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Newsletter Nº 174 / 14 de Julho de 2021
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros
ÍNDICE


01 –
António Quadros tradutor, por Mafalda Ferro.

02 António Quadros e a Emissora Nacional, por Mafalda Ferro.

03 Exposição «Fernando Pessoa: Vida, Personalidade, Génio». Imagética.

04 – A estranha aventura de Sintra [introduzindo o próximo artigo], por António Quadros.

05 Exposição «A Família d'Orey e a Regaleira: Um percurso Europeu». Divulgação.

06 Dinah Washington (1924-1963), por Françoise Giraudet.

07 Livraria António Quadros, em promoções do mês: Livro das Actas do Congresso Internacional «António Quadros: Obra, Pensamento, Contextos». Lisboa: Universidade Católica Editora, 2016.


EDITORIAL, 
por Mafalda Ferro

 

Dedica-se a presente newsletter a António Quadros, 98 anos depois do seu nascimento, salientando, nomeadamente, duas das temáticas menos conhecidas da sua actividade: enquanto Tradutor e Autor de programas de rádio.


Informamos que, por solicitação de muitos interessados, foi possível alargar o tempo da exposição «Fernando Pessoa: Vida, Personalidade e Génio» que encerrará definitivamente no dia 23 de Julho próximo.

Esta exposição destaca, além da vida, obra e génio do Poeta, os estudos de que foi alvo depois da sua morte nomeadamente por António Quadros e também por muitos outros, referindo a influência que o seu relacionamento com António Ferro teve na publicação da "Mensagem" e na atribuição do Prémio Antero de Quental recebido pouco antes da sua morte.

A exposição, inaugurada no passado 14 de Junho, foi organizada pela Fundação António Quadros e pela Câmara Municipal de Rio Maior. Todos os elementos expostos pertencem ao acervo da Fundação e estão disponíveis para consulta nas suas instalações depois do encerramento da exposição.


Na Bulgária, em Sófia, a editora 
Kibea Publishing Company publicou uma tradução búlgara do "Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa, fazendo questão de utilizar a Introdução e Organização de textos de António Quadros, de acordo com o "Livro do Desassossego por Bernardo Soares", volumes I e II publicados em «Obra em Prosa de Fernando Pessoa», Colecção Europa-América, 1986.


Informa-se que o espólio de Luís Eduardo Santos Ferro referente ao escritor Eça de Queiroz foi deixado à Fundação Eça de Queiroz em Tormes que do mesmo tomou posse no passado dia 12 de Julho em cerimónia oficial na qual o seu primo Luís António Santos Ferro tomou da palavra enquanto representante da família.

 
01 António Quadros tradutor, 
por Mafalda Ferro.

 

Durante cerca de duas décadas (1945-1965), dos 22 aos 42 anos, António Quadros elaborou oito traduções:

 

1945 Publicação da tradução de Diário de Salavin, de Georges Duhamel. Porto, Livraria Tavares Martins (Colecção Contemporâneos);

1954 Publicação da tradução de Tradição, de André Maurois. Lisboa, Livros do Brasil, Colecção Miniatura.

1954 Publicação da tradução de O Estrangeiro, de Albert Camus. Lisboa, Livros do Brasil, Colecção Miniatura.

1955 Publicação da tradução de Tomaz, o Impostor, de Jean Cocteau. Lisboa, Livros do Brasil, Colecção Miniatura.

1957 Termina o manuscrito de As bruxas de Salem, de Arthur Miller. Original com 175 fólios inédito preservado na Fundação António Quadros. Tradução efectuada a pedido da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro para representação no Teatro Nacional D. Maria.

1960 Publicação da tradução de Os Justos, de Albert Camus. Lisboa, Livros do Brasil, Colecção Miniatura.

1963 Termina o manuscrito de Um eléctrico chamado Desejo, de Tennessee Williams. Manuscrito inédito [preservado na Fundação António Quadros]. Tradução efectuada a pedido da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro para representação no Teatro S. Luís, preservada na Torre do Tombo.

1965 Publicação da tradução de Cadernos II, de Albert Camus. Lisboa, Livros do Brasil, Colecção Miniatura.

 

Em 2016, a Universidade Católica Editora publicou o Livro das Actas do Congresso Internacional «António Quadros: Obra, Pensamento, Contextos» realizado em 2013 em Lisboa e no Rio de Janeiro pela Universidade Católica, Fundação António Quadros e Real Gabinete de Leitura do Rio de Janeiro, homenageando Quadros por ocasião dos 90 anos do seu nacimento e 20 da sua morte.

Num dos importantes textos produzidos nesse âmbito sobre António Quadros, Teresa Seruya apresentou «António Quadros, tradutor. Relatório preliminar e algumas perguntas» do qual retirámos alguns excertos que nos ajudam a entender melhor o «António Quadros Tradutor»:

 

Apesar de não sabermos ao certo porque se dedicou também à tradução, fonte da família avançou-me que esse gosto lhe pudesse ter sido transmitido pela mãe, Fernanda de Castro, ela, sim, frequente tradutora – e à espera que esse seu labor seja estudado e reconhecido. A mesma fonte informou-me que António Quadros coordenou em 1988 um projecto de publicação em cinco volumes de traduções chinesas de obras de autores portugueses a ser começada em Pequim, no âmbito duma cooperação entre a Fundação Gulbenkian e o Instituto de Literatura Estrangeira da Academia de Ciências Sociais da China. Camões, Herculano, Camilo, Malheiro Dias e Eça foram os primeiros portugueses a ser traduzidos.

 

Debruçando-se sobre cada uma das traduções de Quadros, Teresa Seruya pretende explicar a razão de cada uma disponibilizando algumas informações das quais se salienta:

Sobre Diário de Salavin, de Georges Duhamel:

Sobre as razões da tradução de Quadros, uma é evidente: o livro está incluído na colecção ‘Contemporâneos’ dirigida pelo pai, António Ferro. Pode ter havido também alguma afinidade filosófica com a figura de Salavin. Na verdade, segundo algumas fontes, Salavin, sendo um dos primeiros anti-heróis da literatura francesa, é considerado precursor e inspirador de personagens existencialistas de Sartre e Camus, como é o caso de O Estrangeiro. O prefácio de Quadros a Diário de Salavin revela-o como conhecedor das modernas tendências do romance e da filosofia e psicologia, aludindo a Virginia Woolf, Proust, Joyce, Freud para, por aproximação ou oposição, situar e caracterizar a escrita e o ideário de Duhamel. No final não deixa de informar o leitor de que a obra está incluída no “ciclo Salavin” e, como estratégia para captar a atenção e conseguir a sua identificação com o tipo do ‘homem médio’, assinala como Salavin é “profundamente nós”. Esta é uma estratégia frequente na época: sublinha-se a universalidade dos autores, em vez do interesse em conhecer o diferente.


Sobre Tradição, de André Maurois:

António Quadros foi o único tradutor português de Bernard Quesnay (1926), vertido em português por Tradição (1954), provavelmente por razões comerciais (estranheza do nome e dificuldade de pronunciação), e assim escolhido porque é contada a história de uma família em que a tradição tem um grande peso. Curiosamente, a tradução brasileira manteve o título original, apenas aportuguesando ‘Bernardo’.

Sobre Tomaz, o Impostor, de Jean Cocteau:

A tradução de Quadros de Tomaz, o Impostor (1955) é única. Tal como a anterior de Maurois, foi publicada na prestigiada colecção Miniatura, porém, não será certamente uma obra maior de Cocteau. Há algumas diferenças da tradução em relação ao original, como é o caso de uma descrição da princesa de Bormes:

 

Sobre as 3 traduções de Albert Camus, por António Quadros: O Estrangeiro, Os Justos e Cadernos II:

A sua editora portuguesa é a Livros do Brasil. No prefácio a Os Justos, Quadros confessa abertamente o “parentesco” que sente com Camus, e que reside na partilha de uma concepção de arte e de escrita nunca como jogo, meio de atingir a glória, actividade gratuita e sem responsabilidade ou forma de “enfeudamento a uma sociedade egolátrica”. Ao receber o Nobel, Camus ter-se-ia distanciado tanto da arte pela arte como das “prédicas da arte realista”, concluindo Quadros, assim, por uma arte que é “uma tremenda responsabilidade existencial”, por uma concepção de artista “como motor do mundo e sacerdote de uma humanidade libertada, superada, ultrapassada no seu travo de quotidiano e banalidade”. As afinidades são também de pensamento, pois que Camus, ao contrário de Sartre, junta “ao acto de escolher em cada gesto e gesta o destino do mundo” uma “exigência ética a que Sartre fugiu.” Pode dizer-se que a tradução de O Estrangeiro foi o contributo mais relevante de António Quadros enquanto tradutor, pois que é a sua única tradução reeditada e, dentro da obra de Camus, igualmente a mais reeditada até ao presente. […]

Voltando a O Estrangeiro, está por decifrar a razão pela qual quando a editora Livros do Brasil faz preceder o texto do ensaio de Sartre «Explication de l’Étranger», este é traduzido por Rogério Fernandes e não pelo próprio Quadros. Interessante foi também descobrir que um original de L'Étranger foi à Comissão de Censura mas, como acontecia nalguns casos, não foram os censores, mas o próprio director que autorizou a circulação do livro em Portugal, com data de 15 de Junho de 1954, ou seja, o ano da publicação da tradução.

Os Justos, n.º 118 da colecção Miniatura, tem um prefácio de Quadros. Aqui elucida que esta é a primeira obra de Camus publicada em Portugal “depois da sua morte brutal e inesperada”. Trata-se duma síntese da obra e do pensamento de Camus, num tom que me parece de grande identificação com as preocupações do autor e os caminhos que ele apontava para superar o niilismo da época.

Cadernos II: O original destes Cadernos, Carnets, ocupa o período de Janeiro de 1942 a Março de 1951 e foi publicado pela Gallimard em 1964, pelo que a tradução portuguesa de Quadros pode dizer-se que não tardou (um ano mais tarde) e é certamente sinal do enraizamento do autor nos interesses de certo público mais exigente. Trata-se de uma tradução rigorosa e que honra a língua de chegada. […] Tem uma ‘Breve nota prefacial’ de Quadros, que discute as hesitações de Camus sobre o peso relativo da justiça e da liberdade. Por Quadros considerar que os dois valores só se podem harmonizar quando adequados ao terceiro valor que é a verdade, discute em que medida este valor está presente em Camus e analisa a relação deste com Deus e com o Cristianismo, deixando a impressão de que o quer ‘salvar’ para a fé cristã…  

Sobre As Bruxas de Salem, de Arthur Miller:

O original The Crucible, é um texto que data de 1953, publicado em Nova York pela Viking Press. É considerada hoje uma obra central do cânone do drama americano. Estreado na Broadway, no Martin Beck Theatre em Janeiro de 1953, depressa se tornou um clássico. Foi representada em Lisboa para inauguração da época teatral no Teatro Nacional em 1957.

Não se sabendo ao certo por que terá Quadros traduzido este drama, a hipótese mais provável é ter sido a pedido da Companhia Rey-Colaço-Robles Monteiro, concretamente da sua própria directora. Sobre a escolha da peça para a inauguração da época teatral pode ser que futuras pesquisas venham a revelar pormenores.

Como se sabe, todos os espectáculos tinham de obter Licença de Representação, ou seja, ir à Censura. Este também a obteve, em Outubro de 1957, e “sem cortes” (Registo 5476/10/957, Comissão de Exame e Classificação dos Espectáculos, guardado na Torre do Tombo). A assinatura do Censor é ilegível, o espectáculo foi classificado “Para adultos”. O texto enviado pela Companhia para a Censura é o papel químico de um exemplar dactilografado que já tem os nomes das personagens aportuguesados, mas de resto não tem comentários à mão. Já o exemplar idêntico que está na posse da Fundação António Quadros tem muitas correcções de tradução e encenação.

O texto não foi traduzido por Quadros a partir do original, mas sim da adaptação francesa de Marcel Aymé (Les Sorcières de Salem, 1955), de onde vem também o título português. […]

O tema da possessão, claro no original, é aquele onde há subtis e interessantes diferenças entre o original e a tradução, e depois as correcções do manuscrito. O sentido geral dessas alterações é sugerir que não houve entrega das adolescentes ao espírito demoníaco, não se “deixaram possuir”, antes foi este que tomou conta delas, ficaram presas dele. Quadros, pelo contrário, dá a ideia da possessão consentida (“é evidente que a minha filha se deixou possuir por um espírito maligno”), quando o francês vai no sentido de um aprisionamento indesejado (“il est clair que ma fille est devenue la proie d’un esprit malin”). Todo este complexo temático merece uma ‘close reading’ entre original, Aymé e Quadros.

A tradução indirecta que Quadros fez do texto de Miller confirma uma prática muito frequente na cultura portuguesa, e bem assim a influência dominante da cultura francesa, intermediária até bem tarde na recepção de várias literaturas.

Apesar do seu assunto (crítica às perseguições impiedosas e infundadas a quem era suspeito de simpatias comunistas), não intriga demasiado que a peça tivesse sido autorizada sem cortes, pois, para os censores, havia assuntos simplesmente históricos… Mas a crítica acusou algum espanto ao escrever:

Não deixa de ser uma vitória para o espírito ter sido possível representar no Teatro Nacional uma peça como As Bruxas de Salem […] iniciativa arrojada de Amélia Rey Colaço e de Robles Monteiro que prosseguem sem um desfalecimento (e tinham tantos motivos para isso) na obra de dignificação artística […] a representação da peça de Arthur Miller, sintoma evidente de que se está a operar uma transformação benéfica em certas mentalidades até há pouco menos compreensivas ou mais zelosas de uma moral puramente convencional.

 

Sobre Um eléctrico chamado Desejo, de Tennessee Williams:

Foi originalmente publicado em Nova York, em 1947. Foi representado pela Companhia Rey Colaço no Teatro São Luiz em 1963. Com esta representação, O São Luiz voltou a albergar o grande teatro após um interregno em que acolheu outro tipo de espectáculos. Os cenários foram de Frederico George e a encenação da brasileira Henriette Morineau.

Obteve autorização para ser representado no dia 25 de Abril de 1963. Neste caso todo o processo da representação pode ser reconstruído. A Torre do Tombo tem-no bastante completo, começando com o pedido de autorização original, em papel selado, da empresa Rey Colaço-Robles Monteiro, apresentando “a tradução de António Quadros da peça ….”, “aprovada em princípio pelo Director do Teatro na apresentação do reportório desta Companhia para esta temporada.” Data de 8 de Março de 1963. […]

Os papéis principais foram desempenhados por Mariana Rey Monteiro e Varela Silva. Na impossibilidade de transcrever e comentar todos os cortes, diga-se que vão no sentido esperado por quem conhece algo da Censura portuguesa: referências demasiado explícitas a sexo, homossexualidade e violência por parte da mulher (Branca não pode partir uma garrafa na mesa…).

Havia ainda a pergunta fundamental a fazer: teria Quadros traduzido do original ou feito de novo uma tradução indirecta? […]

O espectáculo foi muito elogiado pela crítica (jornais de 4 de Maio de 1963) e estão vivas ainda pessoas que assistiram a ele e acompanharam até os preparativos de Mariana Rey Monteiro para desempenhar a Blanche (Branca). A tradução, porém, foi alvo de vários reparos […].

Conclusão

Para já não é possível descortinar regularidades ou uma coerência interna nas traduções de Quadros. Também não se verifica uma lógica de ligação entre os autores traduzidos. Por outro lado, não se encontraram até à data vestígios de um pensamento de Quadros sobre tradução, como encontramos em tradutores que também o foram à margem da sua actividade principal e, por vezes, o explanavam nos prefácios. Parece-me, assim, que a tradução não terá sido para António Quadros uma actividade procurada como fonte de prazer intelectual, mas tão-somente praticada por razões conjunturais (talvez à excepção de Camus).

 

02 António Quadros na Emissora Nacional,
por Mafalda Ferro.

 

Durante cerca de 10 anos (1947-1957), António Quadros marcou presença na EN assinando grande parte das suas colaborações como Rui Bandeira.

Outro dos pseudónimos de que se serve é Paulo Roquette, inspirado no primeiro nome e apelido de sua mulher (Paulina Roquette), com que assina, em início de carreira, artigos associados à tauromaquia, aos Parques Infantis de sua mãe e a programas radiofónicos.

 

Este trabalho (ainda em curso) tem por base essencialmente os documentos preservados no Arquivo da Fundação António Quadros e o «Aqui Lisboa – Boletim Informativo do Serviço Ultramarino da Emissora Nacional de Radiodifusão de Portugal», n.º 15, Primavera de 1957, onde encontrámos um texto sobre «Colaboradores da Emissora Nacional» que nos foi muito útil para situar a extensa actividade de António Quadros enquanto autor e apresentador de programas de rádio no início de 1947:

 

O jovem António Quadros é há cerca de 10 anos colaborador da Emissora Nacional (EN) em programas que subscreve com o seu nome ou então sob o pseudónimo de  Rui Bandeira. A presentou sucessivamente as rúbricas «A Música das Cidades», «Cartas de toda a gente», «Fragmentos da vida quotidiana», «Toda a carta tem resposta», «Memórias da poesia vivida», «Tapete mágico», «Lendas e tradições do povo português», «Crónicas de um coleccionador de imagens» e «Personagens em busca de romance».

Actualmente e em colaboração com Fernando Telles de Castro apresenta a rúbrica «Viagens ao Mundo da Dança».

É impossível dar uma ideia breve e justa de tão vasta colaboração, abrangendo uma temática tão variada e abordando assuntos tão diferentes. Nessa variedade, temos a projecção da riqueza da sua personalidade de poeta e ensaísta, de crítico e pensador, que se adivinha no elevado nível dos programas que escreve e que constituem um elemento de valor na produção radiofónica da Emissora Nacional". Nesses programas, têm encontrado os ouvintes portugueses, a par de uma discreta intelectualidade, temas actuais e variados que lhes têm merecido e continuam a merecer a sua predilecção.

 

Apesar de não ter sido possível ainda localizar alguns registos e outros elementos que nos permitam datar e descrever com certeza alguns documentos como, por exemplo, «Em busca da cultura portuguesa», programa de António Quadros na EN, consultando textos e artigos preservados na Fundação António Quadros, foi possível estabelecer-se um esboço de cronologia e entender-se as temáticas tratadas por António Quadros nos seus programas.


A boa notícia é que o tratamento do acervo de António Quadros ainda está em curso e que este trabalho irá, de certeza,  ser completado.

 

CRONOLOGIA

1947/1949

«Mais uma semana» - Rúbrica com cerca de 25 Programa de Rádio.

 

1947

«Sem referência ao título» - Programa musical apresentado na Emissora Nacional com o pseudónimo Rui Bandeira. Data: Março de 1947.

 

1948

«Cartas para quem as queira receber» - Cartas lidas na rádio e, posteriormente publicadas na imprensa escrita: 

Carta a um conto de fadas. Sem data; Carta a um doente, num sanatório. Data: 22.01.1948; Carta a um falhado de circo. Sem data; Carta a um pescador da Terra Nova. Data: 29.04.1948; Carta a um tímido. Data: 14.05.1948; Carta a um velho sentado num jardim. Sem data; Carta a uma cinéfila. O título da versão impressa é diferente: Carta a uma menina cinéfil; Carta a uma professora de província. Data: 04.03.1948; Carta a uma segunda cinéfila. Título da versão impressa: Carta a uma Manuela de Albergaria. Data: 01.04.1948; Carta a uma senhora que gosta de bichos. Sem data; Carta a uma velha senhora romântica. Sem data; Última carta. Título da versão impressa: Carta de despedida. Sem data.

 

«Cartas para toda a gente» - Programa da Emissora Nacional, Onda Média, realizado em 1948, constituído pela leitura de cartas de António Quadros. Algumas destas cartas viriam a ser publicadas na imprensa.

Prefácio; Carta ao menino que fui. Sem data; Carta a uma florista. Sem data; Carta a uma solteirona. Sem data; Carta a um ouvinte das colónias. Sem data; Carta a uma mondadeira alentejana. Sem data; Carta a uma rapariga de 14 anos. Sem data; Carta a um carola. Sem data; Carta a um falhado. Sem data; Carta a um poeta perdido. Sem data; Carta a uma caixeira do Grandela. Sem data; Carta a uma dama de companhia. Data: 05.02.1948Carta a um “bota-de-elástico. Data: 11.03.1948.

 

«O Mistério do comboio das 4» - Rádio-novela assinada com o pseudónimo Paulo Roquette, interpretada ao microfone por Artur Agostinho, um dos primeiros locutores da EN. Novela que viria a ser publicada na imprensa com Duarte Ricaldes.

 

«A Hidra das sete cabeças» - Conto lido ao microfone da EN que viria a ser publicado na imprensa.

 

«Toda a carta tem resposta!» - Ciclo de programas radiofónico em que António Quadros utiliza o género epistolográfico, troca de correspondência fictícia para debater temas literários.

 

«O último dia de Castelo Alto» - Novela lida ao microfone da EN que viria a ser publicada na imprensa (1948.12.24, «Diário Popular»).

 

1950

«Crónicas de um coleccionador de imagens: Modigliani» - Programa da EN, Onda Média, emitido a 04.10.1950.

 

O Jornal «Rádio Nacional – Órgão Oficial da EN» - Publicação de programas da EN considerados de maior interesse (em «Rádio Nacional», "A Emissora Nacional comemora o seu XV aniversário: Os 13 anos do Rádio Nacional". Data: 1950.08.05):

«Para lá da máscara», por António Quadros. Data: 12.04.1950.

«A poesia de Lisboa vista por António Quadros». Data: 19.08.1950.

«Notas à margem de um mês de férias», por António Quadros. Data: 02.09.1950.

 

1957

«Viagens ao Mundo da Dança» - Programa semanal na Emissora Nacional assinado com seu irmão, Fernando Telles de Castro.

 

1989

Introdução para «Textos e Pretextos (Crónicas Radiofónicas)», de João Maia, numa edição da Rádio Renascença.

 
03 Exposição «Fernando Pessoa: Vida, Personalidade e Génio».
Imagética.

 
04 A estranha aventura de Sintra [introduzindo o próximo artigo],
por António Quadros.

 

E Cíntia, como lhe chamavam os gregos e os túrdulos, deriva o nome de Sintra. Cíntia era então, para sábios e poetas, o promontório da lua. O promontório da lua! Fantástica, misteriosa designação... Que realidade escondida, que verdade ignorada entreviram, lucidamente, os nossos longínquos antepassados? Nada ficou escrito, e a tradição oral não conserva vestígios dos reinos sonhados, dos caminhos pressentidos. Os séculos foram passando e, pouco a pouco, os homens foram destruindo implacavelmente os velhos mitos. Não importa. Nós sentimos, nós sabemos que só eles tinham razão, que Sintra não é um lugar como outro qualquer, que Sintra caiu entre nós por qualquer morta aventura, que Sintra não nos pertence, e nós não a merecemos porque não cremos na sua estranha origem. Condições climatéricas, natureza do terreno, constituição geológica? Mentira, horrível mentira! A força que alimenta os fetos, erguendo-os até ao céu, e dando-lhes natureza de Piore, a seiva que oferece às flores tão belos e variados matizes, as mil tonalidades do verde, a harmonia duma paisagem em que os rochedos e os penhascos se conjugam com as camélias e com os cisnes brancos, o sangue que palpita nas veias da serra de Sintra, vêm da lua, da nuvem, de toda a parte, menos deste mundo. Os que amam Sintra, os adeptos da sua doce religião pagã, sabem-no bem. É um mundo diferente, onde a beleza é o ar que se respira, e a poesia é a própria respiração. Este ponto fresco do vale, em que o olhar sobe, trepando a vegetação da montanha, atravessando as paredes frias do Palácio da Pena e perdendo-se ao longe, para lá do dia e da noite; aquele panorama do Castelo dos Moiros em que, sentados nas ameias gastas da muralha, avistamos o mar confundido com o céu; aquele outro lugar onde o Paço Real de Sintra, pesado de história, se esconde por detrás dum muro inteiramente coberto de musgo velho ou o momento irreal em que a vista da serrania, com o céu, a floresta, e a rocha, o cheiro húmido da erva medrando em todo o lado, o fino som da água caindo da fonte e das aves cantando nas copas das árvores, se transformam numa única sensação, nova, selvagem e indiferenciada—, nada disso pode fazer parte da nossa humanidade.


Estivemos em Sintra há pouco, por uma tarde calma, uma tarde de silêncio e de frescura. Visitámos as belas salas do Paço, onde viveram os reis de Portugal, percorremos as ruelas estreitas e íngremes, as escadarias tortuosas serra-acima, emolduradas de céu e de montanha, descemos ao vale onde os riachos frios alimentam canaviais ondulantes, e onde as mulheres lavam a roupa rindo e cantando, passeámos nos caminhos poéticos, profundos de sombra e verdura das pequenas quintas cercadas de muros altos, cobertos de trepadeiras, fomos a Monserrate, onde a colina é verde e a água é escura como um mistério, funda como a própria existência, admirámos a beleza cuidada do Parque de Pena, e estivemos também no palácio, donde a vista da terra não tem fim, e a vista do céu parece ter limites, passamos por todos os pontos consagrados de Sintra, os Capuchos, Seteais, a Fonte dos Passarinhos... O trabalho do homem, em Sintra, não briga com o trabalho da natureza, antes o auxilia e disso nos devemos orgulhar, nós, portugueses. Que naquele ponto da terra, o homem tenha recuado, tenha hesitado, indica um respeito, uma admiração, que não fazem parte da sua índole. O homem apagasse, ocupa voluntariamente ali, a posição de segundo plano. Porquê? Que poder sobrenatural se desprende das faldas luxuriantes da serra? Sintra é a terra das interrogações, das surpresas. Porque é que naquele recanto nevoento, se juntam plantas e flores dos cinco continentes? Porque é que as nuvens vêm cobrir, a todo o instante, os seus píncaros que não ultrapassam, no entanto, os quinhentos e quarenta metros? As nuvens buscam o promontório da lua, saudade dum planeta ou duma estrela onde estiveram um dia. Ah, sim! Sintra nasceu de qualquer aventura esquecida pelos séculos, e veio até nós como cometa, bólide de outros espaços e outras dimensões. E como se compreendem à luz desta realidade, as sombras e as encostas verdes de Monserrate, os pequenos lagos tranquilos da Pena, os rochedos bravios da serra, as ramagens intermináveis das fervores, formando um tecto de penumbra, os arbustos desconhecidos na Europa, as quintas emolduradas na natureza, os campos de flores, como se compreende o mistério enevoado de Sintra? Abandonemos inteligência, lógica, raciocínio. Sintra é para sentir, e só sentindo, se pode conhecer. Abandonemos regras e ciências: é a única maneira de possuir a eterna poesia de Sintra.

Aqui deixamos a brisa da mensagem que uma tarde mansa e silenciosa de Sintra, nos ofereceu. Tinha acabado de chover havia pouco tempo. As nuvens, opacas e cinzentas, afastavam-se pouco a pouco, levadas por uma breve aragem. Dum momento para o outro, o céu ficou descoberto e o azul invadiu a atmosfera, tal um sorriso súbito. Desprendia-se da terra um cheiro de ervas molhadas e de folhas a secarem. O sol chegou também, um sol fresco e alegre, e ficaram mais brancas as penas dos cisnes que, de novo, um a um, se lançavam à água. O Castelo e o Palácio, que antes se erguiam sombriamente, ficaram mais leves, mais claros, como se tivessem esquecido o passado e tornassem à vida. Do vale, as vozes e os ruídos do trabalho no campo ganharam sonoridades e ecos. O canto dum rouxinol cresceu no silêncio, atravessou matas e penedos, e foi-se perder, para lá dos contornos da montanha. Foi como uma revelação. A presença de qualquer coisa mais, a presença duma voz surda e irreal, a presença dum mundo diferente tornou-se-nos evidente e irrefutável. Mensagem invisível e impalpável, ela tocava-nos, todavia, e manifestava-se como sentimento nunca experimentado. Era a lembrança, a saudade da estranha aventura de Sintra, do promontório da lua Quem duvidar, quem zombar desta vida transcendente que a alimenta, então nunca poderá, realmente, entrar em Sintra.
 
05 Exposição «A Família d'Orey e a Regaleira: Um percurso Europeu». 
Divulgação.

Está a decorrer a exposição sobre o fundador da Família d’Orey, Eduard Wilhelm Heitor Achilles d’Orey, que divulga e e Ilustra o percurso dum europeu do século XIX.

Eduard Wilhelm Heitor Achilles d’Orey foi um homem culto, apaixonado pela arte e defensor da 
justiça social que viveu intensamente, percorreu vários países e entrou em contacto com culturas distintas.

 

Através desta exposição fica-se a conhecer um pouco melhor a história europeia do período romântico. Por outro lado, podem ser recolhidas diversas experiências e vários ensinamentos, tendo por base a vida de Wilhelm d’Orey.

A exposição, está patente na Quinta da Regaleira (em Sintra), de 1 de Julho a 30 de Setembro de 2021, das 9.30h às 17.30h para a última entrada (sendo que o espaço encerra às 16.30h).

 
Pretende-se ainda durante este período temporal, no espaço encantado da Quinta da Regaleira, realizar o lançamento da versão portuguesa do livro do Guilherme d’Orey, intitulado «O Prussiano Romântico».

 
06 Dinah Washington (1924-1963),
por Françoise Giraudet

 

A biografia ilustrada de Dinah Washington, inolvidável cantora de jazz e de blues já foi publicada. Encomende a obra directamente à autora, Françoise Giraudet, por 30€ + portes.


Informações: girelie@laposte.net.

https://livre-polaire.pagesperso-orange.fr/


Dinah Washington deu felicidade a milhares de espectadores. O melhor de um concerto é quando o artista exprime a sua dor, a sua alegria, os seus sonhos, a sua doçura e impulsiona cada um a encontrar as suas lembranças, reflectir, a viver certas experiências e a encontrar o seu próprio reflexo através da música. 
Tudo na voz de Dinah Washington testemunha a sua devoção pelos blues, pelo jazz e pelas baladas.

A presente obra dá a conhecer um destino feminino único, trágico e pungente assim como um comovente percurso humano. 

 
07 – LIVRARIA ANTÓNIO QUADROS
Promoção do mês.

 

Título: Livro das Actas do Congresso Internacional «António Quadros: Obra, Pensamento, Contextos».

Coordenação: Manuel Cândido Pimentel, Sofia Alexandra Carvalho.

Descrição: Livro das Actas do Congresso Internacional «António Quadros: Obra, Pensamento, Contextos» realizado em 2013 em Lisboa e no Rio de Janeiro pela Universidade Católica, Fundação António Quadros e Real Gabinete de Leitura do Rio de Janeiro, homenageando Quadros por ocasião dos 90 anos do seu nacimento e 20 da sua morte. Quarenta textos de diferentes investigadores, pensadores e autores contribuem para dar a conhecer António Quadros nas suas múltiplas facetas intelectuais.

Edição – Lisboa: Universidade Católica Editora, 2016.


PVP (promoção):
14,00€

 
 
     
 
Apoios:
 
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