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Newsletter Nº 187 / 14 de Agosto de 2022
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros
ÍNDICE


01
António Ferro, dos «0» aos «20» anos [1895/1915], por Mafalda Ferro.

02 A Quinta de Palmyra de Ramon Goméz de La Serna em tradução de Joana Morais Varela. Divulgação e uma nota por Mafalda Ferro.

03 – «António Quadros, ‘Portugal, Razão e Mistério’ e a Filosofia Portuguesa», nos 99 Anos sobre o nascimento de António Quadros [1923/1993]. Exposição e Mesa Redonda, por Fundação António Quadros.

04 – Deste lado do Mar de Sesimbra, de Pedro Martins, por Mafalda Ferro.

05 – Jornadas Internacionais «Memórias do Carvão»: Memória, Património, Descarbonização. Divulgação.

06 – Livraria António Quadros, em promoção especial no mês de nascimento do seu autor: António Ferro: Ficção

 
Editorial,

por Mafalda Ferro


António Ferro [1895/1956] completa no próximo dia 17 de Agosto, 127 anos depois do seu nascimento Como é já costume neste mês, a Fundação António Quadros presta-lhe na sua newsletter uma sempre sentida e merecida homenagem.


Algumas obras sobre António Ferro



 
01 ANTÓNIO FERRO: DOS «0» AOS «20» ANOS [1895/1915], 
por Mafalda Ferro


Filho de ANTÓNIO JOAQUIM Ferro (alentejano) [1860/1953] e de HELENA EMÍLIA Tavares Afonso Ferro (algarvia) [1865/], António Joaquim Tavares Ferro, ANTÓNIO FERRO, nasceu em Lisboa, na Freguesia de Santa Justa no dia 17 de Agosto de 1895 tendo sido baptizado 
na Igreja de Santa Justa em Lisboa no dia 25 de Dezembro de 1896.

Tanto quanto se sabe, ANTÓNIO FERRO teve apenas dois irmãos (com existência provada e registada). Foram eles:

— PEDRO MANUEL Tavares Afonso Ferro [1891/1969], natural da freguesia da Sé em Lisboa, que viria a trabalhar no “Banco Lima Neto” até ao seu casamento com Natália Valente de Carvalho Ferro [1898/1963] em Julho de 1918 na Igreja de São Sebastião da Pedreira. PEDRO MANUEL e Natália conheceram-se ainda muito novos, os pais eram amigos e moravam muito perto uns dos outros. Natália e a sua irmã Ofélia eram filhas de Manuel José Ruivo de Carvalho e de Palmira Feio Valente de Carvalho.
Já casado, PEDRO MANUEL começou a trabalhar na loja do sogro e na «Metaltagus» (fábrica de alumínios) e, desde 1927, ano da morte do sogro, na loja que este possuía na Praça da Figueira. Por influência do seu irmão ANTÓNIO, viria a ocupar o cargo de 2.º Oficial do Quadro de Secretaria do Ministério do Ultramar na «Agência Geral das Colónias» em São Pedro de Alcântara. A convite do sobrinho António Quadros, foi padrinho do seu filho António Roquette Ferro.
Teresa Feio, sobrinha de Natália, lembra o seu “tio PEDRO” como alguém que vestia com elegância, usava monóculo e era um excelente dançarino mas também que, viúvo desde 1963 e reformado desde 1965, passou os últimos anos em casa da família de sua mulher, em estado de profunda depressão.

— UMBELINA RAQUEL Tavares Afonso Ferro [1893/1980] nasceu na Freguesia de Santa Justa em Lisboa e viria a casar em 1919 com Augusto Henrique Roberto da Cunha [1894/1947], conhecido familiar e literariamente por Augusto Cunha que, nascido em Lisboa na freguesia dos Anjos, era filho de Henrique Roberto da Cunha e de Carolina Teresa Galvão da Cunha.
UMBELINA e Augusto tiveram dois filhos, Maria Helena e Pedro Henrique Ferro da Cunha e, três netos Pedro Manuel, Patrícia e Filipe MacCarthy da Cunha, filhos de Pedro Henrique e de Mary Anne MacCarthy da Cunha.
Viúva desde 1947, UMBELINA RAQUEL continuou a viver até ao fim dos seus dias na casa que partilhara com o marido desde 1938 na Av. da República 91, 3.º, Lisboa, sendo visitada e acarinhada por filhos, netos, sobrinhos (António Quadros e Fernando de Castro Ferro) e sobrinhos-netos (António, Mafalda e a Rita que era sua afilhada). 


Lendo um dos primeiros textos biográficos de ANTÓNIO FERRO [Prólogo, sem data], deparei com um que despertou a minha curiosidade:

Na minha saudade os meus primeiros anos são espectros, fantasmas que passam e cuja forma não consigo perceber. Notas soltas, detalhes que esvoaçam muito alto no meu espírito. Assim, lembro-me muito bem dos meus cabelos que reproduzidos no espelho eram o meu orgulho. Como eu tenho saudades dos meus caracóis… nesta época de calvos de que em breve serei um. Toda a minha infância, toda a minha ingenuidade, toda a minha saúde estavam naqueles caracóis. Hoje que eles me abandonaram, estou quase calvo. Dos meus primeiros anos, só me recordo da minha cabeleira E DO MEU IRMÃO MANUEL QUE MORREU.


Perante isto, tenho tentado perceber se este MANUEL tinha mesmo existido e, em caso afirmativo, durante quanto tempo. Até hoje, apenas encontrei uma referência possível:

HELENA EMÍLIA tinha uma tia, Umbelina Rachel Liso de Sant'Anna Tavares, casada com o escritor Pedro Manuel Tavares, coronel reformado, morador na Rua Palmira n.º 11, 2.º Esq. cujo jazigo no cemitério do Alto de S. João foi deixado a sua mulher e, por esta, na data da sua morte, 25 de Abril de 1921, a seus sobrinhos. O título deste jazigo inclui uma lista de entrada de familiares transladados de outros locais ou enterrados a partir de 1914 nos quais está referida a entrada de um “MANOEL” falecido no dia 2 de Abril de 1898 [FAQ/07/00397], quando ANTÓNIO FERRO tinha quase 3 anos. Seria este o irmão por ele mencionado? Não foi encontrada uma data de nascimento. Terá nascido morto? 
Apenas sabemos que não foi baptizado pois ao seu nome não foram acrescentados quaisquer apelidos.

Conforme descrição por ANTÓNIO FERRO, seu pai ANTÓNIO JOAQUIM, nascido em Baleizão onde andara de pé descalço pelas charnecas, era uma pessoa simples, bondosa, de poucas palavras e sorrisos, que vivia recolhido na sua alma fazendo o bem que podia sem exibição.


Tinha a religião do trabalho que ele cumpria religiosamente das 8 às 7 da tarde, sem um desfalecimento, sem uma hesitação. De vez em quando, sentia-se na obrigação de falar alto com os filhos mas estes sabiam que essas palavras não lhe vinham do coração. Não sei se gostava mais da minha mãe. A verdade, porém, é que sempre me senti mais parecido com o meu pai […]. Amigo e orgulhoso dos filhos, tinha, porém, acima de tudo, o sentimento colectivo de família e da casa onde gostaria que todos vivessem sem se aperceber, sequer, da sua tristeza e falta de conforto. Dentro deste sentimento total da família, cabia a própria loja, o seu activo e o seu passivo.
[…] A sua vida era um todo. E era através desse todo que a sua bondade se manifestava, que o seu coração batia … […]

ANTÓNIO FERRO. em “A Minha Família”, [s.d.]

 

A estima que o pai nutria pelo filho mais novo era muito forte e com ele mantinha uma relação de companheirismo pouco usual naquela época. Levava-o consigo ao cinema, a comícios republicanos e, também, a uma barbearia situada em frente de sua casa que, segundo palavras suas, era um verdadeiro centro político republicano. Aí, conheceu figuras que se viriam a revelar importantíssimas no seio da primeira República: João de Meneses, Alexandre Braga, Francisco Fernandes Costa, Heliodoro Salgado, Afonso Costa e, entre outros, António José de Almeida, futuro Presidente da República. Ouvindo-os a todos, ainda antes de os entender, ANTÓNIO FERRO começou a perceber-se da força da palavra, da palavra falada mas, também da palavra escrita e da palavra publicada. Um dia, pediu a António José de Almeida um depoimento para publicação no “República”, jornalinho da sua escola; foi essa a primeira importante entrevista de António Ferro e, talvez, o primeiro jornal em que colaborou.

A relação de ANTÓNIO FERRO com a mãe era bem diferente. Naturalmente severa, embora carinhosa, HELENA EMÍLIA é referida pelo filho como principal responsável pelo ambiente que se vivia em casa, fosse ele bom, ou mau.


Em 1898, ANTÓNIO JOAQUIM fundou com Dionísio Augusto Ferreira um estabelecimento comercial «Ferreira e Ferro» (exploração do comércio de ferragens e quinquilharias) situado na Rua da Alfândega, n.º 162, freguesia da Madalena. Por mútuo acordo, a sociedade foi dissolvida em 1906.
Vivendo então na rua da Madalena, foi aí que nasceram os dois filhos mais novos do casal (Umbelina Raquel e António) num muito alto 
3.º andar que tinha uma enorme varanda onde ANTÓNIO FERRO se refugiava, ganhando o gosto pela leitura através das obras de Júlio Verne ou de romances como “a Toutinegra do Moinho” de Emílio Richebourg e, também, pela escrita, escrevendo romances em papel almaço, romances ilustrados a lápis de cor, que distribuía em fascículos pela família.


Era uma rua familiar, uma dessas velhas ruas de Lisboa, que lembram na sua intimidade um calmo serão de aldeia, uma dessas ruas onde se falava de janela para janela, com a sala de visitas na tabacaria, o centro político no barbeiro, a mercearia ali muito perto e, à porta da carvoaria, a velhota das castanhas assadas, as saborosas castanhas. O pedaço de rua onde estava a minha casa foi o pátio de recreio da minha infância.

ANTÓNIO FERRO, em “A Minha Rua”, «O Jornal», [s.d.]

 

ANTÓNIO matriculou-se pela primeira vez num colégio que ficava mesmo em frente de sua casa e onde:
 

[...] aprendi a anoitecer a alma na leitura dos livros e no papel onde escrevo. Era um colégio para ambos os sexos. A directora do colégio era a D. Mariana, uma quarentona com bastantes saudades da sua mocidade. Diziam que tinha umas mãos bonitas, nunca dei por isso. Para mim, as suas mãos foram sempre duas palmatórias, palmatórias que eu nunca experimentei pois era daqueles que são mandados para o colégio com a recomendação de não levarem palmatoadas… Eu aprendi a ler morosamente. Divertia-me mais a alinhar soldados que a alinhar palavras… No colégio não davam nada por mim e insinuavam isso à família que ficava desconsolada, triste mas que refutava “Pois sim, ele não será inteligente mas sempre queremos ver quem tem os caracóis mais lindos…” Felizes tempos em que eu tinha caracóis para preencher os espaços vazios do meu cérebro.

ANTÓNIO FERRO, em “O Colégio”, [s.d.]


Todos dormiam quando, na madrugada de 9 para 10 de Abril de 1907, um violento incêndio ameaçou as suas vidas e destruiu o prédio onde vivia a família Ferro.
ANTÓNIO FERRO com 11 anos, bem como os seus familiares, foi forçado a abandonar a casa com pouco mais do que o pijama que vestia. Vinte anos depois, lembra o pavor que sentiu:

Milagre! Obrigado, meu Deus! A escada chegou, finalmente, ao corrimão da nossa varanda, e um bombeiro saltou… Estaríamos salvos? Não havia tempo a perder…

Em «O Notícias Ilustrado», n.º 180.


A família Ferro abrigou-se no Largo do Intendente 43, num dos espaços interiores da firma «António Joaquim Ferro & Herdeiros», loja de ferragens de ANTÓNIO JOAQUIM (que ainda hoje existe no mesmo local) e aí permaneceu até Janeiro de 1911 quando se mudou para o número 26 da Rua dos Anjos, ocupando inicialmente o primeiro andar do prédio e, em 1919, o segundo, numa casa a que gosto de chamar a Casa dos Anjos.


Entre 1910 e 1912, enquanto estudante no Colégio Francês e mais tarde, como aluno do Liceu Camões, ANTÓNIO FERRO destacou-se por diversas colaborações em comissões de festas liceais, escrevendo e dizendo poemas de sua autoria e, esporadicamente, representando e escrevendo peças teatrais.
Conheceu duas pessoas que viriam a revelar-se muito importantes na sua vida: Augusto Cunha, o seu maior amigo e com quem sua irmã viria a casar e Mário de Sá-Carneiro que seria responsável pelo seu convívio com os modernistas e com a sua integração enquanto editor no grupo e no elenco da revista «Orpheu».

Num poema que seria publicado postumamente por seu filho António esboça um auto-retrato desta época:


Um rapaz com vinte anos, olhos brilhantes, magro, com todos os sonhos ainda por viver à flor da pele…  | Sincero na sua insinceridade, no seu artifício, dizendo frases, para espantar os outros e se espantar a si próprio, como se a inteligência fosse um brinquedo que Deus lhe tivesse dado… | O seu próprio gesto inseguro, aquela audácia tímida, aquele desafio constante à sua alma reservada…

 ANTÓNIO FERRO, em "Saudades de Mim", prefácio e coordenação de António Quadros, 1957.


Em 1912, ANTÓNIO FERRO publicou com Augusto Cunha "Missal de Trovas", livro de quadras constituído por cerca de 100 quadras populares em que as das páginas pares eram de FERRO e as das ímpares eram de Cunha. A capa é de Rodriguez Castañé e as notas introdutórias, à laia de prefácios, de João de Barros, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Afonso Lopes Vieira, João Lúcio, Júlio Dantas, Alberto Osório de Castro e Augusto Gil.
Na sua nota, Pessoa escreve que “Quem faz quadras populares comunga a alma do Povo, humildemente de nós todos e portanto, dentro de si própria”.


Entre 30 de Agosto de 1912 e 4 de Setembro do mesmo ano, FERRO escreve, assinando com o pseudónimo «João Simples», “A Suspeita”, episódio dramático em um acto e quatro quadras, dedicado a seus pais.


Frequentando, desde 1913, com dois grandes amigos Augusto Cunha e Azeredo Perdigão, a então chamada Faculdade de Estudos Sociais e de Direito dirigida por Afonso Costa, FERRO abandona o curso quase no fim do 5.º ano para se dedicar a uma paixão maior: o jornalismo!

Durante os primeiros anos da sua vida de adulto, FERRO convive e corresponde-se com Sá-Carneiro, Augusto Cunha, Azeredo Perdigão, Fernando Pessoa, Alfredo Guisado, Almada Negreiros, Augusto de Castro, Augusto de Santa-Rita, João de Barros e muitos outros que recebe frequentemente na Casa dos Anjos para discutir livros e ideias até altas horas da noite como referido por Pessoa numa entrada do seu diário de 30 de Março de 1913: Das 2 e ¼ às 4 e ½ em casa de António Ferro a ouvir-lhe três peças. - Leu duas. Depois, para a Baixa com ele.


Em 1915, por sugestão de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa comunica a FERRO, à laia de convite, que o seu papel na publicação da revista «Orpheu» será o de editor. Além das relações de amizade, cumplicidade e partilha literária e artística que o ligavam ao grupo de colaboradores da revista, ele era o único que não tinha ainda atingido a maioridade (António Ferro tinha ainda 19 anos e, nessa altura, atingia-se a maioridade aos 21.)  e, segundo Alfredo Guisado, se surgisse qualquer complicação, não haveria consequências (Em «Autores», 1960).

O primeiro número é dirigido por Luís de Montalvor e Ronald de Carvalho e o segundo, por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. O custo das duas publicações é suportado pelo pai de Sá-Carneiro que, depois do seu casamento no Verão de 1915 e da posterior partida para Lourenço Marques, deixou a revista sem patrocinador e o filho em Paris, sem forma de subsistir no estilo de vida a que estava habituado.
Depois da publicação do segundo número da «Orpheu», houve um afastamento entre FERRO e Pessoa, afastamento mais tarde reatado.

No dia 13 de Setembro de 1915, Sá-Carneiro escreve a Pessoa anunciando o fim da «Orpheu».
Para grande desgosto de todos os envolvidos, o número 3 não viria a ser publicado.

No ano seguinte, num quarto de hotel em Paris, consternando todos os seus amigos, Sá-Carneiro põe termo à vida.


Reproduções de fotografias pertencentes ao acervo da Fundação António Quadros:

01 António Joaquim Ferro.

02 Helena Emília Tavares Afonso Ferro.

03 Pedro, António e Umbelina Tavares Afonso Ferro.

04 António Ferro, com um colega não identificado e Américo Nascimento. Liceu Camões, 1912.

05 António Ferro no seu quarto na Rua dos Anjos em Lisboa.

06 Pedro Ferro, 1913.

07 António Ferro, 1914.

08 Alfredo Guisado, Azeredo Perdigão e António Ferro (sentado), 1914.

09 Umbelina Ferro e Augusto Cunha, [s.d.].

10 Pedro Ferro e Natália Feio Valente Carvalho, [s.d.].

11 Augusto Cunha, Barbosa Viana e António Ferro, 1915.

12 Jazigo de Pedro Tavares no cemitério do Alto de S. João.

 
02 A QUINTA DE PALMYRA DE RAMON GOMÉZ DE LA SERNA EM TRADUÇÃO DE JOANA MORAIS VARELA. Divulgação e uma nota por Mafalda Ferro


Texto de divulgação:
Ramón Gómez de la Serna (Madrid, 1888 - Buenos Aires, 1963) foi, nas palavras de Jean-Pierre Salgas, «autor de quase cem livros, de romances e textos de um género novo, a greguería. Foi também desenhador, fotógrafo, infatigável conferencista-mala, performer, encenador de si próprio, serial biógrafo» e, acrescentamos, jornalista, radialista, cineasta.

Teve uma relação privilegiada com Portugal, entre 1915 e1928, chegando a construir um chalet - El Ventanal - no Estoril, onde viveu entre 1924 e 1926. Foi precisamente aí que finalizou "A Quinta de Palmyra" (editado em 1925), livro quase centenário, finalmente em tradução portuguesa.
«[Em] "A Quinta de Palmyra", uma autêntica "sinfonia portuguesa", como a definiu Larbaud, um romance profundamente lírico, assistimos às relações amorosas da protagonista, com um atrevido final de cariz homoerótico. Dá-se nas suas páginas lugar ao debate entre cosmopolitismo e provincianismo, entre passado e futuro [...] num espaço físico onde se cria um tempo fora do tempo [...]. e em que assistimos a uma profunda relação orgânica entre as personagens e o sitio onde habitam. Como símbolo do país "utópico" em que Ramón, sempre individualista e único, se sentiu como na própria casa, sem evitar, por vezes, a sua visão crítica.»

 

Nota, por Mafalda Ferro:

Há quem considere qualquer tradutor que domine este ou aquele idioma apto a traduzir obras literárias. No entanto, é muito raro encontrar quem, como a Joana Morais Varela, associe ao domínio de vários idiomas, os conhecimentos essenciais aos tradutores de grandes autores literárias como é o caso de Ramón de La Serna.

Deve ser muito difícil traduzir uma obra mantendo o estilo, a profundidade, a sensibilidade ou até a tristeza, o humor e a violência que cada autor coloca nas suas personagens e na sua narrativa.

Quando se lê um livro e não se pensa no tradutor, é bom sinal, significa que o seu trabalho foi bem feito.

Saliento ainda duas das excelentes traduções de Joana Morais Varela, bem diferentes uma da outra: "A Insustentável Leveza do Ser" de Milan Kundera e "O Principezinho" de Antoine de Saint-Exupéry.

Em paralelo, refiro, além das excelentes traduções por Fernanda de Castro de “Cartas a um Poeta” de Rilke ou do "Diário" de Katherine Mansfield, as traduções de António Quadros de obras de Duhamel, Maurois, Cocteau, Camus e, até, em 1963, de “Um eléctrico chamado Desejo” de Tennessee Williams, peça levada à cena no mesmo ano, dia 25 de Abril no Teatro S. Luís.


Ainda em relação a La Serna, interessa saber que a Fundação António Quadros guarda no seu arquivo histórico e podem ser consultadas:


— 29 cartas de Ramón Gómez de La Serna para António Ferro;

— 01 carta de Carmen de Burgos para Fernanda de Castro.

Carmen de Burgos [1867/1932], jornalista, escritora, tradutora, pedagoga. feminista, foi a companheira sentimental de Ramón Gómez de la Serna e, com ele, foi proprietária de «El Ventanal» no Estoril.

 

03 – «ANTÓNIO QUADROS, ‘Portugal, Razão e Mistério’ E A FILOSOFIA PORTUGUESA».
Exposição e Mesa Redonda


Celebrando os 99 anos de nascimento de António Quadros e ilustrada pela exposição (com o mesmo tema), a Mesa Redonda, promovida pela Fundação António Quadros com o apoio da Câmara Municipal de Rio Maior, da Revista «Nova «Aguia», de João Lourenço, de Ana Clara Lopes, de Paulo Montez e de David Ferreira aconteceu no passado dia 16 de Julho tendo suscitado bastante interesse e importantes participações.


A sessão iniciou com algumas palavras por Filipe Santana Dias, Presidente da Câmara de Rio Maior, e por Mafalda Ferro, Presidente da Fundação António Quadros.

Destaca-se a participação de Guilherme d’Oliveira Martins (via vídeo), de Anna Maria Moog (testemunho lido por Manuela Dâmaso), de Maurícia Teles (testemunho lido por Madalena Ferreira Jordão) e, na Mesa, de António Cândido Franco, Joaquim Domingues, Joaquim Pinto da Silva, José Almeida, Pedro Martins e Renato Epifânio (moderador).

Estiveram ainda presentes, Leonor Fragoso, Vereadora da Cultura de Rio Maior, Manuel Cândido Pimentel, Maria José Domingues, Manuel Dugos Pimentel, César Tomé, José António Barreiros, Francisco Moraes Sarmento, Daniel Gouveia, Belmiro Barata e sua mãe, Maria Emília Neves da Silva, Sónia Rebocho, Risoleta Pinto Pedro, entre outros.

Com grande pena nossa, Abel Lacerda Botelho, António Braz Teixeira e Paulo Samuel, três incontornáveis  personalidades do Movimento da Filosofia Portuguesa, contemporâneos, amigos e parceiros de António Quadros, não puderam estar presentes. É nosso desejo e seria muito importante poder contar com a sua participação na próxima Mesa Redonda a realizar pela Fundação António Quadros depois do período de Verão.

Exposição «António Quadros, ‘Portugal, Razão e Mistério’ e a Filosofia Portuguesa»

Patente: 6 de Julho a 31 de Agosto.

Local: Espaço Museológico da Biblioteca Municipal de Rio Maior / Fundação António Quadros.

Informações e marcação de visitas: mafaldaferro.faqmail.com | 965552247. Entrada Livre. 

 

04 – DESTE LADO DO MAR DE SESIMBRA DE PEDRO MARTINS,
por Mafalda Ferro.


Não deixe de ler 
Deste Lado do Mar de Sesimbra, o mais recente livro de Pedro Martins que, publicado sob a chancela da editora Zéfiro e o selo da Colecção Nova Águia, reúne vinte e cinco crónicas publicadas entre 2014 e 2016 nas páginas do jornal «Raio de Luz».

De crónica em crónica vamos visitando os autores e os livros lidos pelo autor e, também, as suas memórias que, por vezes, se cruzam e nos transportam ao convívio com personalidades da cultura portuguesa dos quais se destaca, entre muitos outros, António Telmo, António Quadros, Agostinho da Silva, Teixeira de Pascoaes, António Cândido Franco, António Ladeira, Eça de Queiroz, Herberto Hélder, Rafael Monteiro, António Reis Marques, Camilo Castelo Branco, Daniel Pires, Manuel Medeiros, Sampaio Bruno, Sebastião da Gama, Ruy Ventura, Orlando Ribeiro, Agostinho da Cruz, Carlos Aurélio, Fernando Pessoa, Álvaro Ribeiro.

O volume regista ainda o texto de uma conferência sobre Gilberto Pinhal e o seu lendário poema Alalaia.

A obra é dedicada à memória de Francisco Reis Marques, sesimbrense e amigo de António Telmo. O Prefácio é de José Pedro Francisco, autor também da imagem de capa.
O título da obra foi recolhido numa dedicatória manuscrita de Orlando Vitorino para o autor.

 
05 – JORNADAS INTERNACIONAIS "Memórias do Carvão": MEMÓRIA, PATRIMÓNIO, DESCARBONIZAÇÃO.
Memória.


A Biblioteca Municipal de Rio Maior recebeu a sessão inaugural  pública das II Jornadas Internacionais "Memórias do Carvão" - Memória, Património, Descarbonização, com a participação do Presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, Filipe Santana Dias, do vice-presidente da EICEL 1920 - Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitetónico, António Moreira, e com intervenções (online) de José Brandão, membro do HTC – História, Territórios e Comunidades, Pólo do CFE na NOVA FCSH e também da SEDPGYM, de Antonio Pizarro Losilla (online), Presidente da SEDPGYM - Sociedad Española para la Defensa del Patrimonio Geológico y Minero e de Emilio Lopez Gimeno, que será um dos membros da Comissão Científica das Jornadas.


A terminar, e num gesto simbólico, o vice-presidente da EICEL 1920, convidou o Presidente da Câmara Municipal a colocar a página WEB das Jornadas disponível ao público, em: http://memoriasdocarvao.com/pt/

As Jornadas decorrerão nos dias 18 e 19 Novembro, na Escola Superior de Desporto de Rio Maior, e pretendem criar um ambiente informal e facilitador de uma intensa troca de conhecimentos e experiências importantes para a discussão da problemática da preservação e valorização das memórias do trabalho e do património minero-industrial do carvão.

 

06 – LIVRARIA ANTÓNIO QUADROS
Promoção no mês de nascimento de António Ferro 


Autoria: António Ferro.
Título: António Ferro: Ficção.
Coordenação e Prefácio: Hugo Xavier.
Edição – Lisboa: E-Primatur, 2021.
Apoio: Fundação António Quadros.
Introdução:
Luis Leal Pinto.
PVP (promoção até 14 de Setembro): 20,00€

Hugo Xavier:
António Ferro foi provavelmente o único escritor modernista português a focar-se maioritariamente na prosa. A ficção de António Ferro está centrada exclusivamente nos anos 20 do século XX. Fundamentalmente composta por contos e novelas curtas, centra-se na figura feminina, que, para o autor, encarna a novidade da época moderna. Vamps, galãs e carrões enchem os seus contos e novelas. Um certo erotismo, muito humor na construção de personagens que se afirmam como personagens-tipo, assumindo, porém, uma irreverência inesperada, são as marcas destes textos de grande modernidade, em que cada frase é lapidada na perfeição, constituindo cada livro uma obra literária independente, por vezes com uma escrita aforística e impetuosa que projecta a mulher portuguesa para a época moderna.

Com este volume o leitor português tem, pela primeira vez, acesso a um dos grandes escritores modernistas nacionais numa faceta da sua obra pouco conhecida, mas que pode mesmo constituir-se, ao contrário das de outros contemporâneos como Pessoa, Sá-Carneiro ou Almada, como uma espécie de elo perdido da evolução da prosa ficcional portuguesa para a sua maturidade moderna. Compõem este volume: Teoria da Indiferença (1920); Leviana (1921); Batalha de Flores (1923); A Amadora dos Fenómenos (1925); duas novelas «Suicídio» e «Duelo de Morte».

O volume é enriquecido com um extratexto impresso a cores, contendo a reprodução das capas das edições originais, entre outros materiais iconográficos, feitas por alguns dos pintores e ilustradores mais importantes do primeiro modernismo: António Soares, Bernardo Marques ou Mário Eloy.

 
 
     
 
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