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Newsletter Nº 161 / 14 de Junho de 2020
Direcção Mafalda Ferro Edição Fundação António Quadros

ÍNDICE

 

01  Portugal, Razão e Mistério: a Trilogia, de António Quadros: Depoimento, por Annabela Rita.

02 Agenda de Fernanda de Castro, 1970 (Fev./Março), transcrição por Maria Antunes Ferreira.

03 Fernanda de Castro: Obra publicada.

04 O “Meu” Maestro, por Manuel Silva Pereira

05  Livraria António Quadros, Promoção do mês: Alma, Sonho, Poesia. Selecção de Poemas (1952-1989).

 

EDITORIAL,
por Mafalda Ferro

 

O atendimento presencial na Fundação António Quadros está temporariamente suspenso. Para qualquer assunto, contacte 965552247 | mafaldaferro.faq@gmail.comNão comprometa a sua saúde. Use Luvas e Máscara. 

Capa «VISÃO» n.º 1423, de 11 de Junho / 18 de Junho de 2020:
Filipe Luís assina o artigo "António Ferro: o Homem, os Mitos e a Verdade" - A Vida Controversa do Génio na Sombra de Salazar [...] . Vale a pena ler.


No entanto, em relação a uma afirmação que por lapso foi feita neste artigo a propósito da descendência de António Ferro, gostaria de, em meu nome e a pedido da maioria dos membros da Família Ferro, rectificar que António Ferro e Fernanda de Castro tiveram dois filhos, António e Fernando; cinco netos, vivos, António, Mafalda, Rita, Vicente e Stephanie, quatro
 dos quais com obra publicada; 7 bisnetos, Francisco, Marta, Rita, Maria Ana, Salvador, António e João, vivos, quatro dos quais são autores de obras literárias. 

Concluindo, toda a descendência, até à 3.ª geração, de António Ferro e Fernanda de Castro trabalhou ou trabalha em áreas ligadas à cultura, ao ensino ou a artes, como design, fotografia, marketing, ou/e assinaram obras literárias, de romance, biografia, pedagogia, memórias, poesia, fotografia e humorismo. E, existe já uma 4.ª geração, os trisnetos: são 15, para já, entre o mais velho com 25 anos e  o mais novo com um ano.


Lembra-se muito especialmente no mês de Junho a Grande Exposição do Mundo Português, 80 anos depois da sua inauguração na zona ribeirinha, em Belém que apesar de ter, lamentavelmente, coincidido com o início da II Guerra Mundial recebeu cerca de três milhões de visitantes. A exposição, uma das maiores iniciativas do Estado Novo, mais especificamente do Secretariado dirigido por António Ferro, reuniu uma equipa de profissionais de luxo, ainda hoje considerados os melhores de então. 
António Ferro foi, além do director do Pavilhão de Portugal, o Secretário-geral da Comissão executiva presidida por Júlio Dantas; Augusto de Castro, o Comissário-geral; Gustavo de Matos Sequeira, o coordenador histórico; Duarte Pacheco, o Ministro das Obras Públicas; e muitas outras personalidades como os imprescindíveis Leitão de Barros,  Sá e Melo, Gomes de Amorim. A equipa foi constituída por artistas dos quais se destaca, entre muitos outros, na área da pintura: Almada Negreiros, Bernardo Marques, Carlos Botelho, Emmerico Nunes, Estrela Faria, Fred Kradolfer, Jorge Barradas, José Rocha, Lino António, Manuel Lapa, Martins Barata, Mily Possoz, Paulo Ferreira, Sarah Afonso, Thomaz de Mello; na área da escultura: António da Costa, António Duarte, Barata Feyo, Canto da Maia, João Fragoso, Leopoldo de Almeida, Martins Correia, Raul Xavier, Ruy Gameiro; na arquitectura: Cottinelli Telmo (arquitecto-chefe), Cristino da Silva, Jorge Segurado, Martins Barata, Pardal Monteiro, Quirino da Fonseca, Raul Lino, Rodrigues Lima.
De salientar também muito especialmente o trabalho dos "Fotógrafos do Mundo Português": António Passaporte, Casimiro Vinagre (riomaiorense), Eduardo Portugal, Ferreira da Cunha, Horácio Novais, Mário Novais, Paulo Guedes e muitos outros.
No contexto desta efeméride, vale a pena ler "Belém e a Exposição do Mundo Português: cidade, urbanidade e património urbano" de Pedro Rito Nobre, obra publicada em Fevereiro último.

Na presente newsletter, dá-se especial destaque a Portugal, Razão e Mistério, A Trilogia, obra de António Quadros, recentemente publicada e a Fernanda de Castro, no ano do 120.º aniversário do seu nascimento.


Não deixe de ler o artigo, hoje aqui publicado, de Annabela Rita sobre Portugal, Razão e Mistério - A Trilogia; e, também, o artigo, em duas partes, sobre a extraordinária Vida e Obra realizada pelo Violinista e Maestro Silva Pereira, de autoria do seu filho Manuel Silva Pereira que, depois de uma vida consagrada ao jornalismo e à sua carreira diplomática, se dedica à reorganização e tratamento do espólio artístico e documental de seu pai.

Publica-se hoje o registo dos meses de Fevereiro e Março de 1970 através do qual se conhece melhor Fernanda de Castro, os amigos e a família com quem privava. Na fotografia seguinte, pode ver-se um grande grupo de família na sua grande sala da Calçada dos Caetanos tendo como pano de fundo o famoso tríptico de Paulo Ferreira.

 

O homem de génio diz: eu sou

O poderoso afirma: eu posso

O rico diz: eu tenho

E o ambicioso: eu quero.

Eu! Eu! Eu!

E afinal

Esses que vivem sós, completamente sós,

Quanto dariam para como tu

Ou como eu,

Dizerem simplesmente: nós.

Fernanda de Castro

 

01  PORTUGAL, RAZÃO E MISTÉRIO: A TRILOGIA, DE ANTÓNIO QUADROS: DEPOIMENTO,
por Annabela Rita.

 

Portugal, Razão e Mistério: a Trilogia (2020), de António Quadros: “A derradeira palavra” (António Quadros Ferro).

Foi a minha última aquisição bibliográfica antes do confinamento. No topo de uma ilha de livros, erguia-se como um bastião, convidando à posse, correspondendo ao já longo questionamento sobre o 3.º vol. da obra, anunciado e nunca editado, resolvendo o mistério.


Agora, a obra surge completada e emoldurada por um paratexto que lhe potencia a sedução, encenando um colóquio entre desaparecidos e colegas ‘de pena’, com modalizações que não comento para evitar alongar-me, mas que constituem importante moldura desta obra notável: de Mafalda Ferro, Joaquim Domingues, Pinharanda Gomes e Francisco da Cunha Leão, em pórtico, e, no fim, de Pedro Martins, encerrando com a última entrevista do autor por Antónia de Sousa (Diário de Notícias, 11/3/1993). Nesta, a última fala replica-se em epígrafe ao volume como “mensagem” aos concidadãos, recuperando a que encerra a Mensagem (1934) de Fernando Pessoa aos seus Fratres. 86 anos depois de Pessoa, 33 anos depois de se instalar “o fantasma do terceiro livro de Portugal, Razão e Mistério (1).

E é António Quadros que me acolhe em chiaroscuro: a escrever e a assinar a obra, informal e jovem (primeira foto) e formal e marcado pelo tempo (segunda foto), imerso no projecto e assumindo-o publicamente em dedicatória indecifrável, voltado para um antes e depois dele e de cada um de nós, leitores, de olhar fixo nessa mensagem que lega aos leitores, contemporâneos e vindouros. Entre ambas as fotografias, foi o tempo da obra e do mistério. Em jeito de cerimonial de iniciação que o Anjo do Reino de Portugal de Diogo Pires, o Moço (séc. XVI), replicará no limiar do texto.


Seguiu-se a leitura. Apetece dizer: a revisitação de um imaginário identitário nacional longamente (re)configurado numa perspectiva messiânica, providencialista, de missão, a mais prolongada e assente na cristofania de Ourique.

Como trilogia, organiza uma visita em 3 etapas a um conhecimento da identidade nacional portuguesa sistematizado: desde a génese e fundamentos (“Uma Arqueologia da Tradição Portuguesa | Introdução ao Portugal Arquétipo | A Atlântida Desocultada | O País Templário”), passando pela definição da razão de ser, estar e fazer de Portugal no Mundo, da sua funcionalidade (“O Projecto Áureo ou O Império do Espírito Santo | O Império segundo Dinis e Isabel | O Império segundo Avis | Os Painéis de Nuno Gonçalves e a «religião de Avis»), e concluindo-se com o eucarístico rito graálico (“O Cálice da Última Tule”) erguido para nossa comunhão 33 crísticos anos depois dos dois primeiros volumes da obra (I-1986 e II-1987).


Do passado ao futuro que o rememore, esta trilogia constitui-se como um Livro do Apocalipse (etimologicamente: de ‘revelação’) de António Quadros, o centro do seu cânone, o desvelador, mas também o lugar de chegada de toda uma tradição vocalizada e escrita desde as lendas às crónicas de Alcobaça e Santa Cruz, passando pela bibliografia providencialista (de Bandarra a António Vieira), pela iconografia emblemática (com especial destaque para os Painéis ditos de S. Vicente, encenando uma enigmática e simbólica representação nacional que muitos têm tentado decifrar, adensando-a, com eles fazendo Quadros dialogar a sua hipótese de leitura), etc., tradição revisitada pelo grupo da Filosofia Portuguesa e que António Quadros sistematiza quase heraldicamente nesta obra. “O seu mais ambicioso projecto”, como diz Joaquim Domingues, “que se lhe terá revelado cada vez mais premente em face do agravamento, nos anos 70, da crise de identidade que afectava o País” (p. 12).


Numa espécie de ‘aviso à navegação’ a acompanhar a entrada de Portugal na CEE-UE (1985-86), ergue o estandarte dessa sua memória identitária, evocando toda uma tópica que Fernando Pessoa organizou em espectral e heráldica galeria de convocações simbólicas e que Quadros vivifica com a sua omnipresença perspéctica, enunciativa. Como se Anjo da História (Walter Benjamin) ou Custódio de Portugal “
no dealbar de um mundo disposto a transcender as ilusões, as alienações, as ligeirezas intelectuais e ideológicas destes últimos cem anos de positivismo e de materialismo, redutores da complexidade e da profundidade do espírito humano” (p. 44).


Num tempo de globalização em que as referências nacionais tendem a ser contrariadas (
Benedict Anderson, Ernest Gellner, Eric Hobsbawm, Patrick J. Geary, etc.) e/ou sombreadas por uma sociedade do espectáculo (Guy Debord) e pela espectacularidade manipuladora do visível ou a dissolver-se na liquidez (Zygmunt Bauman) e no relativismo (Franz Boas e seguintes) culturais, na perda de referencialidade, Portugal, Razão e Mistério: a Trilogia (2020), de António Quadros, oferece-se como o tratado ou a Bíblia dessa hermenêutica da História de Portugal, dando, em grande angular, quer a leitura e a tópica em que ela se organiza como caso “sui generis” (sic), à margem de projectos imperiais estritamente políticos (europeus) e religiosos (Roma), quer a sua própria fundamentação disciplinar.


Assim, este “Palácio da Memória” colectiva, do “projecto áureo português”, justifica-se nessa singularidade confluente (Graal, Ourique, V Império) como a única ilação relacional da memória colectiva que embebe a diversidade das suas expressões, inencontrável “nos documentos de chancelaria, nas ordenações ou nas crónicas” (p. 356), os únicos que a História positivista elegia e aceitava. Leitura, portanto, com uma metodologia própria, diferente da do paradigma positivista, como esclarece:


“Toda a escrita é composta de sinais ou de signos, formando as palavras e as locuções que, por seu turno, no contexto da frase, do período, do poema, do livro, ascendem gradualmente do signo para a metáfora, para a alegoria e para o símbolo.” (p. 357)


Assumindo esta posição, António Quadros oferece-se como exemplo geracional de amadurecimento “de quem, como nós, frequentou o Curso de Ciências Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras de Lisboa nos anos 40, dominado pelo império do positivismo” (p. 490): o historiador aspirando “ao voo livre de uma filosofia do espírito” (p. 490) suficientemente iluminadora, desveledora, enfrentando o “preconceito de uma história científica” (p. 491). Em “A História: ciência positiva ou conjugação filosófica de saberes?” (pp. 491-499), enuncia, quiçá, a melhor argumentação a favor de uma História- “conjugação filosófica de saberes”:


“Em nome de uma positividade que julga segura, mas é limitada e limitativa, não pode descartar saberes que a priori considera herméticos ou incertos, devido ao seu preconceito positivista, como por exemplo os de ordem religiosa, mística e teológica, sagrada e mítica, metafísica e gnoseológica, artística e simbólica.
Para descobrir, desentranhar e revelar o substrato espiritual de uma estrutura cultural ou civilização em seu ser e movimento, o historiador, cuja preparação tem de ser pois multifacetada, há-de recorrer a uma heterogeneidade de fontes, escritas e não escritas, paleográficas e tradi­cionais, filológicas e iconológicas.
A história ser-lhe-á não uma exposição de factos, mais ou menos coloridos por uma teoria ou ideologia ordenadora, mas uma conjugação de saberes articulados pela razão, uma conjugação filosófica de saberes positivos e supra-positivos.” (pp. 498-499)

Uma História com diferentes cartografias: a “oculta” ou “secreta” de António Telmo e do grupo da Filosofia Portuguesa, mas também dos seus seguidores (Manuel J. Gandra e outros), que perscruta o imaginário colectivo (Lucien Boia. Pour Une Histoire de L’Imaginaire, 1999) e as Histórias ‘Sagradas’, ‘Lendárias’, ‘Míticas’, a ‘Intra-História’ e a ‘História não contada’ (desde os velhos cronistas a autores actuais como Juan G. Atienza)…


Eis-nos, pois, a escutar esse canto das Sereias-Sibilas que nos arrastam para um vórtice em que o processo de conhecimento exige outro GPS que não o mecânico, documental… António Quadros oferece-nos o seu erguendo-o como libelo, em jeito de Arauto de um Delfos nacional. Que assim seja lido!

 

1 - Carta a António Telmo de Janeiro/1987 [http://antonioquadros.blogspot.com/2012/01/o-3-volume-de-portugal-razao-e-misterio.html 
 
02 AGENDA DE FERNANDA DE CASTRO, FEVEREIRO/MARÇO,1970,
transcrição de Maria Ferreira.


1 de Fevereiro de 1970, domingo

À tarde, fui a casa da Tia M.ª José. A Inês foi buscar-me. Lanchámos na Benard. Fomos ambas à Missa das 8. Deitei-me cedo, com um princípio de constipação.

2 de Fevereiro de 1970, segunda-feira

Lanchou a Inês. Jantaram a Inês, a Heloísa e a Águeda. À tarde esteve cá o Antoninho.

3 de Fevereiro de 1970, terça-feira

Não saí. De tarde, estiveram cá a Inês, a minha irmã Manuela, o António, o Antoninho e a Mafalda. À noite, o Alexandre Ribeirinho e dois antigos alunos do Parque, que querem fazer um Centro com antigos alunos, com caracter pedagógico, social e cultural.

4 de Fevereiro de 1970, quarta-feira

2h, Pó e Rita. 3h, Reunião SNI. 6.30, Teatro Francês (S. Luís) «La Ville dont le Prince est un Enfant» (Montherlant) (Inês, Mané, Amélia Correia de Freitas), jantaram cá todas, assim como a Águeda. 1.30, a Inês e eu fomos levar a Águeda a Cascais.

5 de Fevereiro de 1970, quinta-feira

De manhã esteve cá o António. Almocei sozinha. A seguir veio a Manuela, que esteve cá até quase às 6. Telefonemas tia Castelo, Tia Maria José, Natália, José Carlos, etc. 6.30, vieram a Heloísa, o Mitnitzky e uma intermediária ‒ oferta de mais 20 contos pelos 2 quadros de Viana e 8 desenhos do Mário Eloy ‒ ou seja 270 contos e 100 contos pelo 2.º lote (2 desenhos do Almada, 1 gouache do Jorge António Soares e um óleo do Jorge Barradas. À noite, estiveram cá o Antoninho e a Mafalda.

6 de Fevereiro de 1970, sexta-feira

Vieram almoçar a Inês e a Águeda. Fui à matinée das 6.30. Tomámos chá na Benard . 9.30, Conferência Prof. Agostinho da Silva ‒ «A Cultura Portuguesa no Mundo» ‒ Colóquio ‒ Incidente desagradável comigo e uma jovem contestante. Ceia, a seguir à Conferência, com Natália, Inês, Breda Simões, Martins Correia, etc. Estiveram cá a despedir-se, o António que partiu para uma Inspecção e o Antoninho que foi passar o Carnaval à Serra da Estrela.

7 de Fevereiro de 1970, sábado

1h, fui a Vila Franca com a Inês, buscar a Águeda. 2.30, almocei com a Inês no Snack-Bar do Ritz. 6.30, fui ao cinema, convidada pela Inês, «Sweet Charity». Jantaram cá em casa a Inês, a Heloísa e o Chico.

8 de Fevereiro de 1970, domingo

1h, Missa no Loreto. Passeio a Sintra (e chá em S. Pedro) com a Inês, Heloísa, José Carlos e José Francisco. Jantámos todos em Lisboa no Restaurante «A Camacha».

9 de Fevereiro de 1970, segunda-feira

Estive todo o dia em casa a trabalhar. A Inês veio cá lanchar.

10 de Fevereiro de 1970, terça-feira

12h, fui para casa da Tia M.ª José que adoeceu gravemente (hemorragias internas) e estive lá, sem almoçar, até às 4h. O José Carlos e o José Francisco foram buscar-me e levaram-me a lanchar ao Hotel de Vale de Lobos. Na volta, fui mostrar-lhes a casa de Barcarena. Às 6.30, voltei a casa da Tia M.ª José mas não entrei porque já estavam várias pessoas e o médico exigiu sossego. Vim para casa e jantei na cama.

11 de Fevereiro de 1970, quarta-feira

À noite, estiveram cá a Pó e o Antoninho. À tarde, estive em casa da Tia Maria José que não achei melhor. A Manuela levou-me a casa dela porque tinha chegado a M.ª de Jesus e depois voltámos ambas para casa da Tia. A Inês foi lá buscar-me. Lanchámos na Charcuterie Française e voltámos para minha casa. A Inês e as irmãs venderam hoje a Tipografia!

12 de Fevereiro de 1970, quinta-feira

10.30, Lusotur, falar c/ Dr. Bentes e Oliveira, sobre proposta Decoração Motel de Vilamoura. 11.30, Banco Espírito Santo e Banco Português do Atlântico (depósito dinheiro venda quadros). 12,30, almoço nas Necessidades. 2.30, café «A Carruagem» c/ Inês. 3h, Tia Maria José. 6.20, Dr. Sousa e Faro.

13 de Fevereiro de 1970, sexta-feira

Almoçaram cá a Heloísa e a Inês. Depois do almoço, fomos as três e a Pó a Óbidos, onde nos encontrámos com o António, que queria mostrar-nos uma casa que o Manuel de Mello pretende vender-lhe por 200 contos. A casa é barata e muito engraçada. Jantaram cá a Inês, a Heloísa e a M.ª Luísa Garin. Depois, fomos à estreia do grupo de bailado da Gulbenkian. Programa: Concerto da Águeda, com Isabel Santa Rosa ‒ 2 actos da «Gisela» com Lucette Aldous e Gilpin. Depois, fomos cear a casa da Natália Correia (eu, a Heloísa, o José Carlos e o José Francisco).

14 de Fevereiro de 1970, sábado

Tudo o que está inscrito no dia 13 passou-se em realidade no dia 14. No dia 13 apenas fui a casa da Tia M.ª José.

15 de Fevereiro de 1970, domingo

Fiquei todo o dia na cama, a descansar. Estiveram cá o António, a Pó e o Antoninho.

16 de Fevereiro de 1970, segunda-feira

Almoçaram cá a Inês e a Heloísa. À tarde, estiveram de passagem o António e o Antoninho. Telefonou a Mané (das Caldas).

17 de Fevereiro de 1970, terça-feira

Passei o dia na cama, com bastantes dores nas articulações — Almoçou a Heloísa e depois veio a Inês — 6.30, Homenagem a Alfredo Guisado no «Quadrante». Visitinha do António.

18 de Fevereiro de 1970, quarta-feira

11h, Massagista. Trabalhei todo o dia com a Heloísa. Almoço em casa da Manuela. 6.30, Fundação Gulbenkian ‒ 2.º Espectáculo de Ballet. Novamente «Concerto» e Gisela, com Lucette Aldous e John Gilpin. Jantaram cá a Inês e a Heloísa. 3h, Reunião S.N.I. Jantou cá a Inês.

19 de Fevereiro de 1970, quinta-feira

Almoço Inês e Heloisa (Contas Lusotur). Fui à tia Maria José.

20 de Fevereiro de 1970, sexta-feira

10.30, Cabeleireiro. Voltas: Sapataria Garrett, Eduardo Martins, etc. — António, Antoninho. 9,30, Conferência do António no IADE, sobre «Arte Moderna».

21 de Fevereiro de 1970, sábado

Almoçaram cá em casa a Inês, a Heloísa e a Águeda. 7h, Dr. Sousa e Faro. 9h, Jantar em casa da Isabel Meireles.

22 de Fevereiro de 1970, domingo

Estive todo o dia deitada para descanso dos joelhos que me têm doído muito. Esteve cá a Inês a trabalhar. À noite telefonou a Vera Jordão.

23 de Fevereiro de 1970, segunda-feira

Almoçaram cá a Vera, a Inês e a Heloísa. Fomos todas, de carro, a Sesimbra e demos a volta completa da Arrábida. Tomámos chá na Quinta das Torres.

24 de Fevereiro de 1970, terça-feira

7.30, jantei em casa do António. 9.30, Conferência no IADE ‒ Egídio Álvaro, sobre os Modernistas Portugueses. 12h, «Camacha», chá com Vera e Inês.

25 de Fevereiro de 1970, quarta-feira

4h, veio a Inês trabalhar. 6.30, concerto na Fundação com a M.ª Luísa Garin (Concerto de Mozart, de Ravel, etc).

26 de Fevereiro de 1970, quinta-feira

Cascais (ver andar para comprar). Almoçámos em Cascais (Heloísa, Inês e eu). Jantaram Heloísa, Inês, Vera.

27 de Fevereiro de 1970, sexta-feira

Voltámos a Cascais para ver a casa (3h.) Almoçaram Inês, Vera e Antoninho. Jantou a Vera.

28 de Fevereiro de 1970, sábado

Como a Rita tinha pontos escritos no dia 26, dia dos seus anos, a família e alguns amigos reuniram-se hoje para a festejar. Teve muitos presentes e estava muito feliz. Comprei-lhe, assim como à Mafalda, casacos de malha na Loja das Meias e um blusão ao Antoninho ‒  gostaram muito.

1 de Março de 1970, domingo

Missa da 1 no Loreto com a Vera. Depois de almoço, fomos a Queluz e a Sintra, voltando por Cascais. Chá em S. Pedro de Sintra. Jantaram cá a Heloísa e a Inês. Despedida da Vera, no Aeroporto, à meia-noite.

2 de Março de 1970, segunda-feira

Passei o dia na cama para descansar as pernas […] inchadas. Esteve cá a Heloísa a trabalhar comigo. Almoçou e tomou chá. a Inês veio tomar chá.

3 de Março de 1970, terça-feira

Esteve cá o António. Passei o dia na cama, por ter os joelhos muito inchados. Almoçou a Heloísa.

4 de Março de 1970, quarta-feira

12h, Dr. Henrique Anjos. 1.30, almoço em casa da Manuela. 3h, Reunião SNI. 5h, Tia Maria José. 8.30, jantaram cá a Inês e a Heloísa. 10h, Casa da «Comarca de Arganil» ‒ Recital meus poemas, organizado por António Sarmento e Maria Schultz ‒ ofereceram-me um lindo ramo de cravos encarnados ‒ muito simpático. Ceia «A Camacha».

5 de Março de 1970, quinta-feira

Fui à tarde a casa da Natércia. Como a Ana Lúcia ia à noite para Luanda, fui lá dizer-lhe adeus e levar-lhe uma lembrança. Foram comigo a Heloísa e a Inês. Enquanto fiz a visita, a Heloísa deu umas voltas no Bairro para se acostumar ao meu carro. De manhã, esteve cá a Pó.

6 de Março de 1970, sexta-feira

Passei o dia em casa. Almoçou a Heloísa. A Teresa veio passar a tarde.

7 de Março de 1970, sábado

Ceia em casa. Vieram António, Pó, Inês, Heloísa, Natália, Helena, Dórdio, José Carlos, José Francisco, Isabel Meireles, Emilienne, Naud e Leda. Os últimos foram-se embora às 4.30 da manhã.

8 de Março de 1970, domingo

Passei o dia em casa. Fui à Missa dos Mártires às 7 com a Inês e a Heloísa. Jantei no «Cantinho Alentejano» convidada pela Maria Schultz e pelo António Sarmento (anos Maria).

9 de Março de 1970, segunda-feira

A Heloísa esteve cá à tarde para trabalhar nas contas dos Parques. 12.30, dentista. 9h, jantar em casa do Eng. Silvério Martins.

10 de Março de 1970, terça-feira

9.30, fui a Cascais com o Eng. Silvério Martins para ver um andar que pensei em comprar. 1.30, almocei em casa da Pó. 4.30, veio a Maria Teresa tomar chá. 9h, jantar em casa da Natália (anos do Dórdio).

11 de Março de 1970, quarta-feira

2h, voltas na Baixa: Selos fiscais, tecidos para batas e estofos Parques, over-all, etc. — Banco Português do Atlântico. 3h, SNI. 4.30, tia Maria José. 8h, veio jantar a Maria Luísa Garin. Estiveram cá a Mafalda e a Patrícia.

12 de Março de 1970, quinta-feira

Fiquei na cama a trabalhar. Estiveram cá o António e o Antoninho. A Heloísa veio trabalhar depois do almoço e ficou para jantar.

13 de Março de 1970, sexta-feira

De manhã, fui ao Parque das Necessidades escolher tintas, etc. Passei o dia em casa.

A Teresa passou cá a tarde, demorou-se até às 11h mas não quis jantar. Esteve também o António.

14 de Março de 1970, sábado

4.30, cabeleireiro. 8.30, jantar em casa com a Heloísa. 9.30, bailados Gulbenkian [Raymonda, Requiem, Petruchka (figurinos da Inês)]. 1h, Camacha (José Carlos, Inês, Heloísa, Manuela e José Francisco).

15 de Março de 1970, domingo

Todo o dia em casa, deitada. Estiveram a ver-me António pai e António filho.

16 de Março de 1970, segunda-feira

Anos da Heloísa que almoçou cá em casa com a Isabel e a Inês. À tarde ‒ Parque das Necessidades. 6.30, Cinema Mundial: «A Governanta» (Geraldine Page) com Heloísa. Jantar em casa da Isabel (Inês, Heloísa, Maria Schultz e Sarmento).

17 de Março de 1970, terça-feira

1.30, almoço em casa do António com Limas de Freitas e Ceramista Irlandês. 6.30, Concerto Tivoli (convite M.ª Luísa Garin — Annie Ficher — Sonata, de Mozart ‒ 2 Sonatas Beethoven ‒ Fantasia, Schumann)

18 de Março de 1970, quarta-feira

3h, reunião do S.N.I. Visita à Tia Maria José, onde estive das 4 às 7. Jantar na Benard com a M. Luísa Garin. Às 10, Concerto da Florinda Santos, na Academia dos Amadores de Música: 3 Sonatas de Beethoven.

19 de Março de 1970, quinta-feira

1.30, almoçaram cá a Maria Leonor, filha do Afonso, o marido Carlos Silva Pereira, o Chico, o António, a Pó e a Rita. Vieram depois a Heloísa, a Inês e a Manuela. Deitei-me cedo e jantei na cama.

20 de Março de 1970, sexta-feira

1h, almoço na «Caravela» com a Natércia, M.ª Germana e Cristina Salgado que nos convidou. Compras (tecido para três vestidos). M.ª Helena Martins, mulher do Eng.º Silvério Martins, andei com ela a ver [...], como lhe tinha prometido. Jantar em casa da Manuela, despedida da M.ª Leonor ‒ Aeroporto até a meia-noite.

21 de Março de 1970, sábado

Jantar em Queluz, em casa da Maria Germana (M.ª Germana, M.ª Cristina, Inês, Heloísa, Natália, Helena, Branca Miranda Rodrigues, eu, Dr. Miranda Rodrigues, Martins Correia, José Carlos, José Francisco, Dórdio).

22 de Março de 1970, domingo

6.30, Cinema S. Jorge com Natália, Inês, Dórdio, Helena e Alfredo («O Segredo de Santa Vitória», com Anthony Quinn e Ana Magnani). Jantar em casa da Natália.

23 de Março de 1970, segunda-feira

1h, almoçaram cá a Umbelina, a Tia Castelo e o António. Passámos todas a tarde (menos o António) em casa da tia M.ª José. Fui levá-las a casa, assim como a Beatriz Gamboa, que também apareceu.

24 de Março de 1970, terça-feira

Depois do almoço, fui comprar o plástico para as cortinas da casa de banho do Parque 3. Fui buscar a M.ª Luísa Garin e levei-a às Necessidades. Veio comigo para casa, jantou e almoçou.

25de Março de 1970, quarta-feira

Fui de manhã às Necessidades. (comprei uma boa louça de aço polido). À tarde, estiveram cá o António, a Pó e a Rita. A Inês veio trabalhar nas contas dos Parques. Almoçou a M.ª Luísa minha irmã com o filho.

26 de Março de 1970, quinta-feira

Vieram tomar chá a Narcisa, a Umbelina, a Tia Castelo e a Inês. Almoçou a Inês e jantaram a tia Castelo e a Umbelina. À tarde, também cá estiveram o António e a Pó.

Não dormi com horríveis dores na mão e no braço.

27 de Março de 1970, sexta-feira

De cama, com um doloríssimo ataque de reumatismo agudo na mão direita, com ramificações até ao ombro. A Inês almoçou e jantou. À noite, ligeiras melhoras, devidas a umas injecções que me recomendou o meu compadre José Isidro.

28 de Março de 1970, sábado

A Inês almoçou e esteve cá até à hora do jantar. Ao meio-dia, veio o enfermeiro dar uma nova injecção. Melhoras sensíveis. À tarde, vieram a M.ª Luísa (3) e o José Fernando.

29 de Março de 1970, domingo

10h, Missa (Estrela). Almoçámos em Óbidos, em casa do António, Maria e Isabel de Roure, Umbelina, Inês e eu. Jantei com a Inês, a Mãe, a Manuela e a Umbelina no «Cantinho Alentejano». Grande susto por causa do terramoto da Turquia, por o Antoninho estar em Istambul. À noite, soubemos que nada ali se tinha passado. Cinema Tivoli «Justina» (Inês, Mãe, Manuela, Umbelina e eu).

30 de Março de 1970, segunda-feira

Na cama, com dores reumáticas. Vieram jantar a Inês, a Heloísa e a Pó.

31 de Março de 1970, terça-feira

6, 30, Concerto Fundação Calouste Gulbenkian ‒ pianista francês Jean-Claude Sevilla ‒ Sonatas de Carlos Seixas, Beethoven, Schumann, «Miroirs» de Ravel. Extras: Fantasia, Mozart, Falla. Fui ao Concerto com a M.ª Luísa Garin que me convidou. Jantei em casa da Isabel Afonseca, com a Inês e a Heloísa.

 

Identificação das pessoas nomeadas apenas por um nome (por ordem alfabética):
Afonso – Afonso Telles de Castro e Quadros – irmão de FC

Águeda – Águeda Sena – bailarina, amiga de FC

Antoninho – António Roquette Ferro – neto de FC

António – António Quadros – filho de FC

Ceramista irlandês – Patrick Swift – amigo e sócio de Lima de Freitas

Chico – Francisco Telles de Castro e Quadros – irmão de FC

Dórdio – Dórdio Guimarães – poeta, cineasta, viria a casar com Natália Correia

Helena – (?) – Helena Roque Gameiro

Heloísa – Heloísa Cid – poetisa, amiga de FC

Inês – Inês Guerreiro – artista, amiga de FC

José Carlos – José Carlos Ary dos Santos – poeta, amigo de FC

José Francisco – amigo de Ary dos Santos

Mafalda – Mafalda Ferro – neta de FC

Mané – Maria Manuel Lima de Carvalho – amiga de FC

Manuela – Manuela Telles de Castro e Quadros Barreto de Carvalho – irmã de FC

Maria Cristina – Maria Cristina Lino Pimentel – pianista, amiga de FC

Maria Germana – Maria Germana Tânger Correia – amiga de FC, diseuse.

Maria Luísa – Maria Luísa Quadros – irmã de FC

Maria Teresa – (?)

Mitnitzky – Joaquim Mitnitzky antiquário, marchand.

Natália – Natália Correia – poetisa, amiga de FC

Natércia – Natércia Freire – escritora, amiga de FC

Naud e Leda – Santiago Naud e sua mulher Leda Naud, de nacionalidade brasileira

Patrícia – Patrícia Cunha – sobrinha-neta de FC, neta de Augusto Cunha

Pó – Paulina Roquette Ferro – nora de FC

 
03 FERNANDA DE CASTRO: OBRA PUBLICADA.


Fernanda de Castro publicou o seu primeiro livro – de Poesia – em 1919 e acabou de escrever o último – um Romance –, em 1994:

1919 - Antemanhã, com capa de Cottinelli Telmo. Lisboa

1921 - Danças de Roda, com capa de Cottinelli Telmo. Lisboa.

1924 - Cidade em Flor, com capa de Bernardo Marques. Lisboa

1924 - Varinha de Condão, com Teresa Leitão de Barros, capa de Maria Roque Gameiro, ilustrações de Elsa Althousse, Cottinelli Telmo, Rocha Vieira, Raquel Roque Gameiro, Stuart Carvalhais e Martins Barata.

1925 - Mariazinha em África, com capa e ilustrações de Sarah Afonso (1.ª edição.

1928 - Jardim, com capa de Bernardo Marques. Lisboa.

1928 - O Veneno do Sol. Lisboa (1.ª edição).

1929 - O Veneno do Sol. Lisboa (2.ª edição).

1929As Aventuras de Mariazinha, ilustrações de Sarah Affonso.

1932 - O Tesouro da Casa Amarela – Teatro Infantil, ilustrações de Sarah Affonso.

1935 - Daquém e Dalém Alma.

[1935] - 100 Receitas Sem Carne, assinado com o pseudónimo Teresa Diniz e prefácio assinado com o seu nome real.

1942 - 39 Poemas.

1942A Pedra no Lago.

1945 - Maria da Lua (Prémio Ricardo Malheiros da Academia de Ciências, 1945).

1947 - Mariazinha em África, capa e ilustrações de Ofélia Marques.

1948Sorte, capa de Inês Guerreiro. (2.º Prémio «Casas do Povo»?.

1951 - Raiz Funda.

1952Exílio – Poemas.

1955 - Asa no Espaço.

1959 - Mariazinha em África, capa e ilustrações de Ofélia Marques.

1959 - Novas Aventuras de Mariazinha, capa e ilustrações de Vivianne.

1963 - A Ilha da Grande Solidão.

1963 - A Princesa dos Sete Castelos, ilustrações de Inês Guerreiro.

1964 - A Vida Maravilhosa das Plantas, capa e ilustrações de Inês Guerreiro.

1966 - África Raiz, capa de Inês Guerreiro, desenhos originais de Eleutério Sanches.

1969 - Fim-de-Semana na Gorongosa – Romance de Aventuras, capa e ilustrações de Inês Guerreiro.

1969 - Bloco 65, ilustrações de Inês Guerreiro.

1969 - Poesia I; Poesia II (1919 a 1969). (Prémio Nacional de Poesia).

1973Fontebela - Romance, capa de Manuel Lapa.

1973 - Varinha de Condão. Contos, com Teresa Leitão de Barros, capa e ilustrações de Inês Guerreiro.

1973Mariazinha em África, capa e ilustrações de Inês Guerreiro.

1983 - A Ilha dos Papagaios, capa e ilustrações de Fernando Bento.

1984 - Maria da Lua (5.ª edição) (Prémio Ricardo Malheiros da Academia de Ciências, 1945).

1986 - Ao Fim da Memória I – Memórias 1906 – 1939, capa com retrato seu por Sarah Afonso.

1987 - Ao Fim da Memória II – Memórias 1939 – 1987, capa com retrato seu por Tarsila do Amaral.

1989 - 70 Anos de Poesia, capa com quadro de Maria Helena Vieira da Silva.

1989 A Espada de Cristal (peça em três actos), seguida de Maria da Lua (peça em três actos).

1989 - Urgente!

1990 - Cartas para Além do Tempo.

2004África Raiz, ilustrações de Teresa Vergani. Edição póstuma.

2006 - Obra literária completa, com inclusão de dois inéditos: o romance Tudo é Princípio e a peça de teatro "Os Cães não Mordem. Edição póstuma.

2010Alma, Sonho, Poesia. Selecção de Poemas. Edição póstuma.

 
04 O “MEU” MAESTRO, Parte I
p
or Manuel Silva Pereira

Quem é esta pessoa, com um pau branco na mão direita, sem a qual a música não acontece?

A pergunta, formulada por Tom Service, crítico musical do The Guardian, em 2012, ecoara uma e outra vez entre nós, durante sete décadas de carreira artística, melhor dito, de uma apaixonada, vibrante e exclusiva devoção à arte dos sons.


Joaquim da SILVA PEREIRA
(1912-1992), maestro, violinista e violetista, nasceu em Celorico da Beira, na freguesia de Santa Maria, onde tem nome de rua, mas foi a vila de Seia a oferecer-lhe o berço e embalá-lo com os mimos de uma infância feliz.
Em Seia cresceu, rompeu solas, fez amigos e foi à escola, para se distinguir em aritmética e português, mas incumprir no desenho e em comportamento. “Mais consideração pelo professor e pelos condiscípulos”, admoestava o professor primário João Marques dos Santos, ao cabo da primeira quinzena de aulas da 5.ª classe, em Outubro de 1922.

Tinha, então, 10 anos de vida, mas já três ou quatro de solfejo, que o pai e os quatro irmãos mais velhos o incentivavam a praticar, seguindo o método de Tomás Borba, plasmado nos Exercícios graduados, publicados pela casa Valentim de Carvalho, para “uso do Conservatório, Liceus, Escolas Normais, etc.”

O propósito, contudo, era outro: a Orquestra Silva Pereira, que o pai Anthero formara com os filhos – António (viola), Gracinda (piano), Maria José (violoncelo) e Elisa (violino) – solicitava o talento do Quim, para diversificar o repertório e animar os serões, com o calor que as noites frias da serra exigem.

Foi numa delas que o meio-violino de Joaquim, construído por José R. da Costa Pinto & Filho, em Vila Nova de Tazem, se fez ouvir pela primeira vez a solo. Em local publicada pelo O Comércio do Porto, com data de 30 de Agosto de 1923, o correspondente em Celorico da Beira relata: “de visita ao nosso amigo sr. António Fernandes Camelo, industrial de S. Romão, e a tomar parte nas festas do seu aniversário natalício, fomos compartilhar da sua alegria e de sua família, onde foi servido um opíparo jantar, havendo concerto musical pelas Sras. D. Helena Camelo, D. Eulanda Rocha, Anthero da Silva Pereira e Joaquim da Silva Pereira, tocando-se um seletíssimo repertório, cabendo as honras da noite ao jovem violinista Joaquim da Silva Pereira, que foi muito aplaudido”.

Meses depois, em Lisboa, na residência de José Baltazar de Andrade, ao Conde Redondo, em mais um serão de arte, o jovem virtuose magnetiza os convivas, com o final da “Sonata em Lá maior”, de Mozart e as “Danças Húngaras”, n.os 2 e 6, de Brahms. A Tarde, O Século e O Jornal, que comentam a festa na página social, destacam, também, as “admiráveis interpretações de “Poète et Paysan”, de Suppé, da “Rapsodia Slava”, de David de Sousa e da “Canzonetta”, de Francisco Benetó”, o valenciano que, aos 20 anos, fora primeiro violino da Orquestra de Edouard Colonne, em Paris, e nos anos 30 veio para Portugal, para lecionar no Conservatório e reger o sexteto do Cinema Olympia, que improvisava o fundo sonoro dos filmes mudos da época.

Benetó, a quem Luís de Freitas Branco ficaria a dever a primeira audição do “Concerto para violino e orquestra”, composto em 1916, seria decisivo na vinda do “miúdo” para o Conservatório Nacional de Música, ao tempo dirigido por Viana da Mota. Matriculado nos anos letivos de 1924 a 1932, estuda piano com Theophilo Saguer, Guilhermina Couto e Isabel Manso, composição com Hermínio Nascimento e Tomás Borba, sciencias musicais com Freitas Branco e violino com Pavia de Magalhães e Alexandre Bettencourt.

Em 12 de Julho de 1932, o aluno n.º 210 conclui com a nota máxima, 20 valores, o 3.º ano do curso superior de violino, como atesta o Livro de Registo da Frequência dos Alunos Internos, com a cota CN-A- 865. O “violinista precoce”, título da valsa que compôs aos 13 anos, dedicada à irmã Elisa, adquire um novo estatuto, o do concertista que ambiciona correr mundo, ainda não de “pau branco na mão direita”, mas com o arco das mil sonoridades do violino.

PARA O SONHO SER REALIDADE
não bastariam os serões de arte, os recitais por terras da Beira, acompanhado pela Orquestra Cenense, dirigida pelo pai, ou as lições particulares de Benetó, sempre atento e exigente às dificuldades do “Concerto n.º 8”, de Rode, da “Marcha Turca”, de Mozart, do “2.º Concerto”, de Vieuxtemps e das “Tristezas de Amor”, de Kreisler, “música de um lirismo extremo, tendo ora a dolência de uma chácara, ora a esperança de um viático de luz”, o que, para o jornalista do Correio de Gouveia, o pequeno violinista “tão bem sabe dizer à nossa sensibilidade ansiosa”.

A tarimba, a adquirir no dia-a-dia de ensaios e concertos, em complemento de exibições ocasionais com as Orquestras de Fernandes Fão ou David de Sousa, na Academia dos Amadores de Música ou no Cinema Royal – e do contínuo aperfeiçoamento com o seu novo mestre, René Bohet, ex-discípulo de Ysaye e autor, entre outros, da música dos filmes “Canção de Lisboa” e de “Maria do Mar” – reforça-se com a admissão na Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, criada em 1934, no seguimento do 1.º Congresso Nacional de Radiofonia (1932), do plano de modernização das telecomunicações e da criação da estação radiofónica oficial, avançada pelo Decreto n.º 22.783, de 29 de Junho de 1933.

Com chancela da Emissora Nacional / Ministério das Obras Públicas e Comunicações (de Duarte Pacheco), o Cartão de Identidade N.º 10 atesta a admissão de Joaquim da Silva Pereira em 27 de Outubro de 1935, como 1.º violinista da Orquestra Sinfónica e Concertino da Orquestra Portuguesa. O cartão é assinado por Henrique Galvão, presidente da Comissão Administrativa, a quem António Ferro irá suceder seis anos mais tarde.

Do mandato de Ferro, que se alarga a 1950, ressalta a criação, em 1942, do importante Gabinete de Estudos Musicais e o lançamento das Festas da Rádio, em substituição dos “esgotados” Jogos Florais; a passagem da E.N. para a tutela do Secretariado Nacional de Informação (SNI), em 1944; a estreia do Programa 2, consagrado à música erudita; e a fundação do Centro de Preparação dos Artistas da Rádio, em 1947, dirigido por Mário Motta Pereira.

Silva Pereira, cuja notoriedade crescera com as audições do Trio da Emissora Nacional, formado com a pianista Regina Cascais e o violoncelista Felipe Loriente e, em particular, com os estudos de aperfeiçoamento em Paris, sob orientação de Jacques Thibaud (1880-1953) e Tasso Janopoulo (1897-1970), será chamado a colaborar em muitas das ideias e projetos de Ferro, quer como violinista – lembro o concerto de gala de inauguração da delegação do Porto do SNI, em 2 de Março de 1945 – quer, anos depois, como maestro-director dos Bailados “Verde-Gaio”, que o seu criador retrata como as imagens movediças da sensibilidade de um povo essencialmente lírico, pinceladas do sol, ou românticas dedadas de luar nas nossas paredes claras. Em “Verde-Gaio” não é o corpo da terra lusitana que dança, mas o seu espírito”.  

As estadas em Paris, em 1939 e em 1942, com bolsa de estudo do Instituto para a Alta Cultura – o nome é todo um programa! – Propiciam a Silva Pereira vivências únicas. “Jeune virtuose” da escola de Marguerite Long, apresenta-se na Sala Érard, a interpretar o Adagio e o Rondo do “Concerto em Lá maior”, de Mozart. Thibaud reconhece, então, o “progresso considerável” feito pelo aluno e recomenda um novo semestre de aperfeiçoamento, para que possa “obter resultados dignos dos seus notáveis dons”.

Centro cultural de excelência, cidade de artistas, Paris, à época, fascina e atrai, com o turbilhão de iniciativas e o ambiente cosmopolita. Com Estrela Faria, medalha de ouro no Salon, e José Contente, também pintor, Silva Pereira comparece na “brilhantíssima recepção” que, segundo reza o Diário de Lisboa, de 13 de Junho de 1939, a “ilustre escritora, Sra. D. Olga Morais Sarmento, ofereceu recentemente na sua casa de Paris, para apresentar a algumas pessoas das suas relações” os distintos artistas, estudantes portugueses e bolseiros do Estado a residir na cidade.

Mulher emancipada, “se bem que monárquica e católica”, como consta da entrada biográfica na Wikipedia, defensora dos direitos cívicos, legais e políticos das mulheres no dealbar do século XX, Olga Morais Sarmento viveu exilada em Paris mais de três décadas, em resultado, confessa-o nas Memórias, do seu “eterno conflito com as convenções e os preconceitos dos portugueses”.

Da lista de relações presentes na recepção, constam os nomes da marechala Joffre e das princesas de Wagram, de Polignac, de La Tour d’Auvergne, de Ligne, de Mazaskine e Robert de Broglie, as duquesas de Cadaval e de  Clermont Tonnerre, a baronesa de Brimont, as condessas de Gramont e de Chabannes, e as senhoras de Antas de Oliveira e Nunes da Silva, esposas respectivamente do Cônsul de Portugal e do secretário da Legação.

Com a bolsa de estudo a chegar ao fim, o jovem músico, de 27 anos, contrariado e desiludido, promete que um dia irá voltar.

MAL CHEGADO A LISBOA
enfrenta a desconfiança dos críticos musicais que, com espaço cativo nos jornais, debitam regularmente prosa artística, enfatuada com senões e moralismos. A prova de fogo tem lugar no Trindade, com a Sinfónica Nacional sob a batuta de Pedro Freitas Branco, na noite de 7 de Dezembro de 1939. Mozart e Brahms servem de chamariz, mas é com a “Sonata”, de Corelli e a “Chaconne”, de Bach, que a crítica se rende ao talento, domínio da arcada e maturidade técnica de Silva Pereira, “o violinista, da atual geração, que possui maior envergadura artística e dispõe das naturais qualidades, tão necessárias a um concertista”.

Sucede, todavia, que a “técnica desenvolvida e a sonoridade bem modulada”, que para Santiago Kastner não teriam sido possíveis sem a “magnífica escola de Bohet e Thibaud”, se revelam insuficientes para o violinista figurar no catálogo das agências de concertos, rampa de lançamento para os voos mais altos que queria pilotar.

Daí o regresso a Paris, de novo incentivado por Thibaud, quando a convite da Sociedade de Concertos, o reencontra em Lisboa, em recital no Teatro Politeama, em Janeiro de 1940. A II Guerra Mundial e a ocupação da França pelas tropas nazis frustram tal intenção, que só em 1942 se propicia, não sem antes Silva Pereira, ao lado de Lopes Graça, Maria da Graça Amada da Cunha, Francine Benoit e Macário Santiago Kastner, se envolver na criação da sociedade de concertos Sonata, promotora da música moderna em Portugal.

Na Arte Musical, Luís de Freitas Branco, seu director, não poupa palavras, ao editorializar que “infelizmente, dentro do campo da música, encontramo-nos num atraso tal que, tirando uma meia dúzia de pessoas inteligentes e de ideias novas que se encontram no nosso meio, raros são aqueles que conseguem compreender o verdadeiro sentido das obras de um Stravinsky ou de um Paul Hindemith. Para tanto, a Sonata faria muito e bem, empenhando-se, nos anos subsequentes, em motivar, mais do que as “pessoas inteligentes”, o público em geral e a desbravar caminho à modernidade musical, algo a que Silva Pereira, já maestro, daria continuidade em muitos dos seus concertos sinfónicos.

O tão desejado regresso a França não ocorre sem novo contacto com Thibaud – tocou sete vezes em Portugal -, desta vez no palco do Teatro Nacional de São Carlos, por convite do Círculo de Cultura Musical, presidido por Elisa de Sousa Pedroso. No programa, o Concerto em Ré menor, BWV 1043, para dois violinos e orquestra, obra-prima do barroco, composto por J. S. Bach em Leipzig, entre 1730 e 1731. Na análise musical inserta no programa, Eduardo Libório assinala que o concerto se caracteriza pela relação entre os dois solistas de violino, o que é percetível no movimento mais famoso, o expressivo Largo ma non tanto. Nesse movimento, a orquestra de cordas limita-se a tocar acordes, para ceder o protagonismo aos solistas.

  Rendida, a crítica aprimora-se nos comentários. Na Voz, o mesmo Eduardo Libório reconhece que o português conseguiu “manter-se ao nível que a posição exigia, e fê-lo com o aprumo, a linha e a elegância de um verdadeiro artista”; em O Século, F.B. confirma que o discípulo “se elevou a grande altura de expressão e de estilo”; na Seara Nova, Kastner descobre “um violinista português de magnífica escola (…) e a perfeita concordância entre os dois solistas, no que diz respeito ao fraseio musical, à linha geral de interpretação, à expressão e acentuação”; e até Ruy Coelho, em regra avaro nos elogios, escreve no Diário de Notícias, que a escola do insigne mestre foi honrada.

No abraço de despedida – vemo-nos em Paris, em Junho! – Thibaud oferece a Silva Pereira as crinas do arco Pecatti que herdara de Pablo Sarasate, e a dedicatória manuscrita na edição portuguesa de “Recordações de Jacques Thibaud, Um violino fala…”, de Jean-Pierre Dorian: “à Silva Pereira, dont le grand talent me rend deux fois plus fier”.

A carreira está lançada. Parece tarde, aos 30 anos, mas a guerra vai a meio e o Portugal neutral fá-lo acreditar ser possível, para lá de lhe permitir o sustento financeiro que, sem fortuna herdada, o fará viver, constituir família e dar-se a conhecer no circuito musical internacional.

Dinâmico, infatigável, vibrante e decidido, desdobra-se em ideias e projectos inovadores, em presenças mediáticas e testemunhos na Arte Musical, em recitais e concertos por todo o país, em trios e quartetos de câmara,  cursos públicos de violino e digressões artísticas pelas províncias do Ultramar, para inaugurar as delegações do Círculo de Cultura Musical em Macau, Luanda, Benguela, Lobito, Lourenço Marques, Beira e Goa e, em seguida, por Espanha, França e Bélgica e, durante dois longos meses, já com o seu novo Marc Laberte 855 Z – “fait d’après le Guarnerius Del Gesu de Paganini “ – pelo Extremo-Oriente, onde brilha nos Pereira Concerts, nas Filipinas e no Japão, completando a sua primeira volta ao mundo, atestada em diploma do Clipper Club da Pan America World Airways.

O ANO DE 1946
é marcante para Silva Pereira. No plano pessoal, casa com Maria Irene, a filha mais nova de Marck Athias (1875-1946), médico e investigador, pioneiro da histologia, co-fundador do Instituto Português de Oncologia, a par de Francisco Gentil, Henrique Parreira, Bénard Guedes e Raposo Magalhães. A cerimónia, na Igreja paroquial de S. Sebastião da Pedreira, é oficiada pelo Rev. Augusto Gomes Pinheiro, seu aluno de violino e director do Colégio Manuel Bernardes, onde os filhos, quando nascerem, irão aprender o bê-á-bá.

No âmbito profissional, na noite de 4 de Julho, festeja a estreia como maestro, em concerto popular no Coliseu dos Recreios, à frente da Orquestra do Jardim Universitário das Belas-Artes (JUBA), o fruto do projecto artístico do pintor Guilherme Filipe, o sonhador de impossíveis, e dos académicos Vieira de Almeida e José-Augusto França. Ainda que a crítica observe a “falta de treino e preparação”, o novo maestro tem a seu favor “a veemência e a generosidade próprias da verdadeira juventude”, saindo vitorioso do teste, com o Oberon, de Weber, a 4.ª Sinfonia, de Tchaikovsky, as Variações Sinfónicas, de Cesar Franck, o Bolero, de Ravel e a Promessa, intermédio coreográfico de Lopes Graça, único compositor português do programa.

No prefácio a “O músico silencioso”, Wigglesworth ironiza ao constatar que, sendo o concerto sinfónico a vivência sonora por excelência, se dê tanto relevo e atenção a alguém que permanece silencioso o tempo todo. Não sendo a música, por definição, a arte do que se vê, parece surpreendente que tantas vezes seja encarnada por alguém que não se ouve. E, todavia, em muitos aspectos - remata o autor - os maestros influenciam de modo decisivo a vida musical de muitos amantes de música clássica, na orquestra como no público.

Também Canetti, em “Massa e Poder”, fala do desempenho do maestro como óbvia manifestação de poder. E disserta: o maestro fica em pé; memórias antigas do que significou, pela primeira vez, ficar de pé, mantém-se relevantes na representação do poder. O maestro é o único a estar de pé. À sua frente senta-se a orquestra e, atrás dele, o público. Está em cima de um estrado e pode ser visto tanto de frente como de trás. De frente, os seus gestos atuam sobre a orquestra e, de trás, sobre o público. As indicações são dadas com as mãos, ou com as mãos e a batuta. Pequenos gestos são suficientes para fazer soar este ou aquele instrumento, ou para o calar. Tem o poder de vida e de morte sobre o som. O silêncio, prolongado, é quebrado com uma ordem sua. A diversidade de sons é a diversidade dos Homens. Uma orquestra é feita de diferentes tipos de homens. A vontade que têm em obedecer, permite que o maestro faça deles uma unidade, que, logo a seguir, ele próprio personifica.

Seria esta a paleta, colorida de compassos e andamentos, sustenidos e bemóis, allegros e andantes que, na sua nova devoção, Silva Pereira descobriria, nos dez anos que mediaram a estreia como maestro e o novo ciclo formativo, agora na Áustria, na Faculdade de Música e Performances Artísticas de Viena, na classe de 1956 do Professor Hans Swarowski.

Uma década de amadurecimento, de talento afirmado, vivida ao ritmo das mil iniciativas que animaram o meio musical português nos anos 40 e 50, mas também com as dificuldades próprias da vida familiar, a quem de pouco servia o “alimento espiritual” dado pela “arte dos sons na constância do tempo”, como Busoni definia a música.

No ínterim, Silva Pereira acorria ao Orfeão Scalabitano, para lhe dar outro fulgor; dinamizava a Orquestra da F.N.A.T. (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho) com espetáculos populares, serões para trabalhadores, concursos de canções e danças, digressões pelas Colónias, e o apoio musical aos Bailados “Verde-Gaio”; exibia-se, como violinista, nos concertos da Emissora Nacional, em São Carlos, e nos da Câmara Municipal de Lisboa, no Pavilhão de Desportos; e como violetista, em recitais da Academia de Instrumentistas de Câmara e nos concertos das organizações de arte “Sol Maior”, de João da Câmara e Igrejas Caeiro, no Teatro Politeama; dava conferências e ensinava jovens e promissores talentos; e estreava-se a dirigir ópera, a “Penélope”, de Sousa Carvalho, composta 173 anos antes para o aniversário da rainha D. Maria I, reencenada em São Carlos, em Maio de 1955, por Riccardo Moresco, com a soprano Magda Olivero e o tenor Francesco Albanese, cantores do Scala, em Milão.

Das agendas pessoais, de que sempre cuidou, e dos álbuns de recortes, que documentam a carreira, ambas utilíssimas ferramentas no traçar do perfil do músico e do homem, constam, com tónica variada, mas a pedir destaque, os comentários às participações cinematográficas – “O Violino de João”, de José Braz Alves (1944); “Uma vida para dois”, de Armando de Miranda (1949); “O Cerro dos Enforcados”, de Fernando Garcia (1954), com música de Joly Braga Santos, e “Rapsódia Portuguesa”, de João Mendes e Filipe Solms (1959), a partir da ideia de António Ferro, convertida em argumento por Fernanda de Castro. 

Neles se encontra, ainda, a prosa emocionada, de tributo e homenagem a Jacques Thibaud, vitimado, com a filha Susana e o pianista René Herbin, num desastre aéreo nos Alpes, em 2 de Setembro de 1953; o deslumbramento, sincero e emocionado, com o prodígio Pierino Gamba, o maestro de 11 anos que, em Dezembro de 1948, fez chorar de espanto e incredulidade os públicos de São Carlos e do Coliseu; a presença, em Lisboa e Porto, de Igor Stravinsky (1954) e Paul Hindemith (1955), duas das figuras marcantes do século XX musical; as tentativas pidescas de boicote aos concertos no Império da Orquestra de Filadélfia, com Ormandy ao leme; e a referência à condecoração com a Ordem Militar de Santiago de Espada, em 25 de Junho de 1954, a primeira de outras com que Portugal, França, Líbano e Brasil o distinguiriam.


Imagem 01: Maestro Silva Pereira (imagem inicial)

Imagem 02: A Orquestra Silva Pereira: Anthero e os filhos António, Gracinda, Maria José, Elisa, Joaquim e Manuel.

Imagem 03: Em “Verde-Gaio” não é o corpo da terra lusitana que dança, mas o seu espírito” (António Ferro).

Imagem 04, 05: Jacques Thibaud (1880-1953): à Silva Pereira, dont le grand talent me rend deux fois plus fier

Imagem 06: A estreia, em Julho de 1946, no Coliseu dos Recreios, com a Orquestra JUBA.

Imagem 07: “Cada país tem a sua alma e cada alma o seu segredo"Argumento de Fernanda de Castro, com música de Ruy Coelho, Viana da Mota, Freitas Branco e Silva Pereira.

 
04 – O “MEU” MAESTRO, Parte II
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or Manuel Silva Pereira


[continuação]
QUANDO CARLOS RADINI lhe analisou as mãos, a conclusão foi inequívoca. Nos considerandos juntos à radiografia, publicada a duas colunas na revista “Eva”, de Março de 1955, o popular quirólogo constata que “a mão esquerda, muito maior, de corte redondo, tem os traços característicos de bom executante musical, que partem do dedo anelar cortando a linha do coração, em direção ao triângulo que a fecha”. Quanto à mão direita, ela “mostra o sentido de comando”, não admirando, assim, “que Silva Pereira exerça as duas actividades”.

            Reconfortante, a visão de Radini pedia, porém, comprovação e ninguém melhor que a Akademie fur Musik und Darstellende Kunst, em Viena, para a dar, nos seis semestres curriculares para obtenção do título de Kappelmeister. Na carta que remete ao secretário-geral do Instituto para a Alta Cultura, António Medeiros-Gouvêa, um mês após a sua admissão na Faculdade, Silva Pereira refere os 20 graus negativos a que será improvável habituar-se, a dificuldade em encontrar habitação que caiba na magreza do estipendio mensal, o escasso domínio do alemão, que lhe pede um esforço suplementar para seguir as aulas, e o apoio e generosidade dadas pelo Ministro de Portugal, Almeida Paile, com quem viria a criar laços fortes e duradouros de amizade e colaboração.

            Em contrapartida, reconhece que “não poderia ter encontrado melhor directriz para os seus estudos”, que dispõe de um livre-trânsito para circular na Ópera e assistir a todos os ensaios; que os concertos regulares da Sinfónica, com Karajan, Krips ou Cluytens, o fazem sentir um privilegiado; e que a determinação e empenho nos estudos são maiores que nunca, em nada receando o confronto com os colegas, mais jovens na idade, mas com métier e prática de orquestra inferiores à dele, que tem décadas de estante, boa parte no lugar de concertino, face-a-face a maestros de variada estirpe, leituras surpreendentes das partituras clássicas e apostas ousadas em primeiras audições.

            Há séculos que Viena é a meca da música erudita. Nela viveram, e criaram obras imortais, Mozart, Haydn, Chopin e Beethoven, Schubert e Strauss, Liszt, Brahms e Mahler. A Sinfónica da cidade tem uma sonoridade única, qualidade superior dos seus músicos e uma reputação imaculada, e pela sala dourada da Musikverein, desfilaram, e continuam a brilhar, os mais famosos solistas e conjuntos orquestrais.

            Para lá chegar, há, todavia, que superar as irritações e o humor ácido de Swarowski (direcção de orquestra) e corresponder aos desafios e expectativas de Schiske e Spannagel (sintaxe musical e instrumentação), Eibner (seminários) e Kassowitz (direcção coral), Gartner e Raimondo (italiano e regência de ópera), e Valenzi (técnica de piano), os professores titulares das 13 unidades do curso de direcção de orquestra, dadas em 40 horas semanais de aulas presenciais, a que acresce a leitura e o estudo em casa, a fluência no italiano, requerida pela ópera, e os fins de tarde nos concertos e recitais, a que seria imperdoável faltar.

            Em férias, e ainda antes do “salto” a Lisboa, para litigar a tutela dos filhos, no processo de separação então a correr na Tutoria, Silva Pereira candidata-se ao curso de Verão de Carlo Zecchi, na Academia Chigiana de Siena, sendo admitido após concurso, em disputa com 52 outros candidatos, oriundos de 26 países, ds oito vagas existentes. Em 28 de Agosto de 1956, no Teatro comunal dei Rinovatti, o 11.º Concerto Sinfónico, “direto dagli iscritti al Corso del Maestro Zecchi”, encerra com um maestro português, distinção em regra conferida ao aluno melhor classificado. Após acompanhar o guitarrista John Williams (do curso de Segovia) no concerto de Castelnuovo Tedesco, Silva Pereira dirige “I Vespri Siciliani”, de Verdi, para deleite “di un publico elegante e colto, che ha sottolineato ciascuna esecuzione dei brani musicali in programma com calorosi applausi”, como relata um dos jornais na manhã seguinte.

 

OS CRÍTICOS enaltecem o papel de Swarowski (1899-1975) – foi discípulo de Schonberg, Webern, Weingarten e Strauss – e do maestro português, um dos cinco novos Kappelmeister, apresentados ao público no concerto de 24 de Junho de 1957, na Musikvereinssaal, com a Tonkunstler-Orchester

            Rotina e segurança, e notável autoconfiança a transmitir a tensão da obra” –  o “Amor Bruxo”, de Manuel de Falla, com a participação da cantora Elsa Sahlin  - é a opinião do Neues Osterreich, apoiada por Gerhard Bronner, no Neues Kurier, ao comentar que “embora o Sr. Pereira tivesse mais o ar de um banqueiro, fez desaparecer tal impressão logo após os primeiros compassos, de tal forma nos transportou para a Península Ibérica e fazendo-me esquecer de vez a vontade de ter ido ouvir a “Carmen”.

            Também o Volkstimme refere que ”Silva Pereira deixou a impressão mais rotineira e habilidosa na execução da colorida pintura orquestral “O Amor Bruxo”, de Manuel de Falla. Os aplausos da plateia atingiram níveis de ebulição”, e o Neue Tageszeitung disse tratar-se de “um tecnicista, de tiro pronto, uma cabeça que sabe o que quer, com determinação bastante para o concretizar”.

            “Estou felicíssimo”, confessou no telegrama endereçado ao pai, no dia seguinte ao exame final na Academia, feito com a “9.ª”, de Beethoven, e defesa pública da dissertação sobre as “influências sociais na evolução da estética musical, do século XV até aos nossos dias”. O feito ecoa na imprensa portuguesa e detalhe em entrevistas posteriores, comentadas na Brasileira do Chiado, aquando do reencontro com o grupo de amigos, dois anos após tê-los deixado à míngua da boa disposição e cáustica ironia que o define e caracteriza,

            Diplomas à parte, é o palco que “tira as dúvidas” e consagra o prestígio. Silva Pereira sabe-o bem e, logo em 31 de Julho, no Rivoli do Porto, retoma a batuta, para se “mostrar aos musicófilos portuenses”, os primeiros a ter a honra que, anos mais tarde, tanto lhes agradará invocar. À frente da Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música, o Kappelmeister escolhe a “1.ª Sinfonia em Dó menor”, op. 68, de Brahms, para abertura do concerto, e convida Carl Achatz, que fora o primeiro maestro da Orquestra, a executar com a flauta o “Orfeu”, de Gluck e “Syrinx”, de Debussy; a segunda parte é completada com o “Amor Bruxo”, de Manuel de Falla, com que brilhara em Viena, e “As Aventuras de Till Eulenspiegel”, de Strauss, que há-se uma duas suas peças favoritas.

            “Estreia auspiciosa”, diz o crítico do JN, para quem o desempenho brilhante do maestro, com o trabalho apurado da orquestra, e a dignificante colaboração de Carl Achatz, tornaram o concerto um dos muito valiosos da temporada que acabou”. Para o “Comércio do Porto”, “as provas que o maestro deu do seu mérito artístico, alçaram-no, sem favor, a um posto de realce, em que, no decurso do tempo, muito mais se evidenciará”. Por fim, no “Diário do Norte”, o crítico apraz-se a sublinhar a “sobriedade no frasear e a manutenção das linhas naturais, aprovadas pelo exato das coisas. O Brahms foi resoluto e substancial, o Falla bem sublinhado, e o Strauss, com as suas escapadas pitorescas, teve notável clareza”.

            Um mês depois, a 16 de Agosto, é a vez de Lisboa, num concerto gratuito, oferecido pela Câmara Municipal à população da capital. Com o Pavilhão dos Desportos a “rebentar pelas costuras”, Beethoven e Tchaikovsky abrem e encerram o programa, intercalado com o “Concerto em Ré menor, K. 466, de Mozart, a cargo de uma jovem promessa, a pianista Teresa Maria Vieira.

            Por todos valerá a apreciação crítica de Nuno Barreiros, inserta no Diário Ilustrado, que aqui se transcreve:

            E deve dizer-se, desde já, que o que se viu e ouviu trouxe a magnífica confirmação das notabilíssimas qualidades e aptidões que o nosso compatriota, se já as havia revelado com brilho, levou agora a um cabal desenvolvimento. No número dessas qualidades não entram apenas certos aspetos que dizem respeito à técnica de direção propriamente dita, como a propriedade e a oportunidade – e (porque não também?) uma cada vez maior elegância – do gesto, uma bem desenvolvida independência de braços, ou o relevo, por exemplo, que adquire a mão esquerda na indicação de “nuances”, isto que é muito, sem dúvida, mas não é tudo quanto faz o verdadeiro, o autêntico regente. Houve mais, e bastante mais, no que Silva Pereira nos deu, e que se traduziu nos esplêndidos resultados conseguidos da falange orquestral, em sonoridade, afinação e precisão (neste aspeto, é mesmo de justiça acrescentar até que poucas vezes temos encontrado a nossa Sinfónica Nacional em nível tão elevado), assim como no próprio sentido interpretativo revelado, já suficientemente amadurecido, quer na concepção global de cada obra , quer na atenção ao pormenor e na sua valorização. O programa, de resto, era de responsabilidade (…) Mas importa, antes de mais, fazer ressaltar que, em todas as obras, a realização deixava, de fato, transparecer uma linha interpretativa séria (até mesmo onde se afastava sensivelmente de concepções mais ou menos tradicionais), bem delineadas previamente e, portanto, sem aquele carácter de malfadada e preguiçosa “improvisação”, que não raro liquida o labor de tantos intérpretes caseiros.

            Diploma e talento firmados, expectativas satisfeitas, era lícito concluir, na esteira do cronista do Diário Popular, “ter sido o dinheiro do Estado bem aproveitado e ser caso para nos felicitarmos todos”.

FELICITAÇÕES E PALMAS
não faltariam nas três décadas e meia pós-Viena, em resultado dos créditos artísticos e profissionais firmados em Portugal e no estrangeiro, da notoriedade e influência ganhas ao leme de instituições educativas e organismos sindicais, das funções de direção e de representação internacional, numa palavra, do lugar central, de referência inevitável, ocupado no meio musical português na segunda metade do século XX.

            Titular da Orquestra Sinfónica do Porto, de 1957 a 1974, e da Orquestra Sinfónica da RDP, em Lisboa, de 1974 até à sua extinção, Inspector musical da F.N.A.T. e do Instituto de Alta Cultura para a área dos Leitorados, procurador à Câmara Corporativa, director dos Conservatórios Regionais de Música do Porto e de Braga, presidente da direcção do Sindicato Nacional dos Músicos, conselheiro e director musical do Teatro Nacional de São Carlos, na  gestão de João de Freitas Branco, e do  Teatro da Trindade, no tempo da Companhia Portuguesa de ópera e da direção de Serra Formigal, presidente da Comissão Nacional da UNESCO, de 1964 a 1974, membro de júris de concursos nacionais (Viana da Mota; Luiz Costa) e internacionais (Washington, Montreal, Rio de Janeiro, Genève, Líbano, Istambul), foram cargos de relevo desempenhados, a compor uma das vertentes do seu enorme dinamismo e acção criadora, cumprida com entusiasmo e não pouca rebeldia.

            A vertente mais significante, a dos concertos sinfónicos e espetáculos de ópera e ballet, que viveria com superior paixão e deslumbramento, espraiou-se por incontável número de audições e tournées, pela regência das mais categorizadas orquestras europeia, dos Estados Unidos da América e do Brasil, em festivais de renome e público numeroso, da Lisboa de Gulbenkian, Sintra e Macau, ao Québec e a Lansing, no Michigan, onde recebeu a chave da cidade e teve honras de um “Silva Pereira Day”, com Lansing Symphony Orchestra – a Human Dynamo, como os media o “baptizaram” – e, ano após ano, na regência da World Youth Symphony, no National Music Camp, em Interlochen.

            A educação musical de crianças e jovens seria, aliás, outra das constantes nas suas realizações, reflectida nos textos que escreveu e fez publicar; nos Concertos Culturais para a Juventude (1958-1960), que, na senda de Bernstein, a Orquestra do Porto oferecia gratuitamente, aos domingos de manhã, no Sá da Bandeira do empresário Rocha Brito, ao público infantil da cidade; e na estreia de muitos promissores talentos, como Gerardo Ribeiro e Manuela de Araújo, Isabel Delerue e Manuela Gouveia, e anos depois, nas muitas revelações a que o “Prémio Jovens Músicos”, organizado pela Antena 2, de José Manuel Nunes e Filomena Cardoso, daria visibilidade pública.

            Nota máxima merecem, também, as primeiras audições de obras de compositores portugueses e a sua inclusão, mandatória, nos programas de concertos no estrangeiro. Rui Coelho, Frederico de Freitas, Lopes Graça. Filipe Pires, Álvaro Cassuto, Emanuel Nunes, Jorge Peixinho, António Vitorino de Almeida e Joly Braga Santos, sem esquecer figuras ilustres de anteriores gerações, de Viana da Mota a Armando José Fernandes, de António Fragoso a Hernâni Torres, de Luís de Freitas Branco a Croner de Vasconcelos, sempre as orquestras e o maestro se comprometeram, com o melhor do seu empenho e talento, em divulgar, promover e ampliar a recepção das suas obras, em favor de uma expressão musical portuguesa, identitária, de aceitação universal.

            Uma palavra final para a terceira vertente do maestro, cujo percurso aqui se esboçou. Foi ela a do acompanhador, essa virtude única de, apagando-se, oferecer a luz dos projectores aos solistas, propiciar-lhes, em simultâneo, a correção de uma leitura e o aparato sonoro que a fidelidade às grandes obras do repertório clássico requerem, em nome dos momentos de exaltação que o público espera e em silêncio recebe.

             Foram muitos os que dela tiraram partido, e se mostraram reconhecidos, em cartas e abraços, em palmas e flores, em gestos de amizade, momentos de convívio e de colaboração em grandes eventos musicais. Dos portugueses, cumprindo a minha pena pelas lacunas, relembro Helena e Madalena de Sá e Costa, Herberto de Aguiar e Vasco Barbosa, Sérgio Varela Cid e Sequeira e Costa, Leonor Prado e Vitorino de Almeida, Nella Maissa e Fernanda Wandshneider, Gerardo Ribeiro e Maria João Pires. Da constelação de famosos, destaco as inesquecíveis exibições de Rubinstein, Szerying, Valenzi, Aksselrod, Ciccolini, Arturo Benedetti Michelangeli, Kempf, Elizabeth Schwarzkopf, Michelin, Weissenberg, Nikita Magaloff, Miriam Solovieff e os mais que os recortes de imprensa documentam e a história da música e dos músicos portugueses há-de um dia compilar e, em muitos casos, retirar do esquecimento, para os louvar junto de Apolo, a divindade da música.

 

Manuel Silva Pereira foi jornalista e diplomata, estando hoje dedicado à reorganização do espólio artístico e documental de seu pai, o violinista e maestro Joaquim da Silva Pereira.

 


Imagem 08: Hans Swarowski e o curso de 1957, com Silva Pereira e Filipe de Sousa, Zubin Mehta e Claudio Abbado.

Imagem 09: Fevereiro de 1989: orquestras da RDP silenciadas, maestro com o luto na casaca.    

 
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AUTORIA:
Fernanda de Castro.

TÍTULO: Alma, Sonho, Poesia. Selecção de Poemas (1952-1989).

EDIÇÃO – Fundação António Quadros, 2010.

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