clique aqui se não conseguir visualizar correctamente esta newsletter
Newsletter Nº 151 / 14 de Agosto de 2019
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros

ÍNDICE

01
 António Ferro, a Casa dos Anjos e a Fundação António Quadros, por Mafalda Ferro.
02  Memória de Francisco Lage-da prática à teoria, por Maria Barthez.
03  Pinharanda Gomes (1939-2019), na hora da despedida, por Mafalda Ferro.
04  Em Rio Maior, a preparar os Jogos Olímpicos de Tóquio e Paris, por Desmor.
05  Descobrir São Pedro do Sul 2019: Um ano cheio de grandes momentos e acontecimentos. Divulgação.
06  Livraria António Quadros, promoção do mês: Mar Alto. Peça em 3 actos. 

 
EDITORIAL, por Mafalda Ferro

Celebrando 124 anos depois do nascimento de António Ferro, revela-se hoje um pouco mais sobre a sua história, uma das casas que habitou, alguns dos seus amigos dos quais se refere em particular Augusto Cunha e José de Azeredo Perdigão e, também, sobre os primórdios da Fundação António Quadros, Instituição que os guarda na sua memória preservando e disponibilizando os acervos produzidos e reunidos por António Ferro e por Augusto Cunha e doados à Fundação pelos seus herdeiros.


A Sociedade de Advogados Azeredo Perdigão & Associados, criada em 1919 por José de Azevedo Perdigão, continua até hoje no mesmo local, na Rua de São Nicolau 23 2.º, a prestar um importante contributo à sociedade não só devido à elaboração pelo seu fundador dos estatutos da Fundação Calouste Gulbenkian, Instituição que aí teve a sua primeira sede social, ou à prestação de serviços a clientes mas, também, através da newsletter que a firma publica e que, em diversas ocasiões, nos tem sido bastante útil. A Fundação António Quadros felicita a Azeredo Perdigão & Associados pelos seus 100 ANOS DE ACTIVIDADE, nomeadamente a Dantas de Azeredo Perdigão e a Miguel de Azeredo Perdigão, respectivamente filho e neto do fundador que foi também grande amigo de António Ferro e de Augusto Cunha como documentado no artigo que adiante se publica com informação parcialmente recolhida em http://www.azeredoperdigao.pt/


Fala-se hoje também de outro grande amigo e imprescindível colaborador de António Ferro, por ele descrito em 1948 como director da nossa secção etnográfica competentíssimo e habilíssimo, o grande amoroso… o conquistador de todas estas coisas simples: Francisco Lage (1888-1957) sobre quem Maria Barthez publicou recentemente Memória de Francisco Lage, obra que, lançada em Braga, será apresentada ao público lisboeta às 18h do dia 12 de Setembro próximo na Sala dos Espelhos do Palácio Foz.

Livraria António Quadros, Promoção do mês, lembrando António Ferro: MAR ALTO.


Todas as newsletters publicada pela Fundação podem ser relidas AQUI

 

01 – ANTÓNIO FERRO, A CASA DOS ANJOS  E A FUNDAÇÃO ANTÓNIO QUADROS,
por Mafalda Ferro

Na imagem ao lado, numa montagem actual pela Fundação: Augusto Cunha, Bernardo Marques, Fernando Pessoa, António Ferro, Augusto Cunha, Alfredo Guisado, Azeredo Perdigão, António Ferro e Mário de Sá-Carneiro.

A amizade e o contacto intelectual entre António Ferro e os seus amigos da geração de Orpheu é já sobejamente conhecida por isso, em celebração do seu aniversário de nascimento, vou desviar-me um pouco do muito que já foi dito e escrever sobre a muito especial relação de amizade entre Ferro e dois dos seus grandes amigos, Augusto Cunha e José de Azeredo Perdigão que, embora pertencentes à mesma geração e frequentadores das mesmas tertúlias, são menos mencionados nesse âmbito.
A este trio, apelido de «três mosqueteiros» pois, também eles, se regiam pelo lema "um por todos, todos por um": 
Poucos meses antes da morte de Ferro, Perdigão, sabendo que o amigo não estava feliz em Roma, desafia-o, através de um conhecimento comum, a voltar a Portugal e dirigir uma publicação, creio que - sem certeza - o futuro "Boletim da Fundação Gulbenkian". Depois da morte dos amigos, Cunha em 1947 e Ferro em 1956, Perdigão acarinha os seus descendentes como se família fossem. Eu própria me lembro de um gesto terno de quem  parecia não sorrir muito.

Os meus primeiros anos são espectros, fantasmas que passam

e cuja forma não consigo aperceber.

António Ferro

Em finais do século XIX, o casal António Joaquim Ferro (Baleizão, 1860) e Helena Emília Tavares Affonso Ferro (Santa Maria do Castelo, Tavira, 1865) instala-se em Lisboa, cidade onde nascem os seus três filhos: Pedro Manuel Tavares Ferro (Freguesia da Sé, 19 de Março de 1891), Umbelina Raquel Tavares Ferro (Freguesia de Santa Justa, 2 de Agosto de 1893), e António Joaquim Tavares Ferro (Freguesia de Santa Justa, 17 de Agosto de 1895). 

António Joaquim Ferro (pai) funda 
em 1898, com Dionísio Augusto Ferreira, um estabelecimento comercial, curiosamente chamado «Ferreira & Ferro» (exploração do comércio de ferragens e quinquilharias), sociedade que viria a ser dissolvida em 1906. Nesse ano, a família Ferro mora num prédio da Rua da Madalena que na madrugada de 9 para 10 de Abril de 1907 é assolado por um violento incêndio que causa a morte de 14 pessoas e a expulsa de sua casa com pouco mais do que a roupar que tinha no corpo.

 

Eu tinha 9 anos e vivia no 3.º andar do n.º 237 da Rua da Madalena, naquele prédio que foi a mais alta fogueira de Lisboa. Quem não tem ouvido falar do célebre fogo da Madalena, que tanto tempo levou a apagar-se, que ainda não se extinguiu, que ainda hoje é lembrado nas cantigas dos cegos? Pois eu nasci e vivi nesse prédio até à hora em que as labaredas me expulsaram […]. António Ferro

 



A família Ferro muda-se, então, para a Freguesia dos Anjos, perto da recém-fundada firma «António Joaquim Ferro & Herdeiros», 
loja de ferragens que ainda hoje existe no mesmo local, Largo do Intendente n.º 43 e, em Janeiro de 1911, aluga o 1.º andar do n.º 26 da Rua dos Anjos e, em 1919o 2.º, casa esta a que gosto de chamar Casa dos Anjos.


Augusto Cunha que, em 1894, nasce e passa a morar na Rua Palmira, Freguesia dos Anjos, conhece António Ferro e com ele escreve, em 1912, «Missal de Trovas. Quadras dos 17 e 18 anos». 


A estima entre os dois adensa-se quando, em 1919, no dia 28 de Agosto, Augusto casa com Umbelina, irmã de Ferro; a cerimonia civil realiza-se na Casa dos Anjos e a católica na Igreja da mesma freguesia. Além da família mais chegada, é convidado apenas um  grupo restrito de amigos dos quais se destaca Filomeno da Câmara, Alfredo Guisado, Azeredo Perdigão, Alice Dantas, Raul Feio, e respectivas famílias. O casal Cunha vive desde então e até 1938 na Casa dos Anjos, por vezes em simultâneo com António Ferro.

Em sua casa, António Ferro recebe amigos que, dependendo da época, são colegas do Liceu Camões, da Universidade, da revista Orpheu, dos jornais em que colabora e da «Ilustração Portuguesa» dos quais referimos apenas Augusto Cunha (que em 1919 passa também a ser anfitrião), Sá-Carneiro, F. Pessoa, A. Guisado, A. Perdigão, J. Ameal, Barbosa Viana, José Bastos e Silva Pereira, num constante fervilhar, de ideias e projectos, de tertúlias e aventuras literárias e dramatúrgicas, construindo histórias, amizades e experiências.
Casa dos Anjos. palco de tempos felizes e empolgantes, é ponto de encontro e de partida para o Chiado, para a Brasileira, para o Martinho ou para o restaurante Irmãos Unidos, no Rossio, propriedade do pai de Alfredo Guisado.

 

Das 2 e ¼ às 4 e ½ em casa de António Ferro a ouvir-lhe três peças. - Leu duas. - Depois, para a Baixa com ele. Fernando Pessoa (entrada de 30.3.1913, em Diário).

 

P.S. Hoje escrevi ao Cunha, como lhe disse. Mas não tenho a certeza se a carta foi bem subscritada. É 6, rua Palmira? Pergunte-lhe se a recebeu, o S.-C. Paris, Maio de 1913, Mário de Sá-Carneiro (em carta para António Ferro).

 

P.S. Ah! É verdade. Desculpa o eu na estação não me ter despedido de ti, mas francamente como havia muita gente não fui capaz de ter ver. Dá saudades ao Cunha e ao Simões. A. Guisado 09-07-913. Alfredo Guisado (em carta para António Ferro).

 

E o “Missal de Trovas”? Não te esqueças também de logo que esteja pronto me enviares um exemplar registado, porque, se não, não chega cá. Dá saudades ao Perdigão e ao Carlos de Oliveira. Sempre estás resolvido a vir até cá? Um grande abraço do teu muito amigo Alfredo P. Guisado, 13-7-1914 Alfredo Guisado (em carta para António Ferro).

 

Depois de, juntos, terem frequentado o Liceu Camões até 1913, Augusto Cunha, Azeredo Perdigão e António Ferro  inscrevem-se no primeiro Curso da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (então chamada Faculdade de Estudos Sociais e de Direito), curso de 1913-1918: 

Cunha cumpre rigorosamente as metas académicas e profissionais a que se propõe: para custear o curso, exerce funções no Ministério da Justiça e posteriormente no Ministério das Colónias. Em 1920, já casado e formado, abre o seu primeiro escritório de advocacia na Rua Nova do Almada em Lisboa, escritório que transfere no ano seguinte para o escritório do seu amigo Azeredo Perdigão situado na Rua de São Nicolau.

Ferro é um aluno regular, mais interessado em saraus e conferências, no Orpheu e noutras publicações ou em empreendimentos diversos para os quais arrasta os seus amigos, do que nos estudos; no 5.º ano, prestes a terminar, desiste do curso [numa entrada de 20.3.1918, seu processo académico refere a sua inscrição nas cadeiras e cursos que constituem o quinto ano da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa]. Desiste porque quer ser jornalista, viajar, conhecer outras terras e outras gentes, está farto de leis, quer voar mais alto. Parte para Fiúme (Itália), e escreve a sua primeira grande reportagem internacional. Mas, por ter desistido do curso, é obrigado a cumprir o serviço militar e a partir para Penafiel e depois para Angola 

Perdigão, para fazer frente às despesas inerentes à sua formação académica, dá  explicações e emprega-se no Ministério das Finanças. É um verdadeiro Mosqueteiro, amigo do seu amigo, de tal forma que, no final do 5.º ano, tendo já alcançado elevadíssimas classificações, acusa os professores de grave injustiça na classificação do seu amigo Cunha, e Empunha a bengala e parte o vidro do quadro onde estavam expostas as classificações. Depois pega nas pautas e rasga-as aos bocados. É-lhe instaurado um processo disciplinar. Recusa-se a falar com os professores e é expulso [em «A primeira vida de José Henrique», por Maria José Mauperrin, Jornal «Expresso» de 1 de Maio de 1993, citado por Liliana Filipa Mendes da Silva na sua dissertação «Não só, apenas Azeredo Perdigão»]. Conclui o curso em Coimbra com a classificação de “Muito Bom”, 18 valores. Em 1919, abre escritório na Rua de S. Nicolau e, em 1920, no dia 26 Julho, casa com a sua colega de curso Alice Dantas de quem tem dois filhos, José Pedro Dantas Perdigão (1921) e Maria Alice Dantas Perdigão (1923).

Em 1919, Ferro volta a instalar-se na 
Casa dos Anjos até Maio de 1922 quando, levando o seu «Mar Alto» debaixo do braço, parte para o Brasil com a Companhia de Teatro de Lucília Simões, rumo à Semana de Arte Moderna de São Paulo e ao Rio de Janeiro onde casa por procuração com a poetisa Fernanda de Castro. Augusto Cunha é o noivo presente na Igreja de Santa Isabel em Lisboa. 
Em 1923, depois do seu regresso do Brasil, o casal instala-se na 
Casa dos Anjos durante o curto período de que o seu amigo Bernardo Marques precisa para decorar e pintar os frisos da casa que, ainda solteiro, Ferro havia alugado no primeiro andar da Calçada dos Caetanos.


Segundo Fernanda de Castro nas suas Memórias, por vontade de Helena, mãe de Pedro, Umbelina e António Ferro, e para grande alegria de seu marido António Joaquim, a (então) mais jovem geração de "Ferros" nasce na 
Casa dos Anjos, todos no mesmo quarto:

- Maria Helena Ferro da Cunha (1920) e Pedro Henrique Ferro da Cunha (1921), filhos de Umbelina e Augusto;

- António Gabriel (1923) e Fernando Manuel (1927), filhos de António e Maria Fernanda.

E, assim, durante dois curtos períodos temporais, António e Maria Fernanda instalam-se pela última vez na 
Casa dos Anjos.

 

E, porque, o bom filho à casa torna, muitos anos mais tarde, em 1986, também eu, Mafalda, neta de António Ferro, filha de António Quadros, me deixei conquistar pelo velho bairro da Casa dos Anjos, berço do meu pai e meus tios. Instalei-me com armas e bagagens, marido e dois filhos numa velha casa pombalina com quatro metros de pé direito, frisos e tectos trabalhados, com grandes salas e quartos cujas enormes janelas e varandas abriam sobre um jardim dominado por uma enorme nespereira que subia da cave ao 3.º andar. Esta casa, um r/c do n.º 10 da Rua Palmira, fica na mesma rua em que, sem eu então o saber,  o meu tio-avô Augusto Cunha nascera e habitara até casar, no n.º 56; também no n.º 11 da mesma rua, morara até morrer o escritor Pedro Manuel Tavares, tio da minha bisavó Helena; e, principalmente, muito perto da Casa dos Anjos, tão perto que quase se conseguia adivinhar e sentir as histórias vividas dentro das suas paredes.


Embora não fosse já costume nascer-se em casa, o n.º 10 da Rua Palmira assistiu em 2008 a um importante nascimento dentro das suas paredes, o da Fundação António Quadros que lá morou durante os primeiros cinco anos de vida, a mesma Fundação que, desde então, guarda a memória de muitos dos que viveram nessa rua, nesse bairro, na Casa dos Anjos.

Vivi 27 anos na casa da Rua Palmira e, durante esse período, nasceu o meu filho João e, seis anos depois, o meu neto Gonçalo que, nessa casa cresceram com os meus filhos mais velhos, Margarida e Francisco. 
Por lá passaram também
 de visita mais ou menos prolongada, as minhas netas Mafalda e Teresa e a restante descendência de António e Fernanda Ferro e a de Augusto e Umbelina Cunha. 
A reconstituição desta história é também para todos eles.

Na imagem, à esquerda: Catarina Rodrigues, Mafalda Ferro, Manuel Maria Cunha,  António Maria Ferro, Rúben Oliveira, Sofia Gaspar Pereira, Helena Santos, os primeiros bolseiros e colaboradores efectivos da Fundação António Quadros, nas suas instalações em Lisboa, na Rua Palmira - as instalações foram ocupadas até à transferência da Fundação para Rio Maior em 2013.

 

02  MEMÓRIA DE FRANCISCO LAGE - DA PRÁTICA À TEORIA,
por Maria Barthez


Francisco Lage… director da nossa secção etnográfica competentíssimo e habilíssimo, o grande amoroso…o conquistador de todas estas coisas simples … (FERRO: 1948,24)

Uma contextualização do tema de investigação da tese de doutoramento, que agora se publica numa co-edição da Câmara Municipal de Braga e a editora Gradiva, justifica, a meu ver, a realização do estudo sobre Francisco Lage.

Deste modo, foi no âmbito da pesquisa realizada para a minha tese de mestrado sobre o Museu de Arte Popular, MAP, antecedentes e consolidação – (1935-1948), que surgiu ao longo da investigação, o contacto crescente com Francisco Lage, o qual despertou em mim a aspiração de estudar mais seriamente esta personagem, as suas múltiplas intervenções culturais e político-sociais, associadas ao campo institucional do SPN/SNI, nos anos da “Política do Espírito”.

- Quais os objectivos? Fornecer uma perspectiva mais abrangente – assente na estetização (versus) e autenticidade – da política folclorista do SPN/SNI, discurso e práticas, e, em segundo lugar, contribuir para um melhor conhecimento da etnografia e cultura popular durante os “anos de Ferro”, balizados entre 1935 e1949.

A ênfase sobre o tema escolhido, por via de uma análise crítica e actualizada sobre Lage, nas suas variáveis, acção e ideias, deu lugar à necessidade de se efectuar uma primeira contextualização, através da análise: ─ das suas origens familiares e sociais, nos anos da sua formação, em Braga; do seu processo como “cronista” e participação na imprensa; da sua incursão no teatro na segunda e terceira décadas do século XX; do seu serviço na Câmara Municipal de Braga; dos episódios políticos, que ditam o seu afastamento; da sua vinda para a capital, e posterior processo de integração na sociedade lisboeta, nos anos vinte e trinta; e da sua integração nos quadros do SPN em 1935, até ao seu passamento em 1957.

Neste prisma, o estudo do acervo bibliográfico da biblioteca de Francisco Lage surge como a metodologia proposta e necessária, como ponto de partida, para a deambulação ao longo de vários temas, que permite reintegrá-lo e problematizá-lo numa constante dialéctica entre o intelectual, as suas ideias, e o sujeito de acção, que foi. Assim, credibilizou-se a relevância do estudo desta fonte primária, enquanto “método biográfico”, matriz metodológica, susceptível de trazer diferentes abordagens interpretativas do mesmo, como autores, conceitos, áreas do saber, sobretudo como contributo para uma história da etnografia, sem esquecer áreas que vão da História, à Moda e à Alimentação/Culinária. Com efeito, a análise da Biblioteca de Francisco Lage, conduz à criação de uma discursividade biográfica da figura em foco, como lugar privilegiado para a “hermenêutica do si”, ao estabelecer um projecto que explora e decifra as acções, os símbolos, os textos e os dados referenciais da personalidade de Francisco Lage.

Neste contexto, um estudo integrado da Biblioteca de Lage, a incursão no seu espólio bibliográfico e estudo analítico, possibilitou, detectar as suas “inquietações” temáticas, auscultar as suas tendências e autores preferenciais, as suas ligações intelectuais.

Este conjunto bibliográfico permitiu ainda conferir, quais as leituras que serviram não só de modelo de inspiração e fonte de informação, para a sua acção, e construção do seu ideário e pensamento, mas igualmente para compreender como se encaixaram as obras nas acções, que Lage profissionalmente exerceu.

É nesta perspectiva, que deve ser olhada a Biblioteca de Lage, e concluo, como canal de influência nas diferentes áreas, onde Lage praticou/teorizando e teorizou /praticando.

No seguimento desta abordagem (estrutura biográfica de Lage), a hipótese de contextualização do processo de folclorização em Portugal a partir dos anos 30, tem presente, o relacionamento de Lage com etnógrafos e outras personalidades comprometidas com as etnografias locais. Assim, foi possível detectar algumas dessas figuras (Luís Chaves, Sebastião Pessanha, Cláudio Basto, conde de Aurora, conde de Villas-Boas, entre outros) com as quais se terá cruzado e trocado saberes e práticas, estabelecendo ao mesmo tempo relações de amizade e de trabalho com início nos anos vinte e prolongando-se pelos decénios posteriores (30, 40). Neste âmbito, determina-se as respectivas configurações da personagem de Francisco Lage, a sua prática no campo da actividade em que se inscreve, seja da construção do seu ideal etnográfico, caracterizador, quer na sua estetização, quer no detectar de desvios à norma (autenticidade das tradições), seja a cultura popular, e o seu envolvimento num conjunto de iniciativas de cultura popular (1935-57), seja sob a tutela da organização do SPN/SNI.

Complementarmente, este projecto/livro, visa ainda problematizar e reflectir sobre a vida e influência de Lage, nos vários ambientes sociopolíticos, do seu espaço de vida (1911-1957), e constatar a sua relevância, e destaque, nos planos que projectou, apesar do peso dos condicionalismos que influenciaram a sua actividade profissional, manipularam e condicionaram as suas decisões, nas variadas actividades em que interveio: etnografia, teatro, dança, turismo, artes gráficas.

Alguns campos presentes no livro exploram a acção em que Francisco Lage mais se destacou, plasmada num constante interesse pela arte popular, pelas tradições populares, e pela cultura popular.

Nesta panorâmica, incorporado no princípio da sua carreira no SPN, apoiando a política cultural do organismo, aceita participar enquanto júri na atribuição dos prémios literários, que contemplam os de teatro e de inéditos

Lage demonstra, desde muito cedo, atracção pela arte demótica e artesãos enquanto “tesouros nacionais vivos”. À sua sensibilidade, e à sua maneira de compreender o mecanismo que pautava a genuinidade dos objectos e das tradições populares, expressa fidelidade aos critérios da sua própria reflexão sobre autenticidade versus estetização da arte popular, que sustentaram muitas das suas acções neste campo. A sua diferente participação em diversas acções permite-nos constatar e fazer prova de uma polivalência que o caracteriza.

Em jeito de conclusão, a presente obra conduz-nos ao conhecimento abrangente e sistematizado da singularidade de um homem de acção, multifacetado, com elevado grau de eclectismo, que adquire, à época, importância no panorama etnográfico (1935-1957), considerando-o, segundo uma perspectiva textual, contextual e intertextual, como agente social activo nos bastidores de uma política de cultura oficial.

 

 
03  PINHARANDA GOMES (1939-2019) NA HORA DA DESPEDIDA, 
por Mafalda Ferro.

Conversei recentemente com Pinharanda. Simpático e delicado, como sempre, mas cansado. Um pouco desiludido com alguns e muito agradado com outros.

Pedi-lhe autorização para incluir um texto seu em «Portugal, Razão e Mistério – a trilogia», obra em fase final de preparação.

Acedeu e, com ternura, falou da sua amizade e da saudade que sentia por António Quadros. Decidi, por isso, no momento da despedida a um dos grandes pioneiros do Movimento da Filosofia Portuguesa, aqui transcrever um pequeno excerto de uma das cartas que escreveu ao autor de «Portugal, Razão e Mistério» pouco depois da publicação do primeiro volume, comprovativa de que, apesar de 16 anos mais novo, Pinharanda para Quadros não era apenas um amigo, era igualmente um conselheiro, um crítico, uma entidade inspiradora.

 

Santo António dos Cavaleiros, 23.5.86

Meu Caro António Quadros,

Já li, embora com irregularidade e dispersão, o 1.º tomo do seu livro sobre Portugal. Felicito-o, felicito-me. Enquanto li, tive presente o juízo que Álvaro Ribeiro escreveu, aí por 1945, na “Atlântico”, sobre a inexistência de uma História de Portugal e a urgência de a haver.

Não exagero agora – o que o Álvaro desejava, aí está: uma História de Portugal como filosofia da história portuguesa. Acho necessário dizer mais, porque neste juízo de síntese exprimo o que quero dizer, sem risco de cousar.

No 2.º volume, conviria que, na capa de fora, viesse o subtítulo do livro, que será: - O Projecto Áureo ou o Império do Espírito Santo – logo a seguir ao Portugal Razão Mistério. […] Um abraço do seu amigo e admirador, Pinharanda.     


No Congresso 
«António Quadros: Obra, Pensamento, Contextos» realizado em 2013:
- à 
esquerda, Pinharanda Gomes fala sobre «António Quadros e a Filosofia Portuguesa» evocando a expressão que usou pela primeira vez por ocasião da sua morte: Rosto mais visível da Filosofia Portuguesa;
 - à direita, Pinharanda com  os seus amigos Manuel Ferreira Patrício e Joaquim Domingues.

Não deixe de ler AQUI o artigo "Pinharanda Gomes, o contrabandista de Deus", por Miguel Real.

 

04 – EM RIO MAIOR, A PREPARAR OS JOGOS OLÍMPICOS DE TÓQUIO E PARIS,
por Desmor.

 

Desde há muito que o Rio Maior Sports Centre é reconhecido pela qualidade das instalações e serviços que proporciona ao desporto olímpico nacional e internacional. Com regularidade, atletas e selecções têm escolhido este complexo para a sua preparação, tendo em vista a maior das provas desportivas, os JOGOS OLÍMPICOS.

 

Desde 1992 em Barcelona, ao Rio de Janeiro em 2016, atletas naturais de Rio Maior  alcançaram nos Jogos Olímpicos notáveis êxitos desportivos, tendo como base de treino o Centro da sua cidade, nomeadamente Susana Feitor, Inês Henriques, João Vieira, Sérgio Vieira, Vera Santos e Miguel Carvalho, todos na disciplina de marcha atlética, Yahima Ramirez no judo, Pedro Oliveira na natação e Duarte Marques no triatlo.

 

Já a pensar nos Jogos de Tóquio, em 2020, e Paris, em 2024, alguns atletas trabalham arduamente em Rio Maior com o objectivo de atingir o sonho de estar entre os melhores do mundo. Nesse sentido, treinam e competem actualmente com a maior das exigências, estando incluídos nos programas de Preparação Olímpica e de Esperanças da responsabilidade do Comité Olímpico de Portugal.

 

Estão no programa de Preparação Olímpica Inês Henriques, João Vieira e Miguel Carvalho, da marcha atlética, Yahima Ramirez, do judo, todos eles já com importantes experiências olímpicas.

 

No programa de Esperanças Olímpicas, com preparação para os Jogos de Paris, em 2024, são vários os atletas já focados no apuramento. No atletismo, o Filipe Vitorino e no triatlo o Alexandre Montez. Na natação, os jovens que integram o grupo de residentes do Centro de Alto Rendimento de Rio Maior, nas Esperanças Olímpicas estão a Ana Sousa, a Letícia André, a Ana Pina, o Paulo Vakuliuk e o Ricardo Pereira.

 

Nas águas abertas, de uma jovem geração de atletas riomaiorenses, constam já nas Esperanças Olímpicas, os nomes de Tiago Campos e Cátia Agostinho. 
 

05  DESCOBRIR SÃO PEDRO DO SUL 2019: UM ANO CHEIO DE GRANDES MOMENTOS E ACONTECIMENTOS, por Miguel Regada.

 



A 3.ª edição do A 3.ª edição do evento de fotografia Descobrir SÃO PEDRO DO SUL 2019 contou com a participação de fotógrafos turistas desde o distrito de Braga ao de Setúbal, apreciaram as belas paisagens do concelho, degustando os melhores repastos gastronómicos da região conjugando a etnografia e a música tradicional da região, com a actuação musical do Grupo de Vozes de Manhouce no último dia do evento.


Seguiu-se o apadrinhamento duma exposição de pintura “Viagem em Família”, que teve a 1.ª internacionalização em Bucareste, Roménia e que a nível nacional se 
estreou em Oliveira de Frades.


Como habitual, 30% da receita das vendas destinaram-se a uma instituição cultural do concelho anfitrião, neste caso o Teatro CÉNICO. E teve a especial beleza de ser inaugurada no último dia do evento da fotografia (28 de Abril) e encerrada a 29 de Junho, dia esse marcado pela vinda novamente a São Pedro do Sul de alguns fotógrafos das 3 edições para as Festas da Cidade e também para a inauguração da exposição de fotografia nos Paços do Concelho da Câmara Municipal de São Pedro do Sul, que conta com fotografias de todos os concorrentes da edição de 2019.


Esse dia foi brilhantemente marcado pela união de variadas formas de arte, como a fotografia, a pintura, o teatro e a música. A jovem Sara Moita de apenas 18 anos associou-se aos eventos e encantou com o seu talento musical. Do balanço do encerramento da exposição de pintura, foi realçado o empenho de todos os intervenientes em especial ao vencedor do concurso de 2018, Aníbal Santos, por ter sido o elo de ligação que uniu todas as expressões artísticas, e aos artistas da “Viagem em Família”, Susana, Ricardo e Gabriela pela ideia do sorteio de 3 telas a óleo, que fizeram propositadamente para o encerramento do evento, a partir de uma foto a concurso do fotógrafo turista Aníbal Santos do distrito do Porto. Essas 3 pinturas e a foto encontram-se visitáveis no local da exposição de fotografia até ao final de Julho do presente ano, dias úteis, das 9 horas às 17 horas.


A exposição de fotografia e das telas estará presente também no Balneário D. Afonso Henriques nas Termas de São Pedro do Sul (Agosto/19) e no Museu Municipal de Oliveira de Frades (Setembro/19). Estamos ainda a estabelecer contactos para que a exposição de fotografia Descobrir SÃO PEDRO DO SUL possa chegar a outras paragens e a outros públicos.


Mas a divulgação da região não se esgota nas exposições e estamos a trabalhar para a posteridade com a edição de um livro de fotografia com base nos registos que foram submetidos a concurso nas três últimas edições (2017 a 2019) que prevemos que saia para o público durante o mês de Setembro deste ano.


Uma ideia que surgiu nos finais de 2016 tem hoje em curso um conjunto de actividades em cima da mesa e algumas pessoas envolvidas nas mesmas em diferentes frentes.


Para mais informações adicionais: saopedrosul.3660@gmail.com

 
06 – LIVRARIA ANTÓNIO QUADROS, lembrando António Ferro.
Promoção do Mês:

 

EXEMPLAR ÚNICO

Autoria: António Ferro.

Título: Mar Alto. Peça em 3 actos. Prefácio do Autor. 

Edição – Lisboa: Livraria Portugália Editora, [1924].

PVP até 14 de Setembro de 2019: 40,00. 

 
 
     
 
Apoios:
 
Por opção editorial, os textos da presente newsletter não seguem as regras do novo acordo ortográfico.

Para remover o seu e-mail da nossa base de dados, clique aqui.


Esta mensagem é enviada de acordo com a legislação sobre correio electrónico: Secção 301, parágrafo (A) (2) (C) Decreto S 1618, título terceiro aprovado pelo 105º. Congresso Base das Normativas Internacionais sobre o SPAM: um e-mail não poderá ser considerado SPAM quando inclui uma forma de ser removido.
 
desenvolvido por cubocreation.net