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Newsletter Nº 100 / 14 de Dezembro de 2015
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros
ÍNDICE


Subsídio para uma Biografia de António Ferro 1955-1956.

José Espinho, Vida e Obra.

Casas com Escritos, de Margarida Acciaiuoli.

Histórias da Presença Portuguesa na Bienal de São Paulo.

Auto de Natal 2015 “Seguindo uma Estrela”.

Livraria: Promoção do Mês: 150 Anos da Filosofia Portuguesa. Actas.


EDITORIAL

por Mafalda Ferro


Com grande alegria, comunicamos que este é o centésimo número da newsletter que a Fundação vem publicando desde o dia 14 de Julho de 2009. 


António Quadros e António Telmo – epistolário e estudos complementares
, obra editada pela Labirinto de Letras Editores em parceria com Fundação António Quadros Edições, será apresentada por Miguel Real no Centro Nacional de Cultura, dia 15 de Dezembro, às 18.30.

A abrir a sessão, ouviremos um depoimento sempre douto e agradável de Guilherme Oliveira Martins, presidente do Centro Nacional de Cultura.

Recentemente chegado do Brasil, de passagem por Lisboa, João Ferreira falará de Quadros, de Telmo, de Filosofia.

Não falte.


Adiou-se a apresentação de António Ferro: 120 Anos. Actas, no Círculo Eça de Queiroz, por Alfredo Magalhães Ramalho para Janeiro de 2016, em data a divulgar brevemente.


A todos os nossos leitores, amigos, colaboradores, beneméritos, voluntários e a quantos apoiam de tantas outras formas a Fundação António Quadros, desejamos um Santo Natal e um Feliz Ano Novo pleno de ternura e alegria na companhia de família e amigos.


Boa leitura.

 
SUBSÍDIO PARA UMA BIOGRAFIA DE ANTÓNIO FERRO 1955-1956
por Mafalda Ferro



António Ferro com o filho e o neto, ambos com o seu nome (António Ferro) 
numa das muitas despedidas em Lisboa, a caminho de Roma.


1955
No âmbito das suas funções enquanto “Ministro de Portugal em Roma”, António Ferro continua, no decorrer de 1955,  a desenvolver uma “Acção Representativa da Delegação de Portugal em Roma”, como lhe chama nos seus registos.
Esta “Acção” passa pela organização e participação em visitas, pequenas viagens, cerimónias, homenagens, recepções, almoços e jantares dos quais se cita aqui apenas um pequeno número.

No dia 20 de Fevereiro, organiza um jantar de despedida do diplomata João de Lucena, da sua mulher, a pianista Florinda Santos, e de Leonor, a filha do casal. O jantar conta ainda com a presença de, entre muitos outros convivas, Andressen e de sua mulher, do embaixador Francisco Calheiros de Menezes, de Afonso Rodrigues Pereira, Conselheiro da Embaixada no Vaticano, e de sua mulher, de Amândio Pinto, Regina Quintanilha e de Rui Medina que ocupava, então, o cargo de segundo-secretário da Legação em Roma.

Durante o mês de Fevereiro, António Ferro apoia com ternura e palavras de esperança o seu filho António e a nora que, tendo já perdido dois filhos recém-nascidos, vivem momentos de grande ansiedade associados à proximidade do nascimento de um bebé. Para sua grande felicidade, no dia 26 de Fevereiro, nasce a sua neta Rita.

António Ferro mantém durante o período passado em Roma uma constante relação epistolar com o seu filho António, aconselhando-o, analisando e criticando os seus livros e trocando ideias sobre literatura, filosofia, arte, teatro e, também, assuntos de família.


Lisboa, 5 de Maio [1955]
Meu querido pai
[…]
Dê muitas saudades à mãe e diga-lhe que em breve lhe escrevo. A Pó manda também muitas saudades aos dois.
[…]
Mando-lhe dois retratos dos pequenos e peço-lhe que repare como a Mafalda se parece consigo. Tenho esperança de que o pai venha equilibrar a balança pois a mãe só tem olhos para o Antoninho. As pequenas nem têm existência, para ela. Mas a Ritinha está um amor e a Mafaldinha, sempre bem disposta e sorridente, tem uma personalidade engraçadíssima.
Muitas saudades e um grande abraço do seu filho muito amigo António
António Quadros, em carta para seu pai
PT/FAQ/AFC/01/001/0535/00019

No dia 3 de Junho, organiza um almoço de homenagem ao Patriarca Dom José da Costa Nunes, bispo católico e, também, professor, músico e escritor. Além do homenageado e do seu irmão, estiveram presentes Andersen, Afonso Rodrigues Pereira e sua mulher Teresa Eugénia Bettencourt mais conhecida por Bebé. No dia 6 de Junho, janta com o escritor francês Jacques de Lacretelle e sua mulher Yolande.

No dia 8 de Junho, organiza um almoço de homenagem ao escritor brasileiro José Lins do Rego.

No dia 10 de Junho, organiza um jantar com cerca de 30 pessoas, todo o palácio … e todo o corpo diplomático, colónia portuguesa e alguns escritores.

No dia 5 de Julho,organiza um jantar de homenagem ao compositor português Rui Coelho ao qual compareceram também a pianista e compositora Berta Alves de Sousa, Regina de Vasconcelos, Afonso Rodrigues Pereira e outros.

No dia 9 de Julho, concede uma conferência de Imprensa a cerca de 40 jornalistas italianos, estrangeiros, correspondentes de agências telegráficas, etc…

Fernanda de Castro alterna o seu tempo entre Lisboa e Roma, passando com o marido largas temporadas, embora não tão longas como ambos desejariam mas, nunca consegue sentir-se confortável no papel de mulher de diplomata.
Os laços de amor, cumplicidade e partilha que a unem ao marido são indestrutíveis e, juntos, sempre juntos, ultrapassam todas as dificuldades.

Em Roma não fomos viver, como em Berna, numa bonita casa moderna, no meio de um pequeno jardim, mas num velho palácio, o Palácio del Grillo, na praça do mesmo nome, a dois passos do Fórum e do Coliseu, paredes meias com as ruínas do Fórum de Trajano. [...] As salas estavam mobiladas com móveis magníficos, todos antigos, embora nem todos da mesma época. Os tectos eram pintados e tão belos que faziam parte do património nacional.
Fernanda de Castro, em Ao Fim da Memória II, 1989.

Em sessão de 30 de Junho, António Ferro é eleito pela Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa, Académico Correspondente Nacional.

António Ferro participa, a título particular, nos X Encontros Internacionais de Genebra, que, em 1955, têm por tema A Cultura Estará em Perigo?


António Ferro e Conde de Aurora, em Setembro de 1955

Termina de escrever e organizar um conjunto de poemas que intitula “Poemas Italianos” iniciado em 1954 e que inclui poemas como: «Museu»; «O poeta Miguel Ângelo»; «Praça de Santo Inácio»; «Praça de Espanha»; «Pietá»; «O Anjo de Leonardo»; «As Madonas de Geovanni Bellini», entre muitos outros.

No dia 20 de Setembro, António Quadros inicia com , sua mulher, uma viagem a que chama “A Itália em 30 dias”, queinclui, claro está, paragem e estadia em Roma.
António Ferro recebe com muita alegria o filho e a nora de quem gosta muito e a quem, de imediato, inclui na sua vida social que é, também, a sua vida profissional.

     

António Ferro no terraço e no jardim da sua casa
com o filho, a nora e o sobrinho Pedro Cunha, filho de sua irmã e de Augusto Cunha.

O Tenente-Coronel Salvação Barreto, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, desloca-se a Roma para, no dia 28 de Setembro, participar no XII Congresso das Cidades e dos Poderes Locais e, no dia 30 de Setembro, Salvação Barreto, António Ferro e Francisco Calheiros de Menezes presidem e inauguram a exposição Lisboa de Hoje, iniciativa dos serviços culturais da CML sob a direcção artística de José Espinho e de Manuel Rodrigues, à qual compareceu a melhor sociedade romana, de acordo com a imprensa da época, reproduzida na Revista do Município de Lisboa.

António Ferro na inauguração da exposição Lisboa de Hoje
conversando com José Espinho. Pode ver-se, mais atrás, o filho e a nora.

No dia [2 de Outubro] António Ferro almoça no Restaurante “Tre Scalini” com a nora e com o filho que regista num impresso do restaurante: Almocei aqui com o pai e com os artistas que colaboraram na Exposição de Lisboa, José Espinho, Manuel Rodrigues, Sebastião Rodrigues, Carlos Rafael […].

No dia 12 de Outubro, António Ferro e Fernanda de Castro são convidados para a recepção oferecida pela Rainha Soraya da Pérsia no Hotel Excelsior em Roma.

No dia 16 de Dezembro, António Ferro recebe para jantar os seus amigos holandeses Karin e Ernst Leyden, António Batalha Reis, Rui Medina e outros.

António Ferro passa o Natal em Roma.

1956
No dia 1 de Janeiro, Ferro oferece um almoço de Ano Bom a todo os colaboradores da Legação e do futuro Centro de Informação no qual estiveram presentes António Batalha Reis, Paulo Ferreira e sua mulher, Claudia Campini e o noivo, Ana, nova funcionária, Armando Baptista e outros.

No dia 29 de Janeiro, Ferro janta com Reynaldo dos Santos, Francisco Calheiros de Menezes, com a crítica e historiadora de arte italiana Palma Bucarelli, Marquesa de Loroya, Eugénio Montes, António Batalha Reis, Rui Medina e outros.

De regresso a Roma, recomeçou a vida habitual, ao mesmo tempo cheia e vazia. Tanto o António como eu tínhamos esta mesma sensação, de modo que nas horas livres, que eram muito poucas, recomeçámos a trabalhar; ele, nos seus poemas romanos, e eu em Asa no Espaço, poemas que depois seriam publicados em volume na Colecção Poesia, da Ática.
Outra coisa estranha foi nunca termos entrado numa casa romana, a não ser naquelas que davam, uma vez por ano, uma recepção em honra do corpo diplomático.
Fernanda de Castro, em Ao Fim da Memória II, 1989.

No dia 30 de Maio, cerca de seis meses antes da sua morte, António Ferro escreve uma carta que encerra num envelope onde redige Para ser entregue ao meu filho António depois da minha morte.

Querido António,
Enquanto tenho ainda forças para pegar numa pena e enquanto ainda consigo interessar-me (já palidamente…) pelo que pode acontecer ao meu nome, depois da minha morte, desejo dar-te algumas instruções rápidas sobre o que se pode salvar do que escrevi nos últimos anos e que podes entregar, depois de cuidadosamente revisto, a algum editor que se interesse pelas minhas cinzas, o que duvido.
[…]
Não tenho conselhos a dar-te pois tens indiscritíveis qualidades e só me tens dado motivos de satisfação e de orgulho. Apenas, procura sempre reflectir antes de qualquer acto público ao qual possas ficar para sempre agarrado.
(…]
Uma última recomendação: sê bom, sê bom através de tudo, até quando tenhas de responder à maldade dos outros.
A glória humilde, a glória íntima do coração é a maior e a mais bela de todas, Não poder continuar a fazer bem aos outros, a ser, ao menos, gentil para com eles, é agora o meu maior sofrimento.
Um grande beijo do teu pai, para além da morte, outro para a Pó que estimei sempre, e beijos também para os teus filhos cuja graça já não pude saborear como tanto sonhei e desejei.
E peço-te que não chores… A morte é o único repouso possível para quem está minado como estou minado.
António
António Ferro, em carta para seu filho António, 30 de Maio de 1956.
PT/FAQ/AFC/01/001/0548/00016

António Ferro recebe a 10 de Agosto uma proposta de Azeredo Perdição, seu velho amigo de juventude, para um projecto editorial da Fundação Gulbenkian. A proposta chega-lhe através de uma carta de António Eça de Queiroz, "seu colaborador principal durante dezoito anos", assim se intitula o remetente que acha que deve “ser ajudado por qualquer forma" devido aos serviços prestados ao Estado Novo e a António Ferro.

Lisboa, 10 de Agosto de 1956
[…]
Agora, meu caro Ferro, aqui entramos na parte onde você pode ser para mim a mais sólida das alavancas, e olhe que lhe escrevo a conselho do próprio Azeredo Perdição. Este disse-me da grande afeição e amizade que lhe tinha e aconselhou-me em que não perdesse tempo e não deixasse de escrever imediatamente.
Em vista disto, eu devo supor que V. está em plena comunicação com o Azeredo Perdigão. Portanto, vou dizer-lhe o que é que ele amabilíssimo, acaba de dizer-me.
Que a Fundação tenciona publicar uma grande revista da mais alta qualidade […] o Azeredo Perdigão parece tr grande esperança que você aceite a direcção desta importante publicação […]
O Azeredo Perdigão disse-me – mais ou menos – que se eu viesse pelo seu braço para o secundar – como o secundei no Secretariado – que ele me aceitaria com o maior gosto, pois compreende perfeitamente que um homem com o meu nome e com a minha qualidade literária estaria perfeitamente indicado para ser o “braço direito” daquele a quem seria confiada a direcção do empreendimento.
Em carta de António Eça de Queiroz a António Ferro, 10 de Agosto de 1956.
PT/FAQ/AFC/01/001/0537/00004

António Ferro, por aconselhamento médico, retira-se para uma estância termal de tratamento e repouso de onde regressa em finais de Setembro já depois de a Legação ser elevada à categoria de Embaixada mas, ainda, sem ter recebido as credenciais que nunca virá a receber.

No início de Novembro, António Ferro desloca-se a Lisboa para se submeter a uma intervenção cirúrgica executada pelo Dr. Augusto Toledano Ezaguy.
Instalado num quarto particular do Hospital de S. José recebe, antes da operação, um telefonema de Salazar que, com um estranho pressentimento, lhe pede: Por favor, não se deixe operar.
A cirurgia decorre sem problemas mas, uma semana depois da intervenção, na madrugada do dia 11 de Novembro, António Ferro morre inesperadamente tendo, no período pós-operatório, desenvolvido uma pneumonia que lhe causa uma crise cardíaca.

Tudo acontece tão depressa que Fernanda de Castro não consegue, antes de a notícia ser publicada na imprensa, falar com o seu filho Fernando, então em Inglaterra e, naquele dia, em parte incerta.

Acabo de ter notícia pelos jornais. 10 horas manhã. segunda feira. Tarde demais para tomar avião. Tentei telefonar sem resultado. Estou angustiado sem notícias. Choque inesperado. Tragédia deixou-me absolutamente impossibilitado tomar qualquer decisão. Por amor de Deus telefone-me. O seu filho de sempre Fernando.
Telegrama de Fernando de Castro Ferro para sua mãe, 12 de Novembro de 1956.
PT/FAQ/AFC/01/001/0430/00011

Às 10.30h do dia 12 de Novembro, o Padre Lobo, Prior da Igreja de S. João de Deus, celebra uma missa à qual participam várias centenas de pessoas.
Salazar retira-se depois da missa.

A urna foi transportada no primeiro turno aos ombros dos artistas Thomaz de Mello, Carlos Botelho, António Duarte, Bernardo Marques e Jorge Segurado.

O corpo de António Ferro é colocado no cemitério do Alto de S. João, no mesmo jazigo de família onde jazem seus pais, Helena e António, e onde se lhe viria a juntar, em 1993, o corpo de seu filho mais velho, António Quadros.

A família recebe, de Portugal e do estrangeiro, centenas de manifestações de pesar, ramos de flores e coroas de amigos e colaboradores como, por exemplo, de Bernardo Marques, Carlos Botelho, Emmérico Nunes, Fred Kradolfer, José Rocha, Thomaz de Melo (Tom); do Governo Suíço; do Governo Italiano; da Embaixada de Portugal em Roma; do Rei Humberto, de Itália; do Círculo Eça de Queiroz; dos funcionários do SNI; da Emissora Nacional, etc…

A imprensa mundial noticia a sua morte em jornais como Times; Figaro; Jornal de Genéve; Le Monde; Sunday Dispatch; Manchester Guardian; France-Press; entre muitos outros.

No dia 12 de Novembro, o France-Soir refere que Avec António Ferro la France perd son meilleur ami portugais.

No dia 16 de Novembro, o Times escreve O seu país deve deplorar profundamente a morte prematura de quem tanto fez por ele.

No dia 22 de Novembro, o Diário de Notícias dedica-lhe uma página que inclui: António Ferro, por Augusto de Castro; Inéditos de António Ferro; Depoimento de Ramada Curto; A Arte Moderna, por Diogo de Macedo; Política do Espírito, por Álvaro Ribeiro; Depoimento de Luís Forjaz Trigueiros; Quadrante, por Artur Maciel; Cronista internacional, por Júlio Dantas; Um grande português, por Reynaldo dos Santos; Balança, por N.F.; Uma definição, por Pedro de Moura e Sá; Para além da morte, por Jaime de Carvalho; O Escritor, por José Osório de Oliveira; Sempre na Vanguarda, por Moreira das Neves; A morte de António Ferro, por Maria da Graça Freire; Um amigo, por Esther de Lemos; Meu pai, por António Quadros; Amigo queridíssimo, por Elisa Sousa Pedroso; A última viagem, por TOM; O Bailado, por Tomás Ribas; António Ferro: um exemplo muito difícil de seguir, por António Duarte; Personalidade, por Orlando Vitorino.

O Diário de Lisboa publica Presença Humana de António Ferro, por Augusto d’Esaguy; De vez em quando, por João Patrício; Para além da morte, por Jaime de Carvalho; António Ferro, de Guilherme Pereira de Carvalho.

Eduardo Brazão, então director do SNI, determinou que, como tributo de homenagem e gratidão ao criador do Secretariado, se erigisse um busto no jardim principal do Palácio Foz que perpetuasse a lembrança da obra gigantesca que, nesse local, havia sido realizada por António Ferro. 
Infelizmente esse busto, criação do escultor Álvaro de Brée, desapareceu durante a revolução de 1974 depois de o seu “amigo” Carlos Botelho lhe ter pintado bigodes e encapuçado: o mesmo “amigo” que durante o período de exílio de António Ferro lhe endereçou dezenas de cartas, pedindo, e obtendo, o seu apoio para diversas iniciativas, o mesmo Carlos Botelho que lhe enviou uma coroa de flores no dia 11 de Novembro de 1956 e que transportou em ombros a sua urna.

Existem duas réplicas do busto: em bronze no Círculo Eça de Queiroz e, em gesso, na Fundação António Quadros.

CARTA ABERTA A ANTÓNIO FERRO

Ao rapazito que eu conheci no "Orfeu", a figurar como editor, precisamente por ser menor e lhe faltarem por isso as condições legais para tal responsabilidade ― e que depois foi esquecido por alguns companheiros da aventura literária, que lhe não perdoavam a audácia das convicções afirmadas nem os triunfos dos méritos de grande jornalista.

[...]
Os que colaboraram com V. discordantes políticos alguns, mas amigos como foi o Bernardo Marques; outros concordantes, como esse espantoso Cotinelli Telmo, que as ondas arrebataram um dia, o António Lopes Ribeiro, realizador de cinema, poeta, escritor, jornalista e conferencista, o moço Paulo Ferreira, que seria depois em Paris, ao lado de José Augusto, um embaixador de portuguesismo e bom gosto, o retorcido Carlos Botelho, cuja gratidão se definiu no gosto com que se apressou, depois do 25 de Abril, a pintar bigodes no busto de António Ferro na escadaria do Palácio da Foz, o Luís de Montalvor e o Ferreira Gomes, que foram uns grandes revolucionários das artes gráficas em Portugal e deram às publicações do S.N.I. a categoria de que os actuais detentores do Palácio Foz ainda beneficiam ― era de todos um amigo. [...]
Morreram muitos dos seus colaboradores ― o Pedro de Moura e Sá, o Carlos Queiroz, o Correia Marques, o Francisco Lage, o Ferreira Gomes, sei lá quantos mais! ―, outros sumiram-se pelos buracos da província, talvez a escrever as suas memórias. Mas a sua obra, António Ferro, a sua obra ficou. Quer queiram quer não.
Podem inutilizar, como inutilizaram o esforço feito em prol do turismo, que levará agora muitos anos a quem puder refazê-lo ― mas já se sabe como é. E assim em todos os campos em que V. deu o pontapé de saída.
Podem cortar as cabeças às estátuas ou pintar-lhes bigodes, retirar os nomes das ruas, mandar queimar os livros e esquecer os nomes dos que foram gente. Nada conseguirão. Quando a obra é válida, por mais que a denigram, mais ela avultará.
Contra os que tentaram esquecê-lo, amesquinhá-lo, combatê-lo, V., o homem sem ódio, continua a ser ― o vencedor.
Vasco Afonso, em “Carta aberta a António Ferro”, A Rua, n.º 49, pág. 20.

TERMINA-SE ESTE SUBSÍDIO
COM AS PALAVRAS DE SEU FILHO ANTÓNIO

Meu Pai
[…]
Deixa-me um imenso vazio, que nada poderá substituir. Creio que deixa um vazio, igualmente, na vida portuguesa. Homem público, funcionário, diplomata, o seu trabalho literário dos últimos anos não é conhecido. Espero que, conforme seu expresso desejo, sejam editados, pouco a pouco, a sua poesia, o seu teatro, o seu «Diário Íntimo», em que as páginas de memórias alternam com as impressões da vida quotidiana e com as observações literárias e artísticas. O público conhecerá ou reconhecerá então um António Ferro diferente, de delicada e profundíssima sensibilidade, e uma cultura vastíssima, actualizada, coada sempre pela emoção que toda a obra de arte provocava no homem e no esteta que ele era. Foi até ao fim um homem superior.
[…]
António Quadros, em Diário de Notícias, 22 de Novembro de 1956.
 
JOSÉ ESPINHO, VIDA E OBRA
por Fundação António Quadros


Comemorando o centenário do nascimento de José Espinho (1915/1973), o MUDE - Museu do Design e da Moda inaugurou no passado dia 10 de Dezembro uma exposição dedicada à vida e obra deste designer português.


José Espinho, vida e obra
dá-nos a conhecer o autor de inúmeras peças essenciais na arquitectura de interiores em Portugal nomeadamente em espaços como o Hotel Alvor Praia, o Estoril-Sol, o Hotel Ritz e a cervejaria Solmar, os interiores dos cinemas Monumental, Tivoli e Mundial, as cadeiras da pastelaria Mexicana, etc…


Enquanto consultor de Estética Industrial da Fábrica de Móveis Olaio, José Espinho criou muitas das peças comercializadas pela Olaio e, no início da década de 40 do século XX, passou a trabalhar no atelier de Keil do Amaral.


Felicitamos o Mude e, também, Maria José Espinho Galamba, filha do designer, por esta iniciativa, essencial à divulgação e estudo do design em Portugal.


Aproveitamos esta oportunidade para agradecer publicamente a Maria José Galamba a oferta de “José Espinho: a diversidade no fazer", primeiro livro de uma série dedicada aos designers portugueses", e também de várias fotografias, duas das quais patentes na presente newsletter, em subsídio para uma biografia de António Ferro.


Em 1955, com Manuel Rodrigues, José Espinho assume a direcção artística da exposição Lisboa de Hoje, inaugurada em Roma a 30 de Setembro por António Ferro e Salvação Barreto.

 
CASAS COM ESCRITOS
Divulgação


Margarida Acciaiuoli acaba de apresentar a sua mais recente obra: Casas com Escritos: uma História da Habitação em Lisboa.


Editada pela Bizâncio, a obra foi este mês apresentada na Sociedade Nacional de Belas Artes por Manuel Villaverde Cabral e por José Figueira.


Em 1755, um terramoto destruiu Lisboa e uma nova cidade nasceu com prédios de habitação colectiva, onde os lisboetas se abrigaram refazendo as suas vidas.

Mas será que o modelo de casa instituído pelo Marquês de Pombal, no século XVIII, mudou assim tanto ao longo do tempo? E o que mudou? A sua estrutura? A forma como nos relacionamos com ela ou o modo como a decoramos?

Não há dúvida de que o enquadramento legal da posse da casa se alterou. Durante séculos, Lisboa foi essencialmente uma cidade de inquilinos e poucos eram aqueles que se poderiam considerar proprietários dos andares que habitavam.

Quem desejava ter uma habitação percorria os bairros e as ruas da cidade procurando os prédios que tinham «escritos» nas janelas, o que significava que, nesse edifício, haveria uma casa para alugar.

Porém, no século XX, esse costume secular desaparece, desaparecendo também os candidatos a inquilinos, uma vez que Lisboa se torna uma cidade de pequenos proprietários. Como se deu e o que determinou uma tão ampla alteração? São estas e muitas outras questões as abordadas nesta obra, que nos guia pelo crescimento, expansão e alterações da cidade de Lisboa, dos seus bairros e suas casas. 

Não deixe de ler.

 
HISTÓRIAS DA PRESENÇA PORTUGUESA NA II BIENAL DE SÃO PAULO
por Fundação António Quadros


O Museu Nacional de Soares dos Reis inaugurou no dia 26 de Novembro a exposição Histórias da Presença Portuguesa na Bienal de São Paulo, patente até 31 de Janeiro de 2016.


Não deixe de visitar a exposição e saber mais sobre as representações portuguesas ao longo de 26 Bienais Internacionais de Arte de são Paulo em que Portugal participou no período compreendido entre 1951 e 2004.


A Fundação António Quadros apoiou a exposição através da disponibilização de uma carta de José Alvellos para António Ferro escrita em Março de 1954.

 
AUTO DE NATAL 2015 “SEGUINDO UMA ESTRELA”
Divulgação.


Pelo 11.º ano consecutivo, a Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa apresente na Igreja de São Roque um Auto de Natal do qual será produzido um registo bibliográfico.


O objectivo da Irmandade é contar às crianças, jovens e adultos, aos utentes e colaboradores da Santa Casa … e ao grande público, a História do Nascimento de Jesus, ano a ano, sempre de uma forma diferente, através de representação, música, dança e canto, tentando que todos os participantes se sintam felizes, em paz e interiorizem a Mensagem de Amor que é a de Jesus Cristo.


Lembramos que, apesar da entrada ser gratuita, deve reservar o seu lugar com a devida antecedência, para uma das três sessões. Se não o fizer, corre o risco de não conseguir bilhetes já que, todos os anos se esgotam muito rapidamente.


Local e Datas

Domingo, dia 20 de Dezembro às 15h e às 18h.

Segunda-feira, dia 21 de Dezembro, às 15h.


Reservas:

A partir do dia 1 de Dezembro de 2015, através dos seguintes contactos:

Telefone — 213235066; E-mail — auto.natal@gmail.com

 
LIVRARIA: PROMOÇÃO DO MÊS
por Fundação António Quadros


A Fundação disponibiliza a seguinte obra com 20% de desconto até 14 de Janeiro de 2016:


Título
: 150 Anos da Filosofia Portuguesa. Actas dos Colóquios "No Signo do", realizados na Biblioteca Municipal de Sesimbra entre Março e Novembro de 2007.


Edição
: Câmara Municipal de Sesimbra, 2008.


Coordenação editorial
: Guilhermina Ruivo; Maria José Albuquerque; Pedro Martins.


Participação
: Pedro Sinde; António Telmo; Pinharanda Gomes; Pedro Martins; Carlos Aurélio; António Carlos Carvalho; António Reis Marques; João Aldeia; Roque Braz de Oliveira; Luís Paixão; António Cândido Franco; Joaquim Domingues; Francisco Moraes Sarmento; Abel de Lacerda Botelho.


PVP até 14 de Janeiro de 2016
: 10,00€.

PVP a partir de 14 de Janeiro de 2016: 08,00€.

 
 
     
 
Apoios:
 
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