultores António Duarte e Martins Correia, os fascículos de cultura Acto, que defendem a originalidade de uma filosofia portuguesa, autónoma e diferenciada.

Em entrevista ao Diário Popular (3.10.51), justifica a um jornalista a oportunidade da Acto: «…Estou firmemente convencido de que, cansado de tanta mistificação literária, o público culto português anseia por algo de novo, de diferente.»

Os custos são inteiramente suportados pelos directores, pelo que a revista terá apenas dois números – uma experiência breve, sem dúvida, mas que viria a constituir a primeira manifestação de uma geração de discípulos da «Filosofia Portuguesa», defensora da existência de uma substância filosófica original e genuinamente lusa.

1952
Publica Viagem Desconhecida, com o subtítulo de Itinerário Poético 1950 – 1952, com ilustrações de Martins Correia, onde inclui alguns dos seus melhores sonetos.

1953
Colabora nos Serviços da Campanha Nacional de Educação de Adultos (1953), prossegue e desenvolve a sua acção e a sua obra, sedimentando os princípios da filosofia portuguesa que tanto o empolgam e mobilizam, embora acolhidos com cepticismo e ironia por numerosos opositores.  

Nesta altura, é já uma presença constante na imprensa, em especial na página cultural do Diário de Notícias, dirigida à data, pela poetisa Natércia Freire.

Revela-se, igualmente, insigne conferencista, e é permanentemente solicitado para proferir palestras sobre os mais variados temas ligados à cultura portuguesa, em particular os relacionados com o sistema da educação universitária, que já constituíra questão central na revista Acto, e que, na geração anterior, tanto preocupara os seus mestres Álvaro Ribeiro e Delfim Santos.

Em Dezembro, nasce a primeira filha, Mafalda, com quem, sem precisar de palavras, manterá toda a vida uma forte ligação de amizade e cumplicidade.

1955
Em 1955, seis meses depois do nascimento da filha mais nova, empreende com a mulher uma grata viagem que, no álbum onde regista surpresas e emoções, intitula A Itália em 30 dias. O roteiro é seu: Lisboa, Hendaia, Génova, Milão, Veneza, Roma, Siena, Florença, Pisa.

Veneza fascina-o: «A mais maravilhosa de todas as cidades italianas, excedendo todas as expectativas e ainda mais sonho do que todos os sonhos.»

António Ferro, então colocado em Roma, é o seu cicerone em Itália, mas as atenções que lhe merecem o cargo de embaixador, estendem-se ao filho e à  nora, impedindo o casal de cumprir algumas rotas. Desolado, António Quadros, pouco dado a formalismos, lastima: «Por causa de um almoço maçadoríssimo não pudémos ir a Capri. Roemo-nos de desespero!»

Em Castel Gandolfo, o casal vê Sua Santidade o Papa Pio XII e escuta a sua mensagem.

Em Roma, jantam num restaurante onde avistam a imperatriz Soraya, a quem são apresentados no dia seguinte numa recepção em sua honra, oferecida pelo Embaixador do Irão. Jovens e curiosos, misturam-se com a vida social da cidade: vão a dancings, a teatros, a passagens de modelos e a espectáculos dos mais variados. A sua chegada a Roma coincide com uma grande festa oferecida por António Carvalho e Silva, figura da alta sociedade de Cascais, à qual comparece o rei Humberto de Itália. Numa gazeta mundana, os romanos referem-se a Cascais como «A Costa dos Reis».

Visita ainda o Museu dos Uffizi, em Florença, que considera o melhor do Mundo e onde pode apreciar, duma assentada, os artistas italianos Leonardo da Vinci, Botticelli, Rafael, Miguel Ângelo, Bellini, Tintoretto e ainda Rubens, Durer, Van Dyck, etc. Abandona o museu asfixiado por tanta beleza. Nas notas de viagem, lamenta não ter realizado um sonho: conhecer Assis e a Basílica de S. Francisco, para ver, com os próprios olhos, os famosos frescos de Giotto; realizá-lo-á mais tarde, também na companhia da mulher.

1956
Publica o livro de ensaios A Angústia do Nosso Tempo e a Crise da Universidade, onde, meditando na desproporção entre a magra e descarnada cultura com que a Faculdade de Letras tinha contribuído para a miha formação espiritual, e a cultura criadora e viva que me fora dado encontrar fora do âmbito universitário, procura contribuir, através do seu depoimento de antigo aluno, para a reforma da universidade e da educação em geral.

Durante os anos 50 escreve várias peças de teatro, que ficarão inéditas, até hoje, algumas directamente em francês, como Vivre Notre Mort.

Em Agosto é, como todos, apanhado de surpresa pela súbita morte do pai que, então, colocado em Roma, se desloca a Lisboa por causa de um problema de saúde sem importância, acabando por morrer.  

1957
Em 1957, é  condecorado com a Ordem Britânica da rainha Vitória.  

Durante o mês de Maio, o casal comparece a um baile da Universidade de Coimbra e conhece Dorival Caymmi que pouco tempo depois, lhe dá o gosto de cantar em sua casa, na companhia de Doris Monteiro.  

No mesmo ano realiza, no Centro de Estudos Político-Sociais da União Nacional, uma conferência, posteriormente publicada, intitulada Problemática Concreta da Cultura Portuguesa.  

No ano do centenário do nascimento de Sampaio Bruno, pensador com quem muito se identifica, toma a iniciativa de lançar, juntamente com Afonso Botelho e Orlando Vitorino, o «Movimento de Cultura Portuguesa», fundando e dirigindo o jornal 57 (1957-1962). Aqui, com maior amplitude, profundidade e continuidade do que se fizera na revista Acto, cinco anos antes, procurou-se dar pública expressão e desenvolvimento às teses da filosofia portuguesa.  

1958
Prossegue a sua obra de crítico, de ensaísta, de pensador e de escritor multifacetado, dando sucessivamente à estampa um ensaio de psicologia e psicografia da cidade de Lisboa, O Enigma de Lisboa e, um ensaio de interpretação filosófica da estética contemporânea, Diagnose da Arte Moderna.

1959
Edita uma colectânea de ensaios de crítica literária A Existência Literária.

Publica na Revista Tempo Presente, o ensaio “Filosofia e Sentimento – Gnoseologia do Amor”

1960
A convite de Fernando Namora, publica na Arcádia o primeiro estudo sobre a obra de Fernando Pessoa, amigo de seu pai, visita de sua casa e figura cujo mistério o irá intrigar, prender e convocar durante o resto da vida. Poucos dias antes de morrer, confessará a Antónia de Sousa (Diário de Notícias, 11.3.93): «Para eu dar o essencial de Fernando Pessoa, tenho de dar o essencial de mim. Às vezes, chego a pensar que o Fernando Pessoa é uma presença de que não me posso livrar.»

Publica um livro de contos de matriz simbolista – Anjo Branco, Anjo Negro – Contos Fabulosos e Alegóricos. No prefácio, o autor esclarece: «São contos que procuram sondar, nas situações-limite do amor e da morte, da consciência e da loucura, da vigília e do sonho, da contemplação e da acção, algo de uma estrutura original dos homens para além do seu recorte no quotidiano, algo que mergulhe raízes no insondável de antigos mitos ou de uma memória arcaica, distante e todavia presente no seu comportamento actual (…).» Um destes contos, «A Filha do Poeta», que narra a história de uma jovem que herda o espólio literário do pai, revestir-se-á de particular significado para uma das suas filhas, a Mafalda que chamará a si os espólios da família para, durante mais de 15 anos, os preservar, reunir, tratar e disponibilizar a todos os estudiosos.


1961
São desta época os colóquios O que é o Ideal Português, na Casa da Imprensa, à Rua da Horta Seca, em que proferirá as conferências O Ideal Português na Filosofia e A Criação Artística. Apresentam as suas teses, além de António Quadros, diversos intelectuais e artistas, como Francisco da Cunha Leão, Domingos Monteiro, António Duarte, Bernardo Santareno e António de Macedo, suscitando múltiplas e contraditórias reacções na imprensa da época. No mesmo ano, as edições Tempo publicam O que é o Ideal Português.

É neste período da sua vida que, por influência do padre holandês Dâmaso Lamber, e após profunda reflexão teológica, se reconverte irreversivelmente ao catolicismo.

É um homem de estudo e cogitação, mas isso jamais o impede de fruir a vida nos seus aspectos mais lúdicos e sociáveis. Nos anos 60, empreende uma viagem a Saint Tropez, então em voga, acompanhada de dois grandes amigos: Pedro Froes e sua mulher, Amélia.

Um pouco mais tarde, levado por um cunhado, frequenta os Cursos de Cristandade, iniciativa a que adere com entusiasmo e em cujo desenvolvimento se empenha com convicção. A entrada ‘Cursos de Cristandade’, na Verbo, Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, é de sua autoria.

1962
Este ano ficará  marcado pelo fim de um dos seus projectos mais queridos: o jornal 57.

1963
Publica um primeiro ensaio de Filosofia da História, O Movimento do Homem – Drama, Movimento, Evolução em que o seu pensamento começa a afirmar-se e onde concilia a exigência filosófica com a mais rigorosa inteligência da teologia e da antropologia filosófica.

Criado o Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, abraça esse projecto. Nele colaboram Branquinho da Fonseca, Domingos Monteiro, Luís Amaro e Orlando Vitorino.

As edições Panorama publicam António Ferro, selecção, prefácio e comentários de António Quadros.

Funda e dirige uma nova publicação, a revista de Filosofia e Cultura Espiral que editará 13 números, entre 1964 e 1966. Nela, é dominante a atenção reflexiva à cultura portuguesa e na qual é permanente a presença do Brasil, da África e do Oriente, não sendo também esquecidos os profundos laços espirituais que ligam Portugal, à vizinha Galiza. A revista também funciona como editora, que dá à estampa vários títulos.

1964
Publica Crítica e Verdade – Introdução à Actual Literatura Portuguesa, dedicado a David Mourão-Ferreira, Luíz Francisco Rebello e Urbano Tavares Rodrigues, com capa de Paulo Guilherme. Através desta obra, António Quadros apresenta e analisa as novas tendências da ficção narrativa e do teatro, em Portugal, e onde, culminando alguns anos de crítica literária vigilante e independente, se debruça sobre a obra de Tomás de Figueiredo, Joaquim Paço d’Arcos, Alves Redol, Fernando Namora, Manuel da Fonseca, Branquinho da Fonseca, Agustina Bessa-Luís, Urbano Tavares Rodrigues, Vergílio Ferreira, Alfredo Margarido, Domingues Monteiro, Natércia Freire, José Régio, Luís Francisco Rebello, Bernardo Santareno, José Cardoso Pires e Luís de Sttau Monteiro, entre muitos outros.

Na opinião de alguns contemporâneos, António Quadros é dos melhores, senão o melhor, críticos literários da sua geração, possuindo uma visão aberta, flexível e moderna da Literatura.  

Publica O Romance Brasileiro Actual, separata do Romance Contemporâneo, edição da Sociedade Portuguesa de Escritores.

1965
A convite de Agostinho da Silva, desloca-se pela primeira vez ao Brasil, proferindo conferências e dando aulas sobre temas de filosofia e cultura portuguesa na Universidade de Brasília e noutros importantes centros culturais brasileiros, como o Rio de Janeiro e S. Paulo.

É neste ano que termina o seu livro Histórias do Tempo de Deus, dedicado ao irmão – «Para o Fernando, meu irmão, longe mas sempre perto» - distinguido com o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências e com o Prémio de Novelística da Casa da Imprensa. Na introdução, o autor fundamenta o título: «Em nossa volta, na nossa cidade, na história que nos chama e à qual nos entregamos, em toda a intérmina fenomenologia do homem consciente e convivente levanta-se uma suspeita, desenha-se um enigma. Ainda e sempre, o tempo de Deus é o tempo da atenção. Atentos, vivamos. O tempo de Deus é hoje».

Inicia a Editorial Notícias, com um estudo crítico sobre Carlos Botelho, nº 1 da Colecção Artistas Portugueses do Século XX.

1966
Nas edições Espiral, publica Imitação do Homem, dedicado «À minha mãe, que me disse Poesia», singular livro de odes onde revela toda a sua inquietação sobre o enigma do ser:

Se o homem é contradição e identidade,

se o homem é vário e inconsciente,

se o homem é bom e mau,

se o homem é perene alteração,

se o homem é repouso e evolução,

abandono e vontade,

acção e contemplação,

egoísmo e ascetismo,

se o homem simplesmente é,

e se no seu ser cabe todo o universo,

razão,

assume-o simplesmente inteiro,

dedica-te a pensá-lo no diverso

e nada excluas,

a sensação ou a fé (…)

Morre Delfim Santos, com apenas 59 anos de idade, após décadas de actividade como professor, pedagogo e filósofo.  

Prossegue o seu trabalho no Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian que, durante mais de vinte anos, constitui a sua principal actividade profissional. Este cargo que, inicialmente, é de inspector, obriga-o a percorrer o país de Norte a Sul. Nestas deslocações, aproveita para visitar e conhecer a fundo o património artístico português, registando-o em centenas de slides que, anos mais tarde, se lhe revelarão preciosos como docente de História de Arte.  

Ainda em 1966, desloca-se com a mulher a Espanha, para participar na Feira de Sevilha.

Na segunda metade dos anos 60 e nos primeiros da década seguinte, publica obras ensaísticas como O Espírito da Cultura Portuguesa (1967). Nesta obra, compila parte dos textos mais representativos da sua colaboração na Espiral.

Publica em separata da Revista de Letras O Português e o Barroco.

1968
A Editorial Estampa publica na colecção “Polémica”, com apresentação de Urbano Tavares Rodrigues, uma compilação de depoimentos sobre a guerra do Vietname. António Quadros é autor de um desses depoimentos.

1969
Publica Uma Viagem à Rússia onde, em estilo de reportagem, conta a sua viagem de barco à União Soviética durante a qual experimenta a aventura de ser detido por comprar umas escassas divisas no mercado negro e, de onde só pode sair indicando às autoridades oficiais o traficante que lhas vendera. Mais tarde, confessa à família: «Foi a primeira e única vez que denunciei alguém, e ainda hoje, de vez em quando, sinto remorsos.»

Mas, 1969 é também o ano que assinala a realização de um dos seus sonhos mais públicos: o IADE.

Com efeito, depois de um cruzeiro onde conhece alguns dos seus futuros sócios, e após diversas visitas a escolas de arte e de design de Madrid, Barcelona e Bilbau, e sobretudo à Escola Politécnica de Design de Milão, com que estabelece acordos de intercâmbio e de pós-especialização, funda o IADE, inspirado num modelo espanhol, embora com moldes inéditos em Portugal.

As iniciais correspondem, no início, a «Instituto de Arte e Decoração», mas passará a designar-se, anos depois, «Instituto de Artes Visuais Design e Marketing».

Para o efeito, forma sociedade com os espanhóis Francisco Carralero Saiz, António Perez de Castro e Julio Illa Ocaña e ainda, com um grupo de amigos fiéis: o advogado Manuel Ferreira de Lima, a sua cunhada Conceição Roquette e ainda com Manuel Sebastião de Carvalho Daun e Lorena, actual Marquês de Pombal, cuja mãe lhes aluga parte do palácio onde habita, para aí instalarem a Escola.

Este espaço, situado no nº 70 da Rua do Alecrim, em Lisboa, actual sede cultural do Instituto, abrange a entrada nobre do palácio com a sua monumental escadaria e algumas salas inteiramente revestidas de frescos. Este palácio oitocentista acolhera o General Junot durante as Invasões francesas lideradas por Napoleão e que, em 1874, fora adquirido por Francisco Augusto Mendes Monteiro (bisavô do actual Marquez de Pombal), mais conhecido por “Monteiro dos Milhões”.  

Convida, para assumir o cargo de director, mestre Lima de Freitas, pintor cujas obras simbólicas muito admira e cuja amizade entabulara anos antes, a partir de uma relação epistolar, Desafia para professores alguns dos nomes mais prestigiados da época ligados à cultura e às artes plásticas: o escritor David Mourão-Ferreira, o arquitecto Costa Martins, e os mestres Manuel Lapa, Rafael Calado, Artur Rosa, Manuel Costa Cabral e João Vieira, entre outros. Mais tarde, o próprio Lima de Freitas ministrará um Curso Livre de Pintura nas instalações do IADE.

A notícia da inauguração da Escola desperta o maior interesse junto da imprensa e do público, e o IADE, abre as inscrições com um curso de Decoração, com a duração de três anos, e ainda, com um Curso Básico de Cultura Portuguesa e dois cursos práticos, de fotografia e de cerâmica. As vagas esgotam-se em poucos dias.  

A seu convite, os gigantes do design Bruno Munari, Claude Ternat e John David Bear deslocam-se propositadamente a Portugal, o primeiro para participar num seminário, os segundos para leccionar no IADE.

1970
Publica, nas edições Espiral, Teoria da História em Portugal e Franco-Atirador – Ideias Combates e Sonhos.

Por morte do escritor Domingos Monteiro, é nomeado Director das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Gulbenkian. A sua intensa actividade profissional não o impede, porém, de continuar a intervir constantemente na vida cultural portuguesa, proferindo conferências, participando em congressos, colóquios e seminários, colaborando regularmente na imprensa, e exercendo ao longo da vida, diversas funções ou assumindo cargos de relevante significado e responsabilidade, como os de membro da primeira Direcção da Sociedade Portuguesa de Autores, de que foi um dos fundadores, Presidente da Comissão Nacional para o Ano Internacional da Alfabetização, Representante do Ministério da Educação no Comité Nacional para a Década Mundial do Desenvolvimento Cultural, Director da Biblioteca Breve do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, membro da Direcção do Círculo Eça de Queirós e membro do Conselho de Administração do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, membro-correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Filosofia, membro da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa, do Centro de Estudos Luso-Brasileiros, e do CELBRA, Centro de Estudos de Pensamento Luso-Brasileiro (Rio de Janeiro), professor-convidado da Universidade Gama Filho (Brasil), titular do Conselho de Administração da Fundação Lusíada e membro para Alta Autoridade da Comunicação Social, entre outros.

Paralelamente, prossegue e realiza uma vasta obra no domínio do ensaísmo filosófico, da ficção e da poesia, ampliando e aprofundando o seu estudo da obra de Fernando Pessoa, de que será o mais profundo intérprete, e desenvolve uma séria, inovadora e complexa reflexão sobre Portugal e o significado mais secreto da sua cultura e do seu destino histórico e transcendente.


1971
Publica Ficção e Espírito – memórias críticas.  

A partir de 1971, acumula, no IADE, os cargos de director-geral da Escola e docente nas cadeiras de História de Arte e Cultura Portuguesa, que manterá  ininterruptamente até ao ano de 1992. Em paralelo, continua a exercer funções na Gulbenkian e na Universidade Católica Portuguesa onde lecciona Deontologia da Comunicação.

Mais tarde, o IADE amplia as suas instalações alugando parte de um edifício situado na Rua Capelo, nº 18, junto ao Governo Civil de Lisboa, onde passa a ser ministrada a maioria dos cursos.  
Por esta época adquire uma típica casa em Óbidos, dentro das muralhas do Castelo, onde escreve e convive com a família e os amigos, casa essa que será  obrigado a vender, por razões financeiras, no ano da Revolução. 

1972
No âmbito do Ciclo de Conferências sobre Literatura Infantil, acompanhado de uma exposição de livros infantis, o Ministério da Educação Nacional - a Direcção da Educação Permanente publica O Sentido Educativo do Maravilhoso, onde começa por dizer “As crianças continuam a preferir o chamado conto maravilhoso, a que por vezesa também conto de fadas” e, ainda, A Aventura e o Mundo Juvenil e os seus Aspectos Educativos.

Pinharanda Gomes publica na editora Pax, A Filosofia Portuguesa, com depoimentos devários filósofos portugueses, entre eles, António Quadros.

1973
Escreve e edita Pedro e o Mágico que lhe merece o Prémio Nacional de Literatura Infantil, e onde, uma das histórias, «Os Pirilampos», relata uma vivência passada com os seus próprios filhos António, Mafalda e Rita.

Em 1973 realiza, a bordo do Queen Frederica, um cruzeiro ao Mediterrâneo, na companhia da mulher e das duas filhas.Empreende até 1975 outras viagens significativas, nomeadamente a Itália, a Espanha, à Grécia, ao Líbano e ao Egipto.

1974
Sendo homónimo de António Ferro, e perfilhando alguns valores comuns a seus pais, tais como um profundo sentido de patriotismo e uma inquebrantável crença nos valores portugueses, a Revolução não o poupa a ofensas, humilhações e dissabores que, longe de o afastarem do país, o mobilizam no sentido de moralizar e galvanizar Portugal e os portugueses, no momento de caos que atravessam, através da sua pena firme, serena e corajosa.  

Em Dezembro nasce a sua primeira neta, a quem é dado pelo genro, um nome que o diverte: Margarida Gautier. Será com esta neta que manterá uma relação mais estreita edificada em sonhos, ternura e alegria, muita alegria. Com ela empreenderá longos passeios e pequenas viagens Admirável contador de histórias, com uma faceta de uma ingenuidade quase infantil, dotado de carácter terno e paciente, manterá durante toda a vida, uma amizade muito especial com todos os netos.  

1975
Nos anos que se seguem a 1974, as suas preocupações intelectuais centram-se sobretudo na necessidade de preservar e actualizar, para além de todas as ideologias, a identidade de Portugal e dos portugueses, tanto em livros como em dezenas de artigos dispersos pela imprensa, onde chega a envolver-se em encarniçadas polémicas com figuras que, no seu entender, contribuem para denegrir a imagem de Portugal e desmoralizar o seu povo «numa altura de grande fragilidade nacional».

Depois da revolução de Abril, com as filhas já casadas, o casal toma a resolução de se mudar definitivamente para Cascais.

Ainda nesse ano, que assinala a morte do filósofo José Marinho, escreve com intensa regularidade nos novos jornais O Dia e Tempo.

Apoia Francisco da Gama Caeiro que, exilado no Brasil, cria um Mestrado de Filosofia Luso-Brasileira na Universidade Gama Filho (Rio de Janeiro), pelo que  é nomeado professor-convidado desta universidade.

1976
Este ano é  assinalado pelo nascimento de três netos.

Em Janeiro, nasce o primeiro neto, Francisco com quem partilhará uma cumplicidade muito especial feita de longas conversas, leituras orientadas e jogos de xadrez. Causa-lhe no entanto grande desgosto que o seu primeiro neto seja do Sporting.

Em Julho é  a vez da Marta. Sente sempre necessidade de a proteger porque a Marta é uma criança muito sensível e, por isso mesmo, frágil, de uma beleza etérea. Tem medo que a vida a magoe. Estrear-se-á nas lides literárias, em 1998, com o romance (epistolar) Desculpe lá, Mãe, escrito em co-autoria com sua mãe, a escritora Rita Ferro. Publica, em 2001, Tanto que eu não te disse e, em 2004, Nua e Crua.

Em Outubro, nasce a Rita, a sua neta mais romântica, a filha mais velha do António. A sua ingenuidade diverte-o, sem perceber que foi dele próprio que ela herdou essa faceta.  

Em Junho, viaja com a mulher e a mãe até à Costa Brava e à  Provença, conhecendo ali um lugar extraordinário: Les Baux, a pitoresca cidade medieval da Provença. Aproveita a ocasião para visitar também Cadaqués, e conversa com Salvador Dali e Gala, na sua casa de Port Ligat.  

No mesmo Verão, desloca-se à Bélgica para visitar o seu grande amigo Pierre-Jean Goemare, no seu castelo de Waterloo, a quem António Ferro, durante a Guerra, oferecera refúgio em sua casa durante mais de um ano, enquanto o seu pai era perseguido por ter escrito um livro de combate à ideologia nazi.

Neste ano, dedica livros a dois dos seus filhos: Portugal entre Ontem e Amanhã – Da Cisão à Revolução – Dos Absolutismos à Democracia, dedicado «Ao meu filho António», e A Arte de Continuar Português, este «À Rita, minha filha mais nova, e à sua geração para que continue Portugal».

1979
Em Novembro tem a grande alegria de ver nascer a sua quarta neta, a Maria Ana. Com um sorriso deslumbrante que a todos conquistava, era uma pestinha que conseguia dele tudo o que queria. Suave, sensível e brincalhona, tinha um mundo próprio, acessível apenas a um grupo muito restrito. O avô era uma dessas pessoas. Publica, em 2007, um livro de poemas intitulado Vinho, Velas e Valquírias.

1980
A partir dos anos 80, começa a registar em álbuns, fragmentos da sua vida pessoal e literária. Num deles, deixa a seguinte introdução:

«Estes álbuns não são narcisistas, simplesmente o seu autor, vosso pai, avô, bisavô, etc., divertia-se, nas poucas noites calmas do ano, a registar aqui, para vocês, os acontecimentos (alguns…) da sua vida…»

Publica um longo poema chamado Ó Portugal, Ser Profundo’ (Ed. Espiral, Lisboa), um épico e lancinante grito patriótico de exortação à transcendência dos portugueses, bem expresso na última quadra:

Ó meu Portugal que foste,

Que foste grande no Mundo,

Abre as asas, abre as velas,

Revela o teu ser profundo!


1981
Publica Fernando Pessoa, Vida, Personalidade e Génio – A Obra e o Homem, pelo que recebe (juntamente com os escritores Lídia Jorge e Vasco da Graça Moura) o prémio do Município de Lisboa, na categoria de ensaio.

Decide reformar-se do seu cargo na Fundação Gulbenkian e dedicar-se mais intensamente à sua obra, mantendo no entanto a sua actividade de director no IADE e docente no IADE e na Universidade Católica.

A 9 de Outubro, com a morte de Álvaro Ribeiro, acentua-se a irregularidade dos convívios do grupo inicial da «Filosofia Portuguesa».

Publica Memórias das Origens, Saudades do Futuro – Valores, Mitos, Arquétipos, Ideias, capa com arranjo gráfico sobre a pintura de Margarida Cepêda “Barcas do Pensanmento”.  

1982
A partir dos anos 80, estabilizado o novo regime e consolidadas as suas instituições políticas, regressa, decididamente, aos seus temas especulativos fundamentais, cujo núcleo problemático se inscreve nos domínios da Filosofia da História, do Símbolo e do Mito, e, assim, vai escrevendo e publicando Introdução à Filosofia da História – Mito, História e Filosofia da História no Pensamento Europeu e no Pensamento Português e, ainda Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista, em dois volumes.  

No IADE, leva a efeito diversos ciclos de palestras, cujas comunicações entrega prioritariamente a companheiros de grupo e a novos aderentes.

1983
Marques Gastão publica Diálogos com Escritores e Artistas Portugueses, onde reproduz (10 páginas) uma entrevista que fez a António Quadros.

Em Abril e Novembro nascem-lhe mais dois netos, completamente diferentes, vir-se-iam a revelar amigos para toda a vida.

O Salvador muito moreno, de discurso fácil e rápido, extrovertido, conquista pela sua alegria e sentido de humor. Muito perspicaz e atento, apercebe-se dos sentimentos alheios e, com um sorriso, ajuda quem dele precisa.

O António (enfim um novo António Ferro!), observa, ouve, estuda, analisa e fala apenas quando é essencial. Será um estudioso da vida do avô e tomará o nome de António Quadros Ferro, nome com que, em 2009, publica o seu primeiro livro Um Pouco de Morte.   

Por ocasião do 25º aniversário da fundação da Editorial Verbo, participa num ciclo de conferências subordinadas a tema Que Cultura em Portugal nos próximos 25 Anos? organizadas para decorrer ao longo de 1983. As apresentações dos conferencistas foram compiladas numa obra, com o mesmo título, publicada em 1984.  

1984
No ano lectivo de 1984/1985, são criados no IADE dois novos cursos: o de «Design de Moda» e, o de «Técnicos de Publicidade». Este último, a partir de 1987 chamar-se-á «Curso de Marketing e Publicidade» e terá uma extraordinária procura por parte do público estudantil e, juntamente com o «Curso de Design», com opções de especialização em design visual, industrial e de interiores, recebe em 1990 o grau de bacharelato.

1985
Organiza e escreve a introdução e as notas dos três livros de bolso, da obra poética e em prosa de Mário de Sá Carneiro.

Na noite de 13 para 14 de Agosto, participa num acontecimento inédito – «A Vigília de Armas em Aljubarrota» –, evento simbólico organizado nos campos da Batalha pelos poetas Palma-Dias e Paulo Borges e o pintor José Ralha. Juntamente com Orlando Vitorino promove, no final, um vivo debate que tem como ponto de partida, o movimento da Filosofia Portuguesa.

Em Novembro, participa, em São Paulo, no I Colóquio Luso-Brasileiro de Estudos Pessoanos. Visita Embu, com Soares Amora, João Alves das Neves, Teresa Rita Lopes e João Gaspar Simões, entre outros. Não só em Embu mas, também, na Faculdade Federal Fluminense, em Niterói, realiza numerosas conferências sobre Fernando Pessoa apoiadas pela Biblioteca Nacional e pela Fundação Cultural Brasil-Portugal, Visita ainda São Salvador da Baía, que provoca nele uma forte ressonância interior e onde participa na procissão do Senhor dos Navegantes, assiste a um espectáculo de «capoeira» e passa uma tarde trocando ideias com o escritor Jorge Amado, em sua casa.  

É ainda na Baía, numa rua que deixou fotografada, que conhece uma figura que o impressiona fortemente: «O célebre Frei Elyseu, que leu na minha alma e no meu futuro, através de um sistema que desenvolve há 52 anos. Homem extraordinário, que fez sozinho o extraordinário museu do convento, de arte sacra e pedras preciosas.» Desloca-se ainda a Fortaleza, no Ceará, onde realiza a conferência «Fernando Pessoa, um Poeta-Profeta-Alquimista do Verbo na Cultura Portuguesa do Século XX». No Recife, fica instalado «num excelente hotel frente à praia» e é recebido com uma calorosa saudação no Diário de Pernambuco. É aqui que conhece e trava relações de amizade e correspondência com o escritor brasileiro Ariano Suassuna, em cuja fotografia anota: «Amigo, irmão…» Suassuna e a mulher apresentam-no ao singular escultor Franago Brénard, cujo museu, instalado na velha fábrica de seu pai, o maravilha.

Conhece ainda Olinda, «uma cidade tradicional portuguesa a dois passos do Recife, onde desembarcaram os primeiros povoadores», e deixa-se encantar pela cidade. Aqui, janta num restaurante chamado l’Atelier, em cujo cartão regista: «O restaurante onde melhor comi no Brasil». Visita ainda a Bahia e testemunha o culto ao Senhor do Bonfim, a maior devoção da cidade.  

Publica na, sob o tema: Estudos sobre “Fernando Pessoa no Brasil”, o texto “Fernando Pessoa, Poeta, Profeta e Alquimista do Verbo”, no âmbito do cinquentenário da morte do poeta.

O Instituto Amaro da Costa publica, A Obra de Leonardo Coimbra no Contexto Cultural da sua Época numa separata do livro Leonardo Coimbra Filósofo do Real e do Ideal.

A Direcção-Geral da Comunicação Social publica, na colecção «Breviários de Cultura», A Ideia da Liberdade no Pensamento Português, Edições Terra Livre. Com selecção e prefácio de Romeu de Meloesta obra constitui uma antologia de textos dos maiores pensadores portugueses, entre os quais, António Quadros.

1986
No início do ano, organiza a Poética de Fernando Pessoa, em sete volumes, para a Editora Europa-America, em formato de livros de bolso.

Escreve Portugal, Razão e Mistério (1986-1987), «in memoriam de Álvaro Ribeiro, ao mestre, ao sábio e ao amigo», o primeiro livro de uma trilogia cume e síntese da sua hermenéutica do Portugal mais profundo, essencial e secreto, onde desenvolve um conceito de «patriosofia», isto é, do conhecimento da Pátria, que é genuinamente seu. O livro sustenta-se semanas consecutivas nos tops de vendas portuguesas.

Participa com grande gosto pessoal numa conferência sobre os painéis de Nuno Gonçalves (dos quais possuía uma réplica em miniatura), outra das suas fontes de mistério e deslumbramento, na capela do Espírito Santo, no Paço de Sintra. Segundo ele, estes painéis, que constituiriam o políptico da Religião de Avis, estariam relacionados com a Festa da Coroação do Imperador do Espírito Santo, que se realizava naquela Capela. A tese, integralmente fundamentada, empolga a assistência.

Na Universidade Católica Portuguesa, colabora com o 2º Curso de Verão para estudantes luso-americanos, ao longo de 3 sessões a que dá o nome: «A Cultura Portuguesa: Projecto Universal e Dificuldades Históricas».

Ocupa, com Francisco da Cunha Leão e Abel Lacerda Botelho (Presidente), o cargo de titular do Conselho de Administração da Fundação Lusíada.

Em Fevereiro, participa no III Encontro Internacional de Tomar sobre «O Imaginário e o Esoterismo Europeu e o Imaginário da Cultura Portuguesa». Aqui, o escritor faz uma deslumbrante comunicação intitulada «Em demanda de Prestes João».

Em Maio, em Roma, a dimensão teatral da obra de Fernando Pessoa é o tema central de um encontro internacional sobre o poeta português, com o título genérico de «Longitude Pessoa», onde António Quadros, acompanhado por António Tabucchi, Jacinto Prado Coelho e João Gaspar Simões, presta novo e decisivo contributo para o conhecimento internacional do Poeta.   

Em Setembro do mesmo ano, publica no Jornal de Letras um extenso artigo sobre Agostinho da Silva, a quem chama «Profeta do Terceiro Milénio», dissertando sobre o seu carisma.

Em Novembro, volta ao Brasil para dar o seu curso de cultura e filosofia portuguesa e uma prelecção sobre Miguel Torga na Universidade Gama Filho, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Faz conferências também em Brasília, na Embaixada de Portugal, e, ainda, no Rio de Janeiro na Academia Brasileira de Letras e na Fundação Brasil-Portugal. As iniciativas são noticiadas em toda a imprensa brasileira, e é entrevistado pela escritora portuguesa Leonor Xavier, então jornalista do Mundo Português.

É aqui que recebe um convite inesperado, por parte do coronel Carlos Freitas, marido de uma sua aluna do curso de filosofia portuguesa: a visita ao 1º Batalhão de Engenharia de Combate, localizada no antigo palácio de D. João VI, depois convento de Jesuítas e finalmente palácio de D. Pedro I, imperador do Brasil. É recebido com honras militares e uma escola de samba local desfila em sua homenagem. Nesse mesmo dia, escreve à mãe: «Tratam-me aqui com uma importância que nunca senti em Portugal.»

Durante a viagem, conhece a biblioteca da Universidade Gama Filho e visita o Rio de Janeiro com mais atenção do que nunca. Aproveita a ocasião para se encontrar com o seu irmão Fernando, então radicado no Brasil e rever a sua cunhada Dominique e os seus sobrinhos Vicente e Stephanie, que muito estima.

No próprio dia da sua chegada do Brasil, profere uma conferência na Universidade Católica em memória de Leonardo Coimbra, que considera um dos mais importantes pensadores modernos, no 50º aniversário da sua morte: «Leonardo Coimbra, Mestre dos Mestres».  

No dia 4 de Dezembro, participa na conferência inaugural do III Congresso de Turismo, em Guimarães, com uma palestra sobre «O impacto do Turismo na Sociedade Portuguesa». Acompanha-o o Eng.º Álvaro Roquette, primo direito de sua mulher, que ocupa, à data, o cargo de Director-Geral do Turismo.

Ainda neste mês, profere no Palácio de Sintra uma conferência sobre uma das temáticas que mais o interessam e constituem matéria recorrente das suas investigações: «A Coroação do Menino Imperador do Espírito Santo», uma grande tradição pentecostal portuguesa ainda viva no Penedo, perto de Sintra, em Tomar, nos Açores e no Brasil, expressa popularmente através de uma festa criada por D. Dinis e D. Isabel, em fins do século XIII.

Organiza e selecciona os textos e, escreve a introdução e as notas dos três volumes de Obras de Fernando Pessoa, em papel bíblia.

1987
Na sequência da Obra Poética de Fernando Pessoa, publicada no ano anterior, a convite das publicações Europa-América, publica os 10 volumes da Obra em Prosa de Fernando Pessoa – Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas, no mesmo formato. A respeito desta obra, explica: «É um Fernando Pessoa humano, profundamente humano, em sua vida, paixão e morte, que se nos desvela nesta colectânea diarística epistolográfica e autobiográfica.»

Sobre Pessoa, o escritor esclarece que tem sido «muito menos um investigador do que um intérprete ou um pensador interessado no que ela apresenta em si própria e no contexto da cultura portuguesa». O seu estudo da obra de Fernando Pessoa representa, durante toda a sua vida, um trabalho insano, «quer pelos manuscritos de Fernando Pessoa oferecerem grandes dificuldades de leituras quer porque houve por vezes escolhas que fragmentam textos já de si fragmentários ou critérios de ordenação que podem e devem ser revistos no futuro». As palavras são suas.

A Revista de Documentación Cientifica de la Cultura, Anthropos, editada em Barcelona, publica um artigo de António Quadros, “Fernando Pessoa, Recriador de Mitos”.

No Instituto D. João de Castro, colabora com os professores Almerindo Lessa e Martim de Albuquerque e Luís Forjaz Trigueiros, Jesué Pinharanda Gomes, Henrique Barrilaro Ruas, João Bigotte Chorão, e ainda com Mestre Lima de Freitas, num fulcral colóquio com o tema «Cumprir Portugal» que constitui uma valorosa meditação sobre a identidade portuguesa.

Colabora com a revista Democracia e Liberdade da qual publica uma separata com A Filosofia de Bruno À Geração do 57, seguido de O Brasil Mental Revisitado e, ainda, Algumas Reflexões sobre a Deontologia da Comunicação Social.

Em Maio, faz um balanço do percurso do IADE na revista Dimensão; é um longo artigo que relembra os seus fundamentos pedagógicos face ao novo desafio da então chamada CEE. Em nota divulgada à imprensa, a sua proposta, enquanto director do IADE, é a de «responder ao desafio formando profissionais de nível em áreas fundamentais, mas profissionais, a que não faltem uma formação universalista, humanística, europeia, a par de uma consciência das nossas raízes portuguesas».

Para continuar a sua campanha de sensibilização junto das empresas e industriais portugueses, o IADE, sempre dirigido por António Quadros, cria o DIP, um departamento de integração profissional que coloca e orienta profissionalmente cerca de metade dos seus alunos, que concorrem, a concursos e prestam diversas colaborações às indústrias nacionais. O objectivo é colocá-los perante casos concretos do quotidiano empresarial. António Roquette Ferro, seu filho, virá, com um êxito assinalável, a dirigir e a dinamizar este departamento.  

Neste aspecto, António Quadros não só enfrenta a ameaça do Mercado Comum como a desafia: «Fazemos com que a distância entre as condições já existentes nos países ricos da C.E.E. seja um desafio estimulante, obrigando-nos a um enorme esforço de modernização. Tal o sentido que se procura dar à formação de designers no IADE, privilegiando, para além da metodologia e da preparação básica, o design de interiores, o design gráfico, o design industrial e bem assim o design de moda. Se em todos estes campos o IADE foi pioneiro, ou em absoluto, ou na orientação dada, se o IADE tem feito todos os possíveis, através do seu Departamento de Integração Profissional, para aproximar cada vez mais a Escola da Indústria, através de Concursos, Seminários, Visitas, Estágios, etc., urge também que, quer o Estado quer as Indústrias, se aproximem das Escolas, compreendendo que é nelas que poderão basear-se o desenvolvimento económico almejado e a resposta duradoura e rápida ao desafio da CEE.» E faz lembrar o seu pai, ao concluir: «É para a Vitória que o IADE trabalha - com os seus próprios recursos e apoiando-se unicamente no prestígio adquirido, na procura crescente dos alunos, na sua iniciativa, e na capacidade e empenhamento de todos quantos no Instituto trabalham, ensinam e estudam. É na vitória e só na vitória que apostamos – na certeza de ser à juventude, se bem preparada, estimulada e apoiada, que caberá construir o Portugal de amanhã.»

O Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa de Lisboa, em colaboração com o Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, leva a efeito, nas instalações da Universidade Católica Portuguesa, umas jornadas de estudo e reflexão sobre «Os Meios de Comunicação Social e a Promoção da Justiça e da Paz», para os quais António Quadros presta um relevante contributo.

Publica o II volume de Portugal, Razão e Mistério, e compila elementos para o 3º volume, que chega a iniciar, deixando-o todavia incompleto. Pinharanda Gomes (Diário do Minho, 20.5.1987) classifica esta obra de António Quadros como «O mais elucidado exercício especulativo sobre a História de Portugal».  

Para assinalar o encerramento das comemorações dos 80 anos do nascimento de Delfim Santos, profere, na Escola Delfim Santos, uma palestra sobre a vida e obra daquele que foi, além de grande amigo, o seu primeiro mestre de filosofia.   

Em Setembro, nasce João Ulrich, o seu neto mais novo. Com este neto, com a sua distracção, inteligência e capacidade de introspecção, identifica-se de uma forma especial. Vive em êxtase com as suas capacidades e com as suas conversas de pequeno adulto.    

A 24 de Outubro, na igreja do histórico Mosteiro do Espinheiro, efectua-se uma cerimónia inédita na cidade de Évora: a investidura de 14 novos cavaleiros Templários. Fundada em 1118 por nove cavaleiros franceses e criada no local onde existiu o templo de Salomão, em Jerusalém, destinava-se esta Ordem a proteger os peregrinos e a defender os Lugares Santos da Palestina. Por esta ocasião, o escritor profere, no Monte do Borraseiro, propriedade do casal Maria do Carmo e Luís Gonzalez, uma apaixonante conferência subordinada ao tema «A Ordem dos Templários e o Quinto Império».

Ainda em Outubro, inaugura a biblioteca João Paulo II na Universidade Católica, e profere uma conferência sobre Eça no Círculo Eça de Queiroz.

A revista Nova Renascença promove no Porto, entre 12 a 19 de Dezembro, as comemorações do 75º Aniversário do movimento Renascença Portuguesa. A mesa-redonda com o tema «A Renascença Portuguesa e a Nova Renascença», encerrou um ciclo de conferências na Fundação Eng.º António de Almeida. Os oradores foram, além de António Quadros, o professor Agostinho da Silva, José Augusto Seabra, António Braz Teixeira e Alfredo Ribeiro dos Santos.

Na sequência da inauguração do 1º Curso de Design de Moda, o IADE inicia os seus «Acontecimentos da Moda», eventos difíceis de ignorar pela sua competência e efeito. Esta iniciativa repetir-se-á todos anos vindouros, com o desfile de modelos profissionais apresentando as colecções dos finalistas. O acontecimento tinha lugar em alguns dos mais belos espaços de Lisboa: do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, o Planetário, o Convento do Beato e o Palácio Quintela, sede cultural do IADE.

Criativo, sociável e dinamizador como o avô, o seu filho António Roquette Ferro, revela-se um grande apoio e companheiro nas lides do IADE. A sua importante participação na realização e promoção de eventos públicos, contribuiu eficazmente para o prestígio crescente da imagem do Instituto.

Com a presença do ministro da Educação, Eng.º Roberto Carneiro, e de outras altas individualidades ligadas às artes e às letras, inaugura-se no IADE uma exposição de design industrial.  

É Comissário da organização das comemorações do centenário de Fernando Pessoa, do Município de Lisboa.

1988
No dia 21 de Janeiro quando entrevistado por Fernando Dacosta (O Jornal, 21.1.1988), confessa a sua lástima pela submissão dos portugueses ao pensamento estrangeiro: «Houve, a seguir ao Ultimatum, e mesmo à implantação da República, um movimento fortíssimo de escritores, e escritores democratas, que procuraram fomentar valores genuinamente portugueses. Impressiona-nos não ver um movimento desses. Há pessoas isoladas que tentam fazer umas coisas, só que os complexos, os medos de se ser nacionalista são muito fortes, muito inibidores. Vejam-se as obras que vão saindo entre nós no campo do pensamento: não citam nenhum autor português, nem na bibliografia, nem nos rodapés, nada, ninguém é merecedor de ser referido, só estrangeiros, é como se não existisse em Portugal ninguém capaz de pensar.» E quando Dacosta, provocando-o, lhe pergunta se existe um pensamento português próprio, emociona-se: «Basta termos uma língua própria para termos um pensamento próprio. A língua está para o pensamento como a potência para o acto. Se possuímos uma língua riquíssima, antiquíssima, podemos ter igualmente um pensamento rico, como temos uma poesia, uma literatura. Criámos conceitos francamente originais… era mais importante para os estudiosos portugueses dedicarem-se a eles do que integrarem-se, como faz a maioria, em escolas francesas ou alemãs. Dá-me muita pena ver desperdiçar um capital, a língua, que é o nosso maior património.»

No dia 2 de Março, durante o encerramento da exposição de pintura da Madre Teresa Saldanha, por ocasião do 150º aniversário do seu nascimento, profere, na Fundação Gulbenkian, a palestra «Romantismo e Misticismo na Pintura de Teresa Saldanha»

O seu amor às artes plásticas, desde os seus primórdios como crítico, nunca é esquecido ou estagnado. Escreve frequentes críticas sobre pintores, sobretudo a artistas portugueses. O arquitecto Raul Lino, e os pintores Lima de Freitas, Margarida Cepêda, Espiga Pinto e Felippa Lobato, entre outros, são alguns dos nomes cujo imaginário e simbolismo procurou decifrar.

Em Maio, faz parte júri que vota para eleger o grande prémio de romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores. O prémio é atribuído a Vergílio Ferreira, pelo seu livro Até ao Fim.

Coordena o projecto da publicação de cinco volumes que representam a primeira série de uma colecção de traduções em chinês de obras de autores portugueses a ser iniciada em Pequim. Esta iniciativa realiza-se no âmbito de um acordo de cooperação entre a Fundação Calouste Gulbenkian e o Instituto de Literatura Estrangeira da Academia das Ciências Sociais da China. Os primeiros autores traduzidos são Luís de Camões, Alexandre Herculano, Camilode Oliveira, Carlos Malheiro Dias e Eça de Queirós.  

Comparece a um colóquio no Funchal sobre filosofia portuguesa, acompanhado por dois dos seus grandes amigos e correligionários: António Braz Teixeira e Orlando Vitorino.

Em Junho, passa uma semana em Paris a fim de comparecer, no Palácio da Unesco, à comemoração do centenário do nascimento de Fernando Pessoa; por esta ocasião, toma chá em casa de Maria Helena Vieira da Silva e escuta, da sua boca, a seguinte revelação: «O seu pai foi o primeiro que escreveu sobre mim.» Com efeito, vem a descobrir, na Ilustração Portuguesa (nº 833, II série), um desenho da artista, assinado LENA, acompanhado de um profético artigo de seu pai: «Lena é uma artista de 13 anos que revela nos seus primeiros desenhos admiráveis qualidades de movimento e de ritmo. (…) Quem desenha assim, aos 13 anos, não deve deixar de trabalhar.»  

Em Agosto, quando deflagra o incêndio que destrói o Chiado, o escritor é chamado pelo jornal O Século a dar o seu testemunho. O seu tom é de sentido pesar: «Lisboa é tão vulnerável! É parte da alma de homens como Eça e Pessoa que fica destruída. São capítulos bastante importantes da vida cultural de Lisboa e do país consumidos numa catástrofe que nunca mais pode ser reparada.»

Logo a seguir, parte para Friburgo, na Suíça, para participar num colóquio sobre filosofia portuguesa. É um velho cavalo de batalha, para o qual já desafia as novas gerações: «Mas não desanimemos, porque a filosofia portuguesa, em seu labor modesto mas persistente, é uma poderosa energia intelectual na cultura viandante, que é a nossa, e o pensamento criacionista tem a longo prazo poder sobre a realidade social e humana. Perdem-se batalhas no terreno da cultura, mas novas gerações de pensadores aí estão e estarão a recolher o testemunho para o levar mais longe. A ideia não tem pressa» (Memórias das Origens, Saudades do Futuro (1981).

Colabora na fundação da revista de filosofia portuguesa Leonardo. Na sessão de lançamento, insiste: «Não é possível o progresso em Portugal sem o primado do pensamento, da razão, da filosofia.»  

A convite do professor Perfecto Quadrado, parte para Palma de Maiorca para participar no colóquio «Fernando Pessoa na Universidade das Ilhas Baleares em Palma», aproveitando para visitar todos os lugares alusivos à memória do filósofo e místico Raimundo Lullio. Desloca~se ainda a Valdemosa, para conhecer a casa onde, entre 1838 e 1839, Georges Sand, convalescente de tuberculose, passa alguns meses na companhia de Chopin.  

No Forum Picoas, participa no terceiro debate realizado no âmbito da Semana Cultural da Associação Portuguesa de Escritores. No mesmo local, por ocasião lançamento de «Portugal em Conversa de Génios», livro de selos dos CTT sobre Amadeo de Sousa-Cardoso e Fernando Pessoa, especula sobre um possível diálogo entre o pintor e o poeta.

Guilherme d’Oliveira Martins apela, num artigo grato a toda a família, no Diário de Notícias, à necessidade de salvar «a casa histórica da Calçada dos Caetanos», onde o seu avô viveu e António Quadros cresceu, terminando nestes termos: «A Velha Casa merece a nossa luta - pela vida dos que lá fizeram pedaços marcantes da nossa história colectiva».  O artigo teve efeito imediato, e a Câmara de Lisboa, passado não muito tempo, inicia importantes obras de restauro no número 7 da Rua João Pereira da Rosa, antiga Calçada dos Caetanos.

Viaja até  São Paulo, Brasil, com a sua mulher, para participar no 4º Congresso Internacional dos Estudos Pessoanos, onde, juntamente com José Saramago, Joel Serrão, David Mourão-Ferreira, Óscar Lopes e José Augusto Seabra, apresenta uma importante comunicação. É igualmente convidado a proferir conferências na Universidade Gama Filho, na Casa da Cultura «Laura Alvim», na Universidade de Campinas e na Universidade Católica de Petrópolis. Aí, assiste a uma singular exposição de tapeçaria e porcelana dedicadas a Fernando Pessoa. O casal é recebido por Ana Maria Moog Rodrigues, com quem inicia grande amizade.

Depois de Petrópolis, a convite de Amélia e Vicente Barreto, o casal passa um fim de semana no seu maravilhoso e inesquecível Vale da Boa Esperança.   

Escreve O Primeiro Modernismo Português – Vanguarda e Tradição.

Organiza e selecciona os textos, escreve a introdução e notas reunindo em dois volumes, a Obra Poética e em Prosa de Camilo Pessanha.

Publica um ensaio intitulado “Introdução à Teoria da Identidade Portuguesa”, no livro A Identidade Portuguesa – Cumprir Portugal., Cadernos Políticos 2.

1989
Publica A Ideia de Portugal na Literatura Portuguesa dos Últimos 100 Anos, volume inaugural das edições da Fundação Lusíada, de cujo Conselho de Administração, faz parte desde o seu início. Na obra, aborda «os temas fundamentais do devir mental português, no cruzamento da história das ideias com a história da literatura».

No mesmo ano, dedicado à memória de José Marinho, e ainda a Agostinho da Silva, a Dalila Pereira da Costa e a Ariano Suassuna, publica Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista.

Organizado pela Ala Juvenil da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, decorre um ciclo de conferências dedicadas à divulgação e ao estudo do pensamento português, na convicção de que a autonomia do pensamento constitui suporte essencial à independência nacionalista. Assim, profere no Salão Nobre do Palácio da Independência, no largo de São Domingos, uma conferência intitulada «Autonomia Mental e Autonomia Nacional ou o Problema da Filosofia Portuguesa e a Universalidade do Pensamento».

Lê um original de Rita Ferro, sua filha mais nova, e dá-lhe os primeiros conselhos literários.

Publica numa separata de O Pensamento Filosófico de Leonardo Coimbra, uma exposição intitulada Mestre dos Mestres ou do Magistério de Leonardo Coimbra ao Magistério dos discípulos.

Cinquenta alunos da «Institucion Artes Decorativas de Madrid y Barcelona», deslocam-se a Portugal com o objectivo de visitar o IADE.

Antes do colóquio pessoano de Nova Orleães, passa oito dias em Nova Iorque com o casal Lima de Freitas. Ali, visita o Metropolitan Museum, assistindo a diversos espectáculos de jazz e peças da Broadway.

No dia 6 de Novembro, António Quadros, faz uma palestra sobre a vida e obra do Prof. Delfim Santos, encerrando as comemorações do seu octogésimo nascimento.  

Publica Delfim Santos – Introdução à Vida e à Obra, em Vertentes da Filosofia, Reflexão 44.

Publica em Nacionalismo e Patriotismo na Sociedade Portuguesa Actual, o “Ensaio sobre a Independência Portuguesa como Fundamento da Independência Nacional – Societarismo, Paisanismo, Nacionalismo, Patriotismo e Estatismo”.

1990
É nomeado Presidente da Comissão Nacional para o Ano Internacional da Alfabetização e representante do Ministério da Educação para a Década Mundial do Desenvolvimento Cultural.

Nos meses de Junho e Julho, participa no Colóquio Tobias Barreto e num seminário sobre filosofias nacionais, promovido pelo Instituto Interdisciplinar de História das Ideias da Universidade Nova de Lisboa.

Nos mesmos meses, publica Introdução à Estrutura do Universo Camiliano em «O Tripeiro» (nºs 6 e 7).  

Está  presente no lançamento do romance de estreia de sua filha Rita Ferro, O Nó na Garganta.

Por ocasião do octogésimo aniversário do nascimento do Prof. Delfim Santos, realizou-se um ciclo de conferências nas quais António Quadros foi orador. O Centro Cultural Delfim Santos, Os conteúdos foram publicados na obra Delfim Santos. António Quadros escreveu “Delfim Santos – Introdução à vida e à obra”.

Organiza e selecciona os textos, escreve a introdução e notas de Mensagem e Poemas Afins, de Fernando Pessoa

1991
No dia 14 de Outubro, comparece ao colóquio Anteriano de Ponta Delgada e, através de uns «poemetos» escritos a propósito, revela conservar intactos, o seu espírito e o seu humor, bem como uma certa aversão às chumbadas académicas:

Coitado do pobre Antero,

Desnudado, analisado,

Não já  o corpo, seu espírito,

Dissecado, autopsiado.


Matou-se, mas era livre,

Liberdade era o seu bem,

Agora sua alma triste,

Já  nem liberdade tem.


O que não disse, ele disse,

O que escreveu não pensou,

O que disse ele desdisse,

O que pensou não amou.


Coitado do pobre Antero!

Quero vê-lo, mas não posso…

Roubámos-lhe a liberdade,

Já  não é dele, é só  nosso.  

Organiza e selecciona os textos, escreve a introdução e notas da Obra Poética Completa de Mário de Sá Carneiro e escreve ainda Trovas para o Menino Imperador no Dia de Pentecostes, dedicando-as a Agostinho da Silva, a João Carlos Raposo Nunes, poeta de Setúbal, e ainda «a todos os irmãos dos Impérios do Espírito Santo nos Açores, Continente, Brasil e E.U.A.», elucidando os leitores sobre as festas da «Coroação», únicas no mundo e só realizadas em espaços de origem lusíada: «Não as vejamos como formas de folclore. São herança nossa. Um testemunho recebido, a cumprir e a transmitir. Festas proféticas de uma Idade de Amor e de Fraternidade Universais».  

Entre 16 e 20 de Setembro, em Recife e em Salvador (Brasil), participa no colóquio Antero de Quental, no qual apresenta a comunicação «Antero de Quental, do Poeta-Filósofo ao Poeta-Religioso – A Questa, a Odisseia, a Peregrinação», posteriormente publicada pela Faculdade de Filosofia (Braga, 1991) e pela Universidade dos Açores (Ponta Delgada, 1993).

1992
Organiza e selecciona os textos, escreve a introdução e notas de Cartas Escolhidas, de Mário de Sá Carneiro.

Regressa à  criação ficcional, agora com um romance inspirado nos tristes últimos dias da existência do filósofo Sampaio Bruno: Uma Frescura de Asas, livro de certo modo premonitório da sua própria morte e que termina assim: «Tento em vão abrir os olhos. Há como que uma fina volúpia neste estonteamento, nesta nebulosidade. Batem à porta. Quem está aí? Sinto uma mão que, subtil, pousa no meu ombro. Escuto uma voz com uma inflexão recôndita e meiga. Conheço-a. Um frémito, uma aragem, uma vaga claridade. Alguém me disse um dia: vem, João. Outrem me solicita, agora: vem. É uma voz interior ou exterior? Há uma sombra morna e doce, há um perfumoso afago de cabelos inefáveis. Há uma frescura de asas. Há uma vaporosa, ondulosa coluna que me leva consigo, condescendente nos flutuantes movimentos do meu corpo. Vou.»

Este livro é escrito já no final da sua vida, na casa que comprara anos antes em Vale de Óbidos no Concelho de Rio Maior, o «Pomar de Santo António». Aí passa gratos períodos escrevendo e convivendo com a família, os netos, os amigos. Esta casa é actualmente a sede oficial da Fundação António Quadros, criada em Janeiro de 2009, por sua filha Mafalda Ferro.

É aqui também que esboça, já quase cego, as primeiras páginas do seu último romance inconcluso: A Paixão de Fernando P., inspirado no amor de Fernando Pessoa por Ofélia.  

Em Julho, integra o grupo de 24 fundadores do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, para cuja direcção é, mais tarde, eleito vogal. Desse grupo fazem parte Miguel Reale, António Paim, Francisco da Gama Caeiro, José  Esteves Pereira, Afonso Botelho, António Braz Teixeira, Pinharanda Gomes, Paul Mercadante, Ana Maria Moog Rodrigues, Constança Marcondes César, Eduardo Abranches de Soveral, Alexandre Fradique Morujão, e outros.

Já gravemente doente, publica Estruturas Simbólicas do Imaginário na Literatura Portuguesa, dedicado a Gilbert Durand, «que soube discernir e amar alguns dos valores mais profundos da literatura e da arte portuguesas. Oferece um exemplar à sua filha, Mafalda escrevendo “à sua querida filha Mafalda, pilar de força e de alegria da família, com muitos beijos do autor deste livro, quer dizer, do seu pai”.

Alma naturalmente generosa, espírito profundamente tolerante, personalidade aberta ao mundo e às mais diversas expressões culturais, António Quadros, embora radicalmente centrado em Portugal, seu pensamento e sua cultura, revela durante toda a sua vida, um permanente interesse e atenção por todas as culturas estrangeiras, em especial por aquelas que maiores afinidades espirituais apresentavam com as da sua pátria, como inequivocamente o testemunham os seus livros.

Para além do inesgotável valor intrínseco da sua vasta obra de pensador, ensaísta, crítico, poeta, ficcionista, são possivelmente, estes traços do seu carácter profundamente humano que explicam os testemunhos de reconhecimento de que foi alvo, em Portugal e no Brasil, nos últimos anos da sua vida.

De assinalar também a sua significativa actividade como tradutor de Georges Duhamel, André Maurois, Jean Cocteau e Albert Camus, menos conhecida do grande público.  

O casal Quadros Ferro vive sempre entre Lisboa e Cascais; primeiro, na Avenida Guerra Junqueiro, em Lisboa, anos depois, na Rua Afonso Sanches, em Cascais, voltando a Lisboa, mudam-se para o nº 7 da Rua João Pereira da Rosa, antiga Calçada dos Caetanos, na mesma rua onde vive a mãe. Da Rua Cecílio de Sousa, ao Príncipe Real passam de novo para Cascais, para a Rua Dr. António Dias Pinheiro, uma zona muito pacata da vila. È a sua última morada.

Já gravemente doente, nomeia seu filho António, director-geral do IADE, oferecendo-lhe parte das suas acções bem como a Madalena Jordão, amiga e colaboradora insubstituível, que virá a ocupar o cargo de directora adjunta. A sua filha Rita ocupara o cargo de professora e, sua filha Mafalda viria a integrar primeiro o Conselho Fiscal e, mais tarde, o Conselho de Administração até Dezembro de 2008, ano em que o IADE muda de proprietários.

1993
Dez dias antes de morrer, em entrevista a Antónia Sousa, (Diário de Notícias, 11.3.1993), exorta pela última vez os portugueses: «Acreditem em Portugal, porque Portugal está no mais fundo de cada um de vós e sem Portugal sereis menos do que sois.»

Quando é  hospitalizado, leva dois livros consigo, que a família não volta a localizar: Verbo Escuro, de Teixeira de Pascoaes, e Húmus, de Raul Brandão.

O Padre Vaz Pinto, capelão do Hospital da CUF, presta-lhe o último conforto espiritual, mas, a avaliar pela serenidade e confiança que aparenta, já se encontra preparado: nos últimos dias de vida, centra-se exclusivamente na família, dando-lhe uma lição de verdadeira dignidade no sofrimento.  

Morre, vítima de tumor cerebral, depois de receber os últimos sacramentos, com 69 anos, no dia 21 de Março de 1993, dia do início da Primavera,.

Deixa inconsoláveis, além da mãe, do irmão e da mulher, sua companheira de quase meio século, três filhos e oito netos, com quem mantém, durante toda a vida, uma deslumbrante relação de ternura, brincadeiras e conselho sábio.

Parte na «vaga negra» que vitima, no mesmo mês, Manuel da Fonseca, Rui Nogar, Alberto Franco Nogueira, Natália Correia e António José Saraiva.

O acto fúnebre tem lugar no cemitério do Alto de S. João, após a celebração da missa de corpo presente pelo mesmo padre que o casou, Pedro Gamboa, que durante o elogio fúnebre, o refere como «um homem que não tinha inimigos». Sua mãe, Fernanda de Castro, imobilizada por motivos de saúde, não pode comparecer. Mãe e filho sustentam, durante toda a vida uma amizade e cumplicidade inquebrantável. Unidos por uma forte relação afectiva e intelectual, falam-se todos os dias e são os primeiros a ler e a criticar o trabalho de cada um. O golpe que representa a morte do filho é o único que a pode aniquilar. Fernanda de Castro sobreviverá apenas um ano, depois da sua morte.

Três dias depois, na Assembleia da República, o Secretário João Salgado submete à votação dois votos de pesar pela sua morte, proferindo no primeiro:

«O escritor António Quadros, figura destacada da corrente de pensamento denominada Filosofia portuguesa, consagrou a sua vida e a sua obra a estudar e a pensar Portugal, a sua razão, o seu mistério, o seu destino. Espírito aberto e tolerante, foi um homem generoso que privilegiou o debate de ideias e mereceu o respeito de diferentes quadrantes da vida cultural portuguesa. A sua morte é uma perda de vulto para a nossa literatura e para a nossa cultura. A Assembleia da República manifesta o seu pesar pela morte do escritor António Quadros e apresenta condolências à sua família.»

E, no segundo:

«António Quadros, falecido no passado dia 21, fica como uma referência forte na corrente da filosofia portuguesa, aliando na sua vastíssima obra a dedicação à investigação, na área da cultura, com a assumida missão pedagógica e a adesão a um conceito transcendente de portugalidade. A Assembleia da República manifesta o seu respeito e admiração pelo ilustre desaparecido e apresenta pêsames à família enlutada».

Os votos de pesar foram aprovados por unanimidade, e, para se pronunciarem sobre eles, inscreveram-se os deputados Manuel Alegre (PS), Rui Carp (PSD), Adriano Moreira (CDS), Manuel Sérgio (PSN), Octávio Teixeira (PCP) e ainda  André Martins (Os Verdes).

Depois de um aplauso geral, a Câmara guardou, de pé, um minuto de silêncio.  

Ainda em 1993, é atribuído aos cursos do IADE o grau de licenciatura, pelo qual António Quadros tanto se batera nos últimos anos.  

O Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, de que foi co-fundador, publica na colecção «Razão Atlântica» uma edição dedicada à sua vida e obra. Esta edição é patrocinada pela Fundação Lusíada, com a colaboração da Guimarães Editores.
        

1994
No dia 21 de Março de 1994, data que assinala o primeiro aniversário do desaparecimento físico de António Quadros, António Roquette Ferro organiza uma homenagem a seu pai Nesta celebração, a que comparecem altas individualidades ligadas à Cultura e à Educação, e em que se recolheram relevantes testemunhos de louvor à sua pessoa e à sua obra como escritor e pedagogo, é exibida uma exposição de quadros assinados por pintores que ensinaram ou estudaram no IADE, entre os quais Rafael Calado, Espiga Pinto, Felippa Lobato, Costa Martins, João Vieira, José Maria Roumier, Lima de Freitas, José Ralha, Manoel Lapa, Manuel da Costa Cabral, Marcello de Moraes, Mariana Seabra Botelho, Rocha Pinto, Inêz Teixeira, Isabel de Goes, Graça Costa Cabral, Eduardo Nery, Cecília Melo e Castro, Artur Rosa, Barahona Possolo, António Mendes e António Vasconcelos Lapa.

António Roquette Ferro encomenda a Carlota Emaúz um retrato de António Quadros. Este retrato será posteriormente doado a Mafalda Ferro para que, um dia, o integre no património da Fundação António Quadros.

Entre a assistência, encontram-se duas colaboradoras históricas: Rosário de Almeida Pereira, no IADE desde a sua fundação, e Pilar d’Orey Roquette, sobrinha e secretária pessoal do escritor durante mais de 25 anos.

António Roquette Ferro escreve, expressamente para a ocasião, um poema dedicado a seu pai, que, mais tarde será publicado numa pequena edição, para circulação restrita. Nela constarão, juntamente com os testemunhos recolhidos, o registo fotográfico das telas exibidas na exposição.

A partir deste dia, O IADE passa a celebrar todos os anos «O Dia do IADE», no dia 21 de Março, em homenagem a António Quadros, com a colaboração de todos os colaboradores, alunos e professores que o lembram com saudade..

No dia 19 de Dezembro, morre Fernanda de Castro, que acabara de completar um romance intitulado «Tudo é Princípio».

1995
A Fundação Lusíada promove e publica uma viva e profunda Sabatina de Estudos da Obra de António Quadros, incluindo um valioso contributo biográfico assinado por Pinharanda Gomes e por Joaquim Domingues. “Num sábado outonal, admiradores, amigos e companheiros de António Quadros, estudaram a sua vida e a obra impar. Aqui se juntam as conferências, e ainda uma biografia de óbvia utilidade”.

1996
A Fundação Lusíada publica um livro de poemas de Dalila Pereira da Costa, O Novo Argonauta (e a Ilha Firme), com uma apresentação de António Quadros, sobre a autora A Obra Visionária e Mística de Dalila Pereira da Costa.

1997
Conservando a sede cultural no Palácio Pombal, na Rua do Alecrim, nº 70, o IADE aumenta o seu património e amplia substancialmente as suas instalações com a aquisição de um novo edifício de sete andares e quatro caves, na Av. D. Carlos, em Lisboa, onde, a partir da 1997, funcionará a maioria dos cursos, abandonando assim as velhas instalações da Rua Capelo.

1998
Em Maio, a Livraria Uni Verso Editora, reedita as suas Trovas para o Menino Imperador no Dia de Pentecostes, com posfácio de António Cândido Franco.

2006
A Fundação Luso-Americana publica a obra Portugal como Problema – Século XX Os Dramas de Alternativa, na qual o autor, Pedro Calafate, escreve “António Quadros: Pensar Portugal”.

2007
Em Novembro, o Município de Cascais inaugura, na vila onde António Quadros viveu grande parte da sua vida, uma rua com o seu nome. Estiveram presentes António Capucho, presidente da Câmara de Cascais, diversas individualidades e companheiros das lides literárias e, ainda, a sua família e amigos. A cerimónia foi acompanhada por música e cantos da tuna do IADE.

Francisco da Cunha Leão publica Do Homem Português, sobre seu pai, com um importante depoimento escrito por António Quadros.

2008
Em Dezembro, a maioria dos accionistas portugueses do IADE, optam pela sua venda e, detendo, uma minoria das acções, a família de António Quadros e os accionistas espanhóis aderem à transacção.  

2009
A 8 de Janeiro de 2009, a Presidência do Conselho de Ministros reconhece a Fundação António Quadros – Cultura e Pensamento, criada por Mafalda Ferro, filha do escritor, com o apoio da família e amigos de António Quadros.