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Newsletter Nº 54 / 14 Junho 2013
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros

EDITORIAL
por Mafalda Ferro


É com muita alegria que informo sobre o processo de transferência da Fundação para Rio Maior que, iniciado em Maio passado, estará terminado até ao fim do presente mês de Junho. Não posso deixar de referir e agradecer o excepcional apoio dos voluntários da Fundação e dos técnicos da Câmara Municipal de Rio Maior (CMRM), responsáveis pelo acondicionamento e transporte do espólio da Fundação atá à sua nova morada. Penso que a Fundação está a ser acolhida pelo Município de Rio Maior com a dignidade e o respeito que António Quadros, Fernanda de Castro e António Ferro merecem.

Foi recentemente publicado o Livro de Actas que reúne as comunicações e testemunhos proferidos no âmbito do Colóquio “Mário Saa: Poeta e Pensador da Razão Matemática” realizado na Universidade Católica em Janeiro de 2012. O Colóquio contou com a colaboração de diversas entidades, entre elas a Fundação António Quadros. Organizada por Manuel Cândido Pimentel e por Teresa Dugos, a obra inclui as apresentações de Américo Enes Monteiro, André Carneiro, António Braz Teixeira, Carlos Dugos, Elisabete Pereira e Filipe Themudo Barata, Jesué Pinharanda Gomes, João Rui de Sousa, Joaquim Domingues, José Carlos Pereira, Manuel Cândido Pimentel, Manuel Ferreira Patrício, Nuno Júdice e Renato Epifânio (http://cefi.fch.lisboa.ucp.pt/publicacoes-2012-2013/mario-saa-poeta-e-pensador-da-razao-matematica.html).

Gostaria de lembrar que a exposição documental e bibliográfica sobre a vida e obra de António Quadros, organizada pela Biblioteca João Paulo II da Universidade Católica Portuguesa e pela Fundação António Quadros, continua patente na supracitada Biblioteca até ao fim do mês de Junho (http://www.ucp.pt/site/custom/template/ucptplfac.asp?SSPAGEID=3266&lang=1&artigoID=9503). A exposição reúne obras de arte, bibliografia, cartas, fotografias e diários, assim como elementos associados ao culto do Espírito Santo e a diversas actividades de António Quadros realizadas nomeadamente na Fundação Calouste Gulbenkian e no IADE.

Boa leitura.
 

NOVAS INSTALAÇÕES DA FUNDAÇÃO ANTÓNIO QUADROS


No sábado, dia 13 de Julho, pelas 17h, a Fundação reabre as suas portas no novo espaço cedido pela Câmara Municipal de Rio Maior (CMRM) com uma cerimónia de inauguração na qual tomarão da palavra a Dra. Isaura Morais, presidente da CMRM, o Dr. Guilherme d’Oliveira Martins, presidente do Centro Nacional de Cultura e membro do Conselho Consultivo da Fundação António Quadros e, ainda, Mafalda Ferro, presidente da Fundação.

Nesse dia, estará patente a exposição “António Quadros-vida e obra” e as obras da Livraria da Fundação serão vendidas a preços mais acessíveis..

A entrada é livre mas, desde já, se convida todos os amigos, voluntários, colaboradores e órgãos sociais da Fundação, a família e amigos de António Quadros, Fernanda de Castro e António Ferro, assim como os Munícipes de Rio Maior.

O convite será enviado brevemente.
 

ANTÓNIO QUADROS
por Guilherme d’Oliveira Martins


Se estivesse entre nós, António Quadros (1923-1993) faria noventa anos no próximo dia 14 de Julho. Em boa hora, a Fundação que tem o seu nome, organizou com a Universidade Católica um importante seminário dedicado à sua obra e ao legado que nos deixou. E se desejamos manter presente a sua memória, devemos regressar à sua escrita e à sua reflexão – lembrando-nos, por todos, de «Memórias das Origens – Saudades do Futuro» (Europa-América, s.d., 1992), dedicado a Afonso Botelho, Ariano Suassuna e Lima de Freitas. Velho amigo do Centro Nacional de Cultura, não o esquecemos.

ESPÍRITO ABERTO E LIVRE. - António Quadros era um espírito aberto e livre que conhecia muito bem as raízes da cultura portuguesa e que pensou Portugal a partir da modernidade e das relações desta com a tradição. Para ele, não havia contradição entre o caminho histórico português e o desejo de olhar o futuro como um desafio de transformação. Nesse sentido, foi original na sua atitude, fiel ao gesto inconformista de seu pai, António Ferro, no «Orpheu», mas também capaz de compreender a multifacetada e heterogénea atitude de Fernando Pessoa, inclassificável e indomável. É, por isso, impossível encerrar António Quadros numa leitura retrospetiva da sua obra. Antes de tudo, era uma pessoa atenta à realidade que o cercava, capaz de compreender, como poucos, a filosofia da existência, assumida por Karl Jaspers e Gabriel Marcel, e o modo de ser «homo viator», como podemos encontrar com nitidez em «Histórias do Tempo de Deus» (1965). Quem conheceu António Quadros sabe bem a singularidade da sua atitude – de um homem de verdadeiro diálogo, nunca encerrado sobre qualquer posição de superioridade ou de certeza. E se, para entendermos o pensamento, precisamos de conhecer os pensadores, a verdade é que o humanismo e a proximidade eram características que o tornavam alguém para quem o ato de pensar tinha a ver com a necessidade de nos compreendermos e aproximar-nos mutuamente. A dúvida foi sempre uma leal conselheira para Quadros na demanda da verdade – já que considerava que à categoria tradicional do ser tornava-se necessário acrescentar a categoria do estar (ou do existir), donde decorria que a verdade deveria ser entendida com algo que englobava, que abarcava, que integrava, ou seja, uma simbiose do testemunho pessoal e existencial, em que a transcendência tinha de partir da dignidade humana. Nesse sentido se demarcou de uma posição transpersonalista, para assumir a força da eminente dignidade da pessoa. «Não reconheço verdadeiramente adversários em minha volta (disse um dia), porque de todos me sinto irmão na origem da minha atividade, na geratriz da minha energia ao serviço de uma causa». E não podemos esquecer a invocação do Quinto Império de Vieira e de Pessoa, como império da cultura e do espírito, a realizar quando se unirem, o que o poeta chamava o lado direito e o lado esquerdo da sabedoria. O lado direito é o do conhecimento do transcendente e do místico e o lado esquerdo o da ciência, da filosofia, da experiência e da razão. A criação do futuro haveria de resultar dessa ligação e dessa complementaridade.

E PORTUGAL? COMO O TRATAMOS? - «Desde muito cedo me choquei com a maneira como os portugueses falam de Portugal». Numa entrevista ao «Diário de Notícias», a Antónia da Sousa (11.3.93), fala-nos dessa sensação estranha que lhe causava o derrotismo fatalista. «Uma maneira constantemente depreciativa. Confundiam os aspetos materiais com os aspetos espirituais. Então, acho que essas pessoas (que são de todos os géneros, no meio intelectual e não só) não dão uma chance a Portugal. Põem Portugal no banco dos réus e condenam-no». Se é verdade que hoje a crise é mais sentida, o certo é que somos levados a ir além das simplificações. Não meias-tintas, temos mesmo de responder, sob pena de perdermos. «A minha mola psicológica (dizia António Quadros) é tentar ajudar a criar um outro estado de espírito, em que as pessoas possam entender melhor a razão de ser de Portugal e aquilo em que Portugal é grande e desconhecido». Fora de uma mitificação da identidade (no sentido da mumificação), o que estaria em causa era o entendimento de que «a identidade portuguesa não é (…) qualquer coisa estática, mas qualquer coisa a construir». E aqui sentimos o criacionismo de Leonardo Coimbra. Daí a preocupação do ensaísta em reunir ideias e pensadores que animaram e contribuíram para a afirmação do país – como Fernão Lopes, o Padre António Vieira, os homens da Renascença Portuguesa, alguns do «Orpheu», como Fernando Pessoa… E Quadros, um dos animadores do jornal «57», ao lado doutros discípulos de José Marinho e Álvaro Ribeiro, foi-se preocupando em alargar horizontes e esferas de reflexão. À ciclotimia portuguesa, haveria que saber contrapor o estímulo e a resposta de Arnold Toynbee, que nos levou a ir além dos limites, perante os exigentes desafios da provação e da subalternidade. E assim pudemos ir superando: mediocridade, irrelevância e periferia – ontem como hoje. Portugal precisaria, isso sim, de pensar por si próprio. «Portugal, quanto a mim (costumava dizer), nasceu para realizar uma obra de sentido universal e nós temos de estar à altura dessa exigência». E aqui seguia as pisadas de Camões, de Vieira ou de Pessoa, refletindo sobre a complexa relação entre o mito e a profecia. Afinal, a previsão científica em História é, segundo pensava, mais problemática que a profecia. Esta parte de uma crença e a ciência pode partir de um erro. Nunca a História ou o historicismo conseguiram fazer previsões ou leis, embora tal tenha sido tentado várias vezes. Afinal, os mitos e as profecias, mesmo que postos em dúvida, constituem o imaginário de um povo – sem o qual a identidade não existe.

O PROBLEMA MODERNO. - «O grande problema moderno não é, quanto a mim (alertava António Quadros), um problema económico, é um problema de valores e há uma riqueza de valores em suspensão em toda a cultura portuguesa». Os acontecimentos recentes demonstram-no à evidência. E a verdade é que o pensador nunca desistiu da tarefa fundamental de «desentranhar esses valores», fazendo-os trazer para a luz do dia. O que deveria ser construído, o império do futuro, não seria uma pura quimera, deveria ser algo a criar com o nosso pensamento e esforço. Trata-se de um «mundo de valores que nos pertence a nós criar». Um país antigo apenas pode persistir com vontade e determinação. E, por isso mesmo, o pensador deixou-nos (na linha do que sempre defendeu) um apelo de esperança: «acreditem em Portugal, porque Portugal está no mais fundo de cada um de nós e sem Portugal sereis menos do que sois».
 

COLÓQUIO "ANTÓNIO QUADROS, 20 ANOS DEPOIS"

organizado pelo Círculo António Telmo

No âmbito de Congeminações 2013 | III Ciclo de Estudos em homenagem a António Telmo - Poesia, Mito e Profecia, irá decorrer o Colóquio António Quadros, 20 Anos Depois.

Data/hora: 29 de Junho, 10:30.
Local: Casa do Bispo, Sesimbra.

Programa completo em http://circuloantoniotelmo.wordpress.com/2013/06/13/29-de-junho-em-sesimbra-recordar-antonio-quadros-na-casa-do-bispo/
 

IN MEMORIAM DE ANTÓNIO QUADROS
por Maurícia da Conceição Teles da Silva

A Associação Agostinho da Silva e o Convento Sonho coadjuvaram a homenagem ao Pensador e Escritor António Quadros nos “90 anos do seu Nascimento e 20 anos da sua morte”, numa celebração In Memoriam, integrada na 23ª Festa do Espírito Santo, na Arrábida, no passado dia 19 de Maio de 2013.

Foi também a 19 de Maio de 1991, no dia de Pentecostes, que António Quadros nos congratulou com a sua presença, iniciando, com Agostinho da Silva, o ciclo do Culto do Divino Espírito Santo, na Arrábida.

Afirmou Agostinho da Silva, acerca das Trovas para o Menino Imperador, de António Quadros, dedicadas pelo autor à celebração do Pentecostes, e adoptadas no ritual de Coroação das Crianças: “poema extraordinário, marcado a um tempo pela atenção ao Povo de Portugal e pela compreensão do que há de fundamental em sua cultura, em seu Amor da Terra e do Céu, e do Menino, como símbolo da perfeição que pode atingir em ambos seus campos, se realizou, íamos dizendo, a Festa do Espírito Santo na Serra da Arrábida, Festa que foi de todo Portugal no século XIII, reinado de Dom Dinis e Santa Isabel, festa não apenas comemorativa, o que já seria muito, mas prospectiva e programática, o que é o supremo do pensamento e da acção [...]. Creio que o da Arrábida foi o ressurgir dele, a Grande Festa Portuguesa, o seu ressurgir para o País e para o Mundo” .
Nesse dia, as proféticas palavras do Professor António Quadros, ecoaram, iluminando a Gruta, na Serra, aberta ao mar e ao céu: “O grande significado do episódio de Pentecostes do Evangelho de S. João é precisamente esta mensagem de Fraternidade entre todos os povos, todas as raças, todas as nações, entre todas as religiões, quando todos os homens começam a entender-se uns aos outros” [...].
E alertou-nos, qual vate antevendo aquilo que é hoje o presente:

“Porque não vai ser fácil, porque penso que aos Portugueses está reservada uma grande missão. Porquê? Porque aquilo que se desenha num futuro próximo é realmente haver focos de grande desenvolvimento económico, nomeadamente a Europa vai ser uma espécie de bunker de desenvolvimento económico, a Europa, a América, o Japão, mas rodeados de povos cada vez mais dolorosos, cada vez mais famélicos, cada vez mais pobres. Esse é o futuro que podemos prever a médio prazo, e precisamente os portugueses, com a sua tradição antiga de convívio, de fraternidade racial, de convívio inter-civilizacional, penso que vão ter ainda uma palavra a dizer para quebrar este isolamento orgulhoso dos europeus” [...].

Há 20 anos, após a morte de António Quadros, o Convento Sonho com Agostinho da Silva, prestou-lhe homenagem, tal como em anos posteriores, no Dia de Pentecostes, a gratidão a Grandes Portugueses que devolveram a memória ancestral, a um tempo futuro onde dealba a Esperança e a Paz, prenúncio de um mundo que se inicia no lídimo âmago do Ser, enquanto via de realização ampliada a outros seres.

Este é o fundamento do encontro nesta Serra, como lugar de união na diversidade que caracteriza a génese da cultura portuguesa, tradição alicerçada na heterogeneidade como possibilidade de síntese num ser transnacional, e por isso, universal (uno que integra o diverso); neste lugar de confluência de povos, pela viabilidade do entendimento e reconhecimento de identidade que aspira à liberdade de todo o Ser.

 
 
     
 
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