clique aqui se não conseguir visualizar correctamente esta newsletter
Newsletter Nº 160 / 14 de Maio de 2020
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros

ÍNDICE

 

01  Fundação António Quadros, 12 anos depois, por Mafalda Ferro..

02 A Família Halffter e a Família Ferro: ligações, por Mafalda Ferro e Manuel Halffter.

03 Fernanda de Castro, 120 anos depois do seu nascimento, por Mafalda Ferro.

04 Agenda de Fernanda de Castro, 1970, transcrição por Maria Ferreira.

05 Ronald de Carvalho e António Ferro, por Mafalda Ferro.

06  Livraria António Quadros, obra do mês: A Cruz Vermelha Portuguesa. Sua Génese e Sua Actividade em 80 Anos.

 

EDITORIAL, 
por Mafalda Ferro

 

O atendimento presencial na Fundação António Quadros está temporariamente suspenso. Para qualquer assunto, contacte 965552247 | mafaldaferro.faq@gmail.com.

Pela sua, pela nossa saúde, mantenha-se em segurança.

Sempre que possível, evite correr riscos e, quando estiver em locais públicos (supermercados, correios, farmácias…), Use Luvas e Máscara. 

 

Dia 12 de Maio: Dia Internacional do Enfermeiro

Em profundo agradecimento a todos os técnicos de saúde a prestar funções em território nacional ou internacional, salienta-se o «Dia Internacional do Enfermeiro», dia escolhido em homenagem dia do nascimento de Florence Nightingale cujo bicentenário se celebrou também no passado dia 12 (Florença, 12 de Maio de 1820 / Londres, 13 de Agosto de 1910).

Florence Nightingale foi uma enfermeira que, acima de tudo, exerceu, estudou, ensinou e divulgou as boas práticas da sua profissão e a quem todos estamos gratos. Considerada a fundadora da enfermagem moderna, estruturou e fundou em 1860, no Hospital St. Thomas, em Londres, a primeira escola de enfermagem do mundo. Em 1883, a rainha Vitória concedeu-lhe a Cruz Vermelha Real e, em 1907, recebeu a Ordem do Mérito, atribuída pela primeira vez a uma mulher. 

 

Uma curiosidade: ontem, no episódio 46 da 6.ª temporada do programa «Inesquecível» de Júlio Isidro, cujo convidado foi o actor/diseur Vítor de Sousa, tive a surpresa de o ouvir falar de Maria Germana Tânger, sua professora em "Arte de Dizer" no Conservatório Nacional. Mais um nome para acrescentar à lista dos seus alunos na qual constam nomes como José Carlos e Diogo Ary dos Santos, José Walenstein, Carlos Fogaça, João Lagarto, Maria Emília Arriaga, Maria Alberta Menéres, João Grosso, Graça Lobo, Leonor Poeira, Rita Blanco, São José Lapa, Isabel Medina, Teresa Corte Real e, agora, Vítor de Sousa. Esta lista já com dezenas de páginas vai sendo sucessivamente completada.

 

Na RTP, revi a gravação do espectáculo «Passa por mim no Rossio» concebido e encenado por Filipe La Féria, com apoio de Vítor Pavão dos Santos, apresentado no Teatro Nacional D. Maria II em 1991; é dado especial enfase a Fernanda de Castro (Catarina Avelar) e a António Ferro, muito exagerados como é habitual em qualquer espectáculo de revista. Será que Fernanda de Castro soube? – não me lembro.
 
01  FUNDAÇÃO ANTÓNIO QUADROS, 12 ANOS DEPOIS,
por Mafalda Ferro

 

A Fundação António Quadros começou a ser estruturada  em Agosto de 2006 por Mafalda Ferro e José Carlos Calazans; em Maio de 2007, aconteceu a primeira reunião de trabalho da Comissão Instaladora composta por Mafalda Ferro, Maria Barthez, Luís Moreira, Francisco d`Orey Manoel, José Carlos Calazans, Mário Quina e Rui Patrício Albuquerque, secretariada por Teresa Samwell Diniz; a Instituição deu-se a 6 de Maio de 2008, com sede em Vale de Óbidos, Rio Maior; a 8 de Janeiro de 2009, a Fundação foi reconhecida, por Despacho n.º 2400/2009 assinado pelo Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Dr. Jorge Lacão; e a 7 de Fevereiro de 2009, o primeiro Conselho de Administração constituído por Mafalda Ferro, António Roquette Ferro, Francisco d’Orey Manoel, Luís de Almeida Gomes, Maria Barthez, Rui Patrício Albuquerque e Mário Serra Gentil Quina tomou posse e reuniu pela primeira vez.


E assim nasceu a Fundação António Quadros - Cultura e Pensamento.

Desde esse dia, muito tem acontecido, muito se tem feito, o número de amigos e apoiantes foi crescendo, o acervo foi aumentando e a Fundação mudou-se para Rio Maior.

Hoje, 12 anos depois, a Fundação, Instituição de Utilidade Pública e Interesse Cultural, cumprindo os seus fins estatutários, contínua a exercer actividades que têm por base o estudo e a divulgação do Pensamento e da Obra de António Quadros, Fernanda de Castro, António Ferro, Augusto Cunha, Maria Germana Tânger, Manuel Tânger Correia e de muitas outras personalidades de mérito. Referimos aqui algumas das suas principais actividades:

 

- Organização e Tratamento de uma Colecção de Arte e de uma biblioteca de livro antigo bem como de um volumoso arquivo histórico de singular importância, produzidos e reunidos por Fernanda de Castro, António Ferro, António Quadros, e, também por Augusto Cunha, Manuel e Maria Germana Tânger e muitos outros intelectuais e artistas. A este acervo, vai-se acrescentando peças doadas pelas famílias Ferro, Cunha e Tânger e, também, provenientes de outras doações como as de Anna Maria Moog, Manuel Halffter, Frederica de Freitas, Celestino Domingues, Manuel Silva Pereira, entre muitas outras.

- Apoio a Investigadores, Particulares e Instituições na prossecução dos seus projectos;

- Organização de exposições, colóquios, palestras, workshops;

- Continuação de um plano editorial que conta já com 8 importantes obras literárias, publicadas e com a publicação mensal de uma newsletter (no dia 14 de cada mês);

- Atribuição e entrega de Prémios na sequência de concursos que promove em diversas áreas, nomeadamente do Prémio António Quadros (criado em 2011);

- Participação em colóquios, congressos e exposições, a convite de Particulares e Instituições;

- Manutenção de um espaço físico, cedido pela Câmara Municipal de Rio Maior;

- Exploração de uma livraria online para apoio aos investigadores e outros interessados e, também, para angariação de receitas;

- Actualização permanente do sítio www.fundacaoantonioquadros.pt.

- Criação de um grupo de "Amigos da Fundação".

A Fundação só continua a ser possível graças à boa vontade, à ajuda, ao empenhamento, à fé e à confiança de um grupo de Pessoas e Instituições a quem a Fundação tudo deve e tudo agradece. 
 
02  A FAMÍLIA HALFFTER E A FAMÍLIA FERRO: LIGAÇÕES, 
por Mafalda Ferro e Manuel Halffter.

 

Tendo-se referido no artigo anterior à doação de Manuel Halffter, penso ser pertinente dar a conhecer melhor este recente amigo da Fundação, bem como os seus pais, ambos músicos, amigos e colaboradores de António Ferro e de sua mulher, Fernanda de Castro. Com este propósito, pedi-lhe ajuda na recolha da informação aqui publicada e que muito agradeço.

 

Ernesto Halffter (Ernesto Alberto Alfredo Halffter Escriche) nasce a 16 de Janeiro de 1905 em Madrid, filho de pai prussiano e de mãe espanhola. Autodidata, começa a aprender música com sua mãe (pianista amadora) e com músicos amigos da família. Em 1923, conhece o compositor e pianista espanhol Manuel de Falla (1876-1946) que decide a título excepcional ocupar-se da sua formação musical.

No ano seguinte, De Falla cria a Orquestra Bética de Câmara entregando a sua direcção a Halffter, cargo que este ocuparia até ao início de 1936, continuando sempre a compor e a orquestrar música.

Em 1925, Halffter recebe em Espanha o Premio Nacional de Música por Sinfonietta que viria a ser reconhecida como a sua obra mais emblemática.

 

Dois anos depois, estando Halffter em Paris, dirigindo El amor brujo de De Falla, é convidado a comparecer depois deste espectáculo a uma recepçâo em casa de Olga de Moraes Sarmento (1881/1948), escritora, conferencista e feminista portuguesa de notável cultura e sensibilidade. Nessa recepção, conhece e encanta-se por uma jovem pianista portuguesa, Alice Câmara Santos, então bolseira em Paris.

 

Alice Camara Santos, nascida em Lisboa em 1903, estudara no Liceu Maria Pia e posteriormente no Conservatório Nacional, tendo completado nessa Instituição o curso geral de piano em 1917 com 18 valores, o curso Superior de Piano em 1920, e, o Curso de Virtuosismo em 1921.

 

Em 1922, Alice inicia a carreira musical dando recitais e participando como solista em concertos na capital portuguesa. Com uma bolsa de estudos viaja pela primeira vez, com estadia em Paris e em Bruxelas para estudar com Yves Nat, entre outros. Em 1926, depois de uma tournée de 3 meses pela Africa portuguesa, Alice fixa a sua residência em Paris e é aí que conhece Ernesto Halffter com quem viria a casar em 1928.

A carreira musical do casal leva-os a realizar concertos em diversos países como Espanha, França, Argentina e outros países da América do Sul. Desde 1934 e até 1936, Ernesto assume o cargo de director do Conservatório de Música de Sevilha e Alice continua a realizar concertos como solista.

 

Em Fevereiro de 1936, devido à situação política, primeiro em Espanha e depois na Europa, o casal fixa-se em Lisboa, cidade onde viria a nascer dois anos depois o seu filho Manuel. Em Lisboa, abandonando a sua carreira musical, Alice dedica-se a outras actividades profissionais, nomeadamente na Imprensa e no SPN integrando o Gabinete de Direcção de António Ferro, entre 1937 e 1945. Com um óptimo conhecimento das línguas portuguesa, espanhola e francesa, Alice actua no SPN como tradutora e colaboradora em actividades de carácter cultural.


Em 1941, a Companhia de bailado «Verde Gaio» criada por António Ferro, leva à cena no Teatro Nacional D. Maria o bailado "Passatempo", com coreografia de Francis, músicas de Frederico de Freitas, Ruy Coelho, Ernesto Halffter e Alexandre Rey Colaço e com cenários e figurinos de TOM. Ainda em Lisboa, em 1942, Halffter é nomeado professor adjunto do Instituto Espanhol.

Durante a sua estadia em Portugal, Halffter divulga a música espanhola em programas radiofónicos, em concertos e em recitais, sempre com a participação de excelentes intérpretes portugueses. Continua a compor diversas obras, ballets e bandas sonoras de filmes nomeadamente «Rapsódia Portuguesa» (1938) para orquestra. Orquestrando canções populares portuguesas, manifesta sempre uma grande e sincera admiração por este estilo musical, pelo fado e pelo carácter genuíno e variado da música popular portuguesa: Soy un gran admirador del fado por su profunda y bella esencia popular, inimitable y que expresa tan bien la marcada personalidad del pueblo portugués.

 

Em 1956, a família Halffter regressa a Espanha, vindo a estabelecer-se, desde 1957 até cc de 1965, em Itália, para que Ernesto, a convite dos herdeiros de Manuel de Falla, complete postumamente a sua inacabada Atlântidacujas páginas originais se encontravam então em poder do editor "Ricordi" em Milão; continuou a efectuar revisões desta obra até à versão final e definitiva em 1976.

Em 1965, a família estabelece-se definitivamente em Espanha onde Ernesto prossegue a sua vida profissional como Compositor, Maestro e divulgando em conferências e publicações a sua vida profissional. Continua a nos projectos que lhe vão surgindo. Em 1984, Halffter recebe de novo o Premio Nacional de Música.

Depois da morte de seu marido, em Madrid, a 5 de Julho de 1989, e até à sua própria morte na mesma cidade, dez anos depois, Alice colabora mais assiduamente com a Halffter-Editores, revendo provas e estabelecendo contacto com intérpretes a respeito das obras de composição em curso.

 

Manuel Halffter (Manuel Fernando Augusto Ernesto Pedro Halffter) nasce em Lisboa a 29 de Junho de 1938, ano em que, na mesma cidade, no dia 11 de Agosto, é baptizado na Paróquia de S. José em Lisboa; Fernanda de Castro é a sua madrinha e Manuel lembra com ternura o dia em que com ela foi pela primeira vez ao cinema.

Na Escola Francesa, Manuel faz a Instrução Primária e, no Instituto Espanhol, o Curso dos Liceus, a par do português, garantindo assim o futuro acesso às Universidades espanhola e portuguesa.

Licencia-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, vindo a obter posteriormente a equiparação em Espanha.

Depois de umas breves colaborações em empresas portuguesas, Manuel Halffter integra a unidade de Relações Internacionais da Companhia de Aviação IBÉRIA em Madrid, onde permanece até ao fim da sua vida profissional.

Depois da morte de seu pai em 1989, como seu herdeiro, recebe os seus arquivos e assume a continuidade das relações estabelecidas com Editores e Sociedades de Autores.

 

Herdeiro do espólio de sua mãe, com especial sensibilidade e generosidade, Manuel Halffter contacta a Fundação António Quadros no sentido de doar a esta Instituição livros e documentos reunidos por Alice durante a sua estadia em Lisboa e o trabalho no SPN.

Deste conjunto bibliográfico e documental, constam mais de três dezenas de obras literárias na sua maioria de António Ferro. Em "Estados Unidos da Saudade", por exemplo, pode ler-se "À sua querida amiga Alice, à sua rara inteligência, à sua excepcional camaradagem, oferece com a melhor recordação o seu amigo sincero António Ferro. 25-1-950; em "Itinerário sentimental de los portugueses en Sevilla" de António de Cértima, pode ler-se também uma dedicatória manuscrita do autor para Alice Halffter.

Esta importante doação reúne ainda fotografias, um CD de música de Ernesto Halffter, convites e programas produzidos pelo SPN/SNI, cartas e outros manuscritos inéditos.

Manuel Halffter reside actualmente em Madrid.

 

Fotografia de vários participantes portugueses e espanhóis na missão do SPN em Madrid, 1944. Reconhece-se na 1.ª fila, da esquerda para a direita: Marie Lereque de Freitas Branco [6.ª]; Alice Câmara Santos Halffter [7.ª]; Na segunda fila: Pedro de Freitas Branco [4.º]; António da Lasheras (Comissário da Música em Espanha) [5.º]; António Ferro [6.º]; Jésus Rubio (Ministro da Educação de Espanha) [7.º]; Guilherme Pereira de Carvalho [8.º]; Marqués de Lozoya (espanhol) [9.º]. Identificada por Manuel Halffter. 

 

03 FERNANDA DE CASTRO, 120 ANOS DEPOIS DO SEU NASCIMENTO,
por Mafalda Ferro.


Em homenagem a Fernanda de Castro, 120 anos depois do seu nascimento,
estavam previstas diversas iniciativas que, por motivo de segurança, optámos por não realizar, pelo menos este ano. No entanto, a Fundação António Quadros em parceria com a revista «Nova Águia» e com a colaboração de um importante conjunto de autores, sabedores da sua vida e obras prepara uma publicação de homenagem à poetisa. Convidamo-lo, querido leitor, a juntar-se-nos através do envio de um texto / testemunho seu, sobre Fernanda de Castro, para publicação na newsletter da Fundação até ao fim do ano.
Entretanto, para o inspirar, vamos publicando, em cada newsletter, fotografias, poemas e outros elementos a fim de lhe dar a conhecer uma Fernanda de Castro que talvez ainda não conheça.

Quando eu andava a trabalhar numa espécie de diário, uma amiga perguntou-me:

– É verdade que andas a escrever um diário?
– Não é bem isso, ando a juntar recordações, a tentar fixar no papel certos momentos que não quero esquecer. Pretendo, sobretudo, evocar o melhor que puder certas figuras, certos acontecimentos, certos momentos de certas vidas que, acidentalmente ou não, se cruzaram com a minha. Ao mesmo tempo, sim, vou escrevendo as impressões do dia-a-dia que me parecerem de algum interesse, pelo menos para mim. Acabarei, porém, por abandonar essa disciplina, não só porque me perco na floresta das datas, mas também porque me parece mais natural, mais espontâneo, ir escrevendo à medida que as pessoas e os factos vão surgindo dos meandros da memória.
– És capaz de ser sincera, completamente sincera?
– Com certeza.
– És capaz de dizer a verdade, só a verdade, toda a verdade?
A resposta saiu-me espontânea, como se há muito a tivesse preparado:
– A sinceridade, num diário, não consiste em dizer toda a verdade mas em não dizer mentiras.

Fernanda de Castro, em Ao Fim da Memória I, 1989. 
 

04 AGENDA DE FERNANDA DE CASTRO, 1970,
transcrição por Maria Antunes Ferreira.

 

1 de Janeiro de 1970, quinta-feira

Almoço em casa da Umbelina; Jantar em casa da Manuela com toda a família.

2 de Janeiro de 1970, sexta-feira

Em casa: Almoçou e jantou a Inês; Estiveram cá o António e o Antoninho.

3 de Janeiro de 1970, sábado

Cinema, com a Heloísa: «Hello, Dolly!» Em casa: Jantou a Inês.

4 de Janeiro de 1970, domingo

Missa ‒ Almocei em casa do António e jantei também com eles e com a família da Pó (despedida do Neco).

5 de Janeiro de 1970, segunda-feira

Em casa: Lunch com Inês e Águeda; Às 7 horas ‒ Dr. Baião Pinto; Antoninho.

6 de Janeiro de 1970, terça-feira

Almoçou Inês; Jantaram Inês e Águeda; Fomos levar a Águeda a Cascais; Esteve cá o Antoninho.

7 de Janeiro de 1970, quarta-feira

Almoçou e jantou a Inês; Reunião SNI; Entrevista Redactor da «Flama»; Entrevista com Dr. Caetano de Carvalho (Águeda e eu); Ao fim da tarde, em casa, Compositor.

8 de Janeiro de 1970, quinta-feira

Não saí ‒ Trabalhei «Os Cães não Mordem»; Estiveram aqui em casa, António, Pó, Inês, Antoninho.

9 de Janeiro de 1970, sexta-feira

Pequeno passeio de automóvel com Inês e Águeda (Parque de Monsanto); Gravei, em casa, algumas palavras para a Emissora.

10 de Janeiro de 1970, sábado

Almoçaram Inês e Águeda e lancharam estas e a Heloísa; Jantar em casa da Natália Correia; Estiveram cá o António e o Antoninho.

11 de Janeiro de 1970, domingo

Missa às 8 h. (Loreto); Jantei em casa do António.

12 de Janeiro de 1970, segunda-feira

7 da tarde: Crítica (muito boa) do Sr. João Maia (Emissora);

Jantar oferecido por amigos, etc, no Restaurante «A Quinta», Mais de 100 pessoas, de várias gerações e várias ideologias. Falaram: Dr. Hernâni Cidade, Dr. Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Domingos Monteiro, Natália Correia, Luís de Oliveira Guimarães e José Carlos Ary dos Santos ‒ muitos telegramas ‒ muitas flores. Atmosfera muito alegre e muito cordial.

13 de Janeiro de 1970, terça-feira

Fiquei deitada, a descansar. Muitos telegramas, cartas e telefonemas. Estiveram cá a Inês, o António e a Pó; Trabalhei em «Os Cães não Mordem»; Flores de Olga Cadaval, Mário de Aguiar, e Margarida e Luísa Quinteiro; Veio cá o António; veio também o Antoninho.

14 de Janeiro de 1970, quarta-feira

3 horas ‒ Pequena homenagem, muito cordial, da Comissão de Literatura e de Espectáculos para Menores. Falou o Dr. Caetano de Carvalho.

6.h 30 ‒ A Natália Correia veio buscar-me e fomos ambas, com o marido, ver ao Hospital da Cruz Vermelha a Branca Miranda Rodrigues que foi atropelada ao sair do cabeleireiro, na 2.ª feira, 12.

8.h 30 ‒ Em casa: Jantaram a Inês e a Águeda ‒ Fomos assistir ao ensaio do 1.º Acto, em Cascais, da peça do Joaquim Paço d'Arcos, «Antepassados, Vendem-se»

15 de Janeiro de 1970, quinta-feira

5.h ‒ Chá Casa N.ª Sr.ª do Carmo, com Inês; Almoçou a Inês;

3.h ‒ gravação entrevista com Mário António, na Emissora;

Visita à tia Castelo; Jantar em casa do António, com os Lima de Freitas;

Às 9.h ‒ Programa Televisão (50 Anos de Poesia).

16 de Janeiro de 1970, sexta-feira

Almoçaram a Inês e o José Carlos;

3 horas ‒ Gravação disco Valentim de Carvalho (Paço d'Arcos); À noite ‒ Teatro Nacional ‒ «O Cravo Espanhol» (Romeu Correia) ‒ Fui com a Mané e a Inês.

17 de Janeiro de 1970, sábado

Almoço em casa, com a Inês: Veio o Antoninho; À tarde: Fui à Tia Castelo Operação Branca Miranda Rodrigues (A Natália trouxe-me a casa); Estive na Casa de Saúde da Cruz Vermelha.

18 de Janeiro de 1970, domingo

Missa (Mártires) ‒ 7 h; Jantar em casa da Heloísa (Natália, Inês, M.ª Luísa, José Carlos, Isabel Meireles, Helena, Emilienne, Isabel, José Francisco, Ribeirinho, Alfredo Madureira.

19 de Janeiro de 1970, segunda-feira

Jantaram em casa Inês e Mané Esteve cá o Antoninho.

20 de Janeiro de 1970, terça-feira

Saí às 4 horas, de carro, com a Inês e a Heloísa ‒ Fui à Cuf saber do Neco, que foi hoje operado à vesícula; Comprei flores e fui ver a Branca Miranda Rodrigues, que está no Hospital da Cruz Vermelha; A Inês e a Heloísa também foram. As flores eram para a Branca ‒ as primeiras do ano ‒ À noite estiveram cá o Eleutério Sanches e a mulher ‒ Ele cantou, recitou e tocou viola.

21 de Janeiro de 1970, quarta-feira

3h. Reunião SNI; Fui levar exemplares de «Poesia» a Belém (ao Presidente da República) e ao Dr. Salazar (levei também, a este último, um vaso com uma azálea); Tomei chá em casa da Tia Maria José.

22 de Janeiro de 1970, quinta-feira

Estive a trabalhar todo o dia; Vieram jantar: Inês, José Carlos e Alexandre Ribeirinho; Ao café, apareceu a Heloísa; Li-lhes a minha peça «Os Cães não Mordem» ‒ Fizeram-me algumas observações em que vou pensar.

23 de Janeiro de 1970, sexta-feira

Fiquei em casa a trabalhar; À noite fui à Escola do António. Homenagem a José Régio Disseram poemas: Natália, José Carlos, Dórdio, Alice Gomes, Manuel e dois «espontâneos» Falaram: Natália, António, Manuel d'Oliveira, etc Gaspar Simões.

24 de Janeiro de 1970, sábado

Anos do Antoninho; Fui a V. Franca, com a Inês, buscar a Águeda (Levei um pic-nic e almoçámos no carro). Compras, voltas — Chá na Versailles com a Inês; Passei a tarde em casa do António onde se reuniu parte da família por causa do Antoninho. Dei-lhe uma gabardine; Jantaram cá Inês, Mané, Heloísa.

25 de Janeiro de 1970, domingo

Fiquei todo o dia em casa, a pôr a correspondência em ordem.

26 de Janeiro de 1970, segunda-feira

Almoçou cá a Inês; À tarde, esteve cá a Pó, Não saí.

27 de Janeiro de 1970, terça-feira

4 horas ‒ Cabeleireiro; 6h ‒ Chá, com Inês, na Smarta; 6 ½ ‒ Concerto Tivoli, convidada pela M.ª Luísa Garin (Pianista: Elian) 9 h ‒ Jantar, em casa, com Inês e M. Luísa Garin.

28 de Janeiro de 1970, quarta-feira

 ½ ‒ Almoçou cá a Inês; 3 h ‒ Reunião SNI; 4 h ‒ Farmácia, compras ‒ levar remédio Tia Castelo; 8 h ‒ Jantar em casa Maria Luísa Garin; 9 ½ ‒ Concerto Florinda Santos, na «Academia dos Amadores de Música» (As 3 primeiras Sonatas de Beethoven).

29 de Janeiro de 1970, quinta-feira

Fui à Baixa comprar uma máquina fotográfica e um livro para o pequeno da Maria Luísa, que fazia anos; A Inês foi buscar-me à porta da Ferrari e partimos para o Cacém. Jantámos em casa da M. Luísa ‒ (António e Pó, Manuela e Vasco, João, M.ª Eugénia e filhas, Chico e Inês, etc). No regresso trouxemos a Anica e a Ninela.

30 de Janeiro de 1970, sexta-feira

Fiquei todo o dia na cama a descansar, a ler, a escrever e a aborrecer-me; Estiveram cá o António e o Antoninho.

 

Identificação das pessoas referidas apenas por um nome (por ordem alfabética):

Águeda – Águeda Sena - bailarina, amiga de FC

Anica – Ana Quadros – sobrinha de FC

Antoninho – António Roquette Ferro – neto de FC

António – António Quadros – filho de FC

Heloísa – Heloísa Cid – poetisa, amiga de FC

Inês – Inês Guerreiro – artista, amiga de FC

José Carlos – José Carlos Ary dos Santos – poeta, amigo de FC

Mané – Maria Manuel Lima de Carvalho – amiga de FC

Manuela – Manuela Quadros Barreto de Carvalho – irmã de FC

Maria Luísa – Maria Luísa Quadros – irmã de FC

Natália – Natália Correia – poetisa, amiga de FC

Neco – Roberto Roquette – irmão de Paulina Roquette Ferro

Ninela – Manuela Quadros – sobrinha de FC

Pó – Paulina Roquette Ferro – nora de FC

Ribeirinho – Alexandre Ribeirinho – actor, amigo de FC

Tia Castelo – M.ª do Castelo Telles de Castro – tia materna de FC

Tia Maria José – M.ª José Telles de Castro – tia materna de FC

Umbelina – Umbelina Ferro da Cunha – cunhada de FC

 E, ainda:

Escola do António - IADE 
 
05 RONALD DE CARVALHO E ANTÓNIO FERRO,
por Mafalda Ferro

 

Ronald de Carvalho, poeta modernista brasileiro, nasceu há 127 anos, no dia 16 de Maio.

Ronald de Carvalho e António Ferro viriam a destacar-se como escritores, jornalistas, modernistas, colaboradores no Diário de Notícias», na «Orpheu», na «Klaxon», grandes amigos.

Em 1915, é publicado o n.º 1 da revista «Orpheu» no qual Ronald de Carvalho participa com os poemas «A Alma que Passa», «Lâmpada Nocturna», «Torre Ignota», «O Elogio dos Repuxos» e «Reflexos (Poema da Alma enferma)» e divide a direcção com Luís de Montalvor. O segundo número é dirigido por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. Em ambos os números, António Ferro, devido às suas relações de amizade com quase todo os participantes e por ser o único que não havia ainda atingido a maioridade, é convidado a assumir o cargo de editor. Aceita.

Segundo António Cardiello, em "António Ferro: 120 anos. Actas" (1915), Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro começam por idealizar, já em 1913, uma revista literária, primeiro com o nome Lusitânia e depois Europa, traduzindo ideias mais cosmopolitas. Acabam por ficar rendidos a Orpheu. E este título, sugerido por Luís de Montalvor e pelo brasileiro Ronald de Carvalho, reflecte a vontade de criar uma publicação luso-brasileira capaz de juntar as artes e as letras. […]

Há 100 anos um grupo de jovens escritores e artistas publicou uma revista: Orpheu. Saíram apenas dois números. Foi o bastante para atiçar a polémica e agitar o cenário cultural português, adormecido nas linhas estéticas novecentistas. Orpheu, revista e geração, “foi o primeiro grito moderno que se deu em Portugal”, nas palavras de José de Almada Negreiros. Cem anos depois, esse grito continua a ecoar nas memórias que temos da revista, da geração, dos estilos órficos e do mundo que reinventaram.

 

Em 1921, António Ferro escreve o Manifesto «Nós», diálogo entre o autor e a multidão, que constituirá a contribuição portuguesa na Semana de Arte Moderna, de São Paulo. António Ferro não consegue estar presente, chegando poucos dias depois; é Ronald de Carvalho que no Teatro Municipal de São Paulo apresenta essa sua obra dramatúrgica que seria posteriormente incluída na «Klaxon» (n.º 2), órgão da Semana de Arte Moderna.

 No dia 21 de Junho de 1922, Ronald de Carvalho profere uma palestra no Trianon do Rio de Janeiro sobre António Ferro, a sua literatura e o seu modernismo.

Quando, em 1922, Ferro chega a S. Paulo como representante do modernismo português, é recebido por Menotti del Picchia, Graça Aranha, Guilherme de Almeida, entre outros.

Entre muitas outras obras, Ronald de Carvalho publica "Caderno de Imagens da Europa" em 1935.

Morre no Rio de Janeiro, a 15 de Fevereiro de 1935, com 41 anos, vítima de acidente rodoviário.

 
06 LIVRARIA ANTÓNIO QUADROS, Promoção do mês

Autoria: [Sem referência à autoria]
Título: A Cruz Vermelha Portuguesa. Sua Génese e Sua Actividade em 80 Anos.
Edição - Lisboa: Edição do Secretariado Nacional da Informação (S.N.I.) em colaboração com o Governo Civil de Lisboa e a Cruz Vermelha Portuguesa, [1945]
PVP até 14 de Junho de 2020: 10.00€ EXEMPLAR ÚNICO.

 
 
     
 
Apoios:
 
Por opção editorial, os textos da presente newsletter não seguem as regras do novo acordo ortográfico.

Para remover o seu e-mail da nossa base de dados, clique aqui.


Esta mensagem é enviada de acordo com a legislação sobre correio electrónico: Secção 301, parágrafo (A) (2) (C) Decreto S 1618, título terceiro aprovado pelo 105º. Congresso Base das Normativas Internacionais sobre o SPAM: um e-mail não poderá ser considerado SPAM quando inclui uma forma de ser removido.
 
desenvolvido por cubocreation.net