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Newsletter Nº 48 / Fevereiro de 2013
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros

EDITORIAL

por Mafalda Ferro


No âmbito dos 90 anos do nascimento e 20 anos da morte de António Quadros, estão a ser organizadas diversas iniciativas de grande mérito. Dando continuidade à amizade e admiração que unia os dois escritores, a Fundação António Quadros apoia o Colóquio organizado em Sesimbra, pelo Círculo António Telmo e de que aqui se dá notícia.

Também há 90 anos, em Fevereiro de 1923, cinco meses antes do nascimento de António Quadros, António Ferro, seu pai, publicava no Brasil a primeira edição de «A Idade do Jazz-Band». No âmbito desta efeméride, a Biblioteca Nacional apresenta até dia 22 de Março a exposição bibliográfica «O Livro de Jazz em Portugal - 90 anos de Swing nas Letras», uma mostra dos 80 livros que nos últimos 90 anos (1923 – 2013) se publicaram em Portugal sobre o Jazz (história, ensaio, crónica, biografia, fotografia, banda desenhada, ficção e teses académicas). As obras foram identificadas e seleccionadas por João Moreira dos Santos, historiador e divulgador do Jazz em Portugal, que felicito não só pelo sério trabalho de investigação, como pela sua interessante apresentação que quase esgotou a lotação do auditório da Biblioteca Nacional no dia 7 deste mês.

A Fundação preserva um conjunto inédito de mais de 50 cartas escritas por Agostinho da Silva a António Quadros e, ainda, um vasto número de textos, testemunho da ligação entre os dois autores. Agostinho da Silva faria ontem, dia 13 de Fevereiro, 107 anos. Em celebração da sua vida e obra, a Divisão de Museus da Câmara Municipal de Setúbal e a Associação Agostinho da Silva editaram dois CDs cuja aquisição se aconselha. Agradecemos as palavras da Associação Agostinho da Silva e felicitamos a iniciativa.

Boa Leitura.

 

CONGEMINAÇÕES: III CICLO DE ESTUDOS EM HOMENAGEM A ANTÓNIO TELMO

- POESIA, MITO E PROFESSIA -


Ao longo do ano em curso e com início já em Fevereiro, o Círculo António Telmo vai promover, na Biblioteca Municipal de Sesimbra e na Casa do Bispo (edifício histórico onde o Círculo passará a estar sedeado) a terceira edição das Congeminações – ciclo de estudos em homenagem a António Telmo.


Programa da sessão inaugural no dia 23 de Fevereiro de 2013, às 15:00:

- Lançamento da obra “História Secreta de Portugal”, de António Telmo;
- Colóquio “António Telmo, António Quadros e a História de Portugal”.


Oradores:

António Carlos Carvalho: “Mito, lenda e profecia”;
Elísio Gala: “Pôr a demanda: História Secreta de Portugal e O Horóscopo de Portugal”;
Pedro Martins: “Portugal, Razão e Mistério revisitado”.

 

FUIMUS SIMUL IN GARLANDIA

por Pedro Martins (Vice-Presidente da Direcção do Círculo António Telmo)


Durante anos, escutei a António Telmo o testemunho autêntico da uma amizade sem mácula como a que, décadas a fio, o ligou a António Quadros. A um e a outro, ou à História Secreta de Portugal, cuja reedição me ocupou nas últimas horas, e a Portugal, Razão e Mistério, obra em que, por estes dias, de novo me detenho, devo o apelo, o chamamento, a vocação. Ao dealbar a década de 90, foram eles, com a Arte de Ser Português, de Pascoaes, os meus pórticos de entrada na tradição nobre da Filosofia Portuguesa.

Não cheguei a conhecer António Quadros e tenho disso grande pena. Mas o filósofo fez-me boa companhia semanas depois de partir. Levei-o, como um bálsamo, na viagem torturante para a inspecção militar, em Coimbra, sortilégio que a estadia e o regresso haveriam de confirmar. Falo d’A Ideia de Portugal na Literatura Portuguesa dos Últimos Cem Anos, comprado numa livraria do Rossio, minutos antes do embarque em Santa Apolónia. Consoladoras, as suas páginas iluminantes ergueram o ânimo ao mancebo acabrunhado pela perspectiva do exílio marcial. Daí à descoberta aliciante do seu opus magnum, contemporânea da entrada na História Secreta, mediaram, em poucos meses, inúmeras horas de exaltação e deslumbramento.

Patriota entusiasta e didacta exemplar, António Quadros representou bem entre nós o padrão, hoje tão raro, do pensador lúcido, elegante e elevado, afirmando-se pela seriedade laboriosa, mas subtilmente criacionista, de uma obra empenhada em regenerar a pólis e o orbe.

Foi porventura António Quadros o mais lídimo pensador católico da tradição portuguesa. Deambulando, até às extremas, pelas leiras da ortodoxia, em Portugal, Razão e Mistério soube honrar com o preço alto da audácia a lição de liberdade havida dos seus antecessores – ora no poderoso magistério filosófico de Álvaro Ribeiro, ora na acção intrépida, mas segura, de um historiador como Jaime Cortesão.

Daí certa proximidade coloquial ao campo convizinho da História Secreta, ali onde a consciência da matriz cristã inscreve o eixo firme da reflexão filosofal. Que a sequente evolução de António Telmo, profundando o subconsciente hebraico da tradição lusíada pela via tripla da kabbalah, do marranismo e do maçonismo, pode bem dar o mote fecundo a uma conversa ainda e sempre inacabada, praza a Deus que o venha provar o colóquio inaugural das Congeminações 2013, que o Círculo António Telmo promove, no próximo dia 23 de Fevereiro, em Sesimbra, o lugar onde se não morre.


 

AGOSTINHO DA SILVA EM AUDIOLIVRO

por Maurícia Teles da Silva (Assembleia Geral da Associação Agostinho da Silva)


George Agostinho Baptista da Silva nasceu no Porto a 13 de Fevereiro de 1906 e morreu a 3 de abril de 1994, Domingo da Ressurreição, sendo considerado um dos pensadores mais originais e vanguardistas do século XX; desdobrou o seu talento em vários domínios como a filosofia, filologia, pedagogia, história, tradução, novelística e crítica literária, bem como na área da poesia onde deixou uma obra significativa, da qual estão por publicar muitos inéditos.
O seu aniversário foi assinalado, ontem, dia 13, à tarde, em Setúbal, na Casa Bocage, com o lançamento de um audiolivro "Agostinho da Silva, Intervenção Oral no Martinho da Arcada/Grupo de Jograis U… Tópico", apresentado por Rui Lopo. A iniciativa foi organizada pela Divisão de Museus da Câmara Municipal de Setúbal e pela Associação Agostinho da Silva.

O audiolivro é composto por dois CDs, um deles com uma intervenção oral de Agostinho da Silva realizada no Martinho da Arcada a 14 de outubro de 1988, por ocasião de um encontro alusivo ao aniversário do heterónimo pessoano Álvaro de Campos. O outro disco inclui textos de Agostinho da Silva lidos pelo Grupo de Jograis U…Tópico.



A Associação Agostinho da Silva felicita a Fundação António Quadros pelo seu quarto ano de excelentes iniciativas em prol da cultura e divulgação da obra de António Quadros, especialmente "Nos 90 anos do seu nascimento e 20 anos da sua morte" e considerando a admiração mútua que existiu entre os Pensadores, saúda as comemorações!

 

ANTÓNIO FERRO, PIONEIRO DA REPRESENTAÇÃO DO JAZZ NA LITERATURA NACIONAL

por João Moreira dos Santos


Há precisamente 90 anos, em Fevereiro de 1923, António Ferro via publicado o livro A Idade do Jazz-Band e, através dele, fixava pela primeira vez na literatura portuguesa os ritmos sincopados que o fim da Primeira Guerra Mundial trouxera à Europa.

De França – o centro nevrálgico do Jazz no velho continente – a Portugal, foi um caminho breve pelo que no início dos anos 20 a Lisboa boémia já conhecia razoavelmente bem os novos sons e tons que os transatlânticos transportavam da América do Norte.

A excentricidade, a novidade e a originalidade deste género musical – levado por músicos negros aos cabarets instalados nos antigos palácios aristocráticos – não passaram despercebidos a António Ferro nem aos demais modernistas europeus da época, mais interessados no seu simbolismo do que na sua expressão concreta em palco.

Foi neste contexto que surgiu A Idade do Jazz-Band, inicialmente um texto de suporte às várias conferências que Ferro realizou no Brasil entre 1922 e 1923, país aonde se deslocara a convite dos actores Erico Braga e Lucília Simões. De facto, não sendo um livro sobre o Jazz em si, esta é, porém, uma obra que o aborda como metáfora, como fenómeno que, qual banda sonora de uma época, mimetiza as novas dinâmicas de uma nova era que resultara da primeira grande contenda bélica contemporânea: “O jazz-band, a encarnado e negro, a todas as cores, é o relógio que melhor dá as horas de hoje, as horas que passam a dançar, horas fox-trotadas, nervosas… No jazz-band, como num écran, cabem todas as imagens da vida moderna”.

Sequioso de viver o futuro no presente de uma Europa ainda à sombra de um passado alicerçado em não raras tradições culturais e sociais anacrónicas, Ferro antevê o Jazz como um género de trombeta anunciadora de maior liberdade. Apelida-o, por isso – a esse “jazz-band, frenético, diabólico, destrambelhado e ardente” – de “fornalha da nova humanidade”. E escreve: “O jazz-band é o triunfo da dissonância, é a loucura instituída em juízo universal, essa caluniada loucura que é a única renovação possível do velho mundo… Ser louco é ser livre, é ser como a inteligência não sabe, mas como a alma quer”.

Ferro percebeu também em parte a expressão musical do Jazz daquela época: “O triunfo do jazz-band depende, sobretudo, dos executantes que têm de ser negros no corpo ou na alma… (…) O jazz-band é brutal como um amante severo, meigo e triste como companheira submissa… É autoritário como um marido déspota, lânguido e amoroso como uma mulher obediente… O jazz-band é homem no “cláxon”, nos assobios e no bombo, e mulher nas cordas gemedoras dos “banjos”. O jazz-band é, portanto, toda a natureza humana!”.

Em 1928, quando da sua deslocação aos Estados Unidos da América para visitar as comunidades portuguesas, Ferro voltou a encontrar-se com o Jazz. A sua passagem pelo Harlem ficou, aliás, bem documentada no livro Novo Mundo Mundo Novo (1930). Ei-lo, portanto, na Nova Iorque do “frenesi dos jazz-bands”, súbito frequentador do Cotton Club e do Small’s Paradise. Ei-lo, enfim, frente ao verdadeiro Jazz: “Sabem a sensação que eu tenho diante deste Jazz? A mesma do homem que está habituado a ver a África através das plantas de estufa e que se encontra, de repente, em plena floresta tropical. O Jazz negro, encarcerado num «dancing» de Paris ou de Berlim, perde a força, perde o sabor, como as águas minerais engarrafadas. Há que vê-lo em Nova Iorque, em pleno Harlem, há que vê-lo na sua própria terra, com as suas próprias raízes”.

É possível que Ferro tenha mesmo assistido à actuação de Ma Rainey ou até de Bessie Smith, famosas cantoras cujo físico corresponde ao por si descrito neste livro: “Agora, o número do programa é uma «singer blues», uma negra gigantesca, maciça, «blague» duma lente exagerada. Ergue os braços que nunca mais descem, antenas vitoriosas dos «blues». Canta com uma voz dramática, de funeral angustioso, uma toada nostálgica arrepiante (…). É irresistível. Choramos baixinho, só para nós, sem ninguém ver, choramos pela morte de quem não vimos nunca, pelo sofrimento de quem não conhecemos...”


Sem o saber, Ferro despedia-se ali mesmo do Jazz, género musical a que não mais voltaria publicamente.


 

FUNDAÇÃO ANTÓNIO QUADROS

Arquivo Histórico - Fundo António Quadros - Série Correspondência (parte II - D/G)


O espólio documental de António Quadros, propriedade da Fundação António Quadros, integra um acervo epistolar de enorme relevância para o estudo da sua obra literária, histórica e filosófica. Num total de quase duas mil epístolas dirigidas a António Quadros pelos maiores nomes da cultura portuguesa contemporânea, estes manuscritos englobam ainda, uma grande quantidade de missivas escritas por personalidades estrangeiras.
Continuamos hoje a publicar a lista (parte II - D/G), iniciada na newsletter anterior das personalidades que se corresponderam com António Quadros, numa contínuo intercâmbio de ideias e projectos:
Danilo Barreiros - David Mourão Ferreira - Décio Camacho - Delfim Santos - Denira Rozário - Dieter Messner - Diogo de Macedo - Domingos Carvalho da Silva - Duarte Ivo Cruz - Duiliu Zamfriesca - E. Mayone Dias - Edgar Pinto da Silva Lello - Edith Arvellos - Eduardo Guerra Carneiro - Eduardo José Brazão - Eduardo Lourenço - Eduardo Mendes de Soveral - Eduardo Quinhones - Eduína de Jesus - Egídio Álvaro - Eugénio Gonçalves da Rosa - Eugénio Lisboa - F. M. Teixeira de Matos - F. P. Almeida Langhans - F. Piteira Santos - Félix Cucurull - Fernanda Toziello - Fernando Dacosta - Fernando Ferreira de Loanda - Fernando Guimarães - Fernando J. B Martinho - Fernando Luso Soares - Fernando Namora - Fernando Pamplona - Fernando Reis - Fernando Sylvan - Ferreira de Castro - Fidelino Figueiredo - Francis Carco - Francisco da Cunha Leão - Francisco da Gama Caeiro - Francisco Fernández del Riego - Francisco Palma Dias - Frederico de Freitas - G. Fraga - G. Weber - Gabriel Sampol - Georges Agostinho da Silva - Georgina dos Santos Amazonas - Geraldo Bessa Victor - Geraldo Carvalho - Gerard Leroux - Germana Rocha - Gilbert Durand - Gilberto de Mello Kujawski - Gilberto Freyre - Gilberto Mello - Gilberto Mendonça Teles - Gisela Pereira - Gonçalo Sampaio e Mello - Gregório Salcedo Muñoz - Guilherme de Almeida…
 
 
     
 
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