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Fundação António Quadros
Biografia Imprimir e-mail

 Autores 
Biografia
1895 - 1916
1917 - 1923
1924 - 1931
1932 - 1938
1939 - 1944
1945 - 1949
1950 - 1956
1957 - 1998

1932-1938   

A 6 de Abril, estreia no Teatro da Trindade, em Lisboa, a peça O Estandarte, de António Ferro, com um elenco de luxo: Brunilde  Júdice, Lucília Simões, Maria de Oliveira, Erico Braga, Nascimento Fernandes, Samwell Diniz, José Gamboa, José Monteiro e Joaquim Almada. A encenação é de Lucília Simões e o cenário, de Cottinelli Telmo. A peça é posteriormente levada à cena, a 20 de Maio, no Teatro Sá da Bandeira, do Porto.

A convite de Giménez Caballero, inicia, em colaboração com Ferreira de Castro, uma página portuguesa na Gaceta Literária.

Para o Diário de Notícias, realiza as cinco famosas entrevistas com Salazar, em que este expõe as linhas gerais do seu projecto político. Salazar impressiona-o como ninguém antes o impressionara. Numa entrevista, afirma: «A seriedade de Salazar, a séria seriedade de Salazar desarmou-me por completo. É que não encontrara nunca, na minha carreira de entrevistador internacional, aquela profunda simplicidade de maneiras, aquela clareza de pensamento e de forma, aquela alta objectividade no encontro da palavra justa, aquela mistura tão harmoniosa, tão perfeitamente equilibrada, de misticismo e realismo.»

Numa das entrevistas, em que apresenta o então ministro das Finanças como um «exemplo de ascetismo raro», visita-o na sua casa à Rua do Funchal e descreve-a assim: «Não seria mais simples e modesta se ele fosse um comunista praticante»  

Inspirado por uma conferência do poeta Paul Valéry com o mesmo título, publica no Diário de Notícias um artigo que, intitulado «Política do Espírito», esboça os princípios de um novo e extraordinário tipo de acção cultural, determinante para a empresa ambiciosa a que se candidatava: «Dar à vida nacional uma fachada impecável de bom gosto», introduzir-lhe beleza, alegria, orgulho e Arte, compensar, talvez, a face austera com que Salazar viria a condenar o quotidiano português. Eis alguns dos fundamentos da sua «Política do Espírito»: «O desenvolvimento premeditado, consciente, da Arte e da Literatura é tão necessário, afinal, ao progresso de uma nação como o desenvolvimento das suas ciências, das suas obras públicas, da sua indústria, do seu comercio e da sua agricultura. (…) A Política do Espírito (Paul Valéry acaba de fazer uma conferência com o mesmo título) não é apenas necessária, se bem que indispensável em tal aspecto, ao prestígio exterior da nação: é também necessária ao seu prestígio interior, à sua razão de existir. Um povo que não vê, que não lê, que não ouve, que não vibra, que não sai da sua vida material, do Deve e Haver, torna-se um povo inútil e mal-humorado. A Beleza – desde a Beleza moral à Beleza plástica - deve constituir a ambição suprema dos homens e das raças.  A literatura e a arte são os dois grandes órgãos dessa aspiração, dois órgãos que precisam de uma afinação constante, que contêm, nos seus tubos, a essência e a finalidade da Criação».

Em 1933 publica Prefácio da República Espanhola, que é o inquérito realizado em 1930 para o Diário de Notícias, em que entrevistara Miguel de Unamuno, Ortega y Gasset, Ramón de Valle-Inclán, Sánchez Guerra, Indaleccio Prieto e Marcelino Domingo, entre outros.

Com prefácio do já então chefe do Governo, publica Salazar, o Homem e a sua Obra, em que reúne as citadas entrevistas e mais alguns documentos, entre os quais o referido artigo sobre «Política do Espírito». O livro obtém um enorme êxito, sendo traduzido quase de imediato em francês, inglês e espanhol, com prefácios, respectivamente, de Paul Valéry, de Chamberlain e de Eugénio d’Ors, e ainda em italiano, polaco, concani e outras línguas.   

Ainda neste ano, aceita o convite de Salazar para dirigir um organismo novo, o Secretariado de Propaganda Nacional.  

Em 26 de Outubro de 1933, o S.P.N. inicia funções num segundo andar da Rua de S. Pedro de Alcântara, 75, onde Salazar preside ao discurso de inauguração: «Grande missão tem sobre si o Secretariado – ainda que só lhe interesse o que é nacional, porque tudo o que é nacional lhe há-de interessar.» Respondendo ao Presidente do Conselho, António Ferro promete a quem o escuta: «O nosso programa não ficará no papel! Dêem-nos confiança, dêem-nos entusiasmo, dêem-nos um crédito de seis meses e vê-lo-ão erguer-se - podem estar certos! - ideia a ideia, pedra a pedra.»

Era aqui que começaria uma obra ímpar de divulgação e prestígio do nome e das coisas portuguesas.  

Uma outra figura determinante para António Ferro é Homem Christo Filho, seu contemporâneo, cujo convívio, por vezes dissidente, terá  despertado nele o fervor expansionista e a ideia de reabilitação do nome português no estrangeiro.

Em 1934, na primeira festa de distribuição dos Prémios Literários do S.P.N. (Os prémios Eça de Queirós, Antero de Quental, Ramalho Ortigão, Alexandre Herculano e António Enes), profere um discurso em que, além de anunciar a criação de novos prémios (os prémios Afonso de Bragança, Gil Vicente, Marcos Portugal e Camões), redefine as linhas fundamentais da sua «Política de Espírito»: «Será não só a defesa material da inteligência, da literatura e da arte, e o apoio aos artistas e aos pensadores, mas também uma política que se oponha fundamental e estruturalmente à política da matéria, proclamando a independência do Espírito»

Num destes certames literários, salva o poema maior de Fernando Pessoa de uma rejeição burocrática; por não apresentar o número de páginas exigido, A Mensagem não seria admitida a concurso sem a sua interferência.  

Em 1935, convida um grupo de intelectuais estrangeiros a visitar Portugal, acompanhando-os numa digressão pelo País. Aceitam o convite Miguel de Unamuno, Pirandello, Gabriela Mistral, Maurice Maeterlink, François Mauriac, Georges Duhamel e Ramiro de Maeztu. Fernanda de Castro recebe-os um a um na gare de Santa Apolónia, oferecendo a cada uma das esposas um ramo de rosas amarelas.  

Durante a estada, António Ferro mostra-lhes os bairros antigos de Lisboa, a Estufa Fria, Sintra, Curia, Coimbra, Viana do Castelo, etc. Em Lisboa, leva-os a assistir a um torneio medieval no Mosteiro dos Jerónimos, encenado por Leitão de Barros, que encanta os convidados.   

Alguns aspectos cómicos marcam também esta visita: em Ílhavo, depois de um passeio que maravilhou os convidados, Fernand Gregh desequilibra-se e cai da ponte, desamparado, mergulhando involuntariamente na Ria de Aveiro.

A digressão é um êxito.

A «embaixada intelectual» é comentada na imprensa de todo o Mundo, e os convidados, conquistados pela nossa hospitalidade,  escrevem sobre Portugal e sobre os portugueses nos periódicos dos seus países.  

Gregh assiste às marchas populares na Avenida e considera o povo português «nada acanalhado, nada grosseiro,  naqueles cortejos e naquela turba».  

O espanhol Wenceslao Fernandez Florez apaixona-se pelo Estoril e publica um enderriçado artigo dedicado à região, publicado no Diário de Madrid: «Desde o Estoril a Cascais não encontrareis uma vivenda pobre, nem um rincão feio, nem terra sem verdura, nem ar sem aroma; nem multidões fastidiosas, nem solidão completa – nada que nos obrigue a afastar os olhos com desgosto».  

Maeterlink, prémio Nobel da literatura, em carta para o Secretário da Propaganda Nacional, qualifica generosamente Portugal como «Le plux beau pays du monde qui est devenu la plus heureuse terre de notre planete.»  

D. Miguel de Unamuno, apesar da relação de amizade que o ligará ao casal Castro-Ferro, coloca, numa edição do diário Ahora (1935), questões incómodas sobre a coerência do Estado Novo; num artigo chamado Nueva Vuelta a Portugal, afirma que mantém a sua posição de liberal, democrata e independente, e que, muito embora respeite as novidades que encontrou em Portugal, não as deseja para o seu povo.  

Este artigo causa controvérsia, dando origem a alguma polémica entre pensadores e jornalistas espanhóis.

Bem ou mal, com paixão ou reserva, a verdade é que se fala agora de Portugal em todo o Mundo.

Mas é  talvez no apoio às Artes Plásticas que António Ferro tem uma acção mais espectacular.  

A época era negra, para os artistas modernos. A Sociedade Nacional de Belas Artes não os reconhecia, valorizava ou estimulava, e pintores que hoje chamamos do primeiro e do segundo modernismo portugueses reviam-se todos neste grito de sufoco de Almada Negreiros, em 1926: «Viver, eis o que é impossível em Portugal!»

António Ferro promove os Salões de Arte Moderna, inaugurados em 1935 e que, sob sua direcção, se prolongariam até 1950, garantindo a rápida consagração a todos os Novíssimos.

Ainda este ano, realiza, no S.P.N., a I Exposição de Arte Moderna, em que os Prémios Columbano e Sousa Cardoso são atribuídos, respectivamente, a António Soares e a Mário Eloy. No banquete comemorativo deste acontecimento, a 23 de Março, na S.N.B.A., António Ferro anuncia a sua intenção de apoiar sobretudo os artistas de vanguarda. Respondendo-lhe em seu nome, Almada Negreiros começa o seu discurso, dizendo: «Mais do que com júbilo, é com grande respeito que vejo pela primeira vez na minha terra os poderes públicos ao lado da arte mais nova em Portugal.».

Mais tarde, serão criados também os Prémios Mestre Manuel Pereira, Domingos Sequeira, José Tagarro, Francisco de Holanda, Soares dos Reis, Silva Porto e Roque Gameiro.  

É editado o boletim «Portugal», distribuído com grande tiragem nos países estrangeiros.

Em 1936, é  inaugurado o Teatro do Povo, sob a direcção de Francisco Lage e Francisco Ribeiro (Ribeirinho). Este teatro, ambulante, percorrerá durante alguns anos o País, levando excelentes espectáculos de dramaturgos clássicos e contemporâneos a cidades, vilas e aldeias do interior, transformando-se mais tarde no Teatro Nacional Popular.

Em 1937, em colaboração com Antonio Lopes Ribeiro, escreve, sob o pseudónimo de Jorge Afonso, o argumento do filme A Revolução de Maio, que se estreia no Tivoli a 6 de Junho.

Comissário da Exposição de Paris, de 1937, certame de «Artes e Técnicas na Vida Moderna», reúne a famosa equipa de artistas modernos responsáveis pelo Pavilhão de Portugal, com oito salas temáticas (Estado, Realizações, Obras Públicas, Ultramar, Arte Popular, Riquezas, Ciência, Turismo) distribuídas por dois andares, projecto do Arqº Keil do Amaral: Bernardo Marques, Carlos Botelho, Tom, Estrela Faria, Fred Kradolfer, José Rocha e Manuel Lapa, entre outros.

A imprensa aclama o Pavilhão de Portugal por unanimidade, que, aliás, receberá  o Grand-Prix da Exposição, e  La Liberté, descrevendo-o como «Une leçon de sagesse», explica: «Une exemple et une leçon, a une opportunité brûlante».

Iniciam a sua actividade os Cinemas Ambulantes do S.P.N., que percorrem as vilas e aldeias do país.

Em 1938, para além da Quinzena de Londres, realiza, não vindo a ser repetido, o Concurso da Aldeia Mais Portuguesa de Portugal, cujo troféu «Galo de Prata» é atribuído a Monsanto no ano seguinte.