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Fundação António Quadros
Biografia Imprimir e-mail

 Autores 
Biografia
1923 - 1927
1928 - 1939
1940 -1950
1950 - 1960
1960 - 1970
1970 - 1980
1980 - 1993
1994 - 2009

1981
Publica Fernando Pessoa, Vida, Personalidade e Génio – A Obra e o Homem, pelo que recebe (juntamente com os escritores Lídia Jorge e Vasco da Graça Moura) o prémio do Município de Lisboa, na categoria de ensaio.

Decide reformar-se do seu cargo na Fundação Gulbenkian e dedicar-se mais intensamente à sua obra, mantendo no entanto a sua actividade de director no IADE e docente no IADE e na Universidade Católica.

A 9 de Outubro, com a morte de Álvaro Ribeiro, acentua-se a irregularidade dos convívios do grupo inicial da «Filosofia Portuguesa».

Publica Memórias das Origens, Saudades do Futuro – Valores, Mitos, Arquétipos, Ideias, capa com arranjo gráfico sobre a pintura de Margarida Cepêda “Barcas do Pensanmento”.  

1982
A partir dos anos 80, estabilizado o novo regime e consolidadas as suas instituições políticas, regressa, decididamente, aos seus temas especulativos fundamentais, cujo núcleo problemático se inscreve nos domínios da Filosofia da História, do Símbolo e do Mito, e, assim, vai escrevendo e publicando Introdução à Filosofia da História – Mito, História e Filosofia da História no Pensamento Europeu e no Pensamento Português e, ainda Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista, em dois volumes.  

No IADE, leva a efeito diversos ciclos de palestras, cujas comunicações entrega prioritariamente a companheiros de grupo e a novos aderentes.

1983
Marques Gastão publica Diálogos com Escritores e Artistas Portugueses, onde reproduz (10 páginas) uma entrevista que fez a António Quadros.

Em Abril e Novembro nascem-lhe mais dois netos, completamente diferentes, vir-se-iam a revelar amigos para toda a vida.

O Salvador muito moreno, de discurso fácil e rápido, extrovertido, conquista pela sua alegria e sentido de humor. Muito perspicaz e atento, apercebe-se dos sentimentos alheios e, com um sorriso, ajuda quem dele precisa.

O António (enfim um novo António Ferro!), observa, ouve, estuda, analisa e fala apenas quando é essencial. Será um estudioso da vida do avô e tomará o nome de António Quadros Ferro, nome com que, em 2009, publica o seu primeiro livro Um Pouco de Morte.   

Por ocasião do 25º aniversário da fundação da Editorial Verbo, participa num ciclo de conferências subordinadas a tema Que Cultura em Portugal nos próximos 25 Anos? organizadas para decorrer ao longo de 1983. As apresentações dos conferencistas foram compiladas numa obra, com o mesmo título, publicada em 1984.  

1984
No ano lectivo de 1984/1985, são criados no IADE dois novos cursos: o de «Design de Moda» e, o de «Técnicos de Publicidade». Este último, a partir de 1987 chamar-se-á «Curso de Marketing e Publicidade» e terá uma extraordinária procura por parte do público estudantil e, juntamente com o «Curso de Design», com opções de especialização em design visual, industrial e de interiores, recebe em 1990 o grau de bacharelato.

1985
Organiza e escreve a introdução e as notas dos três livros de bolso, da obra poética e em prosa de Mário de Sá Carneiro.

Na noite de 13 para 14 de Agosto, participa num acontecimento inédito – «A Vigília de Armas em Aljubarrota» –, evento simbólico organizado nos campos da Batalha pelos poetas Palma-Dias e Paulo Borges e o pintor José Ralha. Juntamente com Orlando Vitorino promove, no final, um vivo debate que tem como ponto de partida, o movimento da Filosofia Portuguesa.

Em Novembro, participa, em São Paulo, no I Colóquio Luso-Brasileiro de Estudos Pessoanos. Visita Embu, com Soares Amora, João Alves das Neves, Teresa Rita Lopes e João Gaspar Simões, entre outros. Não só em Embu mas, também, na Faculdade Federal Fluminense, em Niterói, realiza numerosas conferências sobre Fernando Pessoa apoiadas pela Biblioteca Nacional e pela Fundação Cultural Brasil-Portugal, Visita ainda São Salvador da Baía, que provoca nele uma forte ressonância interior e onde participa na procissão do Senhor dos Navegantes, assiste a um espectáculo de «capoeira» e passa uma tarde trocando ideias com o escritor Jorge Amado, em sua casa.  

É ainda na Baía, numa rua que deixou fotografada, que conhece uma figura que o impressiona fortemente: «O célebre Frei Elyseu, que leu na minha alma e no meu futuro, através de um sistema que desenvolve há 52 anos. Homem extraordinário, que fez sozinho o extraordinário museu do convento, de arte sacra e pedras preciosas.» Desloca-se ainda a Fortaleza, no Ceará, onde realiza a conferência «Fernando Pessoa, um Poeta-Profeta-Alquimista do Verbo na Cultura Portuguesa do Século XX». No Recife, fica instalado «num excelente hotel frente à praia» e é recebido com uma calorosa saudação no Diário de Pernambuco. É aqui que conhece e trava relações de amizade e correspondência com o escritor brasileiro Ariano Suassuna, em cuja fotografia anota: «Amigo, irmão…» Suassuna e a mulher apresentam-no ao singular escultor Franago Brénard, cujo museu, instalado na velha fábrica de seu pai, o maravilha.

Conhece ainda Olinda, «uma cidade tradicional portuguesa a dois passos do Recife, onde desembarcaram os primeiros povoadores», e deixa-se encantar pela cidade. Aqui, janta num restaurante chamado l’Atelier, em cujo cartão regista: «O restaurante onde melhor comi no Brasil». Visita ainda a Bahia e testemunha o culto ao Senhor do Bonfim, a maior devoção da cidade.  

Publica na, sob o tema: Estudos sobre “Fernando Pessoa no Brasil”, o texto “Fernando Pessoa, Poeta, Profeta e Alquimista do Verbo”, no âmbito do cinquentenário da morte do poeta.

O Instituto Amaro da Costa publica, A Obra de Leonardo Coimbra no Contexto Cultural da sua Época numa separata do livro Leonardo Coimbra Filósofo do Real e do Ideal.

A Direcção-Geral da Comunicação Social publica, na colecção «Breviários de Cultura», A Ideia da Liberdade no Pensamento Português, Edições Terra Livre. Com selecção e prefácio de Romeu de Meloesta obra constitui uma antologia de textos dos maiores pensadores portugueses, entre os quais, António Quadros.

1986
No início do ano, organiza a Poética de Fernando Pessoa, em sete volumes, para a Editora Europa-America, em formato de livros de bolso.

Escreve Portugal, Razão e Mistério (1986-1987), «in memoriam de Álvaro Ribeiro, ao mestre, ao sábio e ao amigo», o primeiro livro de uma trilogia cume e síntese da sua hermenéutica do Portugal mais profundo, essencial e secreto, onde desenvolve um conceito de «patriosofia», isto é, do conhecimento da Pátria, que é genuinamente seu. O livro sustenta-se semanas consecutivas nos tops de vendas portuguesas.

Participa com grande gosto pessoal numa conferência sobre os painéis de Nuno Gonçalves (dos quais possuía uma réplica em miniatura), outra das suas fontes de mistério e deslumbramento, na capela do Espírito Santo, no Paço de Sintra. Segundo ele, estes painéis, que constituiriam o políptico da Religião de Avis, estariam relacionados com a Festa da Coroação do Imperador do Espírito Santo, que se realizava naquela Capela. A tese, integralmente fundamentada, empolga a assistência.

Na Universidade Católica Portuguesa, colabora com o 2º Curso de Verão para estudantes luso-americanos, ao longo de 3 sessões a que dá o nome: «A Cultura Portuguesa: Projecto Universal e Dificuldades Históricas».

Ocupa, com Francisco da Cunha Leão e Abel Lacerda Botelho (Presidente), o cargo de titular do Conselho de Administração da Fundação Lusíada.

Em Fevereiro, participa no III Encontro Internacional de Tomar sobre «O Imaginário e o Esoterismo Europeu e o Imaginário da Cultura Portuguesa». Aqui, o escritor faz uma deslumbrante comunicação intitulada «Em demanda de Prestes João».

Em Maio, em Roma, a dimensão teatral da obra de Fernando Pessoa é o tema central de um encontro internacional sobre o poeta português, com o título genérico de «Longitude Pessoa», onde António Quadros, acompanhado por António Tabucchi, Jacinto Prado Coelho e João Gaspar Simões, presta novo e decisivo contributo para o conhecimento internacional do Poeta.   

Em Setembro do mesmo ano, publica no Jornal de Letras um extenso artigo sobre Agostinho da Silva, a quem chama «Profeta do Terceiro Milénio», dissertando sobre o seu carisma.

Em Novembro, volta ao Brasil para dar o seu curso de cultura e filosofia portuguesa e uma prelecção sobre Miguel Torga na Universidade Gama Filho, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Faz conferências também em Brasília, na Embaixada de Portugal, e, ainda, no Rio de Janeiro na Academia Brasileira de Letras e na Fundação Brasil-Portugal. As iniciativas são noticiadas em toda a imprensa brasileira, e é entrevistado pela escritora portuguesa Leonor Xavier, então jornalista do Mundo Português.

É aqui que recebe um convite inesperado, por parte do coronel Carlos Freitas, marido de uma sua aluna do curso de filosofia portuguesa: a visita ao 1º Batalhão de Engenharia de Combate, localizada no antigo palácio de D. João VI, depois convento de Jesuítas e finalmente palácio de D. Pedro I, imperador do Brasil. É recebido com honras militares e uma escola de samba local desfila em sua homenagem. Nesse mesmo dia, escreve à mãe: «Tratam-me aqui com uma importância que nunca senti em Portugal.»

Durante a viagem, conhece a biblioteca da Universidade Gama Filho e visita o Rio de Janeiro com mais atenção do que nunca. Aproveita a ocasião para se encontrar com o seu irmão Fernando, então radicado no Brasil e rever a sua cunhada Dominique e os seus sobrinhos Vicente e Stephanie, que muito estima.

No próprio dia da sua chegada do Brasil, profere uma conferência na Universidade Católica em memória de Leonardo Coimbra, que considera um dos mais importantes pensadores modernos, no 50º aniversário da sua morte: «Leonardo Coimbra, Mestre dos Mestres».  

No dia 4 de Dezembro, participa na conferência inaugural do III Congresso de Turismo, em Guimarães, com uma palestra sobre «O impacto do Turismo na Sociedade Portuguesa». Acompanha-o o Eng.º Álvaro Roquette, primo direito de sua mulher, que ocupa, à data, o cargo de Director-Geral do Turismo.

Ainda neste mês, profere no Palácio de Sintra uma conferência sobre uma das temáticas que mais o interessam e constituem matéria recorrente das suas investigações: «A Coroação do Menino Imperador do Espírito Santo», uma grande tradição pentecostal portuguesa ainda viva no Penedo, perto de Sintra, em Tomar, nos Açores e no Brasil, expressa popularmente através de uma festa criada por D. Dinis e D. Isabel, em fins do século XIII.

Organiza e selecciona os textos e, escreve a introdução e as notas dos três volumes de Obras de Fernando Pessoa, em papel bíblia.

1987
Na sequência da Obra Poética de Fernando Pessoa, publicada no ano anterior, a convite das publicações Europa-América, publica os 10 volumes da Obra em Prosa de Fernando Pessoa – Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas, no mesmo formato. A respeito desta obra, explica: «É um Fernando Pessoa humano, profundamente humano, em sua vida, paixão e morte, que se nos desvela nesta colectânea diarística epistolográfica e autobiográfica.»

Sobre Pessoa, o escritor esclarece que tem sido «muito menos um investigador do que um intérprete ou um pensador interessado no que ela apresenta em si própria e no contexto da cultura portuguesa». O seu estudo da obra de Fernando Pessoa representa, durante toda a sua vida, um trabalho insano, «quer pelos manuscritos de Fernando Pessoa oferecerem grandes dificuldades de leituras quer porque houve por vezes escolhas que fragmentam textos já de si fragmentários ou critérios de ordenação que podem e devem ser revistos no futuro». As palavras são suas.

A Revista de Documentación Cientifica de la Cultura, Anthropos, editada em Barcelona, publica um artigo de António Quadros, “Fernando Pessoa, Recriador de Mitos”.

No Instituto D. João de Castro, colabora com os professores Almerindo Lessa e Martim de Albuquerque e Luís Forjaz Trigueiros, Jesué Pinharanda Gomes, Henrique Barrilaro Ruas, João Bigotte Chorão, e ainda com Mestre Lima de Freitas, num fulcral colóquio com o tema «Cumprir Portugal» que constitui uma valorosa meditação sobre a identidade portuguesa.

Colabora com a revista Democracia e Liberdade da qual publica uma separata com A Filosofia de Bruno À Geração do 57, seguido de O Brasil Mental Revisitado e, ainda, Algumas Reflexões sobre a Deontologia da Comunicação Social.

Em Maio, faz um balanço do percurso do IADE na revista Dimensão; é um longo artigo que relembra os seus fundamentos pedagógicos face ao novo desafio da então chamada CEE. Em nota divulgada à imprensa, a sua proposta, enquanto director do IADE, é a de «responder ao desafio formando profissionais de nível em áreas fundamentais, mas profissionais, a que não faltem uma formação universalista, humanística, europeia, a par de uma consciência das nossas raízes portuguesas».

Para continuar a sua campanha de sensibilização junto das empresas e industriais portugueses, o IADE, sempre dirigido por António Quadros, cria o DIP, um departamento de integração profissional que coloca e orienta profissionalmente cerca de metade dos seus alunos, que concorrem, a concursos e prestam diversas colaborações às indústrias nacionais. O objectivo é colocá-los perante casos concretos do quotidiano empresarial. António Roquette Ferro, seu filho, virá, com um êxito assinalável, a dirigir e a dinamizar este departamento.  

Neste aspecto, António Quadros não só enfrenta a ameaça do Mercado Comum como a desafia: «Fazemos com que a distância entre as condições já existentes nos países ricos da C.E.E. seja um desafio estimulante, obrigando-nos a um enorme esforço de modernização. Tal o sentido que se procura dar à formação de designers no IADE, privilegiando, para além da metodologia e da preparação básica, o design de interiores, o design gráfico, o design industrial e bem assim o design de moda. Se em todos estes campos o IADE foi pioneiro, ou em absoluto, ou na orientação dada, se o IADE tem feito todos os possíveis, através do seu Departamento de Integração Profissional, para aproximar cada vez mais a Escola da Indústria, através de Concursos, Seminários, Visitas, Estágios, etc., urge também que, quer o Estado quer as Indústrias, se aproximem das Escolas, compreendendo que é nelas que poderão basear-se o desenvolvimento económico almejado e a resposta duradoura e rápida ao desafio da CEE.» E faz lembrar o seu pai, ao concluir: «É para a Vitória que o IADE trabalha - com os seus próprios recursos e apoiando-se unicamente no prestígio adquirido, na procura crescente dos alunos, na sua iniciativa, e na capacidade e empenhamento de todos quantos no Instituto trabalham, ensinam e estudam. É na vitória e só na vitória que apostamos – na certeza de ser à juventude, se bem preparada, estimulada e apoiada, que caberá construir o Portugal de amanhã.»

O Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa de Lisboa, em colaboração com o Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, leva a efeito, nas instalações da Universidade Católica Portuguesa, umas jornadas de estudo e reflexão sobre «Os Meios de Comunicação Social e a Promoção da Justiça e da Paz», para os quais António Quadros presta um relevante contributo.

Publica o II volume de Portugal, Razão e Mistério, e compila elementos para o 3º volume, que chega a iniciar, deixando-o todavia incompleto. Pinharanda Gomes (Diário do Minho, 20.5.1987) classifica esta obra de António Quadros como «O mais elucidado exercício especulativo sobre a História de Portugal».  

Para assinalar o encerramento das comemorações dos 80 anos do nascimento de Delfim Santos, profere, na Escola Delfim Santos, uma palestra sobre a vida e obra daquele que foi, além de grande amigo, o seu primeiro mestre de filosofia.   

Em Setembro, nasce João Ulrich, o seu neto mais novo. Com este neto, com a sua distracção, inteligência e capacidade de introspecção, identifica-se de uma forma especial. Vive em êxtase com as suas capacidades e com as suas conversas de pequeno adulto.    

A 24 de Outubro, na igreja do histórico Mosteiro do Espinheiro, efectua-se uma cerimónia inédita na cidade de Évora: a investidura de 14 novos cavaleiros Templários. Fundada em 1118 por nove cavaleiros franceses e criada no local onde existiu o templo de Salomão, em Jerusalém, destinava-se esta Ordem a proteger os peregrinos e a defender os Lugares Santos da Palestina. Por esta ocasião, o escritor profere, no Monte do Borraseiro, propriedade do casal Maria do Carmo e Luís Gonzalez, uma apaixonante conferência subordinada ao tema «A Ordem dos Templários e o Quinto Império».

Ainda em Outubro, inaugura a biblioteca João Paulo II na Universidade Católica, e profere uma conferência sobre Eça no Círculo Eça de Queiroz.

A revista Nova Renascença promove no Porto, entre 12 a 19 de Dezembro, as comemorações do 75º Aniversário do movimento Renascença Portuguesa. A mesa-redonda com o tema «A Renascença Portuguesa e a Nova Renascença», encerrou um ciclo de conferências na Fundação Eng.º António de Almeida. Os oradores foram, além de António Quadros, o professor Agostinho da Silva, José Augusto Seabra, António Braz Teixeira e Alfredo Ribeiro dos Santos.

Na sequência da inauguração do 1º Curso de Design de Moda, o IADE inicia os seus «Acontecimentos da Moda», eventos difíceis de ignorar pela sua competência e efeito. Esta iniciativa repetir-se-á todos anos vindouros, com o desfile de modelos profissionais apresentando as colecções dos finalistas. O acontecimento tinha lugar em alguns dos mais belos espaços de Lisboa: do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, o Planetário, o Convento do Beato e o Palácio Quintela, sede cultural do IADE.

Criativo, sociável e dinamizador como o avô, o seu filho António Roquette Ferro, revela-se um grande apoio e companheiro nas lides do IADE. A sua importante participação na realização e promoção de eventos públicos, contribuiu eficazmente para o prestígio crescente da imagem do Instituto.

Com a presença do ministro da Educação, Eng.º Roberto Carneiro, e de outras altas individualidades ligadas às artes e às letras, inaugura-se no IADE uma exposição de design industrial.  

É Comissário da organização das comemorações do centenário de Fernando Pessoa, do Município de Lisboa.

1988
No dia 21 de Janeiro quando entrevistado por Fernando Dacosta (O Jornal, 21.1.1988), confessa a sua lástima pela submissão dos portugueses ao pensamento estrangeiro: «Houve, a seguir ao Ultimatum, e mesmo à implantação da República, um movimento fortíssimo de escritores, e escritores democratas, que procuraram fomentar valores genuinamente portugueses. Impressiona-nos não ver um movimento desses. Há pessoas isoladas que tentam fazer umas coisas, só que os complexos, os medos de se ser nacionalista são muito fortes, muito inibidores. Vejam-se as obras que vão saindo entre nós no campo do pensamento: não citam nenhum autor português, nem na bibliografia, nem nos rodapés, nada, ninguém é merecedor de ser referido, só estrangeiros, é como se não existisse em Portugal ninguém capaz de pensar.» E quando Dacosta, provocando-o, lhe pergunta se existe um pensamento português próprio, emociona-se: «Basta termos uma língua própria para termos um pensamento próprio. A língua está para o pensamento como a potência para o acto. Se possuímos uma língua riquíssima, antiquíssima, podemos ter igualmente um pensamento rico, como temos uma poesia, uma literatura. Criámos conceitos francamente originais… era mais importante para os estudiosos portugueses dedicarem-se a eles do que integrarem-se, como faz a maioria, em escolas francesas ou alemãs. Dá-me muita pena ver desperdiçar um capital, a língua, que é o nosso maior património.»

No dia 2 de Março, durante o encerramento da exposição de pintura da Madre Teresa Saldanha, por ocasião do 150º aniversário do seu nascimento, profere, na Fundação Gulbenkian, a palestra «Romantismo e Misticismo na Pintura de Teresa Saldanha»

O seu amor às artes plásticas, desde os seus primórdios como crítico, nunca é esquecido ou estagnado. Escreve frequentes críticas sobre pintores, sobretudo a artistas portugueses. O arquitecto Raul Lino, e os pintores Lima de Freitas, Margarida Cepêda, Espiga Pinto e Felippa Lobato, entre outros, são alguns dos nomes cujo imaginário e simbolismo procurou decifrar.

Em Maio, faz parte júri que vota para eleger o grande prémio de romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores. O prémio é atribuído a Vergílio Ferreira, pelo seu livro Até ao Fim.

Coordena o projecto da publicação de cinco volumes que representam a primeira série de uma colecção de traduções em chinês de obras de autores portugueses a ser iniciada em Pequim. Esta iniciativa realiza-se no âmbito de um acordo de cooperação entre a Fundação Calouste Gulbenkian e o Instituto de Literatura Estrangeira da Academia das Ciências Sociais da China. Os primeiros autores traduzidos são Luís de Camões, Alexandre Herculano, Camilode Oliveira, Carlos Malheiro Dias e Eça de Queirós.  

Comparece a um colóquio no Funchal sobre filosofia portuguesa, acompanhado por dois dos seus grandes amigos e correligionários: António Braz Teixeira e Orlando Vitorino.

Em Junho, passa uma semana em Paris a fim de comparecer, no Palácio da Unesco, à comemoração do centenário do nascimento de Fernando Pessoa; por esta ocasião, toma chá em casa de Maria Helena Vieira da Silva e escuta, da sua boca, a seguinte revelação: «O seu pai foi o primeiro que escreveu sobre mim.» Com efeito, vem a descobrir, na Ilustração Portuguesa (nº 833, II série), um desenho da artista, assinado LENA, acompanhado de um profético artigo de seu pai: «Lena é uma artista de 13 anos que revela nos seus primeiros desenhos admiráveis qualidades de movimento e de ritmo. (…) Quem desenha assim, aos 13 anos, não deve deixar de trabalhar.»  

Em Agosto, quando deflagra o incêndio que destrói o Chiado, o escritor é chamado pelo jornal O Século a dar o seu testemunho. O seu tom é de sentido pesar: «Lisboa é tão vulnerável! É parte da alma de homens como Eça e Pessoa que fica destruída. São capítulos bastante importantes da vida cultural de Lisboa e do país consumidos numa catástrofe que nunca mais pode ser reparada.»

Logo a seguir, parte para Friburgo, na Suíça, para participar num colóquio sobre filosofia portuguesa. É um velho cavalo de batalha, para o qual já desafia as novas gerações: «Mas não desanimemos, porque a filosofia portuguesa, em seu labor modesto mas persistente, é uma poderosa energia intelectual na cultura viandante, que é a nossa, e o pensamento criacionista tem a longo prazo poder sobre a realidade social e humana. Perdem-se batalhas no terreno da cultura, mas novas gerações de pensadores aí estão e estarão a recolher o testemunho para o levar mais longe. A ideia não tem pressa» (Memórias das Origens, Saudades do Futuro (1981).

Colabora na fundação da revista de filosofia portuguesa Leonardo. Na sessão de lançamento, insiste: «Não é possível o progresso em Portugal sem o primado do pensamento, da razão, da filosofia.»  

A convite do professor Perfecto Quadrado, parte para Palma de Maiorca para participar no colóquio «Fernando Pessoa na Universidade das Ilhas Baleares em Palma», aproveitando para visitar todos os lugares alusivos à memória do filósofo e místico Raimundo Lullio. Desloca~se ainda a Valdemosa, para conhecer a casa onde, entre 1838 e 1839, Georges Sand, convalescente de tuberculose, passa alguns meses na companhia de Chopin.  

No Forum Picoas, participa no terceiro debate realizado no âmbito da Semana Cultural da Associação Portuguesa de Escritores. No mesmo local, por ocasião lançamento de «Portugal em Conversa de Génios», livro de selos dos CTT sobre Amadeo de Sousa-Cardoso e Fernando Pessoa, especula sobre um possível diálogo entre o pintor e o poeta.

Guilherme d’Oliveira Martins apela, num artigo grato a toda a família, no Diário de Notícias, à necessidade de salvar «a casa histórica da Calçada dos Caetanos», onde o seu avô viveu e António Quadros cresceu, terminando nestes termos: «A Velha Casa merece a nossa luta - pela vida dos que lá fizeram pedaços marcantes da nossa história colectiva».  O artigo teve efeito imediato, e a Câmara de Lisboa, passado não muito tempo, inicia importantes obras de restauro no número 7 da Rua João Pereira da Rosa, antiga Calçada dos Caetanos.

Viaja até  São Paulo, Brasil, com a sua mulher, para participar no 4º Congresso Internacional dos Estudos Pessoanos, onde, juntamente com José Saramago, Joel Serrão, David Mourão-Ferreira, Óscar Lopes e José Augusto Seabra, apresenta uma importante comunicação. É igualmente convidado a proferir conferências na Universidade Gama Filho, na Casa da Cultura «Laura Alvim», na Universidade de Campinas e na Universidade Católica de Petrópolis. Aí, assiste a uma singular exposição de tapeçaria e porcelana dedicadas a Fernando Pessoa. O casal é recebido por Ana Maria Moog Rodrigues, com quem inicia grande amizade.

Depois de Petrópolis, a convite de Amélia e Vicente Barreto, o casal passa um fim de semana no seu maravilhoso e inesquecível Vale da Boa Esperança.   

Escreve O Primeiro Modernismo Português – Vanguarda e Tradição.

Organiza e selecciona os textos, escreve a introdução e notas reunindo em dois volumes, a Obra Poética e em Prosa de Camilo Pessanha.

Publica um ensaio intitulado “Introdução à Teoria da Identidade Portuguesa”, no livro A Identidade Portuguesa – Cumprir Portugal., Cadernos Políticos 2.

1989
Publica A Ideia de Portugal na Literatura Portuguesa dos Últimos 100 Anos, volume inaugural das edições da Fundação Lusíada, de cujo Conselho de Administração, faz parte desde o seu início. Na obra, aborda «os temas fundamentais do devir mental português, no cruzamento da história das ideias com a história da literatura».

No mesmo ano, dedicado à memória de José Marinho, e ainda a Agostinho da Silva, a Dalila Pereira da Costa e a Ariano Suassuna, publica Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista.

Organizado pela Ala Juvenil da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, decorre um ciclo de conferências dedicadas à divulgação e ao estudo do pensamento português, na convicção de que a autonomia do pensamento constitui suporte essencial à independência nacionalista. Assim, profere no Salão Nobre do Palácio da Independência, no largo de São Domingos, uma conferência intitulada «Autonomia Mental e Autonomia Nacional ou o Problema da Filosofia Portuguesa e a Universalidade do Pensamento».

Lê um original de Rita Ferro, sua filha mais nova, e dá-lhe os primeiros conselhos literários.

Publica numa separata de O Pensamento Filosófico de Leonardo Coimbra, uma exposição intitulada Mestre dos Mestres ou do Magistério de Leonardo Coimbra ao Magistério dos discípulos.

Cinquenta alunos da «Institucion Artes Decorativas de Madrid y Barcelona», deslocam-se a Portugal com o objectivo de visitar o IADE.

Antes do colóquio pessoano de Nova Orleães, passa oito dias em Nova Iorque com o casal Lima de Freitas. Ali, visita o Metropolitan Museum, assistindo a diversos espectáculos de jazz e peças da Broadway.

No dia 6 de Novembro, António Quadros, faz uma palestra sobre a vida e obra do Prof. Delfim Santos, encerrando as comemorações do seu octogésimo nascimento.  

Publica Delfim Santos – Introdução à Vida e à Obra, em Vertentes da Filosofia, Reflexão 44.

Publica em Nacionalismo e Patriotismo na Sociedade Portuguesa Actual, o “Ensaio sobre a Independência Portuguesa como Fundamento da Independência Nacional – Societarismo, Paisanismo, Nacionalismo, Patriotismo e Estatismo”.

1990
É nomeado Presidente da Comissão Nacional para o Ano Internacional da Alfabetização e representante do Ministério da Educação para a Década Mundial do Desenvolvimento Cultural.

Nos meses de Junho e Julho, participa no Colóquio Tobias Barreto e num seminário sobre filosofias nacionais, promovido pelo Instituto Interdisciplinar de História das Ideias da Universidade Nova de Lisboa.

Nos mesmos meses, publica Introdução à Estrutura do Universo Camiliano em «O Tripeiro» (nºs 6 e 7).  

Está  presente no lançamento do romance de estreia de sua filha Rita Ferro, O Nó na Garganta.

Por ocasião do octogésimo aniversário do nascimento do Prof. Delfim Santos, realizou-se um ciclo de conferências nas quais António Quadros foi orador. O Centro Cultural Delfim Santos, Os conteúdos foram publicados na obra Delfim Santos. António Quadros escreveu “Delfim Santos – Introdução à vida e à obra”.

Organiza e selecciona os textos, escreve a introdução e notas de Mensagem e Poemas Afins, de Fernando Pessoa

1991
No dia 14 de Outubro, comparece ao colóquio Anteriano de Ponta Delgada e, através de uns «poemetos» escritos a propósito, revela conservar intactos, o seu espírito e o seu humor, bem como uma certa aversão às chumbadas académicas:

Coitado do pobre Antero,

Desnudado, analisado,

Não já  o corpo, seu espírito,

Dissecado, autopsiado.


Matou-se, mas era livre,

Liberdade era o seu bem,

Agora sua alma triste,

Já  nem liberdade tem.


O que não disse, ele disse,

O que escreveu não pensou,

O que disse ele desdisse,

O que pensou não amou.


Coitado do pobre Antero!

Quero vê-lo, mas não posso…

Roubámos-lhe a liberdade,

Já  não é dele, é só  nosso.  

Organiza e selecciona os textos, escreve a introdução e notas da Obra Poética Completa de Mário de Sá Carneiro e escreve ainda Trovas para o Menino Imperador no Dia de Pentecostes, dedicando-as a Agostinho da Silva, a João Carlos Raposo Nunes, poeta de Setúbal, e ainda «a todos os irmãos dos Impérios do Espírito Santo nos Açores, Continente, Brasil e E.U.A.», elucidando os leitores sobre as festas da «Coroação», únicas no mundo e só realizadas em espaços de origem lusíada: «Não as vejamos como formas de folclore. São herança nossa. Um testemunho recebido, a cumprir e a transmitir. Festas proféticas de uma Idade de Amor e de Fraternidade Universais».  

Entre 16 e 20 de Setembro, em Recife e em Salvador (Brasil), participa no colóquio Antero de Quental, no qual apresenta a comunicação «Antero de Quental, do Poeta-Filósofo ao Poeta-Religioso – A Questa, a Odisseia, a Peregrinação», posteriormente publicada pela Faculdade de Filosofia (Braga, 1991) e pela Universidade dos Açores (Ponta Delgada, 1993).

1992
Organiza e selecciona os textos, escreve a introdução e notas de Cartas Escolhidas, de Mário de Sá Carneiro.

Regressa à  criação ficcional, agora com um romance inspirado nos tristes últimos dias da existência do filósofo Sampaio Bruno: Uma Frescura de Asas, livro de certo modo premonitório da sua própria morte e que termina assim: «Tento em vão abrir os olhos. Há como que uma fina volúpia neste estonteamento, nesta nebulosidade. Batem à porta. Quem está aí? Sinto uma mão que, subtil, pousa no meu ombro. Escuto uma voz com uma inflexão recôndita e meiga. Conheço-a. Um frémito, uma aragem, uma vaga claridade. Alguém me disse um dia: vem, João. Outrem me solicita, agora: vem. É uma voz interior ou exterior? Há uma sombra morna e doce, há um perfumoso afago de cabelos inefáveis. Há uma frescura de asas. Há uma vaporosa, ondulosa coluna que me leva consigo, condescendente nos flutuantes movimentos do meu corpo. Vou.»

Este livro é escrito já no final da sua vida, na casa que comprara anos antes em Vale de Óbidos no Concelho de Rio Maior, o «Pomar de Santo António». Aí passa gratos períodos escrevendo e convivendo com a família, os netos, os amigos. Esta casa é actualmente a sede oficial da Fundação António Quadros, criada em Janeiro de 2009, por sua filha Mafalda Ferro.

É aqui também que esboça, já quase cego, as primeiras páginas do seu último romance inconcluso: A Paixão de Fernando P., inspirado no amor de Fernando Pessoa por Ofélia.  

Em Julho, integra o grupo de 24 fundadores do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, para cuja direcção é, mais tarde, eleito vogal. Desse grupo fazem parte Miguel Reale, António Paim, Francisco da Gama Caeiro, José  Esteves Pereira, Afonso Botelho, António Braz Teixeira, Pinharanda Gomes, Paul Mercadante, Ana Maria Moog Rodrigues, Constança Marcondes César, Eduardo Abranches de Soveral, Alexandre Fradique Morujão, e outros.

Já gravemente doente, publica Estruturas Simbólicas do Imaginário na Literatura Portuguesa, dedicado a Gilbert Durand, «que soube discernir e amar alguns dos valores mais profundos da literatura e da arte portuguesas. Oferece um exemplar à sua filha, Mafalda escrevendo “à sua querida filha Mafalda, pilar de força e de alegria da família, com muitos beijos do autor deste livro, quer dizer, do seu pai”.

Alma naturalmente generosa, espírito profundamente tolerante, personalidade aberta ao mundo e às mais diversas expressões culturais, António Quadros, embora radicalmente centrado em Portugal, seu pensamento e sua cultura, revela durante toda a sua vida, um permanente interesse e atenção por todas as culturas estrangeiras, em especial por aquelas que maiores afinidades espirituais apresentavam com as da sua pátria, como inequivocamente o testemunham os seus livros.

Para além do inesgotável valor intrínseco da sua vasta obra de pensador, ensaísta, crítico, poeta, ficcionista, são possivelmente, estes traços do seu carácter profundamente humano que explicam os testemunhos de reconhecimento de que foi alvo, em Portugal e no Brasil, nos últimos anos da sua vida.

De assinalar também a sua significativa actividade como tradutor de Georges Duhamel, André Maurois, Jean Cocteau e Albert Camus, menos conhecida do grande público.  

O casal Quadros Ferro vive sempre entre Lisboa e Cascais; primeiro, na Avenida Guerra Junqueiro, em Lisboa, anos depois, na Rua Afonso Sanches, em Cascais, voltando a Lisboa, mudam-se para o nº 7 da Rua João Pereira da Rosa, antiga Calçada dos Caetanos, na mesma rua onde vive a mãe. Da Rua Cecílio de Sousa, ao Príncipe Real passam de novo para Cascais, para a Rua Dr. António Dias Pinheiro, uma zona muito pacata da vila. È a sua última morada.

Já gravemente doente, nomeia seu filho António, director-geral do IADE, oferecendo-lhe parte das suas acções bem como a Madalena Jordão, amiga e colaboradora insubstituível, que virá a ocupar o cargo de directora adjunta. A sua filha Rita ocupara o cargo de professora e, sua filha Mafalda viria a integrar primeiro o Conselho Fiscal e, mais tarde, o Conselho de Administração até Dezembro de 2008, ano em que o IADE muda de proprietários.

1993
Dez dias antes de morrer, em entrevista a Antónia Sousa, (Diário de Notícias, 11.3.1993), exorta pela última vez os portugueses: «Acreditem em Portugal, porque Portugal está no mais fundo de cada um de vós e sem Portugal sereis menos do que sois.»

Quando é  hospitalizado, leva dois livros consigo, que a família não volta a localizar: Verbo Escuro, de Teixeira de Pascoaes, e Húmus, de Raul Brandão.

O Padre Vaz Pinto, capelão do Hospital da CUF, presta-lhe o último conforto espiritual, mas, a avaliar pela serenidade e confiança que aparenta, já se encontra preparado: nos últimos dias de vida, centra-se exclusivamente na família, dando-lhe uma lição de verdadeira dignidade no sofrimento.  

Morre, vítima de tumor cerebral, depois de receber os últimos sacramentos, com 69 anos, no dia 21 de Março de 1993, dia do início da Primavera,.

Deixa inconsoláveis, além da mãe, do irmão e da mulher, sua companheira de quase meio século, três filhos e oito netos, com quem mantém, durante toda a vida, uma deslumbrante relação de ternura, brincadeiras e conselho sábio.

Parte na «vaga negra» que vitima, no mesmo mês, Manuel da Fonseca, Rui Nogar, Alberto Franco Nogueira, Natália Correia e António José Saraiva.

O acto fúnebre tem lugar no cemitério do Alto de S. João, após a celebração da missa de corpo presente pelo mesmo padre que o casou, Pedro Gamboa, que durante o elogio fúnebre, o refere como «um homem que não tinha inimigos». Sua mãe, Fernanda de Castro, imobilizada por motivos de saúde, não pode comparecer. Mãe e filho sustentam, durante toda a vida uma amizade e cumplicidade inquebrantável. Unidos por uma forte relação afectiva e intelectual, falam-se todos os dias e são os primeiros a ler e a criticar o trabalho de cada um. O golpe que representa a morte do filho é o único que a pode aniquilar. Fernanda de Castro sobreviverá apenas um ano, depois da sua morte.

Três dias depois, na Assembleia da República, o Secretário João Salgado submete à votação dois votos de pesar pela sua morte, proferindo no primeiro:

«O escritor António Quadros, figura destacada da corrente de pensamento denominada Filosofia portuguesa, consagrou a sua vida e a sua obra a estudar e a pensar Portugal, a sua razão, o seu mistério, o seu destino. Espírito aberto e tolerante, foi um homem generoso que privilegiou o debate de ideias e mereceu o respeito de diferentes quadrantes da vida cultural portuguesa. A sua morte é uma perda de vulto para a nossa literatura e para a nossa cultura. A Assembleia da República manifesta o seu pesar pela morte do escritor António Quadros e apresenta condolências à sua família.»

E, no segundo:

«António Quadros, falecido no passado dia 21, fica como uma referência forte na corrente da filosofia portuguesa, aliando na sua vastíssima obra a dedicação à investigação, na área da cultura, com a assumida missão pedagógica e a adesão a um conceito transcendente de portugalidade. A Assembleia da República manifesta o seu respeito e admiração pelo ilustre desaparecido e apresenta pêsames à família enlutada».

Os votos de pesar foram aprovados por unanimidade, e, para se pronunciarem sobre eles, inscreveram-se os deputados Manuel Alegre (PS), Rui Carp (PSD), Adriano Moreira (CDS), Manuel Sérgio (PSN), Octávio Teixeira (PCP) e ainda  André Martins (Os Verdes).

Depois de um aplauso geral, a Câmara guardou, de pé, um minuto de silêncio.  

Ainda em 1993, é atribuído aos cursos do IADE o grau de licenciatura, pelo qual António Quadros tanto se batera nos últimos anos.  

O Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, de que foi co-fundador, publica na colecção «Razão Atlântica» uma edição dedicada à sua vida e obra. Esta edição é patrocinada pela Fundação Lusíada, com a colaboração da Guimarães Editores.