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Fundação António Quadros
Biografia Imprimir e-mail

 Autores 
Biografia
1923 - 1927
1928 - 1939
1940 -1950
1950 - 1960
1960 - 1970
1970 - 1980
1980 - 1993
1994 - 2009

1951
No dia 24 de Janeiro, o nascimento do seu primeiro seu filho, o quarto António Ferro, desperta em toda a  família uma alegria incomensurável.  

Funda com Orlando Vitorino, a partir de uma ideia onde também colaboram os escultores António Duarte e Martins Correia, os fascículos de cultura Acto, que defendem a originalidade de uma filosofia portuguesa, autónoma e diferenciada.

Em entrevista ao Diário Popular (3.10.51), justifica a um jornalista a oportunidade da Acto: «…Estou firmemente convencido de que, cansado de tanta mistificação literária, o público culto português anseia por algo de novo, de diferente.»

Os custos são inteiramente suportados pelos directores, pelo que a revista terá apenas dois números – uma experiência breve, sem dúvida, mas que viria a constituir a primeira manifestação de uma geração de discípulos da «Filosofia Portuguesa», defensora da existência de uma substância filosófica original e genuinamente lusa.

1952
Publica Viagem Desconhecida, com o subtítulo de Itinerário Poético 1950 – 1952, com ilustrações de Martins Correia, onde inclui alguns dos seus melhores sonetos.

1953
Colabora nos Serviços da Campanha Nacional de Educação de Adultos (1953), prossegue e desenvolve a sua acção e a sua obra, sedimentando os princípios da filosofia portuguesa que tanto o empolgam e mobilizam, embora acolhidos com cepticismo e ironia por numerosos opositores.  

Nesta altura, é já uma presença constante na imprensa, em especial na página cultural do Diário de Notícias, dirigida à data, pela poetisa Natércia Freire.

Revela-se, igualmente, insigne conferencista, e é permanentemente solicitado para proferir palestras sobre os mais variados temas ligados à cultura portuguesa, em particular os relacionados com o sistema da educação universitária, que já constituíra questão central na revista Acto, e que, na geração anterior, tanto preocupara os seus mestres Álvaro Ribeiro e Delfim Santos.

Em Dezembro, nasce a primeira filha, Mafalda, com quem, sem precisar de palavras, manterá toda a vida uma forte ligação de amizade e cumplicidade.

1955
Em 1955, seis meses depois do nascimento da filha mais nova, empreende com a mulher uma grata viagem que, no álbum onde regista surpresas e emoções, intitula A Itália em 30 dias. O roteiro é seu: Lisboa, Hendaia, Génova, Milão, Veneza, Roma, Siena, Florença, Pisa.

Veneza fascina-o: «A mais maravilhosa de todas as cidades italianas, excedendo todas as expectativas e ainda mais sonho do que todos os sonhos.»

António Ferro, então colocado em Roma, é o seu cicerone em Itália, mas as atenções que lhe merecem o cargo de embaixador, estendem-se ao filho e à  nora, impedindo o casal de cumprir algumas rotas. Desolado, António Quadros, pouco dado a formalismos, lastima: «Por causa de um almoço maçadoríssimo não pudémos ir a Capri. Roemo-nos de desespero!»

Em Castel Gandolfo, o casal vê Sua Santidade o Papa Pio XII e escuta a sua mensagem.

Em Roma, jantam num restaurante onde avistam a imperatriz Soraya, a quem são apresentados no dia seguinte numa recepção em sua honra, oferecida pelo Embaixador do Irão. Jovens e curiosos, misturam-se com a vida social da cidade: vão a dancings, a teatros, a passagens de modelos e a espectáculos dos mais variados. A sua chegada a Roma coincide com uma grande festa oferecida por António Carvalho e Silva, figura da alta sociedade de Cascais, à qual comparece o rei Humberto de Itália. Numa gazeta mundana, os romanos referem-se a Cascais como «A Costa dos Reis».

Visita ainda o Museu dos Uffizi, em Florença, que considera o melhor do Mundo e onde pode apreciar, duma assentada, os artistas italianos Leonardo da Vinci, Botticelli, Rafael, Miguel Ângelo, Bellini, Tintoretto e ainda Rubens, Durer, Van Dyck, etc. Abandona o museu asfixiado por tanta beleza. Nas notas de viagem, lamenta não ter realizado um sonho: conhecer Assis e a Basílica de S. Francisco, para ver, com os próprios olhos, os famosos frescos de Giotto; realizá-lo-á mais tarde, também na companhia da mulher.

1956
Publica o livro de ensaios A Angústia do Nosso Tempo e a Crise da Universidade, onde, meditando na desproporção entre a magra e descarnada cultura com que a Faculdade de Letras tinha contribuído para a miha formação espiritual, e a cultura criadora e viva que me fora dado encontrar fora do âmbito universitário, procura contribuir, através do seu depoimento de antigo aluno, para a reforma da universidade e da educação em geral.

Durante os anos 50 escreve várias peças de teatro, que ficarão inéditas, até hoje, algumas directamente em francês, como Vivre Notre Mort.

Em Agosto é, como todos, apanhado de surpresa pela súbita morte do pai que, então, colocado em Roma, se desloca a Lisboa por causa de um problema de saúde sem importância, acabando por morrer.  

1957
Em 1957, é  condecorado com a Ordem Britânica da rainha Vitória.  

Durante o mês de Maio, o casal comparece a um baile da Universidade de Coimbra e conhece Dorival Caymmi que pouco tempo depois, lhe dá o gosto de cantar em sua casa, na companhia de Doris Monteiro.  

No mesmo ano realiza, no Centro de Estudos Político-Sociais da União Nacional, uma conferência, posteriormente publicada, intitulada Problemática Concreta da Cultura Portuguesa.  

No ano do centenário do nascimento de Sampaio Bruno, pensador com quem muito se identifica, toma a iniciativa de lançar, juntamente com Afonso Botelho e Orlando Vitorino, o «Movimento de Cultura Portuguesa», fundando e dirigindo o jornal 57 (1957-1962). Aqui, com maior amplitude, profundidade e continuidade do que se fizera na revista Acto, cinco anos antes, procurou-se dar pública expressão e desenvolvimento às teses da filosofia portuguesa.  

1958
Prossegue a sua obra de crítico, de ensaísta, de pensador e de escritor multifacetado, dando sucessivamente à estampa um ensaio de psicologia e psicografia da cidade de Lisboa, O Enigma de Lisboa e, um ensaio de interpretação filosófica da estética contemporânea, Diagnose da Arte Moderna.

1959
Edita uma colectânea de ensaios de crítica literária A Existência Literária.

Publica na Revista Tempo Presente, o ensaio “Filosofia e Sentimento – Gnoseologia do Amor”

1960
A convite de Fernando Namora, publica na Arcádia o primeiro estudo sobre a obra de Fernando Pessoa, amigo de seu pai, visita de sua casa e figura cujo mistério o irá intrigar, prender e convocar durante o resto da vida. Poucos dias antes de morrer, confessará a Antónia de Sousa (Diário de Notícias, 11.3.93): «Para eu dar o essencial de Fernando Pessoa, tenho de dar o essencial de mim. Às vezes, chego a pensar que o Fernando Pessoa é uma presença de que não me posso livrar.»

Publica um livro de contos de matriz simbolista – Anjo Branco, Anjo Negro – Contos Fabulosos e Alegóricos. No prefácio, o autor esclarece: «São contos que procuram sondar, nas situações-limite do amor e da morte, da consciência e da loucura, da vigília e do sonho, da contemplação e da acção, algo de uma estrutura original dos homens para além do seu recorte no quotidiano, algo que mergulhe raízes no insondável de antigos mitos ou de uma memória arcaica, distante e todavia presente no seu comportamento actual (…).» Um destes contos, «A Filha do Poeta», que narra a história de uma jovem que herda o espólio literário do pai, revestir-se-á de particular significado para uma das suas filhas, a Mafalda que chamará a si os espólios da família para, durante mais de 15 anos, os preservar, reunir, tratar e disponibilizar a todos os estudiosos.