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Newsletter Nº 175 / 14 de Agosto de 2021
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros

ÍNDICE

 

01 – Percurso do Museu de Arte Popular, criação de António Ferro, por Mafalda Ferro.

02 Museu de Arte Popular. Memória.

03 Turismo, Fonte de Riqueza e Poesia, por Cândida Cadavez.

04 – Mensagem e a sua circunstância, por Teresa Rita Lopes.

05 – António Ferro: Nota biográfica, por Mafalda Ferro.

06 Charles Trenet lembrado 20 anos depois da sua morte, por Mafalda Ferro.

07 Livraria António Quadros, promoção do mês: Museu de Arte Popular, por António Ferro.

 

EDITORIAL,
por Mafalda Ferro

 

Dedica-se a presente newsletter a António Ferro, 126 anos depois do seu nascimento.

Imagem do público durante o discurso de António Ferro no dia da inauguração do Museu de Arte Popular, a 15 de Julho de 1948.
Note-se à direita Paulina Roquette Ferro, nora do orador e, à esquerda, a sua mulher, Fernanda de Castro (de chapéu), atenta.

Política do Espírito: Um povo que não vê, que não lê, que não ouve, que não vibra, que não sai da sua vida material, do Dever e do Haver, torna-se um povo inútil e mal-humorado. A Beleza - desde a Beleza moral à Beleza plástica - deve constituir a ambição suprema dos homens e das raças. A literatura e a arte são os dois grandes órgãos dessa aspiração, dois órgãos que precisam de uma afinação constante, que contêm, nos seus tubos, a essência e a finalidade da Criação. António Ferro, 1932.

JORGE AMADO
Morreu  no dia 6 de Agosto de 2001, há vinte anos,
com 88 anos, 4 dias antes do seu 89.º aniversário.

Li muitos livros de sua autoria e, como todos os portugueses de então, assisti, primeiro estupefacta e depois cúmplice, à corrida dos portugueses para casa, a fim de assistirem à telenovela brasileira «Gabriela, Cravo e Canela" e, mais tarde de «Tieta do Agreste», de Jorge Amado. Até o meu pai…

Jorge Amado escreveu poesia mas escreveu sobretudo romances nos quais utilizava uma linguagem tão lírica que arrisco a dizer que eram obras de poesia em prosa. O romancista soube como ninguém descrever aromas, ambientes e situações de onde emergem personagens inesquecíveis como, além de Tieta e Gabriela, Dona Flor ou os seus «capitães da areia», razão pela qual continua a ser o mais conhecido, publicado e traduzido autor brasileiro. Penso que, em número de vendas, foi suplantado apenas por Paulo Coelho. 

Em 1985, António Quadros, passou uma tarde com ele em sua casa e notou com orgulho que à porta havia uma escultura em barro de José Franco, o grande oleiro português do Sobreiro, Mafra.


Jorge Amado escreveu 49 livros. Foi pouco.

 

01 Percurso do Museu de Arte Popular, criação de António Ferro,
por Mafalda Ferro

Em 1946, António Ferro sonhou criar um Museu de Arte Popular no edifício do Pavilhão da “Secção da Vida Popular” da Exposição do Mundo Português de 1940, em Belém. O objectivo era das a conhecer a arte popular e os usos e costumes portugueses e também dar destino e sentido a milhares de peças que haviam sido reunidas para essa e outras exposições durante os anos 30 e 40 do século XX.

Dois anos depois, a 15 de Julho de 1948, o sonho tornou-se realidade, o Museu foi inaugurado.


Participaram na sua feitura, decoração e projecto museográfico arquitectos como Veloso Reis e Jorge Segurado, artistas como Thomaz de Mello (coordenador da equipa de decoradores, responsável pelo projecto museográfico e por alguns murais), Estrela 
Faria, Carlos Botelho, Manuel Lapa, Paulo Ferreira e Eduardo Anahory (autores de murais), além de Francisco Lage (director da secção etnográfica).

Desde então, caminhando, de região em região, quem visitava o Museu de Arte Popular atravessava de facto o Minho, o Douro, Trás-os-Montes, o Algarve, as Beiras, o Ribatejo, a Estremadura, Lisboa e o Alentejo podendo apreciar as casas, o mobiliário, o artesanato, os trajes, os instrumentos de trabalho característicos de cada uma dessas regiões completados e explicados por pinturas murais produzidas pelos já citados artistas modernistas.


Com o passar dos anos, o estado de conservação do Museu e dos seus murais, foi-se degradando e urgia que se procedesse a uma intervenção a nível de restauro.


Em 2003, assim aconteceu.
Efectuaram-se, de facto, obras de restauro no interior e no exterior do Museu bem como nos seus murais e, durante esse período, o Museu encerrou ao público, mal sabendo nós, visitantes, o que se seguiria.

Três anos depois (2006), Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, apresentou uma proposta que visava a extinção do Museu e, em sua substituição, nesse local, a criação de um Museu do Mar e da Língua Portuguesa. Como resultado desta sua intenção, em 2007, foi anunciada a extinção do Museu e o seu acervo foi transferido para as reservas do Museu Nacional de Etnologia.


Esta decisão deu origem a diversos protestos e movimentos em prol da sua reabertura encabeçados por personalidades como Catarina Portas, Joana Vasconcelos, Raquel Henriques da Silva e Rosa Pomar até que, em 2010, o Conselho de Ministros deliberou manter o Museu de Arte Popular na sua concepção original como espaço dedicado à cultura popular.


De facto, o Museu não foi encerrado mas o seu acervo permanece até hoje no Museu de Etnologia em silêncio, longe dos olhares do público.

Sabe-se que a maioria das peças, inclusive a colecçao de têxteis e as de grande dimensão e interesse como, por exemplo, o Jugo do Boi Bento, continua acondicionada e que apenas uma pequena parcela (peças de arte pastoril, cestaria e alguma cerâmica) pode ser visitada nas reservas visitáveis do Museu Nacional de Etnologia. As poucas peças que estão em exposição, podem ser vistas dentro de vitrines sem qualquer descrição ou referência à sua proveniência, unicamente com uma cota (MAP e um número).


O Sítio da Direcção Geral do Património Cultural refere que o Museu de Arte Popular, hoje, assume-se como um lugar de encontro e diálogo de diversas áreas disciplinares, um Museu-documento, um lugar da Memória que se projecta na contemporaneidade e, adiante, que o seu acervo foi transferido para o Museu Nacional de Etnologia onde está exposto em reservas visitáveis.


Sendo que não foi criado até hoje outro Museu semelhante e tão abrangente, num tempo em que a arte popular, o artesanato, os usos e costumes das regiões portuguesas são referidos e tratados amiúde, somos forçados a acreditar que a associação deste Museu ao Estado Novo, a sua criação por António Ferro, foi determinante no seu percurso.


No "Museu" actual, o visitante pode admirar as pinturas modernistas que preenchem a quase totalidade das paredes e tem acesso a algumas reproduções actuais, das peças originais, comercializadas na loja do Museu.


Estamos assim, por vontade de alguns e desconhecimento de muitos (cada vez em maior número), privados de (re)conhecer a representatividade histórica da Arte Popular em Portugal, através da visualização de um acervo com mais de 12.000 peças reunidas por António Ferro e pela sua equipa desde 1935.

António Ferro sonhou o Museu de Arte Popular como um museu vivo, em constante crescimento, acreditando que as peças de arte popular portuguesa continuariam a multiplicar-se e a evoluir de acordo com novas realidades, com materiais mais recentes, cada vez mais diversificadas e mais criativas.

Mas, no ano seguinte à inauguração do Museu, as funções de António Ferro no SNI terminaram e  partiu para Berna. E, hoje, continua-se a tentar esquecer ou apagar a sua existência e a sua obra.

António Ferro era um amante da Arte Popular. 

Em Berna, na Legação de Portugal, com o apoio de Paulo Ferreira, concretizou o projecto a que chamou "Casa Portuguesa" decorado com artesanato, móveis típicos portugueses, tecidos de Alcobaça… As salas, os quartos, as mesas preparadas para jantares de cerimónia, tudo era decorado com motivos portugueses.

A Legação de Portugal era, para António Ferro, uma embaixada (claro), mas também a sua casa, um cantinho de Portugal e era também o seu Museu de Arte Popular.


 
02 Museu de Arte Popular.
Memória.


O seu autor chamou-lhe «Museu de Arte Popular – Museu do Povo» e "Ao Povo Português – Autor deste Museu" o dedicou. 

Sempre que ao longo dos anos o visitámos, abundavam os visitantes, os turistas e os grupos organizados por escolas de todo o país mas, como nem todos tiveram a sorte de conhecer este museu, activo nos moldes originais apenas até 2003, decidimos dar-lhe a oportunidade de ver como era, como foi, e também a oportunidade de, como nós, se interrogar sobre a razão profunda da sua desconstrução.
Com grande pena nossa não temos fotografias a cores, apenas as que guardamos na memória.
Os murais ainda lá estão mas são hoje cenário de nada.


 

03 – Turismo, fonte de riqueza e de poesia,
por Cândida Cadavez.

A figura de António Ferro permanecerá uma referência irrefutável no paradigma cultural português do século XX. Contudo, a importância das suas decisões no sector turístico tende a ser injustamente esquecida, apesar das diversas resoluções que protagonizou terem influenciado para sempre uma das mais importantes indústrias nacionais. Quase um século passado, as narrativas turísticas continuam a indicar a Aldeia Mais Portuguesa de Portugal (1938), assim como o espaço criado por ocasião da Exposição do Mundo Português e as pousadas de turismo (1940).

Recorde-se que em 1940 o turismo passou a ser responsabilidade do Secretariado da Propaganda Nacional (SPN) e, posteriormente, do Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI), a cujas direcções Ferro presidiu. Em 1949, o SNI edita alguns discursos do seu director sob o título Turismo, fonte de riqueza e de poesia, onde terá sido um dos primeiros a expor objectivamente a urgência de aperfeiçoar os serviços turísticos, bem como a falta de alicerces essenciais ao desenvolvimento da indústria, cuja fama deveria atrair visitantes estrangeiros. Para o escritor e jornalista, o turismo é a grande indústria dos sonhos, geradora de receitas e prática unificadora das diversidades da nação. António Ferro sonhou um turismo, em que as experiências proporcionadas fossem mais bela[s] do que o sonho de cada noite. 


 
04 Mensagem e a sua circunstância,
por Teresa Rita Lopes


O que nós gostamos de comemorar! Ainda se isso correspondesse, no caso de Pessoa, a um esforço para preservar o seu legado, a edições mais correctas...Mas desde que a sua obra reentrou no domínio público, em 2006, assistimos a uma enxurrada de publicações não fiáveis, feitas, em geral, a partir de textos da Ática (a editora dos primeiros livros de Pessoa) que temos obrigação de saber (os que de Pessoa tratam) que são incorrectos e incompletos.

A última novidade é uma Mensagem “clonada” – assim é designada pelo seu editor – obtida a partir do original dactilografado que Pessoa entregou para ser composto. Objecto curioso, sim senhor, certamente um regalo para fetichistas. Mas seria preciso informar os incautos compradores de que se trata de um texto que Pessoa foi modificando: nas provas tipográficas, com numerosos acrescentos e emendas e, depois, num exemplar do livro impresso, adicionando-lhe uma errata, novas correcções e datas para quase todos os poemas. O actual texto circulante da Mensagem é a etapa final desse percurso.
[…]


Mas então agora pasmem que eu vou fazer-vos algumas confidências sobre a  Mensagem, como me pediram, em que parece que estou a acusar Pessoa de ter pactuado com o Estado Novo e o Director do seu Secretariado de Propaganda Nacional, António Ferro. Apertem os cintos.

A verdade, verdadinha, é que se não tivesse havido Estado Novo não teria havido Mensagem porque sem o dito Estado não teria havido Secretariado Nacional de Propaganda e, sem ele, não teria existido um António Ferro, amigo de Pessoa desde os tempos do Orpheu, que inventou um prémio para galardoar esse amigo de que ele conhecia a permanente penúria económica e os inúmeros talentos – entre eles o de compor definitivamente um livro de cariz nacionalista (por isso redigiu nesse sentido o regulamento do prémio).

Dir-me-ão que teria havido Mensagem, embora tivesse ficado, como tudo o mais, por publicar. Não, insisto, não teria ficado o livro que temos porque só em 1934, seguramente pressionado pelo amigo Ferro, Pessoa não só lhe deu a estrutura que tem
como também fez, para isso, os poemas necessários: há nove datados desse ano mas estou convicta de que, entre os não datados, se contarão alguns mais deste ano. Até então o livro era sobretudo constituído pelos poemas da série “Mar Português”, publicada em 1922 na revista Contemporânea  mais os que tinha composto na mesma altura que “Interregno”, em 1928, movido pelo mesmo impulso. Os poemas da Terceira Parte, “O Encoberto”, foram em grande parte feitos de propósito para compor o livro: todos os de 1934, nove, e talvez também os de 1933, três (deve haver entre os não datados outros redigidos com o mesmo fim). A índole dos poemas de “Mar Português” é diferente, eufórica, solar, destinada a celebrar os “navegadores e criadores de impérios” de que Pessoa se orgulhava de descender.  A parte acrescentada é crepuscular: cultua um herói vencido, mas de que se anuncia a ressurreição. Pessoa nela se aplica a fazer desejar o Desejado e a tornar presente esse Quinto Império paradisíaco da nossa redenção.


Fartei-me de ouvir dizer na minha juventude que Pessoa tinha sido – hélas! – salazarista, bastava ler Interregno, um folheto em defesa da Ditadura militar instaurada a seguir ao golpe de 28 de Maio de 1926. Quando o li com olhos de perceber entendi que esse folheto não provava nada disso e que, aliás, não era escrito pelo Fernando António Nogueira Pessoa mas pela “personagem literária” autora da Mensagem, do poema ao “Presidente-Rei Sidónio Pais” e de outros poemas com o mesmo cariz épico (cujo sujeito não é um eu, dramático ou lírico, mas um nós). O estilo profético do folheto era aquele com que, em 1912, Pessoa anunciara o “supra-Camões” nas páginas da Águia ou aquele em que, imitando o canto de um cego bandarrista, anunciava, depois da morte de Sidónio, “um dia o Sidónio torna”. Convém não esquecer que o último verso da Mensagem, “É a hora!”, foi escrito em 10-12-1928. Assim como em 1918 acreditara e, sobretudo, queria que acreditassem que Sidónio seria, simbolicamente, um D. Sebastião regressado, o autor épico que  habitava Pessoa quis estremunhar o seu Portugal, adormecido desde Camões, fazê-lo ressuscitar para uma outra “República Nova”, já que a de Sidónio não tinha vingado. 


Significativo que em 1928 tenha escrito onze poemas de Mensagem,  (atendendo aos datados)  número não atingido em mais nenhum outro ano: escreveu nove em 1934, três em 1933, um em 1930, um em 1929, outro em 1922, dois em 1918 e um em 1913.

Recordemos que a maioria dos portugueses recebeu o golpe militar de 28 de Maio de 1926 com alívio e esperança. Inicialmente, Pessoa nada tinha contra Salazar – que se lhe afigurava um homem íntegro e de cultura. E o que Pessoa  verdadeiramente queria era mobilizar os portugueses para uma vida cultural intensa, que equivalesse, em grandeza e projecção,  à das Descobertas.


É possível que o criador de ficções sebastianistas que o habitava tivesse achado profética a coincidência entre o S inicial de Sebastião, de Sidónio e de Salazar...Mas também nunca devemos esquecer as afirmações de Fernando Pessoa segundo as quais o seu sebastianismo era pura “propaganda” (termo seu), pura “estratégia”.  Como para o seu venerado Mestre António Vieira, o que contava era despertar nas gentes o desejo mobilizador do Desejado – o desejo era mais importante que o Desejado...   Ao dar-nos conta do seu afã a escrever uma gramática para aperfeiçoar a nossa língua, que seria a do tal Quinto Império – outro mito que tentava alimentar – concluía que se esse Império não acontecesse sempre ficávamos escrevendo melhor...


Em 1914 Pessoa prefaciara um livro de quadras populares do jovem António Ferro, Missal de Trovas, em que dizia: “Quem faz quadras populares comunga a alma do povo”. Curiosamente é também em 1934 que Pessoa compõe quase todas as quadras que hoje lhe conhecemos.


Teria Ferro, tão empenhado na cultura de índole popular, incentivado o amigo a retomar um projecto dos primeiros tempos: um livro de quadras com o título de Cantares? Mas em Fevereiro de 1935 algo acontece que fará de Pessoa um feroz detractor do Estado Novo e de Salazar: um projecto-lei para proibir as associações secretas, visando sobretudo a Maçonaria, contra o qual Pessoa se insurge violentamente na imprensa e a sessão de distribuição dos prémios do Secretariado de Propaganda Nacional em que Salazar discursa sobre a necessidade de impor aos intelectuais portugueses certas “directrizes”. Nos meses que lhe restaram de vida, nove, Pessoa vai aplicar-se a denunciar o Estado Novo e Salazar, um “seminarista da contabilidade”, “aldeão letrado”, “tiraninho” que nem vinho bebia..., como escreveu, em prosa e em verso. Redigiu uma longa carta ao Presidente da República a pedir o afastamento do Presidente do Conselho por incompetência para o cargo (apontava as razões) e outros textos, até em francês, para denunciar o ditador além-fronteiras.


Estou certa de que se Pessoa tivesse durado mais, Salazar teria durado menos.


Leia AQUI o texto completo.

 
05 – António Ferro: Nota biográfica,
por Mafalda Ferro.


Filho de António Joaquim Ferro, natural do concelho de Beja, freguesia de Baleizão e de Maria Helena Tavares Afonso Ferro, natural de Tavira, António Joaquim Tavares Afonso Ferro nasce a 17 de Agosto de 1895 na Rua da Madalena, n.º 237, em Lisboa, terceiro filho de uma família de comerciantes.


Entra para o Liceu Camões (1911) e conhece Mário de Sá-Carneiro que no mesmo ano termina o liceu. Esta amizade leva-o ao convívio com Fernando Pessoa, Alfredo Guisado, Almada Negreiros e com muitos dos modernistas da época.
Integra o grupo do «Orpheu» com quem reúne amiúde em sua casa nos Anjos, na Brasileira do Rossio e no restaurante “Irmãos Unidos” pertencente ao pai de Alfredo Guisado.


Publica Missal de Trovas, o seu primeiro livro (1912), com Augusto Cunha, seu grande amigo e futuro cunhado. Ao longo dos anos, escreve e publica peças de teatro, novelas, poesia, crónicas, reportagens, entrevistas, argumentos para filmes e para bailados.


Em 1915, a convite de Pessoa, aceita ser editor dos dois números da revista «Orpheu».


Inicia o curso de Direito na Universidade de Lisboa (1913) que frequenta até ao quinto ano (1918), ao lado de Augusto Cunha e Azeredo Perdigão, seus grandes amigos e nesse mesmo ano faz a recruta em Penafiel, partindo em Novembro para
Luanda como Oficial Miliciano sendo promovido primeiro a Ajudante-de-campo do Governador-geral Filomeno da Câmara e, depois, a Secretário-geral do governo da província de Angola (1918/1919).


Conhece Fernanda de Castro (1921) com quem casa no ano seguinte. O casal tem dois filhos, António Gabriel de Castro e Quadros Ferro (1923/1993) e Fernando Manuel de Castro e Quadros Ferro (1927/2004).


Funda o «Teatro Novo» com a colaboração de Leitão de Barros e de José Pacheco (1925).


Com 25 anos (1920), inicia a sua carreira de jornalista internacional; c
omo enviado especial do «Diário de Notícias», até 1932, viaja por diversos países da Europa, nomeadamente Espanha, França, Áustria, Itália, Roménia, Turquia, entrevistando grandes nomes do panorama artístico, literário e politico; participa no III Congresso Internacional da Crítica Dramática e Musical em Bucareste (1929) e no IV Congresso em Praga (1930), organiza o V Congresso em Lisboa (1931), fundando e dirigindo o Sindicato Nacional da Crítica. Publica no «Diário de Notícias» cinco entrevistas a Salazar.

Assume a direcção do recém-criado Secretariado da Propaganda Nacional (SPN) que, a partir de 1944, passa a chamar-se Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo. Exerce o cargo durante dezasseis anos (1933/1949) criando e dirigindo inúmeras actividades culturais e ligadas ao Turismo das quais se destaca a criação de projectos pioneiros como os Prémios Literários e Artísticos, as Pousadas de Portugal, o Museu de Arte Popular, os Cinemas Ambulantes (1935) e o Teatro do Povo (1934), as Bibliotecas Ambulantes (1945), o primeiro grupo de bailado português, «Verde-Gaio» (1940), revistas como a «Panorama, Revista Portuguesa de Arte e Turismo» (1941) e a «Atlântico» (1942).
Inaugura os Salões de Arte Moderna do SPN/SNI com a intenção de apoiar sobretudo os artistas de vanguarda. Representa Portugal na assinatura do I Acordo Cultural Luso-Brasileiro (1941) e realiza exposições como a do Mundo Português (1940) e internacionais em Paris (1937), S. Francisco (1935) e Nova Iorque (1939). Inaugura em Vilar Formoso o primeiro dos postos fronteiriços de turismo (1939).


Funda o Círculo Eça de Queiroz (1940) do qual é o primeiro presidente.

Angaria os fundos e cria condições para a criação da Cinemateca Nacional (Cinemateca Portuguesa) que, integrada na estrutura do SNI, tem o objectivo de reunir, tratar e preservar o acervo produzido pelo SPN/SNI (1948).

Enceta a carreira de diplomata como Ministro Plenipotenciário em Berna (1950/1954) e em Roma (1954/1956). Escreve a sua última obra "Saudades de Mim".

É eleito "Académico Correspondente Nacional" pela Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa, em sessão realizada no dia 30 de Junho (1955). 

Em 1956, a Legação de Portugal em Roma é elevada à categoria de Embaixada. António Ferro, Embaixador de Portugal em Roma (sem ter chegado a receber as credenciais), desloca-se a Lisboa para se submeter a uma simples extracção da vesícula  e, no período pós-operatório, desenvolve uma pneumonia que lhe provoca uma crise cardíaca. Morre inesperadamente num quarto particular do Hospital de São José na madrugada do dia 11 de Novembro. Tem 61 anos.
Thomaz de Mello (Tom), Carlos Botelho, António Duarte, Bernardo Marques e Jorge Segurado foram os primeiros a transportar, aos ombros, a sua urna.

António Ferro era um empreendedor.
Gostava da família e dos amigos, de viajar e conhecer novas terras, novas gentes, de escrever e do teatro, de ter ideias e de as concretizar. Fascinado pelo talento, apaixonado por livros e pelas artes, moderna e popular, admirava e, apesar de Salazar, apoiava os seus autores.


Leia mais AQUI.

 

06 – Charles Trenet, lembrado 20 anos depois da sua morte,
por Mafalda Ferro.




A RTP Memória passou recentemente o documentário «Uma canção de Charles Trenet», vinte anos depois da sua morte (1913/2001). Apresentado e entrevistado por Henrique Mendes, o cantor cantou, claro, «La Mer».

Também em homenagem ao grande compositor e intérprete do Music-Hall Internacional, lembramos o programa de António Quadros na Emissora Nacional («Mais uma semana») que assim relatou a sua passagem por Lisboa em finais dos anos 40:

Charles Trenet, o célebre cantor francês, está em Lisboa e canta no palco do S. Luís. As suas admiradoras fiéis, as suas fanáticas, podem finalmente, vê-lo em carne e osso. E Charles Trenet soube realizar uma proeza sempre difícil: não desiludir. De facto, mostrou indiscutivelmente que sabe cantar, que sabe dizer, que sabe estar em cena, que sabe arrebatar o público, que tem «charme» e, acima de tudo, que sabe rir.


Quando Trenet se for embora, ficarão na memória de todos os que o viram, os seus cabelos loiros e revoltos, os seus gestos expressivos, os seus olhos cheios de malícia, as suas grandes gargalhadas bem-dispostas e os seus sorrisos que encerram toda a alegria de viver deste mundo. De Charles Trenet pode dizer-se, quási como frase célebre: «Chegou, viu, foi visto e venceu!».

Um reparo lhe fazemos, apenas: além das canções que todos conhecemos há muitos anos, só duas são novas. Será propositadamente, para garantir o êxito, ou será pouca variedade de repertório?

António Quadros, em documento manuscrito preservado na Fundação António Quadros.

 

07 – LIVRARIA ANTÓNIO QUADROS
Promoção do mês.


Autoria:
António Ferro.

Título: Museu de Arte Popular.

Colecção: Política do Espírito.

Edição – Lisboa: Edições SNI, 1948.

PVP (promoção): 16,00€ 
 
 
     
 
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