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Fundação António Quadros
Biografia Imprimir e-mail

 Autores 
Biografia
1900 - 1915
1915 - 1921
1922 - 1927
1928 - 1935
1936 - 1949
1950 - 1957
1957 - 1963
1964 - 1974
1975 - 1984
1985 - 1995
1995 - 1999

1964-1974
Em 1964, surpreende os seus leitores com a publicação de um livro de introdução à  Botânica, ciência que sempre a impressionou. É A Vida Maravilhosa das Plantas, por que alguns dos seus netos chegam a estudar.

Ainda este ano instala-se no Algarve, numa aprazível casa na ilha de Faro, onde recolhe a sua extraordinária colecção de conchas e abre um restaurante em Faro, adaptando um velho palácio da cidade (onde antes estava instalada uma tipografia).

Mas o Al-Faghar, que depressa ganha a reputação de ser o melhor restaurante da capital algarvia, tem também uma exposição e venda permanente de artesanato português, reunindo peças de arte popular que a própria escritora procura por todo o país.

Organiza, também neste ano, o I Festival do Algarve, que estreia no Castelo de Ofir, com um recital de poesia árabe e portuguesa (no qual tomaram parte dois príncipes marroquinos com os seus trajes de cerimónia) e com a representação da peça Tempo da Lenda das Amendoeiras, de José Carlos Ary dos Santos, com António Manuel Couto Viana, João Perry e o próprio autor (!) nos principais papéis.

Em 1965, realiza o II Festival do Algarve, promovendo a Festa da Lua e a Festa do Mar, em que tomaram parte entre outros Amália Rodrigues e o grupo de poesia João d’Ávila, incluindo Isabel Ruth, Manuela de Freitas e Lídia Franco. 

De um modo geral, as diversas manifestações destes dois Festivais do Algarve realizaram-se, além de em Silves, em Lagos, Portimão, Praia da Rocha, Armação de Pêra, Tavira, Faro e Vila Real de Santo António.

Incapaz de recusar um desafio, a poetisa aceita a proposta para fazer as decorações interiores de 40 dos primeiros bungalows de Vilamoura. A pintora Inês Guerreiro, talvez a mais querida e antiga das suas amigas, é a sua principal colaboradora, mas deram também a sua assistência uma sua sobrinha, Ana Maria Quadros, e Manuela Novais. 

Em 1966, publica o maior poema europeu consagrado ao continente negro: África Raiz, com capa de Inês Guerreiro e desenhos de Eleutério Sanches, que dedica À terra de Bolama, em cujos braços repousa minha mãe. José Carlos Ary dos Santos classifica-o como O poema do século e Ferreira de Castro escreve-lhe imediatamente, no momento em que termina a sua leitura: Ainda tenho nos ouvidos o ritmo excelso dos seus versos, nos olhos as figuras que eles evocam, a luz e a cor da terra forte, leda e mártir que eles habitam. É um poema extraordinário, o seu. Que força expressional e consecutiva, que fôlego sem desfalecimento, que altura sem vertigens, que beleza sem interrupções! Você tem a vontade dos vinte anos, o ímpeto já consciente dos trinta e a mestria que se adquire depois…

Em 1969, com a energia que nunca a abandona, publica duma assentada um romance de aventuras e ainda novo livro de poesia: Fim-de-semana na Gorongosa, ilustrado por Inês Guerreiro, e o Bloco 65, que mais tarde incluirá em 70 Anos de Poesia.

Tendo publicado o seu primeiro livro em 1919, Fernanda de Castro perfaz 50 anos de actividade literária. Um grupo de amigos organiza-lhe um jantar de homenagem, que se realiza no restaurante «A Quinta», com a presença de muitas dezenas de pessoas, intelectuais e amigos. São oradores no final do jantar os escritores Vitorino Nemésio, Hernâni Cidade, Natália Correia, David Mourão Ferreira, José Carlos Ary dos Santos, Luís de Oliveira Guimarães e Domingos Monteiro. 

Na sequência deste aniversário, é publicada uma antologia dos seus poemas, em dois volumes, Poesia I e II.

Alfredo Guisado lê o livro e faz o balanço da sua carreira: Seguiu imperturbável pelos caminhos que, desde o princípio, escolheu, não se preocupando com os ambientes modernizantes que cercaram e conquistaram elevado número de poetas, nem se importando com o que ocupava o primeiro plano no começo da sua jornada, onde ainda o velho lirismo teimava em querer modificar-se no desejo de vencer mas não o conseguindo. Afasta-se, quer do que havia de velho, quer do novo, para consentir apenas no que ela própria tinha imaginado… 

E Natércia Freire, que desde sempre encontrara uma singular transcendência na sua obra, acrescenta: Na sua arte a imagem traduz a ressonância dolorosa de um ser em consciente ascensão poética…

A escritora é laureada com o Prémio Nacional de Poesia, vendo assim reconhecida a excelência da sua obra.

Em 1970, compra uma casa antiga em Marvão, dentro das muralhas do castelo, e restaura-a, cumprindo assim um velho sonho. É aqui que passará alguns dos melhores períodos da sua vida, na companhia de algumas amigas dilectas e dos netos Stephanie e Vicente, filhos do seu filho Fernando, residentes em Paris. Em 1973, influenciada por essa experiência tão grata, publica o romance Fonte Bela, com capa de Manuel Lapa – um romance luminoso e mágico, expressão de uma forma de realismo fantástico menos habitual na sua prosa, que delicia os leitores.

Depois de 40 anos de dedicação a uma obra de altruísmo pela qual passaram e foram educadas milhares de crianças, Fernanda de Castro, com 73 anos, já cansada, faz a entrega dos Parques Infantis à Santa Casa da Misericórdia, que os toma inteiramente sob sua responsabilidade.